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5

— Skye! — não se sabe quem está mais feliz, o cachorro ou a dona dele.

Fernanda está a uns bons minutos no chão, fazendo carinho no seu animal de estimação, parecendo alheia aos seus arredores. Não tiveram dificuldade em encontrar o local, e o cachorro realmente estava bem cuidado assim como tinha falado a ex.

Ele estava um pouco abandonado, e mesmo não tendo um local apropriado para que ele se cobrisse de uma possível chuva ou do frio, pelo menos ele estava bem alimentado e hidratado.

— Obrigada! — Fernanda diz quando conseguiu aquietar o cachorro a parar de lamber tão descontroladamente o seu rosto. — Posso fazer alguma coisa por vocês?

— Relaxa, eu não estava procurando por algum tipo de pagamento... — Valerie dá de ombros.

— Que tal um sorvete para todas? Sei que é pouquíssimo para compensar o que vocês fizeram e...

— Eu nunca recuso um sorvete... — Mona diz e sorri.

E elas foram para uma sorveteria. April pediu a versão mais light disponível, Mona pediu uma bola a mais, Valerie pediu o mais amargo, Ivy tinha mais sorvete na camisa do que no estômago e Fernanda comprou um picolé especialmente para o seu cachorro.

As situações que uniam e cresciam esse grupo eram as piores possíveis, mas não dá pra negar que a interação delas era fácil.

April se ofereceu para deixar Fernanda em casa, e essa aceitou sem pensar demais. Fernanda se despediu das meninas e agradeceu mais uma vez, deixando claro para cada uma delas que devia um favor enorme a elas, e ela planejava lembrar desse favor.

Ao abrir a porta de casa, estranhou ao encontrar a televisão da sala ligada. E quando Skye começou a rosnar baixinho, a desconfiança aumentou. Deixou a porta da entrada encostada, para caso precisasse sair correndo.

— Vem Blue! Tá passando o seu seriado favorito... — uma voz que Fernanda nunca mais queria escutar fala carregada de um ódio que poderia muito bem cortar o ar.

Ao olhar para o aparelho passava um episódio de Peaky Blinders, e era um trecho calmo, mas ela lembrava onde calmaria levava. Passaram bons minutos, as duas não falavam nada, o ambiente sendo preenchido apenas pelo som que saía pela televisão.

Dá vários passos para trás, tentando buscar alguma arma em potencial, mas só encontrou a parede com seus dedos. O coração descompassou e ela segurou firme a coleira do seu cachorro, não deixaria ela se aproximar novamente dele.

— Sua mãe ainda deixa a chave enterrada no vasinho do cacto... Você bem que disse que não era mais pra ela fazer isso... — a ex levanta, e dá uma risada debochada.

— Vá embora — Fernanda diz com o estômago embrulhado.

— Imagina como eu estou agora Blue meu amor... Agora que eu lembrei o que você fez comigo. Estou morta por sua causa! — começam a se mover pela sala, Fernanda escapando caminhando encostada na parede.

— Foi legítima defesa, estava sendo seguida — Fernanda ficou nervosa ao perceber que a morta viva estava bloqueando o caminho fácil que ela deixou na saída de casa, pensou que fosse melhor ir para cozinha, lá teriam mais armas e possibilidades de fuga.

— Não é perseguição, se é com amor — a ex mancava levemente por conta da perna que tinha sido parcialmente consumida pelo ácido.

— Esse amor doentio, que estava me fazendo mal? Dispenso...

— E o que vou fazer com você agora? O que será que... — a frase é bruscamente interrompida no meio quando o som de metal batendo em osso preenche o ambiente.

Fernanda dá um pequeno gritinho, mas parece aliviada ao ver Valerie segurando a pá que deu o golpe na cabeça da perseguidora. Sangue e terra mancharam o papel de parede claro.

— Vou levar ela pro quintal e terminar o serviço... Ivy, me ajuda aqui! — Valerie informa e a amiga ajuda a levar o corpo pra fora.

— Você esqueceu a sua carteira no meu carro, e voltamos para te entregar... — April começa a explicar. — Quando vimos a porta aberta, desconfiamos logo. Valerie se armou e o resto você sabe...

— Parece que a minha dívida com vocês só aumenta...

— Longe disso — a voz abafada da Valerie vem da cozinha. — Isso daqui foi erro meu, nada mais justo do que eu consertar. Desculpa, não queria que você corresse riscos... Agora quero ver ela fazer mais alguma coisa sem a cabeça...

— V-você decapitou ela? — Fernanda pergunta espantada.

— Sério, que depois do que você presenciou nesses dois dias, é a minha capacidade de decapitar que você se espanta? — Valerie pergunta.

— Valerie, não perturba o juízo dela... Como você mesma disse, ela passou por muita coisa nesses dois últimos dias... — April ralha.

— Não enche! Eu me livrei do corpo decapitado, assim ela só vai precisar se preocupar com a mancha na parede! — Valerie se defende.

— E o que você fez com o corpo? — Fernanda pergunta.

— Melhor você sem saber... Acredite — Ivy informa e faz uma cara de nojo para complementar.

— Sabe Fernanda, — Valerie interrompe a conversa. — Gostei de você... Acho que ainda vamos viver umas boas histórias juntas.

— Não tenho a menor sombra de dúvida — Fernanda olha para as quatro meninas espalhadas em sua casa e só consegue pensar em como mesmo no azar, ela tem sorte de conhecê-las.

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