Capítulo 35
Noah ficou um bom tempo estático, sem saber o que dizer enquanto Bianca explodia de felicidade e me abraçava fortemente. Eu já esperava aquela reação dele e acredito que o próprio Nicholas também não se surpreendeu.
- Filho? - Chamou e Noah pareceu acordar de um sono profundo. - Você ouviu o que dissemos? Você vai ser irmão mais velho. - O sorriso de Nicholas quase rasgava seu rosto e eu toquei sua coxa por baixo da mesa quando vi Bianca voltar ao seu lugar.
Seu olhar vazio foi do pai até mim e eu senti minha espinha gelar. De imediato toquei minha barriga, como se assim eu pudesse proteger meu bebê de qualquer mal que alguém viesse causar à ele. Quem diria que antes eu o rejeitara e agora só pensava no seu bem estar, em protegê-lo.
- Como você sabe que não é meu? - Questionou.
- Ah, você só pode estar de brincadeira comigo! Deixa de ser imbecil, Noah! - Bianca deu um tapa na cabeça dele.
Mas eu não achei graça nenhuma. Pelo contrário, fiquei constrangida e abaixei o olhar, sem conseguir fitar ninguém naquela mesa. Será que eu sempre seria lembrada por aquele erro? Nosso passado sempre nos assombraria? Aquelas pedras no caminho sempre estariam ali? A resposta era sim e eu teria que lidar com elas todos os dias da minha vida, desde o momento em que acordasse até o momento em que fosse dormir.
- É uma pergunta séria, Blue. - Noah me chamou e eu o olhei sob os cílios.
Meus olhos estavam marejados e eu desviei para um Nicholas constrangido, que fuzilou o filho com o olhar.
- Por que eu estou de quatro semanas, Noah. - Expliquei. - Eu estava com seu pai nesse período de descuido.
- Graças à Deus que não é seu. Ninguém merece parir outro babaca que nem você. - Bianca descontraiu e me fez rir baixo com a provocação.
- Você adoraria ter um filho meu. - Noah provocou de volta.
- Nos seus sonhos. - Bianca piscou na sua direção.
Naquele ponto eu já não tinha mais fome e Nicholas ficou quieto de repente. Sabia que aquele almoço estava arruinado e agradeci à Deus por ter um momento longe de Nicholas para que ambos esfriássemos a cabeça. Não queria um clima ruim perto dele.
Pedimos nossa comida e vez ou outra minha voz era ouvida entre as de Noah e Bianca e suas conversas passivo-agressivas, mas nunca a de Nicholas. Ele parecia distante e não me incomodei em inseri-lo na conversa, nem mesmo meus amigos estavam tentados a fazer o mesmo.
Ao fim daquele encontro, Nick nos levou até a saída e, assim que estávamos no limite do estacionamento, começamos com as despedidas. Foi então que ouvimos a voz de Nicholas depois de um certo tempo:
- Vocês podem manter a gravidez em segredo? Pelo menos por enquanto. - Pediu.
- Claro, pai. Sem problemas. - Noah sorriu e tocou o ombro do progenitor, recebendo um sorriso sem dentes antes de se afastar.
- Tchau, senhor Hayes! - Bianca acenou para Nick e se afastou, correndo até Noah e pulando em suas costas fazendo meu amigo levar um susto.
Sorri e balancei a cabeça em negação, me virando para Nicholas e envolvendo seu pescoço com os braços.
- Te vejo em casa? - Questionei.
Nicholas envolveu minha cintura e finalmente vi um sorriso pintar seus lábios sem o mínimo esforço.
- Com certeza. - Seus lábios tocaram a minha testa. - Vou terminar o trabalho o mais rápido possível e vou sair daqui. Eu amo vocês. - Sorriu e eu toquei seus lábios com os meus.
- Nós também te amamos.
Saí dali saltitando enquanto ouvia a buzina de Noah soar impaciente.
- Já estou indo!
- Às vezes eu queria ter uma mãe. - Dei de ombros enquanto comia alguns ovos de amendoim. - Mas a verdade é que o mais perto que eu cheguei de ter uma mãe foi você, Marceline.
- Me sinto honrada em ouvir isso, menina Blue. - Ela beijou meus cabelos. - Criei uma filha doce, gentil e amorosa.
- E agora será vovó. - Acariciei minha barriga. - Não é maravilhoso?
- Claro que é. - Concordou.
Noah apareceu na cozinha vestindo apenas a sua calça. Ele e Bianca ficaram na sala vendo algum programa na TV do qual eu não estava interessada. Sempre tirava um tempo do meu dia para conversar com Marceline, que eu achava estar sempre tão sozinha. Ignorei a presença do menino que pegava suco da jarra que estava na geladeira.
- Conseguiu resolver suas pendências? - Questionei.
- Ah sim, era tudo fácil. Aproveitei para fazer o suco que eu sei que Noah gosta. - Ela sorriu para o garoto que se virou, parando o que fazia, para sorrir de volta.
- Eu não disse que a senhorita estava dispensada? - Abracei-a pela cintura, deitando a cabeça em sua barriga.
A mulher abraçou minha cabeça e acariciou meus cabelos.
- Você sabe muito bem que ela ama cozinhar e fazer você feliz, loirinha. - Noah comentou, me fazendo sorrir ao ouvir o apelido que ele usava bastante comigo.
Desencostei minha cabeça para olhá-lo a tempo de vê-lo guardar o suco e pegar os copos, deixando um na mesa para mim e então voltando para pegar outro.
- Obrigada. - Sorri para ele, bebendo do líquido amarelo claro, agradecendo por aquilo. - Esses amendoins estão salgados.
- Por que não me pediu um copo de suco, mocinha? - Marceline colocou as mãos na cintura, parecendo brava.
- Porque ela nunca quer incomodar ninguém. - Noah interferiu na conversa, tomando um gole do seu suco. - Nossa Marceline, você se supera toda vez.
- Obrigada, Noah. - A mulher sorriu, parecendo tímida. - Bianca vai jantar aqui?
- Não, vou despachar a ruivinha.
- VOU SIM, MARCELINE! - Ouvimos o grito de Bianca vir da sala, fazendo-nos rir.
- Eu nunca vou conseguir me livrar dela.
- Ainda bem que sabe. - Pisquei pra ele e o vi ir para a sala.
- Esses dois nunca vão parar de ser cabeças dura? - Marceline perguntou, limpando as mãos no avental e se afastando para a cozinha.
- Só o tempo vai dizer, Marceline. - Suspirei.
Bianca acabou por ficar e eu achava que Noah estava amando aquilo. Não queria interferir no relacionamento dos dois, mas sabia que uma hora ou outra eles ficariam juntos e descobririam a delícia que era amar e ser amado.
Me preparei para dormir, colocando um baby doll, encontrando Nicholas com uma calça de moletom preta deitado na cama e assistindo televisão. Me deitei ao seu lado debaixo dos cobertores e acabei por cobri-lo também. Deitei a cabeça em seu peito e senti seu beijo em meus cabelos enquanto seu braço me envolvia e sua mão começava uma carícia em meu braço.
- O que está assistindo? - Franzi o cenho.
- Um documentário sobre anêmonas. - Comentou e gargalhou logo em seguida, acabando por me contagiar.
- Nossa Nicholas, nós parecemos estar casados há cinquenta anos. - Me sentei na cama, fingindo limpar uma lágrima no canto dos olhos.
- E por um acaso daqui cinquenta anos eu serei capaz de fazer isso?
Antes que eu pudesse perguntar o que era, ele estava em cima de mim, beijando meus lábios com ferocidade e eu sabia que seria mais uma noite de sexo ao lado dele. Não estava reclamando, eu amava o sexo de Nicholas e me sentia privilegiada por ter um homem que sabia me satisfazer na cama.
Eu o amava e o desconforto do almoço havia sumido para dar lugar ao prazer.
- Muito bem, papais. Está na hora. - A doutora Abigail passava o aparelho por cima do gel na minha barriga pequena.
Olhei para Nicholas e toquei sua mão. Na tela aparecia uma imagem distorcida e um bebê do tamanho de um grão de feijão jazia dentro de mim. Marcamos um ultrassom para quando eu estivesse com seis semanas completas para que pudéssemos ouvir os batimentos cardíacos do nosso bebê. A obstetra dissera que era o momento perfeito para ouvir as batidas do coração, se não ouvíssemos... Não queria pensar sobre isso.
Um barulho como ondas do mar batendo enquanto você está mergulhado quebrou o silêncio do quarto e eu ergui minha cabeça o mínimo para ver melhor a tela. As lágrimas inundaram meu rosto em poucos segundos e eu me virei para Nicholas, vendo que ele limpava as próprias lágrimas.
- É tão lindo. - Disse maravilhada.
A médica sorriu e afastou o aparelho da minha barriga, dando papéis para que eu me limpasse e se levantando, deixando a imagem na tela congelada.
- Vou deixar vocês a sós e volto com os resultados. Mas adianto que o bebê está saudável. Com licença.
- Obrigada. - Sorri, vendo a mulher sair.
Nicholas pegou os papéis e limpou minha barriga, deitando a cabeça ali e dando beijos. Acariciei seus cabelos e limpei as lágrimas com a mão livre.
- Não é bom?
Assenti uma vez.
- Obrigada por me convencer de que era a coisa mais maravilhosa do mundo conceber uma criança. Você não poderia estar mais certo. - Suspirei, traçando a linha do seu maxilar e então olhando seus lábios.
Ele se debruçou sobre mim e tocou meus lábios com os seus.
- Espere só até ele nascer.
- Ou ela, papai. - Me levantei, abaixando o vestido e ajeitando a calcinha.
- Ah, nem me fale se for uma "ela"! Eu vou amar!
- Precisamos decidir sobre nomes. - Comentei, saindo da sala e me sentando nas cadeiras da sala de espera.
- Teremos tempo para isso. - Nick me abraçou de lado e eu deitei a cabeça no seu ombro. - Podemos fazer uma lista de no máximo dez nomes de meninos e dez de meninas, então escolhemos.
- Não é uma ideia ruim. - Olhei para ele, selando nossos lábios mais uma vez.
- Aqui está. - A médica entregou o resultado de imagem do ultrassom em um pasta. - Vejo vocês em breve.
- Obrigada, doutora.
Como eu poderia reclamar de uma vida como essa?
Com três meses a barriga não é muito grande, mas eu ficava esquisita por ser magra demais. Fui para a minha primeira aula no curso de de fotografia, deixando aquele ser mais do que um hobbie para virar a minha profissão.
Claro que a primeira aula seria prática e nós estávamos dentro do que parecia ser um galpão, uma parede verde fazia parte do ambiente. Sorri com toda aquela experiência inesquecível, me agarrando à minha mochila onde minha polaroid, o começo de tudo, descansava.
- Bom dia, alunos! Sejam bem vindo ao curso de fotografia!
Noah Hayes
Meu pai levara Blue para a faculdade e como ela era a única no mundo que iria para a aula no primeiro dia, meu pai ficou me ajudando a subir minhas caixas até meu dormitório.
- Você vai ficar bem? - Ele questionou, tocando meu ombro quando colocamos a última caixa no dormitório branco demais e com duas camas.
- Acho sim. Só preciso deixar esse lugar com a minha cara. - Coloquei as mãos na cintura, respirando fundo e então chacoalhando a camiseta úmida de suor.
- Se precisar de algo, sabe onde eu vou estar. - Meu pai me abraçou e eu retribui o abraço, dando tapas leves em suas costas.
- Claro, pai. Pode deixar o meu quarto para o bebê no...
- Não, nada disso, Noah. Aquele sempre vai ser seu quarto. - Ele sorriu e colocou a mão na minha nuca, parecendo orgulhoso de mim. - Vamos reformar a casa, fazendo um novo quarto para Marceline e um para o bebê. Não se preocupe. Terá espaço para todos.
- Tudo bem. - Sorri e olhei para a cama vazia do outro lado do quarto. - Espero que ele seja legal.
Meu pai riu com a minha primeira preocupação e foi se afastando, mas parou antes de se despedir totalmente.
- Cuida bem dela, sim?
- Claro, pai. Vou ficar de olho. - Bati continência, piscando para ele.
- Muito obrigado. - E então ele se foi.
Eu sabia bem de quem meu pai falava, do grande amor da vida dele que agora carregava o presente dele, o fruto do amor dos dois. Será que algum dia eu sentiria um amor como aquele?
Com o tempo eu percebi que o que eu sentia por Blue não era amor. Estava longe de ser. Depois que vi o amor dela e do meu pai, percebi que não faria o mesmo se fosse eu no lugar do meu pai. Não faria nem a metade. Talvez demorasse um pouco, mas eu encontraria alguém que merecesse o meu amor e que ele fosse recíproco. Agora eu precisava focar nos meus estudos e n...
- Eu não acredito nisso! - A voz de Bianca reverberou pelo quarto e eu parei imediatamente de desencaixotar meus pertences para me virar a tempo de ver a garota carregada de malas e alguns garotos carregando caixas atrás dela. - Podem deixar isso aí, muito obrigada. - Ela pediu, indicando a porta do quarto e os garotos saíram um a um, entre piscadelas e sorrisos cheios de segundas intenções.
- O que pensa que está fazendo? - Questionei, me levantando.
Ela se dirigiu com as malas até a cama ao lado da minha, se sentando e cruzando as pernas, apoiando as mãos atrás do corpo.
- Parece que somos colegas de quarto, baby. - Piscou para mim.
O destino gostava de brincar com a gente e aquilo me fez abrir um sorriso incrédulo. Às vezes era para simplesmente ser. Mas o que mesmo era para ser?
Aquela ruiva do capeta mal chegara e já estava me deixando louco.
xxx
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