11
A família chegou na tarde seguinte.
Aline havia combinado com Osvaldo de ir encontrá-los em determinado ponto de referência. Quando a moça avistou o carro de seu pai, seu coração acelerou e aqueceu seu peito. Colada ao assento do carro, apreensiva, Aline mal conseguia respirar, sentindo seu ventre se revolver de ansiedade. Ela não sabia ao certo o que esperar daquela reunião.
Aline desceu. Os carros estavam estacionados um de frente para o outro. O vento soprava contra ela, conforme caminhava até a janela do passageiro do carro oposto, onde estava seu pai, a fim de dar instruções à sua família.
– Estou tão contente por terem vindo! – exclamou ela, inclinando-se para dentro para depositar um beijo no rosto de Moacir, e cumprimentar os demais de forma breve.
O vento insistia em atrapalhar seu cabelo e Aline lutava bravamente para manter seu rosto livre dos fios que o açoitavam. No fundo, porém, ela estava grata por isso lhe servir como uma distração naquele primeiro momento. Aline se inclinou mais uma vez para dentro do carro, os braços apoiados na janela, e espiou o menino adormecido na cadeirinha no banco de trás, entre a mãe e a avó.
– Espero que tenham feito uma boa viagem. – Ela abriu um sorriso para todos. – O Bernardo está tão lindo!
Moacir apertou a mão de sua filha, contente por revê-la.
– E então? – interveio Fernando, as mãos grudadas ao volante. – A gente chega na tua casa ainda hoje, ou vamos ter que dormir em algum canteiro por aqui?
Aline revirou os olhos.
– Certas coisas nunca mudam, não é? Você ainda é um bobão!
Ela trocou um toque de mãos com o cunhado.
– Senti sua falta, mano.
Fernando inclinou a cabeça ao dizer que partilhava o sentimento.
– Mas é sério. Aposto que todos aqui querem esticar um pouco as pernas. – Sua esposa e sogra ecoaram o desejo de chegar logo, gesticulando.
Aline assentiu e indicou o próprio carro com o polegar.
– É só vocês nos seguirem.
– Quem é aquele cara? – quis saber o pai.
– Ah, é o Osvaldo, meu segurança – explicou, como se não fosse nada de mais, mas sua família foi envolvida pelo silêncio, impressionada.
Aline deu dois tapinhas na porta e se afastou.
– É só seguir, tá? – repetiu ao apontar para Fernando, enquanto se dirigia de volta ao carro.
Após aquele contato inicial, Aline sentiu-se mais leve. Sentiu que a tensão inicial havia se dissipado e que poderia lidar com a situação. Em silêncio, Osvaldo conduziu o grupo, guiando-o pelas ruas movimentadas de São Paulo em direção ao condomínio.
Quarenta minutos depois, após pegar um leve engarrafamento, todos chegaram em segurança ao destino. A família em peso demonstrou alívio ao poder enfim sair do carro. Ivete correu para abraçar Aline. Betina soltou seu cinto de segurança e desceu, enquanto Bernardo acordava e esfregava os olhos, espreguiçando-se, ainda entorpecido pelo sono.
– A gente chegou? – quis saber.
– Chegamos, sim, filho.
Betina alongou sua coluna e as pernas, então foi até a cadeirinha para soltar o menino.
– Venha. – Ela o segurou no colo e, antes de pousá-lo no chão, recomendou: – Não se esqueça de pedir a bênção à sua tia, como nós te ensinamos.
Bernardo assentiu ainda desorientado e aguardou, de mãos dadas com a mãe, até que chegasse sua vez de cumprimentar Aline. Ivete estava maravilhada ao contemplar a fachada da casa; ela cutucava o marido para chamar sua atenção aos detalhes. Fernando recolhia as embalagens vazias pelo carro, sem conseguir esconder sua admiração pelo fato de Osvaldo manter-se a certa distância, com uma mão pousada sobre a outra e as pernas ligeiramente separadas.
– Não dá pra ver pra onde ele tá olhando – comentou em voz baixa ao aproximar-se de Betina, que revirou os olhos. – Ele pode estar olhando pra mim, ou pra você, ou pra qualquer outro lugar, e nós nunca saberemos!
– Como se você nunca tivesse visto um par de óculos escuros na sua vida...
– O que será que ele faria se eu chegasse correndo? Por quantos quarteirões será que ele conseguiria me seguir? Ou talvez ele me derrubasse antes...
– Ele é um segurança, Nando! – retorquiu Betina. – Não um super-herói! E a menos que você atentasse contra a vida da Aline, não creio que ele ligaria pra você. Me poupe!
– Estraga-prazeres... – bufou ele.
Depois de Moacir, foi a vez de Betina cumprimentar a irmã. Aline sentiu certo desconforto, como se algo não estivesse certo, porém guardou a impressão para si.
Aline ficou nostálgica ao ver Bernardo diante dela. Ela mal pôde conter a emoção ao ser cumprimentada por ele; Aline concedeu-lhe a bênção. Tristeza oprimia seu peito e ela quase foi vencida pela dor, mas encontrou conforto nos braços daquele serzinho a quem tanto amava. Aline sentiu aquele contato regenerá-la, e prolongou o abraço de que havia sentido tanta falta, suspendendo Bernardo no colo e salpicando alguns beijos no sobrinho, que deixaram nele suaves marcas de seu batom rosa nude.
Aline encontrou o olhar compreensivo e cúmplice de seu pai. Quando soltou Bernardo, por fim, ela estava decidida a fazer valer cada dia que passasse na companhia dele; não ficaria remoendo o passado. Assim, Aline dedicou-se a fazer sala para seus visitantes.
Enquanto sua tia conversava com os demais, Bernardo disfarçadamente limpou do rosto as marcas de seus beijos com a manga comprida da blusa, pensando que ninguém veria. Aline, entretanto, percebeu e sorriu para ele. Bernardo não conseguiu desviar o olhar dela, com certo fascínio e os trejeitos familiares de quem desconfia conhecer alguém, mas que não se lembra de onde.
Os membros adultos da família estavam cansados, Aline notou, não apenas por causa da viagem, mas abatidos devido à luta incessante acompanhando a trajetória do menino, as contínuas internações. Estavam todos exaustos, mas não desanimados. E Aline estava disposta a fazer com que eles tivessem dias confortáveis.
– Bem, imagino que vocês possam querer descansar um pouco agora, não é? Suas suítes já estão preparadas. As camas estão forradas e há toalhas limpas.
– Eu tenho uma pergunta muito importante, Aline. – A atenção dela voltou-se para a mãe, que gesticulava com frenesi. – Onde fica o banheiro?
– No corredor – ela riu –, perto da sala de visitas.
Ivete precipitou-se para dentro da casa. Bernardo a seguiu, instando para que ela o esperasse. Ivete se deteve e então eles seguiram juntos, apressados. Aline voltou-se para o restante do grupo e percebeu as olhadelas curiosas que Fernando lançava para o segurança.
– Osvaldo, venha cá, por favor – chamou ela e fez as apresentações, gesticulando: – Osvaldo, esses são: Moacir, meu pai, a Betina, minha irmã, e o Fernando, meu cunhado. A senhorinha que entrou é a Ivete, a minha mãe, e o menino, meu sobrinho, o Bernardo, filho deles. Família, esse é o Osvaldo. Ele é um dos responsáveis pela minha segurança.
Osvaldo inclinou a cabeça ligeiramente em cumprimento, mas manteve a expressão sólida como uma pedra.
– Imagino que o senhor deve desejar guardar o carro – dirigiu-se a Fernando. – Permita-me mostrar a garagem.
Antes que Fernando pudesse segui-lo, era preciso retirar as malas e outros pertences do carro. Deixada a cargo de tudo depois que ele saiu, Betina bufou, enchendo os braços de coisas para carregar, enquanto o marido se divertia ao encontrar uma mesa de sinuca no alojamento dos seguranças e uma geladeira abastecida com cerveja.
– Onde posso colocar isso?
– Deixe-me ajudar – ofereceu-se Aline, pendurando algumas bolsas nos ombros e puxando uma mala.
Aline e Moacir entreolharam-se e ajudaram Betina a levar os objetos para seus respectivos quartos.
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