Capítulo 37
A faculdade estava complicada. Já tinha trabalhos e tarefas o suficiente para ocuparem o resto do tempo em que eu não estava na faculdade. A verdade é que eu preferia desfrutar dos laboratórios na parte da tarde, porque se o fazia em casa eu me deitava na cama e só acordava no dia seguinte para ir à faculdade.
Entre livros, atividades e pesquisas, eu voltava para casa a tempo apenas de jantar com Nicholas. Foi em uma dessas vezes que ele passou para me buscar e me fez uma surpresa. Por algum motivo percebi que ele estava fazendo outra rota e que não íamos para a nossa casa. Franzi o cenho e me virei para ele sem entender.
- O quê? - Ele percebeu meu olhar e riu.
- Aonde vamos? - Resolvi perguntar.
- É surpresa.
- Não me deixa ansiosa, a sua filha fica agitada. - Resmunguei.
- Não bata na mamãe, filha. - Nicholas tinha uma mão em meu ventre e acariciava. - Papai promete que você vai gostar.
Dei um tapa na mão de Nicholas para que ele colocasse de volta no volante e ele riu.
- Eu e sua filha estamos de mal de você, senhor Hayes.
Mais uma gargalhada e eu desfiz minha carranca para rir com ele.
Não demorou muito para que o carro estacionasse em frente do meu restaurante preferido. Olhei na direção de Nicholas e encontrei um grande sorriso em seus lábios. Pulei em seu pescoço dentro do carro mesmo, sentido sua respiração em meu pescoço e depositando um beijo em seu maxilar.
- Você me trouxe aqui dep...
- Depois que você me mandou aquela mensagem hoje a tarde dizendo que estava com vontade, menina Blue. - Selou nossos lábios.
Nick saiu do carro, dando a volta e abriu a porta para mim. Sorri em agradecimento e entrelacei nossos dedos enquanto nos aproximávamos do restaurante e ele entregava a chave do carro para o manobrista. Feliz como estava, sorri para o senhor que pegou as chaves e para todos que cruzavam meu caminho.
- Menina Blue, vão achar que você é psicopata. - Nicholas sussurrou em minha orelha antes de entrarmos no ambiente bem aquecido do restaurante.
- Deixe que achem. - Continuei com o mesmo sorriso e deixei que ele falasse com a hostess.
- Reserva em nome de Nicholas Hayes.
Fingi que não vi o jeito que a garota nova, loira e curvilínea olhava para o meu marido e pai da minha filha. Entrei em uma posição defensiva enquanto ela mordia o lábio inferior como se repreendesse a si mesma - ou talvez tivesse pensamentos libidinosos - e procurava nossa reserva no tablet à sua frente. Soltei da mão de Nicholas e peguei o celular, fingido ver algo interessante ali.
Depois da gravidez, eu havia virado uma verdadeira mãe urso que queria proteger sua matilha de tudo e todos. Marceline dizia que aquilo era normal, mas eu não entendia como ela própria entendia daquilo. Nicholas me assegurou que Angelique também fora assim, apenas em um nível leve.
Eu tinha os hormônios da adolescência ainda presentes e com mais os da gravidez faziam tudo explodir em chamas - às vezes para o bem como na cama e às vezes para o mal como naquele momento. Na maioria das vezes eu me controlava, mas vocês já viram uma mulher grávida controlada? Bom, deem os parabéns à ela.
Me apressei a mandar uma mensagem para Bianca:
Bia, socorro. A hostess tá comendo o Nicholas com os olhos. Me ajuda a ter controle para não voar no pescoço dessa mulher.
A resposta não demorou a vir:
O que tá acontecendo com você, Blue? Pelo amor de Deus, parece que virou uma Blue diferente. Cadê aquela Blue da paz? Acha ela ali atrás desse bebê monstro que você carrega.
Ri da mensagem e, antes que voltasse a digitar, a loira chamou a minha atenção.
- Senhor Hayes, você e sua filha podem me acompanhar até a mesa que já está pronta para recebê-los.
Paralisei no mesmo lugar e Nick fez o mesmo. Quando a mulher notou que não a acompanhávamos, voltou de imediato. Eu quase podia ouvir o ranger dos dentes de Nicholas ao meu lado e eu só sentia as lágrimas uma atrás da outra descendo por meu rosto.
O meu pior pesadelo. Nicholas fora confundido como meu pai. Engoli em seco e olhei para ele enquanto a garota loira voltava pálida ao nosso encontro.
- Senhor? Está tudo bem? Eu disse algo errado? Me perdoem. Deixem que o jantar seja por nossa conta.
Um soluço escapou por entre meus lábios e, poderia parecer exagero, mas ninguém nunca entenderia a dor que eu sentia naquele momento. Ninguém jamais saberia a dor de passar por tudo o que eu e Nicholas passamos e ainda sofrermos todo o preconceito. Mesmo que fosse sem querer, mesmo que não fosse intencional. Doía muito.
- Não. Muito obrigado. - Nicholas falou por mim. Ou melhor, sibilou já que seus dentes permaneciam cerrados.
- Senhor, me perdoem. Tem algo que eu possa fazer por...
- Você já fez o suficiente por hoje.
Nicholas me abraçou pelos ombros e beijou meus cabelos, se afastando comigo para longe dali. Para longe dos monstros que insistiam em nos atormentar dia e noite.
Já dentro do carro, consegui responder Bianca:
Bia, a mulher chamou o Nicholas de meu pai. Eu fiquei péssima.
Nenhuma mensagem veio em seguida, Bianca deveria estar preocupada com seus próprios assuntos e eu não tinha o direito de importuná-la.
Deitei a cabeça no encosto do banco do carro e fechei os olhos, acariciando minha filha que parecia mais agitada agora que eu estava triste. Senti a mão de Nicholas vez ou outra em cima da minha e eu me limitava apenas a sorrir.
Quando chegamos em casa, Marceline já estava recolhida e eu não sentia fome. Mas como agora carregava um outro alguém dentro de mim, tinha que pensar nela. Nicholas disse que pediria um lanche para nós e eu salivei de imediato. Não demorou para chegar e eu logo me deliciei naquela maionese caseira que enviaram para nós.
Não conversamos depois do acontecido. Nosso apoio era silencioso e não havia muito o que ser falado. O meu restaurante favorito já não era mais o meu lugar preferido para comer.
Me peguei pensando em quantos não achavam que Nicholas era meu pai. Aquele homem era pai da garotinha que parecia ter se metido em problemas ao engravidar. Mas nunca pensariam que aquele homem maduro estava com aquela criança. Era quase um ultraje às mulheres que eram maduras como ele e que o desejavam.
Quantas mulheres Nicholas não deveria estar envolvido antes de me conhecer? Quantas não me odiavam por tê-lo pego para mim? Quantos não entendiam que aquilo era mais do que corpo? Quantos não entendiam que o nosso sentimento era de puro amor? Antes de ser, já era amor. Antes de ser sexo, era amor. Antes de ser pele, era sentimento.
Nós não transamos como fazíamos quase todas as noites. Estávamos magoados demais, machucados demais e eu chorei antes de dormir, envolvida pelo abraço do amor da minha vida. Dos meus dois amores.
Já era manhã quando acordei de um pesadelo e Nicholas tomava banho. Peguei meu celular e vi as mensagens de Bianca:
Como assim? Alguém demite essa mulher, pelo amor de Deus! Isso não é constrangimento? E como ela atreve magoar a minha melhor amig? Me fala quem é que hoje mesmo eu vou bater nela. Vou fechar aquele restaurante!
Ri do seu ataque de proteção para comigo e comecei a digitar:
Deixa pra lá, amiga. Como você está? Te vejo no almoço?
Deixei o celular de lado e fui até o banho, encontrando Nicholas tirando o shampoo dos cabelos. Encostei na parede e observei seu físico com uma mordida no lábio inferior. Não chamei sua atenção, apenas deixei que ele me notasse e, quando o fez, sorriu para mim.
- Bom dia, menina Blue. Por que não se junta a mim?
- Quais são as vantagens, senhor Hayes? - Questionei enquanto fingia pensar, já tirando o pijama.
- Podemos sair sem atraso e ainda economizar água.
- Eu contestaria, mas estou tentada a entrar aí com você.
Já completamente nua, eu entrei no chuveiro com ele, tomando seus lábios com os meus, sentindo seu membro ereto roçar em minha coxa. Minha intimidade já pulsava e molhava só com o mínimo toque de seus dedos. Meus dentes prenderam seus lábios antes de me virar para que ele tivesse todo o acesso de que precisava.
- Estou pronta pra você, Daddy. - Falei, olhando por cima do ombro.
- Você me deixa louco. - Nicholas tocou meus seios já inchados pela gravidez e beijou minhas costas.
A água batia entre nossos corpos, mais especificamente na base da minha coluna e deixava tudo ainda mais tentador. Senti sua glande passear pelo meu ponto de prazer, me estimulando antes de escorregar para dentro de mim. Revirei os olhos e espalmei as mãos na parede à minha frente.
Nicholas sabia como me enlouquecer, sabia aproveitar do meu estado safado depois dessa gravidez e eu amava isso, amava ainda mais quando ele percebeu que eu não me incomodava que ele cedesse. Eu precisava dele, precisava todos os dias, porque sabia que quando a bebê nascesse não teríamos mais tanto tempo para transar quanto tínhamos agora.
Agarrei sua nuca quando seus movimentos tornaram-se rápidos e fortes, fazendo o choque dos nossos corpos produzir um som sexy. Arranhei sua nuca e mordi o lábio, soltando um gemido baixo por entre eles. Nicholas beijou meu ombro, dando uma leve mordida ali enquanto apertava um de meus seios com a mão que não segurava meu quadril.
Cheguei ao ápice quando sua mão escorregou por minha barriga protuberante e alcançou meu clítoris. Me escorei na parede enquanto gemia e sentia o seu próprio ápice escorrendo por minhas coxas.
Nicholas saiu de mim cedo demais, mas colou nossos lábios em seguida, deixando em mim um gosto de quero mais. Quem dera eu pudesse passar a tarde entre seus braços e seu corpo nu. Entre ser amada e desejada pelo homem que eu amava.
- Termine seu banho. - Mandou, selando nossos lábios e pegando sua toalha. - Vou pegar uma toalha para você.
Assenti com um enorme sorriso nos lábios e iniciei meu próprio banho, vendo-o trazer duas toalhas para mim ainda com a sua própria enrolada na cintura. No entanto, ao passar o sabonete por meu corpo, algo estranho me ocorreu. Sentir um pouco do nosso prazer escorrer por minhas pernas e era normal, mas não por tanto tempo. Assim que passei o sabonete por entre as pernas e o olhei, arregalei os olhos.
Em outros tempos eu pensaria que estava menstruada, mas como poderia se carregava um bebê? Soltei o sabonete e junto com ele um grito estridente. Minhas pernas fraquejaram a tempo de Nicholas me pegar em seus braços. Ele não se importava em ter sua roupa molhada, ainda mais depois que viu meus dedos com o sangue e ver que o sangue saía do meio de minhas pernas.
- Marceline! - Nicholas gritou. - Me ajude, Marceline! - Sua voz era como uma trovoada, mesmo um tanto embargada.
Marceline chegou um tempo depois e colocou as mãos em frente aos lábios ao me ver. Saiu dali no mesmo instante e eu não entendi o porquê. Nicholas desligou o chuveiro e me embrulhou na toalha, me levando no colo até a cama enquanto me enxugava.
- Vai ficar tudo bem. Calma, meu amor. - A todo o momento ele dizia, na esperança de acalmar meus soluços e murmúrios que não eram nada mais do que "bebê, minha bebê". - Eu vou levá-la ao hospital. - Nicholas dizia enquanto pegava a roupa que Marceline tinha separado e me vestia.
- O senhor quer que eu vá junto? - Perguntou.
- Não, fique aqui e avise Noah.
- Bi-Bianca... - Gemi, soluçando logo em seguida.
- Bianca também. - Nicholas pegou meu rosto entre suas mãos e selou nossos lábios. - Vai ficar tudo bem, meu amor. Eu prometo.
Mesmo que ele tivesse prometido, o vacilar de sua voz me fez chorar copiosamente. O choro se estendeu até o carro e então até o hospital. Eu ainda sangrava. Abraçar minha barriga foi o jeito que encontrei de proteger a minha menina.
- Eu te amo, Serena. Não vá embora, por favor. Eu te amo. - Sussurrei para a minha barriga.
Nicholas havia escutado, mas aquele não era o momento para discutirmos um nome. Seu olhar me encontrou e um pequeno sorriso brotou enquanto ele acariciava meus cabelos e então minha barriga.
Ele se sentia culpado, mas a culpa não era dele. Eu queria dizer aquilo, queria acalmá-lo. Mas eu não estava calma. Eu estava surtando.
Eu ia perder o nosso bebê.
xxx
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