Blue Night
Ele batia na velha televisão do quarto repetidas vezes em busca de sinal. Tinha um olhar esperançoso pois, mesmo que aquilo não desse certo, não os atrapalharia. Podiam ter outros divertimentos além de assistir televisão num ordinário sábado à noite. Já para ela, lhe faltavam esperanças.
- Mick? - A moça disse em um quase sussurro. Sentindo-se cada vez mais minúscula na cama funda e bagunçada de roupas do rapaz. Este que não parou de bater na televisão de tubo.
- Sim, meu anjo? - Ele não a olhou, mas falou como se o tivesse feito.
- Os meus pais não gostaram de você.
Dessa vez ele parou o que fazia.
Jagger a olhou mas não foi retribuído. Cyndi estava cabisbaixa. Foi a única opção que encontrara de não revelar o rosto deprimido. Ele temia isso: Quando os olhos dela não encontravam os dele.
- Não...gostaram? - perguntou, virando-se vagarosamente.
A resposta de Cyndi não foi ouvida. Mas Mick compreendeu. Aquele silêncio na boca de quem quase nunca se calava por nada, era de fazer qualquer um compreender.
Por mais que quisesse levantar aquele queixo em sua direção, ele preferiu sentar ao lado dela. Sendo afogado pela cama também. Cyndi agora parecia ainda mais minúscula.
- Se você gosta de mim, então isso é suficiente, babe. - Jagger disse carinhoso, ao ouvido dela.
- Eles... - recomeçou a garota - Eles não gostaram mesmo de você, Mick. Disseram que eu posso conseguir alguém muito melhor. Claro que discordei e discordei...mas já sabe no que deu. - Suspirou, deixando a cabeça cair sobre o ombro do namorado.
Aquela reação era compreensível, já que os Rolling Stones não eram bem vistos pela maioria do público adulto tradicional. Ainda mais na América. E os pais de Cyndi se encaixavam exatamente nesse perfil. Mas não deixava de ser doloroso ouvir aquelas palavras, pois a reputação da banda começava a trazer dificuldades para o amor adolescente, onde o apoio dos pais quase sempre serve como sustento.
Jagger não soube explicar o que sentiu. Só sabia que doía. Apenas segurou a mão da menina e acariciou com a ponta do polegar. Tal gesto a fez sorrir, ainda que tristemente.
- Eu posso tentar de novo. Posso mostrar a eles que te amo de verdade e que posso cuidar de você. Vou vestir umas roupas menos extravagantes e... até melhorar meu sotaque! Eu não sei, mas você vai ver. Eles vão gostar de mim. - Falou com energia.
- Por favor, apenas não faça isso.Tudo que não quero é que você finja ser o que não é. - O olhou com atenção. - Eles estão agindo assim porque ainda não sabem quem é o Mick Jagger. Eles precisam conhecê-lo de verdade. Conhecer o cara que me faz sorrir feito boba pela casa...
Mick permaneceu em um instante de silêncio.
- ...Acho que eles não iam gostar muito dele não... - disse, sem fé.
- Claro que sim. Quando eles souberem quem é o cara por quem sou apaixonada, vão amá-lo. Mick, você foi o único que desenterrou meu coração e o faz continuar reluzindo como um tesouro. - Apesar de doce, ela falou tudo em um tom firme de determinação.
Mick riu da cena levemente. Era um adoço para aquele duro momento o jeito como Cyndi articulava as palavras. Adorável e ameaçadora ao mesmo momento.
Não era fácil para ela ver que o cara dos seus sonhos, era visto como um pesadelo por seus pais. Sua querida filhinha louca, havia escolhido um tão louco quanto. Um bad boy.
Mas ela conseguia enxergar mais que isso nele. Conseguia receber dele o que jamais recebeu de outro rapaz. Tinha certeza que não havia outro Mick. Pelo menos não como ele, para ela. E precisava fazer os pais compreenderem.
- Mas...e se eles quiserem que você me deixe? - enormes e vulneráveis olhos azuis aguardavam uma resposta.
E ela foi dada da melhor forma que Jagger poderia receber: Os lábios dela foram pressionados de repente nos seus, com uma intensidade surpreendente. E logo ele sentiu a determinação que ela tinha. Ele apenas gostaria de receber aquela determinação com mais frequência.
Aos poucos ela o soltou, mesmo sem que ele quisesse ainda. Os olhos de ambos abriram em momento igual.
- isso significa que eu prefiro fazer o inverso de te deixar. - Lauper sorriu.
- Garota esperta...
Os dois jovens então desabaram na cama, rindo e trocando afeto; jovens, sem medo e não importando se estavam em uma cama arrumada ou coberta de roupas suadas, mas sim se estavam perto um do outro. Aquilo sempre fazia Cyndi Lauper encontrar a esperança necessária para comprovar cada palavra que havia dito. E Mick, bom, Mick confiava nela. Sempre.
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