A Assassina do Rei
E voltamos à programação normal do projeto! kkkkkkkk Não por muito tempo, já vos aviso, visto que recebi alguns convites para integrar equipes de concurso e o meu coração não conseguiu dizer que não. Então, vamos ter mais alguns booktrailers produzidos para concursos nos próximos tempos. Mas os pedidos continuam abertos e iniciarei a próxima leitura assim que tiver um tempinho para isso.
Hoje, trago-vos um livro que deu num booktrailer bem sensacional, bem de filme, mesmo, e isso só foi possível pelo enredo maravilhoso criado por Karina Andrade. O livro é A Assassina do Rei.
https://youtu.be/dfwj1ktz6N4
Vocês já sabem, né? Se gostaram, votem e/ou comentem para eu ter algum feedback.
Resenha
Era uma vez... Não é a primeira vez que começo uma resenha com este início, e não será também, certamente, a primeira vez que um livro fará alusão a esta abertura que nos remota aos contos da nossa infância. Tal como em O Jogo Real, em A Assassina do Rei existe uma intenção crítica bem clara por detrás desta opção.
Numa desconstrução da aclamada história da Cinderela, Karina Andrade apresenta-nos uma jovem órfã que sofre nas mãos da madrasta e meias-irmãs, mas que, ao contrário da versão original, não sonha em casar com o príncipe ou viver no castelo da família real. Elara quer entrar na morada real, sim, mas apenas para se vingar da morte de seu pai. Ela passou dez anos a preparar-se para esse dia, mas nenhum plano, por mais perfeito que seja, consegue resistir à força indomável e imprevisível do amor.
Mas comecemos então pelo início. As primeiras linhas não foram capazes de me seduzir. A autora opta por uma estratégia que a mim me causa um certo desconforto. Através da voz da protagonista, somos conduzidos logo no primeiro parágrafo ao cerne dos temas que serão refletidos: "a minha história é sobre vingança e amor, e o que estas duas coisas podem fazer com uma pessoa". Não é que seja um spoiler, ou até algo que não pudesse ser referido numa sinopse, contudo, para abertura do primeiro capítulo, torna-se bastante simplista e redutor. Porque não deixar o leitor tirar as suas próprias conclusões? É uma frase que estreita de imediato o olhar do leitor para esses dois temas, que até podem ser, sim, os únicos pontos de reflexão da história, mas é bem mais saboroso quando nós, leitores, chegamos lá aos poucos e por nós próprios. Claro que o meu gosto por inícios com descrições de ações poderá também estar a influenciar este meu desagrado. Prefiro emergir no ambiente através do que "vejo", do que com base naquilo que me dizem. A inserção de um prólogo poderia resolver, em parte, esse problema. Assim, ao invés de termos logo a narração da protagonista, poderíamos ter um encontro com uma ação ou conjunto de ações, importantes para a trama, narrados, quem sabe, por outro personagem. Nesse prólogo, os dois temas poderiam aflorar sem que fosse preciso dizê-lo diretamente e o primeiro capítulo viria depois reforçar essa ideia que já tinha sido implantada (indiretamente) no leitor. Na verdade, a autora já utiliza esta estratégia de alternância de narradores ao longo do livro, que lhe confere um maior dinamismo e despoleta no leitor uma maior atenção e curiosidade. Uma outra opção para o início seria inverter a ordem dos acontecimentos narrados, começando exatamente pela morte do pai dela. Um evento dramático que nos daria a conhecer muito melhor a Elara e facilitaria a relação leitor-protagonista. Só depois entraríamos mais a fundo na vida dela através de um recuo do tempo, por exemplo.
Uma questão que me deixou ambivalente foi o recurso a elementos fantásticos. Nada me levava a suspeitar que pudesse haver alguma fantasia envolvida, nem a sinopse apontava nessa direção. Pelo tom mais realístico e maduro com que a história se vai desenrolando, acabamos muito facilmente por nos esquecer que o ponto de partida foi a Cinderela, apesar de alguns pontos de ligação óbvios. A separação entre o mundo criado em A Assassina do Rei e o da Cinderela é notório, principalmente depois da protagonista chegar ao palácio, e ainda bem que assim o é. Mas é exatamente por tudo isto que quando surge a bruxa como a resolução para um dos problemas na trama, eu torci o nariz. Um vestido, ela precisa de um vestido! Todos nos lembramos que na versão original a resposta é oferecida por um elemento fantástico: a fada madrinha. Mas por a questão ser tão fútil, achei que talvez uma outra solução fosse encontrada nesta nova versão. A bruxa aparece como uma solução vinda do nada, algo demasiado fácil e oportuno. Gostaria de ter visto um pouco mais de desafio e realismo nesta demanda pelo vestido para o baile. O recurso ao fantástico só volta a aparecer num ponto mais à frente da trama e acaba por dar um pouco mais de sentido a este ponto inicial da narrativa. Aí já não estranhamos tanto. Ainda assim, são pontos demasiado pontuais para ser algo consistente e lógico. Gostaria de ter visto nessas partes um pouco do realismo que encontrei no restante da obra. E não me interpretem mal. Eu adoro fantasia! O que está aqui em causa é deixar claro e marcado de forma consistente essa posição artística no livro. As próprias expectativas que a autora cria nos leitores com a sinopse e o primeiro capítulo acabam por gerar este efeito de estranheza.
O desenvolvimento da história é bastante intenso e está sempre a acontecer qualquer coisa. Como são poucos capítulos, acaba-se por proporcionar este ritmo mais agitado, que, por um lado, permite que o leitor não se aborreça e queira sempre saber o que se passará a seguir, mas, por outro, leva a que se percam alguns momentos importantes de respiração e imersão no universo criado. Poucas são as descrições de ambiente e personagens que conseguimos encontrar. O leitor acaba por alicerçar o mundo que vai criando mentalmente com outras referências literárias, o que acontece, por norma, mas aqui acontece um pouco mais do que o desejável.
É de salientar, pela positiva, o rumo inesperado que o enredo segue, apanhando, muitas vezes, o leitor desprevenido. Algumas das soluções são bem criativas, logo em momentos em que o autor iria jurar a pés juntos que aí vinha um clichê. Acho que a partir do momento em que a história se desprega mais da Cinderela, existe uma liberdade criativa impressionante.
Relativamente aos personagens, o que posso dizer é que são bem marcantes e surpreendentes. Começamos por os achar bem clichês, mesmo, mas logo, logo, a autora trata de destruir as nossas certezas. Posso dizer que todos me surpreenderam, de alguma forma, mas destaco aqui o príncipe, que no meu primeiro julgamento o achei um pouco sem graça. Então, já o alerto, caro leitor, o príncipe tem personalidade e corre mesmo o risco de se encantar por ele kkkkkkk. De outros personagens não posso falar muito, senão acabo estragando a surpresa. É ler para crer!
E como sempre, acabo por me alongar mais do que devia. Custa começar, mas depois quem me faz parar? Bom, para terminar, se ainda estiver desse lado, caro leitor, gostaria de deixar bem claro que este livro é daqueles que a gente começa e, sem dar conta, já chegou no final. Conhece a sensação? Pois é, foi isso que me aconteceu ao ler A Assassina do Rei. Um livro de fácil leitura, surpreendente e cheio de romance e ação, como nós gostamos! Já li este livro há algum tempo, porque entretanto entrei como colaboradora no Concurso Gosick, mas durante o tempo que se passou, mesmo lendo outros livros pelo meio, não me esqueci do enredo o que é uma prova irrevogável da forma como esta obra se mostra única e inesquecível! Embrenhou-se nas paredes das minhas memórias.
Muito obrigada, Karina_Clarke
Análise em parâmetros
Sinopse
Gosto do pormenor de ser narrada em primeira pessoa, habituando o leitor para esse tipo de narração que irá encontrar no livro. Mostra consistência de linguagem. Em termos de estruturação, está irrepreensível, sendo lógica, pertinente e assertiva. Apesar de algum detalhamento, que poderia ser evitado, a sinopse reflete de forma eficaz o enredo. No entanto, tal como já foi mencionado acima, gostaria de ter sido preparada para os elementos fantásticos logo na sinopse. Isso não só iria fazer com que o livro chegasse ao público alvo, como também evitaria futuras deceções ou falsas expectativas.
Capa
A capa agradou-me logo desde o início quando recebi o pedido e ainda não sabia nada sobre a obra. É impressionante como a simplicidade e linguagem tão direta na capa se adequam à narração no interior do livro. Ela tem simbolismo e percebe-se que foi pensada para refletir a alma, o amago, da obra. No entanto, acho a fonte escolhida para o título um pouco sem graça, não se destacando na imagem poderosa que tem por base. Apesar de ser um pormenor, a ausência do nome da autora na capa transmite um certo amadorismo que, juntamente com a fonte do título mais "apagada", poderá afastar futuros leitores.
Personagens
O único aspeto mais negativo que encontro é a pobreza na descrição (mais no aspeto físico). Ainda assim, isso não impede o leitor de criar imagens fortes dos personagens que vão sendo moldados à medida que os vamos vendo em ação. A progressão desta construção é muito bem conseguida e muito fidedigna com o que acontece no mundo real, onde as pessoas vão mostrando diferentes facetas com o passar do tempo e à medida que vamos interagindo mais com elas.
História
Existem algumas inconsistências, já apontadas, onde algumas soluções arranjadas parecem artificiais para servir o propósito de espelhamento com a obra original "Cinderela". Num determinado ponto, parece que essa raiz é cortada definitivamente e começa a ser difícil ver pontos em comum, o que eu não consigo caracterizar como algo negativo ou positivo. Acho que é uma opção totalmente válida, só gostaria talvez de ter sentido uma progressão menos súbita nessa passagem. Mais uma vez se salienta que o ritmo mais agitado permite que o leitor não queira perder o fio à meada, o que o leva a ficar mais atento e curioso. Alguns pontos decisivos surpreendentes na trama revelam uma criatividade e uma forte capacidade de antecipar a linha de raciocínio do leitor e enganá-lo (o que, mais uma vez, é um forte ingrediente para fazer o leitor continuar interessado).
Escrita
Ela é acessível e está bem estruturada, mas é desprovida de grandes detalhes ou embelezamentos, o que a torna um pouco pobre. Ainda assim, pode-se dizer que é bastante fácil acompanhar o raciocínio da autora. Existem algumas gralhas ocasionais, que uma revisão facilmente resolve.
Avaliação Global
E aqui deixo a mencionada capa do livro:
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