IV. Uma vida de pirata para mim
ANTERIORMENTE EM BONS SAQUES PARA VOCÊ:
— Já disse que odeio os ingleses? — Meu pai falava com um marujo, rindo.
Havia uma pilha de coisas saqueadas, joias, colares, pulseiras, anéis, barris com gordura de baleia, lunetas novas, roupas de sobra e várias outras coisas que aqui não teriam valor e que mesmo assim eles trouxeram.
— Ergam as velas, estamos indo gastar nossa pequena fortuna! É hora de zarpar. — gritou o capitão com veemência para toda a tripulação.
Os homens ocupam seus devidos lugares enquanto sigo meu pai até sua cabine, desviando dos piratas que passavam apressados pela minha frente. Entro na cabine e logo o cheiro de álcool penetra minhas narinas, a cor da madeira é mais escura do que a de fora, havia um globo em cima de seu birô, uma das paredes é toda coberta de armas e alguns mapas. Meu pai se senta em uma cadeira que de longe aparenta ser bastante confortável, põe as pernas em cima da mesa de forma relaxada, sento-me na cadeira em sua frente.
— Sentiu minha falta? — pergunto, risonha.
Meu pai abre um sorriso, revelando seus dentes amarelados e pedaços de ouro em alguns deles. Ele tira as pernas de cima da mesa, deixando um pouco de terra em cima, ouço o barulho de uma gaveta se abrindo e então um urso de pelúcia surge em minha frente.
— Teddy?! Pai você ainda o tem. — Solto ar pela boca.
— Acha mesmo que eu ia jogar fora a única coisa que eu ainda tinha da minha filha? — Ele volta a pôr os pés para cima. — Mas agora quero saber como foi sua vida durante esse tempo.
Agarro o urso e deixo-o em meu colo, ele me fez sentir segura tantas vezes, me acompanhou em muitas aventuras, mesmo algumas sendo imaginárias. Minha mãe me contava histórias sobre piratas ou aventuras que ela já tinha vivido com meu pai, eu as adorava, exceto uma, a que mais temia: O que acontecia com quem embarcava em "A vingança da rainha Anna". A simples menção deste navio ainda me causa arrepios.
— Fui abrigada pelo rei, eles me criaram como se eu fosse parte da família, recebi estudo e educação. Eu me apaixonei e tinha planos de fugir, se eu não tivesse prometido que lhe esperaria. Você voltou e ele morreu, fim da história.
O capitão tira seu chapéu de tricórnio.
— Sinto muito, maruja.
— Não precisa, essa parte da minha vida morreu no momento que eu pus os pés neste navio. À partir de agora faço parte da tripulação e não há nada no mundo que me faça abandonar este navio novamente. — afirmo.
Meu pai está balançando a cabeça, como se me apoiasse, quando ouço um palrar de uma ave. Uma ave que eu sei bem qual é. Viro-me rápido e então vejo um papagaio em um poleiro improvisado, balançando a cabeça para um lado e para o outro.
— Como o chamam? — Levanto-me e me aproximo do pássaro verde.
Escuto meu pai caminhar até ficar ao lado do poleiro, então pega uma garrafa de rum e bebe-a pelo gargalo.
— Falante, porque ele não fala nada! Só gasta nossas sementes e suja minha maldita cabine. Ave imprestável! — Ele rosna.
Começo a rir. Meu pai abre um sorriso terno e põe o chapéu em sua cabeça de novo.
— Pode descansar se quiser, maruja, tenho que voltar para o timão. Bons saques para você!
Sorrio novamente, aquela era sua forma de dizer boa noite. Ele saiu da cabine me deixando sozinha com suas coisas, havia uma cama improvisada no canto direito. O aposento do meu pai é repleto de bugigangas sem uso esclarecido, só se tornam especiais por serem banhadas em ouro ou prata. Ia me deitar quando uma canção invade o cômodo, reconheço-a na hora, meu pai cantava para mim quando era pequena. Abro as portas e vejo a tripulação cantando em uníssono.
—Yo-ho, yo-ho, a pirate's life for me. — canto junto a eles.
O marujo favorito do meu pai e também seu contramestre, me convida para dançar. Ele está bem mais velho do que me lembrava, com a cabeça grisalha e um sorriso mais escuro.
— Dedo podre! — Sorrio ao vê-lo.
O resto da tripulação começa a bater palmas no mesmo ritmo, enquanto Dedo Podre desliza comigo sobre o piso encerado. Numa sequência de dois passos saltitantes e uma pausa para fazer o mesmo do lado contrário. Não consigo evitar e sorrio, isso está no meu sangue, não tem como escapar. Seguimos cantando e batendo palmas até que o capitão se manifesta.
— De volta ao seus postos! Nosso destino está logo em frente, cães sarnentos!
Um silêncio sórdido volta ao navio, de forma que só consigo escutar o barulho das ondas. Subo as escadas e fico ao lado do meu pai, vendo o pedaço de terra ficar cada vez mais perto. A âncora foi derrubada e em bote fomos até o cais, como sempre repletos de mulher bonitas e vestidas de forma estratégica. Por outro lado podemos ver comerciantes que se interessam pelo que temos e compram o que saqueamos, já posso ver alguns dos nossos fazendo seus negócios. A multidão que eu estava seguia caminhando a até um taberna chamado "Ratos do mar".
Assim que entro sinto um cheiro de cerveja barata, o cheiro do álcool é muito forte, há bastante homens no estabelecimento. Rindo, gritando, conversando, ou fazendo tudo isso bastante alto. Ouço o tilar de copos a cada quatro segundos. O lugar é sujo, fede a mijo e a mofo. Controlo minha respiração para não vomitar.
— Sente-se conosco e beba um pouco, afinal, temos que comemorar sua volta. — diz meu pai.
Sento-me ao lado dele na mesa e logo quando as cervejas chegam meu pai pega seu caneco propondo um brinde.
— À minha filha, por nunca ter desacreditado.
A tripulação grita em resposta, bebo um gole da cerveja só para não fazer desfeita. Me levanto e deixo-os se divertindo, preciso de ar puro. Volto para o navio, não quero mais ficar em terra, já passei tempo demais lá.
Subo pela rampa de madeira maciça e remo novamente até o Tentáculos de Ferro. Apoio-me em uma corda do barco e subo para a área no timão, continuo encarando a noite, sabendo que o sol nascerá em algumas horas. O vento rebela meus cabelos e inalo o cheiro de sal que o mar emite. Como eu sempre quis fazer em anos.
— Uma moça indefesa não deveria ficar desacompanhada. — diz uma voz vinda de trás.
Sem pensar duas vezes minha mão vai firme na espada em minha cintura, apontando-a para o pescoço do homem a minha frente.
— Não sou indefesa. — rosno.
Ele parece ter a minha idade, se for mais velho deve ser apenas alguns anos. Tem cabelos castanhos, nariz afilado e pontudo, lábios finos, bochechas rosadas, queixo firme, olhos também castanhos e pequenos. O que mais se destaca em seu rosto é o sorriso. Tem um sorriso branco, o que não é comum para um pirata. O garoto leva a mão à minha espada e a abaixa com cautela.
— Não irei esquecer disto. — Sorri novamente.
Guardo minha espada e continuo olhando para ele.
— Sabe que é muito perigoso fazer este tipo de coisa comigo, marujo? Caso não saiba, sou a filha do capitão. Se quer morrer, existem jeitos mais rápidos.
O moreno passa a mão na barba por fazer e se senta num barril ao meu lado.
— Só achei que poderia falar com você, já que é a única nesse navio que tem a idade próxima a minha. — Ele dá uma pausa. — À propósito, você dança muito bem.
Mordo minha bochecha por dentro e me aproximo mais dele.
— Por que não guarda seus comentários para alguém que queira ouvi-los, marujo? É melhor ficar longe de mim, não sou boa companhia. — digo enquanto me afasto para descer as escadas.
Posso escutar passos pesados vindo atrás de mim, ele não vai me deixar em paz. Vou para a área do dormitório, repleta de redes velhas e sujas. Passo por todas elas antes de chegar no cômodo onde eles guardam as bebidas, passo os dedos pelas prateleiras empoeiradas até achar um vinho de meu agrado.
— Pensei que damas não bebessem. — diz minha segunda sombra.
Destampo a garrafa e bebo um gole.
— Acontece que eu não sou uma dama.
A única luz presente é a de uma vela, na qual a chama sacode no balanço do barco. Está quente aqui embaixo, posso sentir minha testa molhada.
— Para uma garota conhece bastante este navio. Por que retornou agora? — pergunta ele.
Coloco a garrafa em cima de uma mesa.
— Por que será que você faz tantas perguntas?
Ele ri novamente, se encostando no batente da porta justo quando eu ia passar. Saco uma faca de dentro da minha bota e coloco-a em seu pescoço.
— Ô,ô, por que você precisa ser tão agressiva?
Arfo.
— Apenas não gosto de pessoas fazendo perguntas. — digo devagar. — Agora se me der licença, vou voltar lá para cima. Sozinha!
Ele se afasta da porta e eu guardo a faca, estou na metade do caminho quando ele grita alguma coisa.
— Damon.
Paro e me viro para trás.
— O quê? — pergunto.
O moreno dá mais um passo para frente.
— Damon, este é o meu nome. — Ele faz uma pausa. — Mas pode me chamar como quiser.
Assinto, como se algo fizesse sentido.
— Desprazer em te conhecer, Damon. — Imito seu sotaque engraçado. — Não tem medo da morte, não é?
Damon se deita em uma das redes, presumo que seja a sua, e começa a balança-la.
— Se tivesse não falaria com a filha do capitão.
E com isto apaga a vela, me deixando na vasta escuridão e no silêncio. Agradeço mentalmente por ele ter apagado a vela, pois só assim, não iria me ver sorrir.
Boa noite, tripulação!
Fiquei muito na dúvida se deveria postar este capítulo hoje porque o meu Wattpad tava bugando muito ontem, MAS, cá estamos! Uhuuu.
Também tiveram um desprazer em conhecer esse tal de Damon? Porque eu não kkkkk
O que acharam do capítulo de hoje, amores? Me digam, vamos conversar!
Deixem comentários(vcs não imaginam o tanto de risada que eu dou <3)
Um beijo enorme e aproveitem a semana!
Fim de semana de provas dou uma de Elsa: livre estoooou! Finalmente vou voltar a ler, escrever e atualizar minhas séries(existem final de semana melhor? Impossível).
P.S: ESTOU MUUUUITO FELIZ PORQUE BONS SAQUES PARA VOCÊ GANHOU SEU PRIMEIRO CONCURSO!!!!!!!! SEGUNDO LUGAR EM FICÇÃO GERAL NO CONCURSO ESCRITORES ESTRELA DE PRATA.
OLHA QUE LINDO ESSE BEBÊ:
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