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Ecos do Passado

05 de Fevereiro de 1996

O sol começava a nascer, e Amélia já estava pronta para mais um dia de escola. Sentada à mesa da cozinha, tomava café enquanto conversava com Logan, o homem que a acolhera como filha e se tornara sua única família.

— Até hoje você não me disse, com o que trabalha? — Amélia pergunta, entre goles de café.

Logan sorriu de canto, como se estivesse escondendo algo atrás daquele olhar caloroso.

— Achei que soubesse — ele disse com um tom de mistério. — Sou segurança e professor de artes marciais na casa de um homem influente. É um pouco longe, mas o trabalho é bom.

— E como conheceu esse homem?

— Tenho muitas habilidades. Um amigo me indicou para o trabalho, e acabei aceitando. — Logan fez uma pausa e sorriu de novo. — É longe, mas vale a pena. Posso dar uma boa condição de vida para nós dois.

Pouco depois, Logan partiu para o trabalho, e Amélia caminhou com Michael até a escola. Assim que chegaram, viram uma roda de garotas reunidas em torno de alguém.

— Ele não parece estar gostando da atenção — Michael comentou, observando o rapaz de cabelos pretos no centro da roda, que claramente tentava se afastar das garotas.

— Quem é ele? — Amélia perguntou, curiosa.

Uma voz surgiu por trás dela. Era Bonnie, uma colega de classe.

— Não sabe? Ele é filho de uma das famílias mais ricas do país! — Ela sorriu, mas logo o sinal tocou, interrompendo a conversa, e todos entraram para as aulas.

A manhã avançou sem grandes eventos, até que a professora anunciou um trabalho em grupo. Amélia, sem muita escolha, chamou Bonnie para ser sua parceira.

— Podemos ficar até mais tarde e terminar isso aqui na escola — Amélia sugeriu, mas Bonnie parecia distraída.

— Não estou me sentindo bem... — Bonnie murmurou, cambaleando e quase caindo sobre Amélia.

Assustada, Amélia e Michael levaram Bonnie até a enfermaria. Descobriram que ela tinha problemas de saúde relacionados à pressão e havia esquecido de tomar seus remédios. Com Bonnie fora de ação, Amélia sabia que teria que fazer o trabalho sozinha — uma tarefa que parecia impossível.

— Alguém se voluntaria para ajudar Amélia com o trabalho? — A Sra. Honni perguntou para a turma.

Para surpresa de Amélia, o garoto de cabelos pretos, cercado por garotas mais cedo, levantou a mão e sentou ao lado dela.

— Você? — Amélia o olhou com desconfiança.

— Olha, dá um tempo — ele suspirou. — Começamos mal, mas não sou tão idiota assim.

— Certo, desculpe — Amélia levantou as mãos em rendição. — E sobre mais cedo... Fui infantil em não contar ao Michael.

— Só não quero manchar minha imagem — ele disse com um sorriso de canto. — O que meu pai diria se soubesse que eu fui pego invadindo a sala do diretor? — Ele sussurrou.

Amélia riu, e o clima entre os dois começou a se suavizar. Logo estavam trabalhando juntos, e o garoto, que antes parecia rude, se mostrou surpreendentemente engraçado e leve.

— Sério mesmo que sabe lutar? — Ele perguntou, impressionado.

— Desde cedo — Amélia respondeu com confiança. — Posso até te vencer, se quiser.

— Ah, vai sonhando! — Ele riu, e os dois continuaram conversando até o intervalo.

Quando foram encontrar Michael, Amélia se deu conta de que não sabia o nome do rapaz.

— Michael, esse é o... — Ela hesitou, envergonhada. — Bom, ele é ele.

— Klaus — o garoto disse, finalmente revelando seu nome com um sorriso.

— Klaus? — Amélia repetiu. — Por que escondeu? É um nome bonito.

— Queria te deixar irritada — ele respondeu, divertindo-se com a reação dela.

— Engraçadinho... — Amélia revirou os olhos, mas não pôde evitar um sorriso.

O resto do dia foi tranquilo até que, depois da escola, Amélia e Michael foram até a casa de Adam, um homem perigoso que tinham investigado por semanas. Ao bater na porta, foram recebidos por Julie, uma jovem que parecia assustada.

— Se você não abrir, será pior — Michael gritou.

Julie, em silêncio, os guiou até a sala onde Adam, bêbado, os aguardava.

— Qual o motivo da visita? — Adam perguntou, tomando outro gole de sua bebida.

— Sabemos sobre Julie e Barbara — Amélia respondeu, encarando o homem.

O que se seguiu foi uma briga violenta. Adam agrediu Julie, e Michael avançou sobre ele. No caos, Amélia acabou sendo derrubada, batendo a cabeça contra o chão. Enquanto Michael lutava para dominar Adam, Julie trouxe cordas, e juntos amarraram o homem.

— Amélia! — Michael correu até ela, vendo sangue escorrer de sua cabeça. — Porra, você está bem?

— Só um pouco tonta... — Amélia murmurou, antes de desmaiar.

Michael, desesperado, a carregou até Logan, pedindo ajuda. Logan, ao ver o estado de Amélia, não hesitou. Com mãos experientes, cuidou do ferimento e logo desceu para falar com Michael.

— Ela vai ficar bem — disse, mas seu tom era sério. — Agora me conte o que aconteceu.

Michael explicou tudo, e Logan, com ódio nos olhos, decidiu lidar pessoalmente com Adam.

Horas depois, Amélia despertou e viu Michael adormecido ao seu lado. Ele acordou imediatamente ao perceber que ela estava consciente.

— Lia? Está tudo bem, descansa.

— Onde está Logan?

— Ele foi resolver com Adam. Deve estar voltando.

Logan retornou pouco depois, o punho manchado de sangue.

— Descobri muitas coisas. — Ele fez uma pausa. — Julie me contou tudo. Adam... é muito mais perigoso do que imaginávamos.

O silêncio caiu sobre o quarto, enquanto a sensação de que estavam apenas arranhando a superfície de algo muito maior começava a crescer.

— Precisamos terminar o que começamos — Amélia disse, determinada. — Se ninguém vai fazer justiça, nós faremos.

  A noite seguiu, envolta em um mistério sombrio. O dia seguinte traria mais segredos à tona, mas Amélia, Michael e Logan estavam prontos.

— Julie disse que foi abandonada pelo pai antes mesmo de nascer. A mãe, afundada em dívidas e vícios, não viu outra saída — Michael começou, sua voz carregada de uma tristeza contida. — Ela a vendeu para Adam. Alguns dólares... Foi tudo que a mãe achou que a filha valia.

Amélia sentiu o estômago revirar, como se o peso daquela história fosse demais para suportar. Um aperto profundo no peito a deixou sem palavras, seu olhar perdido no chão, tentando processar a crueldade do que havia acabado de ouvir.

— Julie tinha apenas 14 anos quando foi vendida a Adam, que na época tinha 29. Quando Julie fez 15, Adam a obrigou a ter um relacionamento com ele, e desde então ele começou a forçar ela a fazer várias coisas, inclusive roubar e usar drogas.

— Meu Deus... — Michael sussurrou, abaixando a cabeça e deixando o peso da verdade cair sobre seus ombros. Ele se sentou na cama, incapaz de sustentar o olhar.

— Adam usava Julie... — continuou, a voz vacilante. — Ele a forçava a atrair outras garotas, a dar drogas para elas. Uma dessas vítimas foi Barbara.

Amélia prendeu a respiração, temendo o que viria a seguir.

— Mas Julie se apaixonou por Barbara — Michael fez uma pausa, como se as próximas palavras fossem veneno. — E Adam descobriu. Ele... ele provavelmente mandou matar Barbara.

Os três ficam em silêncio por um momento.

— Vamos na excursão da escola, encontramos as pessoas para quem Adam vende drogas e chegamos até a gangue — diz Amélia, decidida.

— E a Julie? — pergunta Michael.

— Ainda precisamos dela e de Adam. Tenho suspeitas de que o pai de Leslie também esteja envolvido com Adam de alguma forma — explica Amélia.

— É muita coisa... Mas vou ajudar vocês — diz Logan. — Durma aqui hoje, Michael.

Amélia quase não acredita.

— Sério? — pergunta Amélia.

— Sim. Michael te explica. Vou preparar o jantar — responde Logan, saindo.

— Explicar? — pergunta Amélia, curiosa, e Michael suspira.

— Moro sozinho — diz ele.

— Não mencionou isso antes...

Achei que não fosse necessário, mas Logan descobriu por conta própria.

Concordo com ele. Fique aqui — diz Amélia, sorrindo. — Podemos passar a noite conversando.

— É — Michael sorri timidamente.

— E seus machucados?

— Logan me deu alguns cuidados... Não se preocupe, já tratei deles.

Os dois conversam um pouco até Logan voltar com três pratos de comida.

— Já que Amélia não pode se levantar, faremos companhia — diz Logan, entregando os pratos a Amélia e Michael, e ficando com um para si.

Os três conversam sobre vários assuntos e planos.

— Sabe... E a Julie? Onde ela está?

— Passei na casa dos Ruby. Soube deles porque Amélia me contou. Conversei com a mãe de Leslie, e elas aceitaram Julie lá sem que Robert soubesse — explica Logan, enquanto come.

— Fiz um novo amigo hoje — diz Amélia para Logan.

— Como ele se chama?

— Klaus, ele é da minha sala — sorri Amélia. — No começo, ele foi um pouco rude, mas depois ficou bem mais legal e ainda ajudou na investigação.

— Bom... Só tome cuidado para o Michael não ficar com ciúmes — diz Logan, rindo da careta de Michael.

Amélia pega uma fotografia da cômoda.

— São vocês? — pergunta Michael.

— Sim, no aniversário de 10 anos da Amélia. Esse ruivo bonitão sou eu — diz Logan, orgulhoso, e os três riem.

A noite foi ótima. Conversei com Michael por horas, e a dor de cabeça até passou. Estar na companhia dele era perfeito! Contei várias histórias, como a vez em que Logan me esqueceu em um mercado e eu fiquei com as funcionárias até ele voltar.

Michael e eu jogamos vários jogos, revelamos vários segredos, e eu me senti bem. Michael e Logan eram as pessoas que eu mais amava, além de meus pais. Eu sabia que podia contar com eles e não me arrependeria.

Escutamos vários discos naquela noite, meus favoritos e os dele também. Logan também foi dormir bem tarde.

— Vai à escola amanhã? — pergunta ele, deitado em um colchão ao lado da cama de Amélia.

— Não sei... — ela hesita. — Eu não queria, talvez Logan nem me deixe ir.

— Tem certeza? — pergunta ele com voz calma.

— De quê?

— De que quer continuar com essa história... É perigoso, você sabe. Estamos apenas no começo e já aconteceu um acidente.

— Eu sei que é perigoso, mas é pelos meus pais — Amélia reflete. — Eles foram tirados de mim, e se ninguém fez justiça, eu mesma farei.

— Eu entendo você.

Olha, se você não quiser continuar, não precisa — ela suspira. — Não precisa se colocar em perigo por minha causa. Você realmente não precisa.

— Eu disse que te ajudaria e vou te ajudar até o fim, Amélia — diz Michael, sentando-se e sorrindo. — Certo, Lia?

— Se algo acontecer com você, vou me culpar muito.

— Não vai. Nem com você e nem comigo — ele diz. — Eu cuidarei de você, não tenha dúvidas disso, My Bee.

— My Bee? É mais fácil eu cuidar de você.

— Sim, tem mel no seu nome. Vou te chamar de My Bee, minha abelha. Aliás, quem foi que carregou você por mais de cinco quarteirões e não parou um minuto?

Você falando assim dá até pena — Amélia faz uma expressão triste, mas logo os dois riem. — Estar com você e com Logan me faz esquecer todos os problemas que acontecem por aí. Ainda não consigo acreditar em tudo que a Julie passou, e nem a Marley... Mas, querendo ou não, uma das melhores decisões da minha vida foi vir para a Califórnia.

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