Coroa de Fogo
E o primeiro booktrailer e resenha de 2019 chegou ao projeto! Espero que estejam tão ansiosos quanto eu estou por partilhar com vocês o que eu achei da minha última leitura de 2018.
Desta vez, trago um livro de Jennifer Kepler, intitulado de Coroa de Fogo.
https://youtu.be/4qGosmzT8a4
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A resenha desta vez é um pouco diferente das anteriores, porque a obra assim o pediu. Espero que gostem.
Resenha
"A queda das folhas marca o início do outono. A estação que deixa tudo cinza e sem vida" são estas as palavras que Jennifer Kepler decide utilizar no começo da sua obra, Coroa de Fogo. Em uma tacada apenas, a autora nos avisa logo do que nos aguarda nesta história. No nosso cérebro fica logo a fervilhar a ideia de uma mudança para um estado perigoso e talvez mortal. Não satisfeita ela ainda remata, "sentada no peitoral da janela, observo o sol partir e dar lugar à vigília lunar". Pronto, aí nós percebemos que a nossa protagonista se despede, sem consciência disso, da sua vida tal como ela a conhece, para mergulhar numa escuridão que aguarda por ela. Depois de ter terminado a obra e voltado a este início, que já me havia chamado a atenção da primeira vez, percebi que este era o melhor e mais genial parágrafo iniciante que havia encontrado no wattpad. E todos sabemos como é difícil as primeiras frases de uma obra.
Amo simbolismo. Não há nada mais mágico do que ver o autor utilizar a descrição do contexto/ambiente para passar uma mensagem para o leitor. Mas essa não foi a única vez que a autora se serviu deste recurso, ora vejamos como a obra termina: "Fito a imensidão azul do céu claro e sem nuvens que se aproxima cada vez mais e percebo que sigo para um futuro incerto e desconhecido novamente". A ideia da esperança (céu azul claro) e da aproximação a um terreno desconhecido eventualmente prometedor (imensidão do céu sem nuvens) é passada com mestria, mais uma vez com a utilização do céu e dos seus elementos para transmitir a mensagem necessária. Existe harmonia e congruência entre este início e este fim. Toda a obra se reveste desta harmonia, congruência e simplicidade, que se torna impossível de ignorar.
Ora me deixe, caro leitor, fazer um resumo do que trata esta obra, para entender melhor os parágrafos seguintes.
Scarlett é uma jovem órfã mestiça que, de um dia para o outro, vê a sua vida mudar radicalmente. Sem saber quem é na verdade e a que lado da sociedade ela realmente pertence, a moça é obrigada a viajar com o príncipe até à morada da família real, onde ela é acolhida a contragosto do rei. Tendo de fingir ser alguém que não é, Scarlett conseguirá chegar mais longe do que alguma vez ousou sequer sonhar. Numa sociedade retrógrada onde o lugar que você ocupa na sociedade é definido desde o seu nascimento, como reagiria se, de repente, a sua vida deixasse de lhe pertencer?
Não vou dizer que achei a ideia da história original, porque estaria a mentir. Quando li a sinopse e o primeiro capítulo percebi que estava diante de um livro bem escrito, mas pouco mais. Achei, sim, que os primeiros três ou quatro parágrafos me instigaram a curiosidade, me orientando de imediato para a problemática que a nossa protagonista teria de enfrentar. A questão da diferença não ser aceite naquele mundo e de Sacrlett ser alguém a destoar do "rebanho". Apesar de ser um dilema atual, de certa forma pertinente, não podemos negar que já foi bastante utilizado na literatura. Vejamos o caso de Divergente, Rainha Vermelha e A Manipuladora do Caos (livro já resenhado no projeto). Jennifer Kepler aproveita as linhas seguintes do primeiro capítulo para nos apresentar as peculiaridades do reino Pélagus e nos ambientar ao cenário, de certa forma, inovador que idealizou. Ficamos logo a perceber que estamos em um contexto distópico mais orientado para a fantasia, uma faceta, que me surpreendeu pela positiva, e claramente assumida ao existir o recurso a seres como fadas e lupinos. E este elemento de fantasia irá ressaltar mais vezes ao longo da obra. Se é útil este enquadramento? Claro que sim. Se eu me queria deparar com ele logo no quinto parágrafo da obra? Ainda para mais de uma forma tão informativa? Não. Em A Manipuladora do Caos (AMDC), por exemplo, vemos que é possível num primeiro capítulo explicar as particularidades do mundo distópico em que se insere a obra, de uma forma dinâmica e gradual, sem parecer muito artificial, sem parecer que aquele primeiro capítulo só existe com o intuito de dissertar sobre as características da sociedade em que a história é ambientada. Para isso, aconselho a utilização da ação, tal como a Laís fez em AMDC, queremos ver a protagonista a fazer algo mais do que apenas partilhar os seus pensamentos com o leitor. Deixo uma frase exemplo retirada de AMDC:
"Perambulei pelas ruas escuras e estreitas dos moquifos. A noite estava agitada, e não era raro eu ouvir vozes exaltadas saindo das casas muito próximas umas das outras que lotavam o lugar esquecido pelo governo da nova república".
Essa ação permitirá também que conheçamos melhor a personagem principal, tornando a descoberta mais prazerosa e desafiante. No caso de Coroa de Fogo, nós formamos as nossas primeiras impressões acerca da protagonista com base apenas nos seus pensamentos e reflexões acerca do passado, o que pode ser um pouco limitador.
A verdade é que os primeiros capítulos não conseguiram me cativar tanto como eu queria. Eu estava a ler, por ler, apenas à espera que algo verdadeiramente impressionante ou emocionante acontecesse. Claro que íamos tendo aqui e ali, encontros com novas personagens que nos deixavam com a pulga atrás da orelha. Pistas que eram jogadas na brisa nos deixando minimamente interessados para continuar a leitura. Mas o ritmo claramente acelera quando vemos Scarlett a adentrar na morada real. Tanto o rei como a irmã do príncipe vêm trazer alguma vivacidade à leitura que deixa de ser apenas leve e prazerosa, para trazer alguma emoção, adrenalina e suspense. Foram eles que me fizeram agarrar os capítulos restantes do livro como se não houvesse amanhã.
A ideia em que a história se estrutura não é muito diferente de Rainha Vermelha: uma sociedade que é dividida entre pessoas com poderes e pessoas sem; a protagonista que pertence ao povo e que descobre que afinal tem poderes; a família real, ao ver o perigo de o povo ver que alguém dos deles pode ser especial, acolhe-a não tendo outra hipótese senão fingir que ela é uma filha perdida de um elemento da corte; a protagonista se vê apaixonada pelo príncipe; ela recebe treinamento para dominar e aperfeiçoar os seus poderes. No entanto, ao convergir elementos fantásticos inesperados com os distópicos, a obra ganha uma coloração bem diferenciada. A autora pega em seres que habitam já o nosso imaginário para contextualizar todo um novo mundo, que não nos é apresentado todo no primeiro livro. Um fino véu é levantado nos capítulos finais desafiando-nos a espreitar brevemente para possibilidades surpreendentes que aguardam por nós. Eu acho que nunca me senti tão curiosa e sem saber bem o que esperar de um segundo livro do que com a Coroa de Fogo. O que não deixa de ser verdadeiramente irónico, já que estive numa atitude bem defensiva e de pé atrás nos primeiros capítulos da obra (cerca de 15). É caso para dizer que a autora conseguiu me dar bem a volta kkkkkk Pouco a pouco, ela foi conquistando o meu coração para depois o arrebatar por completo, de forma rápida e inesperada.
O que senti mais falta nesta obra foi de um pouco de ação. Estamos perante uma realidade que tem tudo para nos deixar a salivar por batalhas, demonstrações de poderes, confrontações, e, contudo, recebemos muito pouco disso. Mais uma vez, utilizo AMDC como exemplo do que se espera em livros como estes. Jennifer Keppler poderia ter tornado o treino da protagonista mais dinâmico, colocando algumas peripécias pelo meio (consigo apenas recordar-me de uma única vez em que isso aconteceu) ou mesmo quando a protagonista é perseguida (não digo em que situação para não estragar a surpresa kkkkkk) poderíamos ter um show "visual" de habilidades. Isso aconteceu muitas poucas vezes e até acabei achando os poderes meio que repetitivos e previsíveis.
Claro que não podia deixar de falar no romance. Para aqueles que já leram as minhas resenhas anteriores, sabem que eu ligo bastante para este quesito. E o que dizer do relacionamento da nossa protagonista com o príncipe? Só posso dizer que se vão surpreender inúmeras vezes e o vosso coração vai bater mais forte outras tantas. Achei a aproximação deles bem natural e gradual e não houve aquela típica enrolação para o primeiro beijo de que todos já estamos um bocadinho fartos (e contra mim falo que também não me consegui desenvencilhar dessa praga no meu primeiro romance). Se num primeiro momento estava convencida que estava perante o típico cliché da plebeia que se apaixona pelo príncipe, não demorou muito para eu perceber que o relacionamento deles não seguia a típica linha previsível a que já estamos habituados. Achei bem convincente, sólido e arrebatador. Tem todos os elementos necessários para cativar qualquer um.
Para terminar só posso dizer que tenho muita sorte por ter tido o privilégio de ler esta obra, que talvez nunca chegasse a encontrar se não fosse este projeto. Uma obra que nunca irei esquecer e que sei, com 99,9% de certeza, que irei amar ainda mais a sua continuação, pois tem tudo para me arrebatar por completo.
Um aparte para a autora: ainda que pense deixar a ação e a aventura para o segundo livro, acho que o primeiro ganharia muitíssimo se esses elementos também lá estivessem presentes.
Muito obrigada, @jenniferGKS
Frase lema que eu faria para este livro: Quando reprimimos aquilo que nos torna diferente dos outros, a vida dará um jeito de nos mostrar que são essas diferenças que nos podem salvar.
Análise em parâmetros
Sinopse
Considero a sinopse bem escrita e estruturada, descrevendo os pontos essenciais da história e dando a entender claramente a problemática em reflexão. No entanto, eu acrescentaria os elementos fantásticos para que o leitor perceba, logo em antemão, o grande diferencial desta obra face a outras semelhantes, principalmente de Rainha Vermelha.
Capa
Uma das razões pela qual muito dificilmente chegaria a esta obra, sem ela me ter sido sugerida no projeto, é a capa. Ela me repele, me afasta da obra, num primeiro encontro. Claro, que ao ler a sinopse percebi que aquela frase "não se julga um livro pela capa" poderia aplicar-se à obra em questão. E depois de alguns capítulos, rapidamente nos esquecemos da má impressão que tivemos ao início. No entanto, isso poderá ser um entrave para ganhar futuros novos leitores. Mas o que de tão errado tem a capa? Bom, para começar, o texto se perde na imagem. Tenho uma grande dificuldade para conseguir ler bem os diferentes elementos, especialmente o nome da autora e o nome da série. E o título não chama a atenção, apaga-se na imagem que tem por trás (apesar de ser minimamente legível). Depois temos a imagem, que, para dizer a verdade, nem sei bem do que se trata. Percebo que houve um esforço para acrescentar o tal simbolismo que encontrei na obra também na capa. Temos duas chamas em posições opostas de colorações diferentes (uma sem cor e a outra bem garrida) que simbolizam os dois estratos/raças da sociedade. E isso eu gostei até porque simultaneamente faz referência ao título (e é por esse mesmo motivo que não dou menor pontuação à capa). Mas detrás disso, muito sinceramente, não consigo dizer o que se encontra. Acho que são elementos para representar a realeza, mas a mensagem não passa claramente. Para além disso, e já espreitando a capa do segundo livro que já se encontra disponível, não consigo ver uma unificação da linguagem, tem de existir alguma ponte entre eles. Aqui cito os livros de Cris Silva como exemplo (A resistência: À beira do caos e A resistência: Contra o tempo).
Personagens
O mais interessante nas personagens desta história é que todas têm o seu mistério, algo que nos chama a conhecer um pouco mais sobre cada uma. As personalidades estão bem demarcadas e diferenciadas. No entanto, não acho que sejam muito inovadoras e acabam todas elas por bater em algum "tipo de personagem" (por exemplo, o rei como opressor e tirano que queremos ver fora do poder, o príncipe que está contra o pai e quer fazer diferente, a irmã do príncipe que aparece como a companhia alegre e bem eufórica que leva a protagonista a rir-se e a passar um bom bocado, a rainha como alguém apático que não age com medo do marido...).
História
Como já mencionei, a história em si não é muito inovadora. Tem alguns elementos que a diferenciam das restantes, nomeadamente o enquadramento fantástico num contexto distópico que, por norma, chama mais pela ficção científica. Apesar do início meio parado e previsível, ela vai ganhando força e realces mais diferenciadores com o avançar dos capítulos, chegando mesmo a ser daquelas "difíceis de largar" kkkkk É pena que isso só aconteça por volta do capítulo 15.
Escrita
Uma escrita leve com descrições simples e necessárias, sem grandes embelezamentos. O que mais me agradou foi o recurso esporádico a elementos simbólicos para transmitir algumas mensagens de uma forma mais subliminar. Teve um excelente primeiro parágrafo e o último parágrafo (antes do epílogo) não ficou nada atrás. E enquanto o primeiro capítulo, na minha mais sincera opinião, no seu todo, não foi lá muito bem conseguido (existindo demasiada informação, com ausência de ação que poderia enriquecer o conhecimento da sociedade em que se enquadra a história e a própria da protagonista), o epílogo foi qualquer coisa de genial, me lembrando muito A Maldição do Tigre (que deixa também antever o lado do vilão com planos de querer perseguir/fazer mal aos bons da fita), me deixando de queixo caído, completamente ávida pelo próximo.
Avaliação Global
Deixo aqui a já mencionada capa do livro.
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