Capítulo 32
Não tive outra reação a não ser correr ao seu encontro e beijar seus lábios. Nicholas me abraçou pela cintura e me ergueu, me girando no topo da escada. Apesar de estarmos na nossa própria bolha, eu podia ouvir os flashes, aplausos e assovios. Por um momento me esqueci de onde estávamos e me afastei dele, mas nunca deixando de tocá-lo.
- O que aconteceu? Como? - Toquei seu rosto, as lágrimas de alívio lavando meu rosto e minha alma.
- Foi Aimée. Ela retirou a queixa. - Nicholas beijou minha testa e olhou por cima do meu ombro. Acompanhei seu olhar, encontrando Noah sorrindo na nossa direção. Parecia genuinamente feliz. - Noah a induziu.
Suspirei e me aproximei do garoto, toquei suas mãos e não me senti estranha como achei que aconteceria.
- Muito obrigada. - Olhei fundo em seus olhos quando falei.
- Alguém muito importante pra mim me ensinou que a felicidade de quem eu amo vale mais do que qualquer coisa no mundo. - Seu olhar encontrou o da melhor amiga ruiva ao seu lado. - Até mais do que a minha própria. - E então voltou a me olhar. - Eu sabia que você não estava feliz, Blue, sabia que algo a incomodava e sinto muito por lhe causar tanto sofrimento. Não valia a pena te prender em nosso relacionamento por puro egoísmo. - Ele engoliu em seco e eu pude ver a lágrimas inundando seus olhos. - Nosso relacionamento mudou? Eu sei que mudou. Mas você sempre vai ser a minha melhor amiga, minha loirinha, e eu vou aprender a te amar como uma... Madrasta? - Franziu o cenho e nos arrancando risadas.
- Eu vou ser uma "boadrasta". - Abracei ele fortemente, sentindo seus braços se fechando à minha volta na mesma intensidade.
Me voltei para minha melhor amiga.
- Me desculpe por te deixar tão só e te fazer sofrer por tanto tempo. Eu devia saber que você tinha um coração, mesmo que construído com os pedaços dos que você partiu. - Fiz uma careta e ela sorriu. - Você merece alguém que te ame e que te faça como primeira e única. OK? - Ela assentiu uma vez e eu vi lágrimas escorrerem por seu rosto. - Eu te amo tanto. - Foi a vez dela me abraçar e eu retribuí, beijando seus cabelos. - Sei que você foi uma parte importante de tudo isso. Noah não tem toda essa capacidade persuasiva sem a sua ajuda. - Sussurrei a última parte.
- Ei! "Boadrasta" uma ova! - Noah falou mais alto e fez nós duas rirmos.
Senti a presença de Nicholas atrás de mim e tive a confirmação de que ele estava ali quando Noah ergueu o olhar. Ali estava estampado o orgulho de um filho. Me virei para Nick e o encontrei sorrindo para o próprio filho, depois desviando-o para mim.
- Vamos para casa, menina Blue. - Nick segurou meu queixo e beijou meus lábios. - Temos muito para conversar. - Seu olhar não estava só em mim, mas em seu filho também.
Foi difícil passar pela imprensa, mas com a ajuda dos agentes nós conseguimos voltar para a casa. Estávamos muito cansados e não sabíamos o que encontraríamos caso fôssemos para a minha casa, por isso aconselhei que terminássemos de nos resolver na casa dos Hayes.
Bianca pediu para que ficasse em sua casa e nós a deixamos lá. Despediu-se com um aceno e se foi. Noah permaneceu em silêncio e eu gostaria de ter visto sua reação ao cumprimento frio da amiga, mas ele estava de costas para mim.
Fiquei aliviada ao me sentar no sofá confortável - que guardava tantos segredos. Noah sentou-se ao meu lado e eu sorri, recebendo um sorriso de volta. Nicholas ficou em pé, em nossa frente, com as mãos na cintura.
- Muito bom, eu tenho uma novidade muito boa, mas ninguém pode saber. - Engoliu a seco e aquela foi a deixa para eu me aprumar no sofá, prestando total atenção no que Nicholas dizia. - Eles rastrearam o celular de onde o vídeo saiu e vão prender quem quer que tenha feito isso conosco.
Arregalei os olhos e me virei para Noah que também tinha a mesma expressão assustada no rosto.
- Tão rápido? - Noah questionou. - Isso é maravilhoso!
Vi filho e pai se abraçarem e aquilo me deixou feliz. Tão feliz como não ficava desde... Desde que vira Nicholas sair daquela delegacia.
- É provável que saia na mídia. - Continuou.
- E como descobriu isso? - Perguntei maravilhada.
- Posso ter ouvido uma conversa enquanto era liberto. - Deu de ombros.
- Você é terrível, Nicholas. Bisbilhotando a conversa dos outros? - Revirei os olhos, rindo em seguida e arrancando um sorriso.
Sabia que ele queria me tomar nos braços naquele momento, assim como eu queria estar entre os dele, mas nós tínhamos que ter respeito pelo Noah, não só por toda a história que tivemos juntos, mas porque ele era seu filho e não deveria ser nada agradável ver seu pai dando uns beijos em uma colega.
- Então nós deveríamos ficar olhando para a TV a espera de que a notícia saia a qualquer momento? - Noah questionou.
Troquei olhares com Nicholas por um momento. Nós passamos boa parte do tempo vendo os noticiários e assim que paramos foi quando realmente passaram a nos procurar.
- Acredito que seja melhor nós pedirmos uma pizza, filho. - Nick deu tapas leves nas costas dele.
- E comprar celulares novos, Nicholas. - Pontuei.
- O que aconteceram com os antigos? - Noah franziu o cenho.
Me levantei dando um suspiro e abraçando Nicholas para mim.
- Longa história.
- Que nós pretendemos te contar. - Nicholas apontou para o filho enquanto acariciava minhas costas. - Mas primeiro vamos pedir aquela pizza, estou morrendo de fome.
Depois de comermos a pizza, decidi que seria melhor ir para a casa e pedi para que eles me acompanhassem até a porta e não mais do que isso. Se Aimée estivesse lá dentro, eu teria que enfrentá-la sozinha. Abracei fortemente Nicholas e me despedi com um aceno para Noah enquanto o via ocupar o meu lugar ao lado do pai.
Segurando minhas malas foi que eu entrei em casa. Estava tudo escuro e, quando eu pisei o primeiro pé para dentro, ouvi a buzina e o carro se afastando. Não me virei, apenas continuei a caminhar, acendendo as luzes, não sem antes ver a cozinha iluminada.
- Aimée? - O nome dela tinha um gosto esquisito em meus lábios.
- Blue? - Ouvi a voz e então ela apareceu no fim do corredor.
Larguei as malas e corri ao seu encontro, abraçando-a para mim, aliviada por ela estar ali. A mulher parecia ter chorado muito e aquilo me partiu o coração.
- O que foi, Marceline? - Perguntei preocupada enquanto a fazia se sentar em uma das cadeiras da sala de jantar.
- Ah menina... - Tomou minhas mãos entre as suas apenas para soltar uma e me estender um papel amassado.
Abri de imediato e li o conteúdo. Engoli em seco e ergui meu olhar, fingindo não estar magoada e não precisando fingir que não estava surpresa.
- Ela me abandonou? - Questionei e vi Marceline assentir. Toquei sua mão livre e a fiz me olhar. - Tudo vai mudar agora e foi melhor assim.
Me levantei e abracei Marceline para mim. Tudo iria mudar para melhor.
Em pouco menos de um mês Nicholas me acolheu em sua casa. Na mesma noite contei à ele que Aimée havia ido morar em outro continente com um médico que havia conhecido há pouco. Não entrou muito em detalhes e era esse o paradeiro que eu tinha sobre a minha irmã mais velha, a única família de sangue que ainda me restava.
Agora eu tinha a minha família de coração comigo: Marceline, Noah, Nicholas e Bianca. Pedi para Nicholas abrigar Marceline e ele o fez de bom grado. Se davam muito bem e isso era fantástico, me deixando muito feliz.
- Então quer dizer que foi mesmo o Zachary? - Bianca perguntou pela milésima vez enquanto retocava o batom.
- Aparentemente sim. Ele ficou foragido e acabou se entregando há uns dias. - Dei de ombros.
- E como você está com tudo isso? - Questionou, se recostando na pia do banheiro.
Olhei para minhas unhas muito bem pintadas sentindo meu estômago embrulhar.
- Sinceramente? Aliviada. Sabia que ele nunca havia prestado. - Engoli em seco e olhei para ela. - É uma pena que eu estivesse tão certa dessa vez.
Bianca me abraçou, acariciando minhas costas e se afastando pouco depois.
- Vamos, temos uma colação para ir.
A garota tomou minha mão e deu uma última arrumada nos cachos antes de sair do banheiro feminino do colégio, correndo comigo pelos corredores entre risadas até o campo de futebol onde acontecia o evento.
Nos aproximamos de Noah, que conversava com alguns colegas e logo se despediu quando nos viu.
- Nossa, como estão bonitas! - Noah elogiou, acariciando o braço da ruiva.
- Eu sei. - Bianca jogou os cabelos, torcendo os lábios em uma expressão de desgosto.
A relação dos dois ficou estranha depois de toda a situação passada. Sabia que Bianca se sentia como segunda opção e eu via Noah correndo atrás dela como um cachorrinho, como se precisasse suprir um vazio, como se precisasse recuperar o tempo, como se estivesse profundamente arrependido de ter me amado - e isso não me ofendia.
Eu sabia que entre nós já não existia mais nenhum tipo de sentimento amoroso e isso ficava cada dia mais claro. Nós éramos amigos e era só isso. Noah respeitava a minha relação com seu pai porque via a mais pura verdade ali. Mas Bianca não o aceitara de voltar desde então e fazia de tudo para parecer superior.
Não opinei na relação dos dois, não aconselhei e deixei que cada um seguisse o seu coração. Nós faríamos faculdade não muito longe dali e no mesmo campus. Eles morariam lá, mas eu não vi necessidade de sair de perto de Nicholas. Decidi que aquela reação não era minha e não cabia à mim dizer algo para eles. Ainda existia muito para ser conversado, muita mágoa e eles teriam que resolver isso entre si, como adultos que seriam dali pra frente.
Entramos aos poucos em ordem alfabética e fomos nos sentando um ao lado do outro nas cadeiras dispostas no campo. O evento se iniciou e eu pude ficar bem perto da minha melhor amiga. Noah ficou um pouco atrás de nós e vez ou outra nós acenávamos para ele, felizes. Ignorava os cochichos e olhares na minha direção, nada me importava naquele momento porque eu era a garota mais feliz do mundo.
Depois de muito falatório, era a hora de recebermos os diplomas. Pouco a pouco, subíamos no palco montado precariamente e recebíamos o nosso diploma. Não havia conseguido reconhecer Nicholas ou Marceline na mutidão, por mais que eles tivessem jurado que viriam.
Ao fim da cerimônia, nos levantamos e jogamos os chapéus. Era o fim de um ciclo e início de outro mais importante ainda. Acabei por perder o meu chapéu e peguei outro qualquer, assim como os outros faziam.
Cada um foi até a sua família e eu me senti grata ao ver Marceline e Nicholas me esperando com o maior dos sorrisos, grata por ter pessoas que eu tanto amava ao meu lado em um momento importante e memorável.
- Parabéns, minha menina! - Marceline me abraçava enquanto Noah recebia a atenção do pai.
- Obrigada. Estou tão feliz! - Suspirei.
- Parabéns, senhorita Hayes. - Nicholas me puxou e selou nossos lábios.
- Obrigada. Sabe, eu ainda tenho meu sobrenome. - Semicerrei os olhos na sua direção, fazendo-o rir.
- É claro. - Selou nossos lábios mais uma vez e ergueu o olhar sobre a multidão, procurando por alguém. - Bianca! Venha aqui!
- O que está fazendo, pai? - Noah arregalou os olhos e tinha urgência na voz, eu me limitei a rir.
Sabia que pai e filho tinham segredos e fiquei curiosa para saber, mas não deveria me intrometer. Noah me cotava tudo e o que era entre ele e Nicholas pertencia apenas à eles.
- Venha, quero tirar uma foto dos três melhores amigos. - Ele ignorou o filho e continuou a falar.
Bianca parecia tímida e se aproximou de Noah, abraçando-o de um lado enquanto eu fazia o mesmo do outro. Suspirei, feliz por ver o quão participativo Nicholas estava na vida do próprio filho e imaginei quando fosse o nosso. Pressionei os lábios e logo sorri, vendo o flash na minha direção.
Quando coloquei meus olhos em meus amigos, vi que eles se olhavam e contive a vontade de revirar os olhos na direção deles. Estava tão óbvio que eles se gostavam!
Me virei para caminhar na direção de Nicholas, disposta a deixar o casal em paz, mas eu nunca cheguei aos seus braços.
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