Velhas Sombras
Los Angeles, 23 de janeiro de 1996.
Era finalmente o momento da mudança, um novo começo. O Canadá, com suas memórias doces e amargas, ficava para trás, enquanto o sol brilhava promissoramente sobre Los Angeles. Nunca havia visitado a cidade antes, mas a promessa de novos horizontes me animava.
— O que achou do novo lar? — Logan perguntou, estacionando o carro na garagem.
A casa era uma visão encantadora, com paredes de um azul suave e pilares brancos. Embora o tempo sem ocupação houvesse deixado suas marcas, um pouco de limpeza devolvia a vida ao lugar.
— É linda — respondi, sorrindo enquanto saía do carro. As ruas ao redor estavam tranquilas, com poucos transeuntes. A cidade parecia pacífica, uma lufada de ar fresco comparada ao passado.
— Vamos entrar — Logan disse, conduzindo-me para dentro. A casa, embora um pouco empoeirada, tinha um charme acolhedor. Os móveis eram simples, mas confortáveis.
— Essa casa me dá uma nostalgia... — Logan murmurou, passando a mão sobre uma poltrona com um sorriso melancólico.
— Quando você morou aqui? — perguntei, observando os quadros nas paredes.
— Nasci na Escócia, como já lhe contei. Viajei bastante e, quando comprei esta casa, tinha mais ou menos a sua idade — ele sorriu, a tristeza refletida em seu olhar. — O tempo voa, não é? Parece que foi ontem que você era uma criança pequena, e agora está prestes a fazer 18 anos. Quero que tenha um futuro brilhante.
— Você sempre foi como um segundo pai para mim — disse, segurando uma moldura. — Só tenho a agradecer. Mas... — minha voz vacilou. — E as aulas de luta e armas? Como ficará isso?
— Vamos ver como as coisas se desenrolam. Será complicado agora, e tenho algumas pendências durante o dia. Só nos veremos à noite — Logan suspirou. — Tentaremos, mas aproveite o tempo livre para aprender novos golpes. Será importante para você no futuro.
— Só de pensar que o assassino dos meus pais ainda pode estar por aí... — A angústia era palpável. — Já se passaram 12 anos e nada!
Logan olhou para o teto, a tristeza visível em seus olhos.
— Como ninguém o viu naquela noite? Por que fizeram isso com meus pais? Eles não tinham inimigos conhecidos, eram pessoas boas — minhas mãos se fecharam em um gesto de frustração.
— Ei, garota — Logan levantou-se e se aproximou, envolvendo-me em um abraço protetor. — Nada de ruim vai acontecer novamente. Você não vai perder mais ninguém. — Ele beijou o topo da minha cabeça. — Farei o possível para te dar uma vida boa.
Senti o calor e o conforto de seu abraço.
— Meu pai ficaria orgulhoso de saber que você é tão bom para mim — sorri, tocada. — Obrigada.
— Vá arrumar suas malas — disse Logan, entregando-me uma chave. — Existem dois quartos no andar de cima. Suas aulas começam em fevereiro, então aproveite para explorar a vizinhança.
Peguei minhas malas do carro e subi para o quarto. Enquanto arrumava o cômodo, coloquei minhas armas brancas em uma moldura na parede: um arco e flecha, um canivete, uma katana e um bastão. Encontrei um pequeno porta-retrato entre meus pertences e a foto de meus pais, tirada no meu aniversário de 4 anos.
— Sinto tanto a falta de vocês... — falei para a foto, um sorriso triste nos lábios. — O tempo passa rápido. Gostaria de vê-los envelhecer. Vou me tornar adulta logo. Eles sentiriam orgulho de mim?
Uma lágrima escorreu pelo meu rosto e caí sobre a foto na pequena estante ao lado da cama.
— Darei orgulho a vocês — prometi, voltando a arrumar minhas coisas.
Após um banho rápido, deitei-me na cama, exausta. A viagem e a mudança haviam sido cansativas, e logo adormeci.
Enquanto isso, Logan trabalhava na arrumação da casa. Ele pensou em pedir minha ajuda, mas entendeu que eu precisava de um tempo para me ajustar. Desde que o adotei, sua vida mudara completamente. Ele havia perdido seu irmão mais novo anos antes, e hesitara em me adotar, mas eu me tornara uma parte fundamental de sua vida.
Logan sabia do rancor e da sede de vingança que carregava, e por isso me ensinou a lutar e a usar armas. Recentemente, porém, ele estava preocupado com o fato de eu passar tanto tempo treinando. Sentia que eu precisava de mais contato com jovens da minha idade, já que minha educação em casa me deixara isolada. Ele sabia que isso era vital para minha adaptação.
Logo começariam as aulas, e ele teria que se despedir da rotina de me ver o tempo todo. Era necessário, mas ele tinha assuntos a resolver.
Logan me acordou para o almoço, trazendo algumas compras do mercado.
— Que cheiro bom! — exclamou, animada, ao me sentar à mesa.
— Então, o que acha de ir para uma escola de verdade? — Logan perguntou, enquanto começava a comer.
— É algo novo para mim. Nunca frequentei uma escola antes, mas deve ser interessante. Embora eu não veja muita necessidade, já que estávamos bem. Minha mãe sempre quis que eu me formasse — comecei a comer, pensando nas palavras de Logan.
— Será bom para ambos. Eu resolvo minhas pendências, e você socializa — ele sorriu. — Você cresceu tão rápido! — fez um tom dramático, e ambos rimos.
— O que acha de explorar a vizinhança hoje à tarde? Podemos passear e ver o que há ao redor. Ver você tão animada me faz sentir-me empolgado — observou, seus olhos brilhando.
— Sim, eu vi um quadro no corredor. Era você? — perguntei, tomando um gole de suco.
— Sim, eu e meu irmão mais novo — respondeu, a expressão dele mudando para uma seriedade súbita.
— Você nunca falou muito sobre ele ou como... — Minha voz vacilou.
— É uma conversa para outro dia. O importante agora é como você está se sentindo — Logan me deu um sorriso gentil. — Sei que pode parecer assustador estar em um lugar novo, mas eu só quero o melhor para você.
— Eu sei disso. Você sempre fez o melhor por mim. Vou me esforçar para me acostumar — garanti.
Terminamos o almoço com um sentimento de esperança e um toque de mistério. Saí pela porta principal, pronta para explorar este novo capítulo de minha vida, mas com uma sensação persistente de que o passado, mesmo longe, ainda estava à espreita.
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