A coisinha mais estranha do mundo.
Os olhos desbotados de Lolá. Felps deu de cara com eles quando acordou.
–Bom dia, coisinha. – Ela riu antes de acrescentar – Ictar me contou o que você é. Disse que eu devia ajudar você a se vestir, e se quer saber, eu queria mesmo ver com meus próprios olhos. Sabe como é, né? Um moleque...De vestido... Diz uma coisa aqui pra tia Lolá, você é um puro mesmo? E por que tem olhos como os dos darfs? Olhe só pra eles, são dourados! Isso não é coisa de puros, nem de humanos...Você é uma aberraçãozinha, não é?
Ela riu mais e estendeu para Felps um amontoado de tecido vermelho acetinado que ele não ousou tocar.
–É um vestido. –Explicou – Pelo menos é melhor do que aquele trapo encardido que você tava usando. – Lolá usou seu gancho de prata para tentar puxar a manta que o cobria – Me conta, – fez ela com curiosidade– todos os puros se vestem de mulher? Ou você é só a coisinha mais estranha do mundo?
Felps preferiu não responder e mesmo depois de tocar o vestido que ela oferecia, não teve coragem de deixar cair as mantas. Foi Lolá quem as terminou de arrancar.
–Eu nunca tinha visto um puro pelado, – ela comentou enquanto em pé, no susto, o rapaz tentava desesperadamente se vestir depressa apesar da dor no ombro. – Olha só...Parecem humanos, não é? Exceto a alta de pelos eu acho... – Ela manteve o olhar constrangedoramente fixo nele, depois estendeu seu gancho na sua direção.
–Por favor, pare!
– Ah você fala!
–Já posso entrar? – Disse a voz de Marion lá fora.
–Sim venha
–Não!
Felps terminou de puxar o vestido sobre o corpo bem a tempo de a lona se abrir. E quando o outro entrou, olhava-o contrafeito, como se alguém o tivesse traído.
–Por que não disse nada? – Disse Marion irritado.
Felps se encolheu.
–Escuta, você não tem que se encolher toda hora. Você tem é que abrir a droga da sua boca e começar a falar as coisas. Eu podia ter soltado você, podia ter...Sei lá, te mandado para a vila ontem mesmo. Mas você tinha que ter me falado! Com as asas cortadas e esses olhos, qualquer um confundiria você!
–E o senhor acreditaria em mim? –Falou Felps finalmente exausto.–Acreditaria se eu contasse?
–Eu não sei, mas devia ter experimentado contar o que raios você é. E ainda estou esperando que me conte, porque um puro você também não é! Eu já vi muitos e nenhum tem os cabelos vermelhos desse jeito aí. Olha só você, tem as cores dos darfs e nenhuma asa. O que eu poderia pensar?
–E ele tem um pau, mas usa vestido – Completou Lolá provocativa e riu mais – Ele é muito estranho. Não é atoa que o Caçador gostou dele.
–Ictar e suas... – Felps ficou em silêncio enquanto Marion amenizava o tom para completar –Escuta, eu não teria dito aquelas coisas se soubesse, está bem? Eu só...Bem, de qualquer forma meu irmão nos falou sobre você não ter uma família e nem lugar para onde ir. Isso é verdade?
Felps concordou com a cabeça, fitando os próprios dedos dos pés, feridos e sujos de terra.
–Ele partiu para Portão Branco, – Prosseguiu Marion muito sério. –Mas deixou ordem para que o levássemos conosco, se você quiser vir.
Felps já tinha ouvido falar do Portão Branco, o condado dos Macnamara, e não tinha certeza se queria ir para a casa de alguém que servisse aos vorazes Belvereth do norte.
–Eu não sei se...
–Você não vai durar um dia na floresta. –Argumentou Lolá. –Sozinho, machucado e vestido como uma boneca.
–Mas não precisa vir não se quiser, Ictar não o está obrigando. Entendeu?
–Em Portão Branco a gente podia fazer você virar uma camareira estranha ou uma cozinheira estranha, ou qualquer outra coisa estranha. – Riu Lolá. – Melhor isso do que virar só a comida estranha de alguém.
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