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Fortes grilhões para frágeis tornozelos.

                      O acorrentaram por um dos pés á um gancho fincado firmemente no chão, de modo que era impossível arrancá-lo, e por duas vezes o sons de Felps tentando puxar as correntes, trouxeram o captor até ele.

                   Quando veio na segunda vez Marion segurava uma haste de ferro com um grande M em brasa na ponta, e o brandia ameaçadoramente.

                  –Não continue com isto. – Ele dissera. E seu tom definitivo foi o suficiente para que Felps desistisse de tentar escapar dali.

                   Mesmo assim, á certa altura da madrugada, o barulho de passos estalando sobre galhos finos, se avolumou como um sussurro de alerta que ia crescendo, de modo que Felps preparou-se para se encolher outra vez e jurar que não estava tentando fugir de novo, quando uma mão imunda,com unhas em garras, começou a afastar a lona da entrada.

                  Não eram os dedos fidalgos de Marion, brancos e de unhas cuidadosamente cortadas. Nem mesmo o reluzente gancho de prata na mão de Lolá. Aqueles dedos eram similares a longos galhos secos, pontiagudos e terminados em unhas grossas e fortes, como as dos lagartos. De modo que quando a abertura ficou larga o suficiente, olhos de contas brilharam no breu e um darf colocou a cabeça para dentro.

                   Num sorriso demoníaco a criatura exibiu suas presas alongadas e a língua dividida em duas pontas. Felps, encolhido o mais afastado da porta que os grilhões lhe permitiam, gritou quando o viu entrar, pé ante pé, roupas puídas e cabelos cor de nuvem.

                 O darf velho era muito maior que ele, mas isso quase todas as pessoas eram, mesmo assim, o homem canibal saltou rápido e num bote o segurou com tanta força, que Felps sabia o quanto era inútil tentar se libertar de seu aperto.

                O invasor agarrou-lhe os cabelos numa de suas mãos e puxando-o para si quase com raiva, mordeu-o profundamente no ombro, separando com as presas um naco de carne que mastigou sorrindo, pintando de vermelho cada um dos dentes pontiagudos.


              O guincho de Felps já tinha se transformado em uma sucessão de soluços desesperados. A dor se alastrando por todo o braço, quando o outro se preparou para saborear mais um pedaço, fazendo um rosnado que quase superou o estampido seco do disparo que o fez tombar.

              Quando o agressor caiu, Felps se encolheu mais do que nunca, gemendo e chorando, mordendo de dor os nós dos próprios dedos, vendo o seu salvador saltar na penumbra o corpo do darf morto.

                O desconhecido se avolumou sobre ele trazendo consigo um forte fedor de suor azedo e, com pressa, segurou-o nos braços como se se tratasse de um animal muito pequeno. E tão enorme era este homem, que bastou-lhe apenas um puxão para tirar de dentro da terra o gancho que mantivera Felps ali.

               –Quem é você? –Disse o homem enquanto o levava para fora, a cabeça de Felps raspando a entrada em triangulo na lona– O que está fazendo aqui?

               O ar da frio da noite o recebeu como uma lufada de alívio e Felps desejou poder fugir dali correndo, mas o homem o fez deitar no meio da clareira, sob o céu, e começou a puxar-lhe as vestes.

             – Não!Por favor! – Gritou de medo quando tentou impedi-lo, e também havia dor na sua voz, mas o outro não o ouvia e sequer parecia sentir os tapas que sua presa desferia em seus braços cobertos de peles de negra de pantera híbrida. Assim, o homem despiu-o completamente, depois o fez virar-se de bruços.

                  –Por favor, não me machuque! –Felps umedeceu a terra com suas lagrimas sentindo a mão do homem afagar-lhe os cabelos –Por favor...

                 Todos aqueles barulhos fizeram Marion deixar o conforto de sua própria barraca e da posição em que estava, o rosto de lado sobre as folhas secas e a terra, Felps conseguiu vê-lo em pé diante da lona embolorada do outro lado da clareira, os braços cruzados sobre o peito, as sobrancelhas erguidas no rosto iluminado pelas chamas. Mas foi o homem enorme quem falou primeiro:

                  –Irmão, por que acorrentou um puro? Um darf quase o matou. Seu irresponsável!

                   Ao ouvir aquilo Marion correu dois ou três passos para se aproximar deles e agora só era possível ver-lhe as botas negras cuidadosamente engraxadas.

             –Um o quê? Não...Não é possível...

               –Um puro, seu idiota! Um anjo, veja. Por que o acorrentou? –Tornou a dizer o homem enorme.

                Felps quase pôde sentir o olhar de Marion deslizando sobre a pele das suas costas, se detendo por um instante nas cicatrizes de onde lhe foram arrancadas as asas.

               Então o homem de voz trovejante tirou suas peles de pantera e enrolou Felps com elas, depois o fez se virar como se ele fosse uma criança, e dessa mesma forma tornou a tomá-lo nos braços e ficou de pé.

                –Deus do céu, – resmungou com raiva levando-o consigo –Primeiro você os deixa escapar de propósito, agora isso... É uma merda. Eu não posso ficar longe um minuto...

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