15. ela vira gelo
i n d i c a ç õ e s p / e s t e c a p í t u l o :
only you → sarah close (acoustic)
river of tears → alessia cara
runnin' → naughty boy ft. beyoncé
breathe (2am) → anna nalick
stop and stare → one republic
AVISO: Este capítulo vai ser onde o psicológico da Lívia mais sofre. Se alguém já passou por algum abuso psicológico ou passou por alguma situação onde álcool esteve envolvido, eu peço que pule o capítulo por um inteiro e que entre em contato comigo para saber um resumo.
A saúde mental de vocês é muito mais importante que o meu livro.
15. ela vira gelo
Tinha dito, para Aquiles e para mim, que não estava pronta. Mas ele, apesar de acenar e disfarçar o olhar safado, parecia estar.
Não para me ter por completo, mas para realmente me conquistar cada dia mais, com massagens nos pés e filmes que começavam a ocupar o móvel da televisão. Ele estava pronto para tentar e me ter desde o momento em que abri a porta para ele entrar no apartamento, e eu estaria mentindo se aquela mania de ficar me trovando não tivesse começado a funcionar.
Dentro das mensagens do meu celular que tinha apitado, somente duas pessoas ocupavam minha tela, um era Aquiles me informando que chegaria mais tarde que o normal, mas que tinha deixado - como de costume - o jantar na geladeira, o qual a certeza me dizia que teria um bilhete de uma cantada clichê.
Os últimos daqueles bilhetes estavam guardados dentro de um pote velho nos armários. Todos com a sua letra e decorações fracas de quem não consegue segurar uma caneta direito, e imaginei um dia eles todos colados um em cima do outro perto do calendário que nós dividíamos, perto da cozinha onde eu já os escondia.
Aquela cozinha fazia parte da minha rotina, nem mesmo que fosse para assistir outra pessoa cozinhando, para espalhar minhas folhas no balcão e estudar, organizar minhas finanças, organizar a agenda dos trabalhos.
Feliz, me sentia relativamente calma por chegar no meu apartamento, um lugar qual tinha me feito sentir deslocada por muito tempo mas que de repente, com a nova decoração, não fazia tão mal. Ainda sentia a força de Aquiles colocando as suas manias e jeitos goela abaixo, porém não me importava, algumas vezes ao longo de todo aquele dia e ao longo de emails a serem respondidos pensei que conseguiria algo, e desejei que ele não tivesse me deixado.
Ele sentia medo, sentia nervosismo, sentia coisas que mostravam o seu desejo para mudar, do mesmo jeito que eu. E eu ia achar um jeito, do mesmo modo que tentava todos os dias.
Eu queria gastar meu tempo, com estudo e com pensamentos, como se meu cérebro finalmente estivesse ligado. Mas aquela respiração tranquila que eu possuía logo mudou quando o cheiro de hortelã natural de Aquiles que permeava a casa estava ofuscado por outro amadeirado.
Assim, simples mas nada leve, no automático, me senti idiota por se quer acreditar em qualquer coisa que estava acontecendo. A instantaneidade fez eu confirmar que eu não estava pronta, que tinha esquecido o que fez aquilo tudo começar.
Pensar que tinha e poderia transformar a verdade do que era a minha vida. Do que era a vida de Aquiles. Que poderia modificar a verdade de quem ainda ficava salvo no meu celular, me mandando mensagens de vez em quando ao perceber que eu estava melhorando.
Ele ainda estava ali e eu tentei, mas não consegui. Em segundos, passos mentais foram dados para trás com a facilidade que eu não tinha para seguir em frente.
— Aparentemente tu tens uma amiga preocupada contigo. — Escutei Lucas falando do sofá antes mesmo de eu virar. Meu coração ficou pequeno, desaparecendo, e na voz dele desgosto e surpresa se misturavam em fatalidade.
Eu olhei, minhas costas na sua maioria ainda virada pra ele, a mão nunca soltando a maçaneta, mas sabia que mesmo que desejasse mais que tudo ser capaz de abrir a porta e fugir, de novo não conseguia. Seus olhos faziam eu obedecer e me colocavam no lugar que ele quisesse.
Os pulmões doíam, como se realmente todo o calor do meu corpo, o quente de conforto, se esvaziasse e fosse se misturar com o ar à minha volta. Minha garganta se contraiu, minhas narinas abriram e mesmo assim meu rosto lutava para mostrar o pouco de coragem que eu ainda tinha para encara-lo.
Doía.
Ficar presa sob ele, sob memórias. Doía como nunca antes.
— Imagina a minha supresa quando eu recebo uma ligação de uma menina falando que tu está realmente morando com um homem e que as coisas parecem estar dando errado. — Continuou falando, alisando o tecido da calça social, abotoando o paletó que caía perfeitamente. — Logo quando eu estou preocupado e sem resposta.
Ao encontrar minha voz, ela imitava a minha fraqueza, a supresa de estar ali na presença dele. — O que tu tá fazendo aqui? — Disse em não mais que um suspiro, minha cabeça assumindo a posição natural: na direção do chão, em vergonha e desespero.
— Bem, tu com certeza ainda tem dificuldade de entender o que eu falo.
— Não é isso. — Consegui responder, mas não durou.
— Eu repito, não tem nenhum problema. — Levantou a mão como se estivesse deslocando o assunto no ar, apagando o meu corpo da sua frente, fazendo meu pé contrair e quase ir para trás, contra a porta e fugindo. — O que tu tá fazendo morando com um homem, Lívia? A que ponto tu chegou pra roubar um cara de outra mulher?
— Eu não fiz nada. — Respondi, já sentindo meu lábio inferior começar a tremer, confusa mas já questionando quem teria tramado aquilo. Só que a minha raiva não tinha espaço. Não queria que ele se envergonhasse do meu corpo, das minhas atitudes. Lucas precisava entender que eu não tinha planejado aquilo, que não ia contar para ninguém o que tinha acontecido e as palavras que queria dizer para confirmar não saíram.
Eu balancei minha cabeça.
— Certo. — Foi a simples resposta que eu recebi antes do peso da sua respiração sair de perto do meu rosto, da sua raiva seguir com o seu corpo para longe de mim.
Foi em direção a cozinha, onde eu queria tanto estar, onde eu cuidava e era cuidada. Onde Aquiles me enxergava, e onde Lucas invadia.
Seu braço moveu lento e eu senti o tempo parar. Contei os meses que fiquei ali sob os seus olhos, e de repente quis voltar a estar naquele mesmo lugar sufocante para que ele não fizesse algo precipitado e terrível com o que tinha se tornado a minha casa.
— Este lugar não te pertence mais. — Disse, querendo dizer que eu também não. Querendo que ele parasse, que deixasse de lado a cozinha, que me deixasse.
Lucas não gastou mais que o necessário da sua paciência, não me olhou, apenas abriu a geladeira, examinando tudo o que tinha dentro.
O barulho de um papel se fez por entre seus dedos.
— Lucas. — Disse seu nome, levantando de novo a minha cabeça, e passando a mão por cima da minha roupa. Meu peito puxava o ar de forma cortada e eu sentia meu corpo tremer como se o inverno tivesse encontrado uma forma de começar antes do tempo, congelando todo o meu ser em medo, sem esperança de ter primavera ou verão de novo. Lucas não me dava razões para ter esperança.
Ele fechou a geladeira, o post-it que não tinha lido sendo amassado e substituído por outra folha muito maior e repleta de regras, com escritas novas em sua parte superior e outros enfeites que eu não tinha notado.
— Geladeira cheia, pia limpa, lixeira sem nenhuma caixa de pizza... — Começou falando. O seu tom era o mesmo de quando ele tinha ido embora, grosso, provocando minhas pernas a cambalearem.
Eu encarei ele, tentando o máximo encontrar dentro de mim algum tipo de voz, mas não conseguia. Ele me encarava e eu só conseguia de repente sentir saudade dele, de uma época onde ele me fazia preocupar sobre nosso relacionamento, e não sobre o que ele faria comigo naquele momento, com o que ele faria com o pouco que eu tinha de Aquiles.
O papel caía e era ajeitado ereto entre os dedos de Lucas, e eu tremia, a cabeça balançando com medo do que ele ia ler.
— Regras de convivência do "casal" Aquiles e Lívia? — Perguntou com um sorriso cínico no rosto e uma sobrancelha levantada, jogando então o segundo papel amassado por ele na minha direção, acertando o meu rosto.
Estava estática, sem saber o que fazer, mas eu dei um passo para mais perto da TV no mesmo tempo que ele deu um passo até minha direção.
— Eu venho aqui, esperando te ajudar e descubro que tu realmente tem alguém?
— Lucas, tu não me atendeu. Tu não veio. — Respondi, querendo simplesmente aceitar o que ele estava falando, pronta pra que ele voltasse. Ele estava ali agora, não queria irritar ele de novo.
— Aquiles! — Ele gritou, uma sobrancelha arqueada e o sorriso sádico que causaram lágrimas. — Tu foi atrás logo dele? — Ele me perguntou, gritando. Seria o suficiente para que eu chamasse a polícia e fosse investigar o apartamento caso eu fosse nossa vizinha, mas ninguém chamaria. Vizinhos nunca chamavam ou iam ver o que estava acontecendo.
— Eu precisava de alguém. — Respondi, a voz baixa, os braços abertos para trás enquanto minhas mãos iam cuidando se eu ia acabar batendo em algum móvel conforme eu caminhava para longe e ele caminhava na minha direção.
— Tu tá transando com ele? — Perguntou, dessa vez mais alto ainda.
— Não! — Respondi, minha voz falhando, recheada de incerteza e não conseguindo esconder o que queria, o quanto ele estava constante na minha mente.
Quando Aquiles falava, lá no início, pensava em Lucas. Só que naquele momento que o meu ex estava ali, destruindo a pouca força que tinha construído, pensava em Aquiles. Nas nossas dificuldades, em como não tínhamos transado, mas como ele me tocava com carinho, como alguns dias atrás ele estava celebrando serelepe que fazia dois meses que estava do meu lado, mesmo que estivéssemos chegando na marca de quatro meses.
O que eu poderia fazer naquele momento eu não sabia, e a voz de Lucas não deixava mais eu tentar resolver. Ardia dentro de todos os meus ossos escutar o nome de Aquiles saindo com desdém pelos seus lábios, e meu corpo doía com todas as palavras que ele usava.
Sem que eu tivesse percebido, tinha escorregado pela parede e estava ajoelhada, olhando para cima. Estava completamente abaixo dele e sua sombra.
Lucas não me batia, não violentava o meu corpo se não tivesse um propósito, mas aqueles olhos mostravam o prazer que ele sentia em me diminuir com as suas palavras.
— E eu disse que isso ia acontecer, não? — Falou, a cabeça caindo para o lado em atenção ao meu rosto, saboreando o meu sofrimento. — Admito que saber que tu achou alguém me surpreende... mas a verdade é que sem outra pessoa, qualquer uma, tu não sobrevive.
Eu balançava a minha cabeça de um lado para o outro.
— Quando tu vai admitir isso? Que tu é fraca... que tu é a viciada? Que no final, é tu que faz as pessoas saírem de perto?
— Não. — Eu disse, enojada pelo meu estado, minhas lágrimas já tinham se misturado com o suor e o ranho e que eu estava deplorável.
Não, eu repeti na minha mente, porém não consegui cancelar todos os outros pensamentos que ocorriam, que concordavam com o que Lucas estava falando e não parava.
— Lívia.. Tu acabou com outro relacionamento, e garanto que Aquiles só deve ter te olhado de novo porque tu veio com a história de namorado abusivo que tu adora inventar. — Falou, e não precisava cuspir na minha cara para que entregasse a fala com essa exata intenção. — Quando tu ver que tu é uma mentira, tomara que perceba que é melhor tu simplesmente sair da vida de todos de uma vez só.
Lucas riu quando eu não consegui mais falar ou respirar durante o choro compulsivo, levantou um lado da sua boca e saiu de cima de mim, arrumando novamente o terno perfeito.
— Decidi que não vou levar nada. Tu vai precisar quando o outro te deixar e eu vou precisar algo melhor pra fazer daqui em diante. — E ele saiu.
Permaneci sentada no chão até a ficha cair de que tudo aquilo estava acontecendo não só porque eu era fraca, mas porque a pessoa que provavelmente estava na presença de Aquiles e que fez ele se atrasar que tinha bolado tudo.
Tinha planejado mais uma derrota na minha vida, mais um obstáculo que eu muito bem podia chorar e tentar de novo. Eu sabia que conseguiria tentar e tentar, que aquilo não devia me afetar. Mas as palavras se repetiam, eu me perguntava como que eles conseguiam fazer isso, e eu ia afundando mais ainda contra o chão, os olhos pirados tentando encontrar algo que me fizesse voltar ao humor mediano e sem graça mas que me mantinha estável, e tudo o que eu encontrava era a porta do quarto de Aquiles.
As regras estavam no chão e eu sabia que ele não tinha respeito por uma em específico.
Meus joelhos tremeram ao levantar e mais ainda quando eu entrei no seu quarto, me deparando com as caixas ainda em um canto do espaço, como se ele nunca tivesse planejado ficar. Os armários e gavetas foram o local que eu procurei alguma bebida que ele tinha escondido, até que encontrei.
Aquiles mantinha uma coleção em uma das portas do bidê, várias garrafas de diferentes tamanhos chamando o meu nome. Eu bisbilhotei cada conteúdo delas, até que o líquido âmbar e de ardência suficiente para mim apareceu cheio, sem nem ter sido aberto.
Por anos eu não tinha tomado nada, evitando ao máximo, tratando aquele vício que tinha sido uma das maiores razões por eu detestar Aquiles. Ele me lembrava do que eu era. E agora estava sendo. Pegando a garrafa de Whisky, fui até a cozinha, colocando ela em cima do balcão, encarando o vidro e as decorações dele. Retas e reflexos, que uma vez eu nem me interessava.
Não controlei meus movimentos quando eu abri a tampa e trouxe o bico da garrafa até minha boca, queimando a garganta e tudo o que eu tinha batalhado para ser. Minha sobriedade descendo junto com o líquido ao poço mais fundo da minha alma.
Um gole não foi o suficiente, e eu tomei mais um, e mais um, e mais um, até que minhas lágrimas se formassem de novo em desespero e decepção.
Isso só me fez beber mais, colocando meu coração e meu vício em repetição infinita.
Lucas, Aquiles, Vênus e todo o outro grupo que eu conheci passaram pela minha mente.
Eu me senti culpada, e a culpa por beber me fez beber mais.
Não estava bem, longe disso, e tinha total noção do que eu estava fazendo, até mesmo a vontade de fazer tudo perder a noção. Comecei a soluçar antes que pudesse impedir. Meus olhos se encheram, a mão sem firmeza, a mente com raiva do que eu estava fazendo. Mas a raiva não me parava, e o quão mais fundo eu ia naquela merda, mais eu me punia.
Pegando um prato novo que ele tinha me dado, joguei com toda força contra o chão. Um, dois. O berro que eu dei não parecia meu, e na realidade não tinha som. Meu ouvido ficou surdo e eu só conseguia sentir a trilha de água caindo dos meus olhos, fazendo eu seguir com meu corpo.
Minhas pernas cederam, minhas costas escorrendo agora ao longo da geladeira, me deixando envolta pelos cacos perfeitos de porcelana, sentindo eles fincando e cortando as minhas pernas, mas não fazendo nada para mudar ou tirar aquela dor. Eu via as marcas vermelhas que saíram de alguns no momento em que eu me arrastei para pegar a garrafa que tinha ido para longe em algum momento com o líquido ainda mexendo do impacto.
Em uma mão estava meu celular, a outra segurando aquilo tudo.
Meus cabelos tinham grudado contra meu rosto. Ao invés de beber mais um pouco, meus dedos agiram rápido até o número dele, que demorou somente alguns segundos para atender com a voz feliz, e outros segundos para realmente perceber que algo tinha acontecido. Eu não ligava, não respondia.
— Lívia, o que que tu tem? — Ele perguntou, preocupado e com a voz arrastada feito a minha.
— Tu vem? — Perguntei, sem força. — Pra casa, tu vem?
Minha voz saiu vazia e eu comecei a perder toda a energia de novo.
— Lívia, — ele disse meu nome, mas não consegui escutar mais nada. Meu braço caiu e meus olhos embaçados seguiram, estranhando o brilho do chão molhado com a bebida que tinha derramado, o ar pesado dentro do meu peito e nenhum sentimento além daquele vazio.
O foco saía e voltava, e os minutos corriam e eu não os sentia. Meu corpo estava gelado, o líquido dentro de mim queimava e fazia eu passar mal e eu deixava ele me consumir assim como a vergonha de ter ligado pra ele. Logo pra ele que iria embora com as suas caixas e os seus sorriso e que não estava pronto.
Ele podia levar os recadinhos também, então eu os peguei, derrubando potes enquanto tentava alcançar eles. Relendo um por um e atirando eles na direção da porta, e nenhum chegando perto dela.
Chorei mais um pouco. Tomei mais um gole.
— Sonho? — Escutei ele me chamando. Chorei de novo ao levantar os olhos do post-it que tinha grudado nos meus dedos, que eu rasgava com uma porcelana pontiaguda.
— Tu veio... Não era pra tu vir. — Falei, atirando tudo o que tinha nas minhas mãos de volta para o chão, os calcanhares arrastando para perto do meu corpo e não controlando o meu choro, idiota. Eu tinha bebido feito uma idiota.
— Lívia, meus deuses. — Aquiles falou, e eu senti o seu perfume de hortelã de novo. — Por.ra, sonho.
Ele caminhou na minha direção e eu não me afastei, apenas funguei, tentando achar dentro de mim onde que a realidade estava no meio da bebida. As mãos dele iam até a minha direção, mas paravam por alguns segundos antes, agarrando o vidro com o pouco do líquido âmbar que restava, olhos reconhecendo a marca.
O olhar fixo na garrafa voltaram até mim, e ele ficou paralisado.
— Nós trocamos os papéis não é mesmo? — Disse do melhor jeito que pude, mas era difícil com a tontura somada com ele me encarando. — É tu que se lembra de mim quando está bêbado, e olha o que eu acabei de fazer.
Voltei a chorar, envergonhada, não conseguindo parar, e como se Aquiles entendesse, não pensou duas vezes quando pegou meu corpo e me levantou, indo até o banheiro e abrindo a porta comigo no seu colo.
A palma de uma das suas mãos, a que me segurava debaixo dos meus joelhos, agarrava a minha pele como se eu fosse algo precioso. Ele me fazia sentir como se fosse alguém especial, de novo, quando eu não era.
Me posicionando sentada no vaso, ele ligou o chuveiro. Ele entendia o que era sentir aquela vergonha impregnada na pele e não saber se é possível lavar ela para longe.
— É só para sentir a água, tá bem? Pode te ajudar a permanecer meio sóbria. — Ele disse, puxando os meus braços juntos com os dele e colocando abaixo da água gelada, contando sem querer um dos seus segredos para parecer mais sóbrio, fazendo eu querer o resto deles.
— Quando tu vai embora? — Perguntei, analisando a água como se estivesse mesmo interessada, lutando contra a minha vontade de beijar ele e sentir de novo o gosto de alguma bebida que estaria na sua língua.
— Eu não vou.
— Tu tem as caixas prontas pra se mudar de novo.
— Arrumar elas em um quarto que eu não divido contigo é como afirmar que eu nunca vou te ter na mesma cama. Eu vou ficar sozinho.
Com a sua resposta, virei o rosto até ele. — Tu não tá sozinho! Tu não está. — Falei e pensei neles: Apolo, Aimée, Vênus, Zeus... Lívia.
Seus dedos molhados seguravam os meus sob a água, e uma das suas mãos começou a subir pelo meu braço. Ele tinha em algum momento sentado no chão do banheiro, nada confortável, numa posição que podia me sexualizar mas não o fez, apenas apoiou o seu queixo na minha perna, a outra mão agora segurando a minha cabeça que estava cambaleando.
Chegando no meu ombro e então pelo meu pescoço, Aquiles tocou minha bochecha e ele também estava com lágrimas agora e eu sabia que ele tinha noção dos meus motivos por ter colocado aquela regra na folha.
Agora ele sabia como me machucava, mas não queria que ele se machucasse.
Levantando, eu tropecei no seu corpo e fui para trás.
— Por.ra! — Ele xingou o ar de novo. Pela segunda, ou terceira vez.
Meu cérebro doía ao lembrar da voz dele, mas no fundo uma voz dizia que tinha sido bom beber, que talvez eu devesse tomar só mais um gole. Eu fui para trás e ele me salvou de uma queda com a bunda no chão, e eu fui para a cozinha pra escutar ele desligando a água ao mesmo tempo que eu peguei a garrafa de novo do chão.
— Sonho, — me chamou, fazendo eu perceber que encarava a garrafa. — Se eu não estou sozinho, então vem me fazer companhia.
— Ah... é. Eu não sei como. — Falei, a garrafa na minha mão caindo no balcão, Aquiles preenchendo minha visão, os cantos dela brilhosos como nunca antes.
— Vem comigo. — Ele disse, esticando a mão de novo e me arrastando para o banheiro de novo, dessa vez colocando a cortina para o lado completamente e entrando para baixo da água gelada.
Me trouxe com ele e eu gritei sob aquela água.
— Tá tudo bem. — Ele disse, segurando com os braços na minha volta o meu corpo por inteiro contra o dele, a minha cabeça contra o peito que latejava mais alto que a minha cabeça. Alisando meu cabelo, ele tentava fazer meu corpo parar de lutar contra.
— Não quero! — Falei já me preparando para sair no azulejo frio, mas ele me ajeitou, me puxando com ele e indo até o chão, abrindo as suas pernas para que a gente conseguisse caber os dois sentados embaixo do chuveiro.
Criou um casulo pra mim, enroscando as pernas para que eu não me movesse, onde eu chorei e agarrei a blusa branca que ele usava. Onde eu perdi noção do que eram minhas lágrimas e onde a minha mão atingiu seu peito mais vezes que eu conseguiria descrever no outro dia e como resposta tinha apenas carinho.
Carinho, beijos na minha testa e um balançar que ele ia aos poucos continuava tentando me acalmar, mas que não o deixavam calmo e que me davam a ideia de que ele não ia me largar, mas iria me sufocar até eu implorar e confirmar que eu estava bem.
E eu estava cansada demais para dizer não. — Eu te digo tudo, só me tira daqui. Eu to bem!
— Só mais um pouco, sonho. Até tu voltar a si e voltar pra mim.
Com a fala dele leve e quieta, percebi que a minha estava irritada e alta. Então chorei de novo, porque há muito tempo eu não estava bem, e ele era igual, e em alguma hora os dois perceberam isso no outro depois de vários outros não entenderem.
Então eu me deixei congelar mais um pouco na madrugada, sob a água fria, mas sentindo o calor que vinha dele, querendo acertar de novo e de novo o seu peito com o meu punho, não querendo que era ele quem eu queria amar e me tornar alguém de novo.
— Eu te odeio! — Falei ignorando meus pensamentos.
— Tá tudo bem mentir sobre isso, — uma pequena risada entre os meus choros, — me odiar é melhor que ignorar e tu me ligou hoje...
Minha mão abriu de seu punho, sentindo nossas roupas molhadas. Continuei chorando mas agora escutando ele cantarolar a primeira música que escutamos juntos. Não conseguiria odiar ele mesmo se eu tentasse, mas também não conseguiria parar com tudo aquilo sem ajuda.
n o t a d a a u t o r a:
Okay, capítulo bem pesado e tudo mais e as consequências vão vir. Desculpa caso as coisas tenham ficado confusas, mas eu gostaria de mostrar aqui que, devido a bebida principalmente nesse capítulo, as coisas que Aquiles, e hoje Lívia, falam e fazem podem não ser exatamente o que acontece, e com isso....
p e r g u n t a d o d i a : alguma teoria para o próximo capítulo?
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