Capítulo 01 - Olga
"En ce vert bois doncques m'acheminai
Et ci et là, seulet, me promenai
Dessous rameaux et branches verdelettes;
Me promenant, pensais mille chosettes.
Naquele bosque que afinal me encaminhei
E aqui e lá, sozinho, divaguei
Debaixo dos ramos e dos galhos de árvore
A mim prometendo, pensando, milhares de coisas."
Qualquer passageiro do voo 815 da Oceanic Airlines que prestasse bastante atenção ao seu redor naquele momento, se depararia com aquela distinta mulher sentada em um dos bancos acolchoados já ocupados do avião. Com os olhos fixos sobre o livro de capa antiga e desgastada, ela nem ao menos piscava. Qualquer um que por ali passasse diria, e até mesmo invejaria, o nível de concentração ao qual ela poderia chegar, ainda mais estando em um lugar tão barulhento como dentro daquele avião. Ou então, a história do livro deveria ser no mínimo bastante interessante.
Mas era o total oposto.
Olga estava presa na mesma página a horas. Não conseguia ler uma linha de seu livro de poemas sem se perder em seus pensamentos. Sem deixar de pensar no motivo que a fizera partir da sua amada França, em direção as cidades congelantes da Rússia. A lembrança se reprisava de forma contínua em sua cabeça, como um disco arranhado.
"— Ma chérie, je n'ai jamais aimé personne comme je t'aime toi*. - o homem sussurrou em seu ouvido, suas mãos atrevidas passeando sob as pernas de Olga.
— T-tire as mãos de cima de mim! - Olga falou sem força, sua voz falhando enquanto aquele homem pressionava seu corpo sobre mesa da sala de professores.
— Você não entende chérie, se você não me der o que eu quero posso acabar com você. Posso demiti-la desse colégio num estalar de dedos. Será tão fácil quanto respirar. - ele então abocanhou o pescoço de Olga, inalando cada resquício de seu perfume adocicado. Suas mãos agora, iam em direção a barra do vestido o qual Olga estava usando. - Você é tão deliciosa.
Distraído, ele não sentiu quando Olga habilmente pegou o pequeno vaso de flores de cima da mesa.
Foi rápido.
Uma chuva de cacos de vidros.
E agora, Jean Piérre estava caído no chão com sua têmpora banhada em líquido vermelho.
Sangue."
Uma das aeromoças falou algo pelo alto-falante, tirando Olga de seus devaneios. O avião estava prestes a partir.
Então era isso.
Olga estava prestes a iniciar uma nova vida, onde pretendia esquecer de todo o seu passado. Mas haveria algo que Olga nunca se esqueceria. Jean Piérre. Esse nome estava marcado feito a brasa em sua mente. Ela sempre se lembraria dele. E era bom que não esquecesse, assim sempre evitaria que outros do tipo aparecessem em sua vida.
Ela então voltou seu olhar para a janela do avião, olhando agora para as nuvens brancas como algodão. Se perguntou se a neve da Rússia era mais ou menos parecida com aquilo.
Rússia, seu novo lar.
♔♕♔
A neve da Rússia não era nada parecido com aquilo. Olga tinha chegado a essa conclusão depois de pouco mais de dias vivendo em seu novo lar. Mas não importa quanto tempo passasse, ela sempre se surpreendia.
Foi difícil se acostumar com o clima frio de Moscou nos primeiros meses. Mais difícil ainda era se acostumar com o dialeto russo. Era simplesmente impossível. Mas como uma boa professora, Olga sempre adorou estudar e pesquisar.
A vida é uma escola, e o aprendizado é constante, ela sempre dissera a seus alunos na França. Agora, na Rússia, ela não parou de lecionar. Passou a ensinar francês em um pequeno curso, para quem quisesse aprender. A renda que ganhava não era grande, mas era o suficiente para sobreviver.
Além disso, o carinho que recebia de seus alunos era imenso, e a fazia se sentir tão acalentada naquele país desconhecido, que para ela já era o bastante.
É o carinho de vocês que me aquece nesse incessante inverno Russo, era mais uma das frases que ela dizia ao seus alunos, em forma de gratidão. E era verdade.
♔♕♔
Agora faziam aproximadamente onze meses que Olga deixou a França para viver na Rússia. Seu décimo primeiro mês na terra do czar passaria em branco como todos os outros, mas por uma obra do destino não foi bem assim.
Olga não sabe ao certo quando foi que tudo isso começou. Quando ela percebeu já era tarde demais.
Um homem.
Ela não o conhecia, mas já o tinha visto diversas vezes.
Na porta do local onde ministrava o curso de francês.
No mesmo supermercado onde costumava fazer suas compras.
No cinema.
Se esgueirando pelos becos perto de sua casa.
Ele a estava perseguindo.
Onde quer que ela fosse aqueles olhos negros e ameaçadores a seguiriam.
Ela estava aterrorizada.
♔♕♔
Não demorou muito para acontecer. Foi quase previsível.
Era tarde da noite. Olga lecionou como ninguém. Porém a aula do dia havia sido diferente das outras. Os alunos alegremente, convidaram Olga para se juntar a eles e em uma pequena confraternização. Foram horas maravilhosas, regadas a conversas despretensiosas e flertes envergonhados, coisas as quais eram apenas vagas lembranças para Olga. Lembranças de uma época menos complicada, muito antes de poros pés em terras russas.
Olga se sentiu diferente. Maravilhosamente diferente.
Agora, andando pela rua deserta e mal iluminada, a caminho de sua casa, ela pensou melhor. Aquilo soara quase como uma despedida.
Que assustador.
Um barulho ressoou em um dos becos pelo qual ela passava.
Foi então que ele apareceu.
O homem que a vinha perseguindo estava olhando fixamente para ela; a poucos metros, ele a analisava. Os olhos brilhantes, e a boca enchendo-se de saliva, como se estivesse faminto por algo.
Essa é a hora de fazer suas poucas aulas de karatê valerem a pena, pensou Olga.
Porém não houve tempo para reação. O homem abriu um sorriso malicioso, e agilmente, tirou de seu bolso do casaco uma faca bem afiada. Ele então atacou, como um verdadeiro predador.
— NÃO! - Olga gritou, sua voz saindo estrangulada – POR FAVOR NÃO!
Após incontáveis facadas em seu abdômen, o sangue começou a fluir.
Olga desfaleceu.
♔♕♔
Olga alternou entre momentos de inconsciência e lucidez. Num dos poucos instantes em que conseguiu se manter acordada, ela pôde reparar que foi movida para outro lugar, sendo retirada do beco sujo onde fora atacada, para agora se encontrar deitada no chão de um quarto misterioso. Pôde reparar também que o homem que a atacara estava do seu lado, com sua face sendo iluminada por uma fraca lâmpada que pendia no teto.
Quando notou que ela o olhava, o homem se aproximou e começou a acariciar os cabelos da jovem mulher.
Aproximando-se do rosto de Olga ele disse:
— Não se preocupe, está tudo bem agora.
Em seus últimos suspiros Olga lamentou-se mentalmente. Ela não queria morrer, não agora que as coisas pareciam estar dando tão certo. Ela gemeu baixinho, resmungando por ter sido tão burra. Novamente um homem havia acabado com sua vida. Primeiro Jean Piérre, e agora esse desconhecido.
Olga continuou pensando no que poderia ter feito de diferente da sua vida, esperando o momento em que a escuridão finalmente viesse lhe tomar conta. Mas antes que pudesse perder por completo a consciência ela podia ouvir um sussurro macabro:
— Adeus, minha bonequinha.
♔♕♔
TRADUÇÕES*
Ma chérie, je n'ai jamais aimé personne comme je t'aime toi = Minha querida, nunca amei ninguém como eu te amo
Hey!
E aí gente bonita, tudo de boa na lagoa?
Deixem nos comentários o que acharam!
Deem opiniões, dicas, críticas construtivas, ou apenas deixem um "oi" pra autora não ficar tristezinha. :D
Nos vemos na próxima quarta para mais um conto!
BYE BYE CICLE!
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