Torneira Quebrada
Bucareste, Romênia - 2016
Uma coisa que Bucky Barnes sempre odiou era quebrar alguma promessa feita para si próprio. Ele costumava se sentir bastante irritado e até hipócrita quando isso acontecia e por isso, ele preferia perder outro braço do que fazer isso, mas…
Quando, às dez da noite, sua torneira simplesmente arrebentou, vazando água para todos os lados do apartamento, Bucky sabia, ao fechar o registro, que somente um lugar estaria aberto e venderia torneiras.
Por isso, mesmo com a leve chuva que caía sobre Bucareste, ele abriu o guarda-chuva transparente que comprou quatro dias antes e saiu do apartamento, quase enraivecido consigo mesmo.
Com passos apressados, Bucky abaixou a cabeça, ajeitou o boné e se concentrou em se manter aquecido sob o casaco preto, para se misturar às poucas pessoas que ainda passeavam pelas ruas, provavelmente, saindo e entrando dos restaurantes do bairro, já que eles eram a única coisa que continuavam abertos como comércio.
A caminhada levou, ao todo, Dezessete minutos, já que não tinha necessidade de ir parando. Então, ele parou na porta da loja de Dayse e suspirou, olhando pelo vidro da janela. A loja estava escura, apenas com uma luz dourada ligada nos fundos, perto do balcão, onde, daquele ângulo, Bucky podia ver que Mickaelly estava sentada, mexendo em um livro ou caderno.
De novo, respirando fundo, ele engoliu o orgulho e testou a maçaneta da porta. Fechada. Mas ela estava lá, então…
A mão de metal de Bucky bateu três vezes contra o vidro, produzindo um som que assustou Mickaelly, fazendo ela pular e erguer o olhar em sua direção. Levou quase cinco segundos para que, de longe, ela o reconhecesse. Mas assim que o fez, ela sorriu e saltou do balcão.
Bucky enfiou as mãos nos bolsos e esperou, já com o guarda-chuva fechado, protegido embaixo da marquise da loja. Mickaelly apareceu segundos depois, enrolada no que parecia um roupão azul cobalto felpudo, apesar de, claramente, vestir roupas comuns por baixo dele. Os cabelos azuis e escuros estavam presos em um rabo de cavalo volumoso e bagunçado devido às ondas do cabelo e abriu a porta sem nem mesmo hesitar.
-Olá, Senhor James! Como vai?
Bucky entrou dentro da loja e, sério, perguntou:
-Não é tarde para você estar na loja?
-Não é tarde para você vir comprar algo? - Mickaelly retrucou, vendo ele franzir a testa.
-Quem disse que vim comprar algo?!
-Ou isso ou veio me ver! - Mickaelly cruzou os braços e deu de ombros.
Bucky ficou extremamente vermelho em três segundos e negou, parecendo desesperado, mas Mickaelly apenas sorriu de lado e disse:
-Ah, que pena! Mas, enfim… O que o Senhor veio comprar?
Bucky suspirou e coçou a nuca, vendo que mais da metade da loja já tinha sido embalada e guardada. Algumas caixas, na verdade, até mesmo estavam lacradas com fita crepe e catalogadas com caneta hidrocor.
-Hmm… Torneiras. A da minha cozinha explodiu e… Bem, tá vazando água em tudo.
Mickaelly assentiu, pensando que ele tinha algum problema com água. Então, pedindo para ele ficar à vontade, ela foi procurar entre as caixas e, enquanto isso, Bucky, que não era muito de puxar assunto, resolveu perguntar:
-Aliás… Você tá embalando a loja sozinha?
-Aham! - Mickaelly respondeu, concentrada. - Minha mãe tem cuidado de outros assuntos como a venda da loja, sabe? E como ela ta grávida, bem… Não quero deixar ela se esforçar sozinha.
-E seu pai? - Bucky perguntou quando ela puxou um chuveiro de uma caixa e o descartou a seguir.
-Ele ficou nos Estados Unidos por causa do trabalho. Você trabalha?
Bucky franziu a testa e hesitou, como sempre, antes de responder qualquer pergunta. Então, negou.
-Atualmente, não.
Mickaelly franziu os olhos para ele, desconfiada, mas não falou mais nada. Ao contrário, apenas emendou outro assunto, comentando:
-Aliás, te vi na rua no dia que fui no Cinema.
-Viu?!
-Vi. - Mickaelly finalmente puxou uma torneira prateada e foi andando em direção a ele. - Você estava na barraquinha de frutas, do lado da banca de jornal. Pensei em ir dar um "Oi", mas fiquei com medo de você não lembrar de mim.
-Ah…
-Sua torneira. - Mickelly entregou na mão dele, subindo no balcão com um impulso e se sentando nele, balançando as pernas para frente e para trás. - São trinta pratas!
Bucky assentiu, puxando uma nota de vinte e uma de dez do bolso e entregando na mão da morena, que contou o dinheiro e guardou no bolso do roupão azul.
-Obrigado! Quebrou o maior galho…
Bucky agradeceu e fez menção de ir embora, mas Mickaelly começou a puxar papo com ele.
-Hey, você mora há muito tempo aqui?
Bucky pensou em até em dizer que realmente precisava ir, e era verdade, mas percebeu que Mickaelly deveria estar se sentindo sozinha e por isso, falava tanto com um estranho. Ele mesmo se sentia assim às vezes, então, parou ao lado dela e, sem olhar muito para a garota, ajeitou o cabelo para trás da orelha e comentou:
-Tem um ano. Mas acredito que daqui a pouco, vou precisar ir embora.
-Por quê? - Mickaelly perguntou, também pondo o cabelo solto para trás da orelha. - Não gosta daqui?
Bucky precisou tomar cuidado porque estava prestes a dizer que adorava a Romênia e aí, com certeza, ela ia querer saber por qual motivo, então, ele iria embora e ele não poderia falar a verdade.
Então, depois de refletir por alguns segundos, ele respondeu, de forma simples:
-Quero conhecer outras partes do mundo e o contrato do aluguel vai acabar.
Mickaelly ergueu uma sombrancelha e assentiu, lambendo os lábios, distraída.
-Legal. Já conheceu outras partes do mundo, James?
Bucky assentiu, reparando o quão bonitinha ela era.
-Aham…
-Quais?
Dizendo meia verdade, ele deu de ombros e comentou:
-Rússia, Alemanha, Prússia, Pôlonia, Ucrânia, Sibéria, Dinamarca, Londres…
Mickaelly deixou o queixo cair e arregalou os olhos, surpresa demais para falar algo decente. Bucky soltou uma risada sem humor e comentou:
-Eu era um Soldado.
-Aaah… Legal!
-Bem, o trabalho não era tão legal assim. - Bucky deu de ombros, desviando o olhar. - Mas tinha suas vantagens, até… E você? Faz o que?
Mickaelly pareceu ficar envergonhada por um momento, como se não esperasse a pergunta, na verdade. Então, deu de ombros e também não olhou para Bucky ao responder:
-Eu fazia faculdade, mas larguei há seis meses mais ou menos. Meu pai quase me matou por isso, mas direito não é algo que quero fazer para o resto da vida, então… Tô tirando um tempo para decidir o que quero fazer.
Bucky a olhou nos olhos e percebeu que, naquele dia, estavam mais azuis do que cinza antes de perguntar:
-E já conseguiu achar o que quer fazer?
Mickaelly pareceu refletir sobre aquela pergunta como se ela fosse a mais importante do mundo todo, então Bucky esperou pacientemente, até ela negar, parecendo um pouco envergonhada.
No entanto, depois, na verdade, ela assentiu e encarou as próprias unhas, pintadas de roxo metálico, cruzadas sobre as pernas.
-Na verdade, já… Mas meu pai acha uma coisa inútil e um desperdício de talento.
-Jura? E o que é?
-Cozinhar. - Mickaelly respondeu, com um sorriso. - Na verdade, eu amo cozinhar! Cheguei a fazer uns cursos de culinária e confeitaria e o meu sonho é abrir minha própria loja de doces ou outra coisa… Sabe? Mas… Não tenho muito apoio. Minha mãe diz para eu fazer o que meu coração manda, mas não bate de frente com o meu pai quando ele diz que não vai me apoiar em jogar meu potencial fora com docinhos… Enfim, desculpa! Despejei isso em cima de você…
Bucky deu de ombros, como se não fosse nada. E por fim, olhou ao redor, tentando fazer ela se animar um pouco quando comentou:
-Pelo menos, você tem algum talento. Eu sou um inútil, na verdade! Não sei cozinhar, dançar, cantar, pintar… Acho que a única coisa que faço bem é atirar!
Ao se dar conta do que disse, ele arregalou os olhos e ficou pálido, mas Mickaelly apenas maneou a cabeça, sem receio algum de estar ao lado dele, e comentou:
-Deve ter sido bom pro exército, não é?
-Bem… É…
-Legal. Queria saber atirar!
Bucky arregalou os olhos novamente e, sem esconder a surpresa, apenas perguntou:
-Que?! Por quê diabos você ia querer saber atirar, Mickaelly?!
A garota bufou e revirou os olhos azuis, o encarando com uma careta de tédio, como se ele fosse idiota. Então, ao perceber que a dúvida era real, ela exclamou:
-Eu sou mulher, James! Isso já deveria responder sua pergunta, não acha?
Bucky deu de ombros, levemente envergonhado e se achando um pouco burro demais. Claro, não era porque ele nunca mais queria tocar numa arma que outras pessoas não tivessem seus motivos para querer possuir uma e aprender a manusear.
Nesse caso, ele realmente achava necessário, mas claro que não diria isso em voz alta.
Enquanto eles continuavam a conversa de uma maneira leve e natural até, nenhum dos dois notou que Audrey, a mãe de Mickaelly tinha descido as escadas, pronta para brigar com a garota por estar até tarde na loja, quando ela poderia estar lá em cima, descansando.
No entanto, a mulher ouviu as risadas tímidas e discretas e, pé por pé, ela caminhou até achar a filha e um homem conversando. Era o mesmo cara, do dia do guarda-chuva e Audrey reparou que, apesar dele ser mais sério que Mikaelly, ele também tinha um pequeno sorriso enquanto a mulher contava sobre o irmão e o susto que levaram ao descobrir que a mãe dela estava grávida de novo.
Achando melhor deixar a filha criar alguma amizade, apesar de achar o cara esquisito, Audrey subiu as escadas novamente, chegando no segundo andar assim que Bucky encarou o relógio em seu pulso direito e comentou:
-Olha, a conversa está boa e eu agradeço mesmo por me atender essa hora, mas… Realmente, preciso ir, Mickaelly!
A garota, que estava em cima do balcão ainda, assentiu e pulou no chão, o chamando com a cabeça.
-Certo. Aliás, obrigada por me ouvir e ouvir… Bem, tudo que eu tinha para desabafar. - Mikaelly exclamou, sorrindo, ao parar ao lado da porta.
-Tudo bem. - Bucky não sorriu, mas não fez a típica carranca que sempre ostentava, então, considerou que isso já era algo. - Eu só… Enfim, não me importei de ouvir. Na verdade, tem bastante tempo que não converso com ninguém.
Mika assentiu, como se entendesse e, por Deus, ela entedia. Tanto que comentou:
-É, eu também não converso de verdade com ninguém há algum tempo, sabe? Quer dizer… São sempre as mesmas conversar artificiais e ensaiadas… Você foi mesmo muito gentil de me dar atenção.
Bucky deu de ombros, olhando para a rua. Apesar de estar encharcada e refletir as luzes dos carros e postes no chão, já não chovia mais e Bucky deu graças a Deus por isso. Há algum tempo, odiava os dias cinzas e preferia o céu azul, mas estavam na primavera e, na Romênia, costumava chover bastante naquela época, apesar de não ser tão frio assim.
-Vamos nos ver de novo?
A voz de Mikaelly surgiu do nada, o tirando do transe que estava, divagando sobre chuva e céu azul.
-Oi?!
-Vamos nos ver de novo? - Mickaelly repetiu, como se não fosse nada e ela estivesse falando do tempo - Você sabe… Nos esbarrarmos por aí…
Bucky levou um segundo para assentir e dar de ombros, comentando:
-Bem, estamos no mesmo bairro, então… Provavelmente, sim, vamos.
Mikaelly sorriu e subiu e desceu na ponta dos pés, piscando.
-Legal! Aliás, posso falar contigo se te ver na rua?
-Ué? Por que não?!
-Sei lá… - Mikaelly comentou, erguendo uma sombrancelha. - Até agora, eu só vi uma única expressão em seu rosto e ela diz basicamente "Não se aproxime ou posso morder"!
Apesar de não querer, Bucky precisou morder a bochecha para não rir. Não era sua intenção, mas até gostava do jeito falante e expressivo de Mikaelly, lembrava um pouco a si próprio antes de tudo ruim na sua vida.
-Claro que pode, Mickaelly. Prometo não te morder, okay?
-Nossa… - Mickaelly fingiu uma expressão surpresa e arregalou os olhos azuis. - Você sabe fazer piada! Uau!
-Tchau, Mickaelly! - Bucky repetiu o nome dela, rolando os olhos, para firmar que estava indo embora.
Mikaelly observou ele sair da loja, mas enfiando meio corpo para fora da porta, ela o chamou, fazendo ele parar na calçada e se virar para ela, intrigado.
-Me chama de Mika? - Mickaelly perguntou, alto, pelo barulho dos carros na rua.
-Mika?!
-É!
Bucky fez uma careta, torcendo os lábios e negou.
-Mickaelly é bem mais bonito, viu? Até mais!
A morena rolou os olhos e entrou de volta na loja, trancando a porta, enquanto murmurava um "Idiota!" Levemente irritado.
Oiie, Meus Xuxus! 💖
Nossa, eu fiquei TÃO feliz de ver que vocês embarcaram na loucura de mais uma fanfic junto comigo! E mais ainda de entrar aqui e ver que tem mais de 600 visualizações... Sério, eu sou muito grata a vocês por gostarem do que escrevo e não me desincentivarem sobre continuar escrevendo 🥺❤😭🦋
Aliás, esse capítulo foi um pouco curto, eu sei, mas o próximo tem mais de 3k palavras e umas cenas tão fofas que da vontade de explodir de amor! ❤🥰🤭
Acho que vocês vão gostar! Hehe
E por falar nisso, eu também espero que vocês tenham gostado desse capítulo! Para mim, ele é muito fofo e eu amei demais escrever ele! 💕
Provavelmente, na semana que vem, eu trago mais um capítulo, viu?!
Beijos, Meus Xuxuzinhos 💋💋
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