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13

Durante o jantar, Aline percebeu que sua mãe estava inquieta. Seu desejo de conversar era visível, portanto a jovem evitou ao máximo fazer contato visual, buscando trazer assuntos diversos à tona. Fernando e Moacir conversavam numa boa; Tina era reservada e fria, sem deixar de ser polida, porém. Era nítido que ela estava se esforçando para ser agradável, apesar do desconforto que sentia.

- Posso pegar mais suco? - indagou Bernardo. - Está tão gostoso!

- Aqui, deixe que a titia lhe sirva um pouco mais... - prontificou-se Aline, apanhando a jarra de vidro e aproximando-a do copo do menino.

Tina estendeu uma mão à frente.

- É melhor não. Ele já tomou suco demais, é provável que faça xixi na cama.

- Ora, deixa disso! - intrometeu-se Ivete, cravando seu garfo nos tomatinhos. - Deixe o menino tomar quanto suco ele quiser!

Contrariada, Betina permitiu que seu filho fosse servido, mas não sem lançar um olhar para seu marido. Fernando assentiu sutilmente, mostrando a ela que havia compreendido. Aline ficou desconfortável diante da cena. Seu pai e Bernardo seguiam jantando tranquilos, alheios ao que se passava.

Ao término da refeição, Fernando levou seu filho para colocar o pijama, enquanto as mulheres recolhiam a louça. Ivete fitava Aline com certo desespero, como se pudesse apressá-la para que fossem juntas à cozinha. Apreensiva com o ressurgimento do assunto, a jovem atriz fez questão de demorar-se na sala de jantar.

- O senhor não quer assistir alguma coisa, papai? Deve estar passando algum jogo na TV.

- É mesmo? Você pode colocar para mim, então?

- É claro! - Ela sorriu, notando sua mãe repuxar os lábios em contrariedade.

Aline passou um tempo com seu pai na sala de estar, acomodando-o, e quando retornou à cozinha, Betina e Ivete estavam com o trabalho bem adiantado.

- Não precisava disso, gente... Vocês são minhas convidadas. Eu ia lavar tudo.

As outras duas não esboçaram reação.

- Aline... - sussurrou Ivete. - Você chegou a considerar dar uma entrevista para a Sônia Abrão?

- Mamãe, por favor... - Ela revirou os olhos.

Tina olhou de uma para a outra, sem entender.

- Eu prefiro não ter mais que falar sobre isso, mãe.

- Você pode até dizer que isso não a incomoda, mas sejamos sinceras... Você morando em São Paulo, ao invés de acompanhá-lo até Brasília...

- Mas não é assim que funcionam os casamentos de gente rica? - interveio Tina, ainda confusa.

- Foi uma decisão de comum acordo... - gaguejou Aline ao se explicar. - Cícero e eu estamos bem, nós não temos segredos.

- Não é o que está parecendo! Vocês dois estão na boca do povo.

Aline piscou, sem saber o que responder.

- Perdão, mas o que foi que eu perdi? - indagou Betina.

- É incrível! Você nunca está por dentro de nada... - Ivete revolveu a boca em desaprovação.

- É porque eu estou ocupada cuidando da minha própria vida! Pra mim já chega!

Betina lançou o pano de prato com força sobre o balcão e se retirou. Ela ainda não havia perdoado sua mãe por ter tirado sua autoridade diante do filho durante o jantar. Ivete se aproximou de Aline assim que ela passou pelo portal.

- Não queria falar na frente da sua irmã, não é? Pois bem, agora ela saiu. Pode se abrir.

- Não, mãe, eu não quero é falar a respeito!

Aline, pisava em ovos na tentativa de não ser grosseira, ainda mais nas primeiras horas da chegada de sua família. Ela se ocupou de guardar a louça limpa e seca. Ivete observou seu perfil com indignação.

- É inacreditável... Eu dei à luz duas nervosinhas - resmungou. - Escute o que estou te dizendo: se você e seu marido não vierem a público, as pessoas continuarão falando.

Aline não respondeu.

Naquela noite, após um banho relaxante, ela desabou na cama, de modo que não se moveu nem para colocar um travesseiro sob seu pescoço.

- Sobrevivi!  E esse foi só o primeiro dia...

Suas pálpebras, pesadas de cansaço, se fecharam e ela logo adormeceu.

                                  ✨

Aline estava de pé às cinco da manhã para treinar, esperando, assim, preparar-se melhor para enfrentar sua mãe.
Ela tomava um grande copo de suco verde quando Ivete adentrou a cozinha.

- Pode dizer o que quiser, mas o fato de seu marido ir parar na mídia com outra mulher com certeza mexeu com você! - Ela cruzou os braços. - E se não abalou seu casamento agora, certamente vai abalar no futuro.

Aline engasgou. Após um acesso de tosse, que fez seus olhos lacrimejarem, ela encarou Ivete.

- Bom dia para a senhora também, mãe! Como passou a noite?

Aline limpou a boca com as costas da mão, olhando desanimada para o restante do suco.

- Desculpe - retorquiu a mulher, sem dar o braço a torcer. - Mas achei que seria importante você desabafar comigo.

- Por acaso a senhora estava me vigiando? Ainda nem tirou a camisola!

- Filhos... Tirando nosso sono desde sempre - resmungou. - Primeiro são bebês, depois esquecem de avisar que tem que comprar cartolina, depois ficam até tarde na rua e, por fim, eles se casam e pensam que a responsabilidade dos pais já terminou, e...

- Lamento que isso tenha acontecido. - E, acrescentou mais baixo, para si mesma: - Cícero merece um belo de um soco!

- Desculpe?

- Não é nada. Só não estou acostumada a ver a professora Ivete de camisola na cozinha.

- Ainda é cedo! - protestou, olhando à sua volta. - E aposto que aqui neste condomínio chique vocês não recebem visitas inesperadas.

- Bem, já me ocorreu, sim. - Ela virou o conteúdo do copo na pia, lembrando-se do episódio com Cícero, o que só serviu para irritá-la. Todos os seus problemas atuais envolviam aquele homem.

Aline sentia o olhar de sua mãe sobre si enquanto lavava o copo.

- Então...

- Então o quê? - rebateu a moça. - Por favor, não... Apenas, não!

Gesticulando num frenesi, Aline apressou-se para fora da cozinha, rumo ao banheiro de sua suíte. Ela precisava de um banho para começar bem o dia.

Vendo-se sozinha, Ivete abraçou a si mesma e resolveu voltar para o quarto.

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