Cartas sem respostas
Amélia caminhava pelo corredor do hotel, seus passos silenciosos no tapete macio. Ela olhava distraída para a decoração das paredes, pensando em tudo que havia acontecido nos últimos dias. De repente, uma mão firme agarrou sua cintura e a puxou para perto.
— Amélia — sussurrou Mason, enquanto a virava para si. Seus dedos apertaram suavemente sua cintura, impedindo-a de se afastar. — Precisamos conversar.
Amélia tentou se desvencilhar, o incômodo crescendo no peito, mas Mason não a soltava. Antes que ela pudesse protestar, Klaus apareceu no final do corredor. Ele parou ao vê-los, o rosto ficando sério instantaneamente. De onde estava, Klaus não conseguia ouvir a conversa, mas a cena à sua frente era o suficiente para deixá-lo desconfortável.
Ele respirou fundo, deu meia-volta e foi direto para o quarto, seu semblante carregado.
Amélia sentiu o desconforto aumentar enquanto Mason a segurava pela cintura, forçando-a a encará-lo. Ela olhou ao redor, garantindo que ninguém mais estivesse por perto, mas seu coração acelerado indicava que algo estava errado.
— Amélia — sussurrou Mason, inclinando-se mais próximo dela. — Haruki e eu vamos agir esta noite. Vamos atrás do diretor.
Amélia piscou, surpresa pela súbita revelação.
— Como assim? Vocês querem... matar o diretor?
Mason assentiu, seus olhos escurecendo.
— Sim. É a única maneira de acabar com isso de uma vez por todas. Ele já passou dos limites, e você sabe disso. Não podemos esperar mais.
Ela engoliu seco, sua mente lutando para processar o plano audacioso.
— E o Logan? Ele... ele não sabe?
Mason balançou a cabeça com determinação.
— Não, e ele não pode saber. Logan não vai entender. Ele vai tentar nos parar. Por isso, preciso que você vá com a gente. Sua ajuda é essencial, mas tem que ser discreto.
Amélia franziu o cenho, sentindo a tensão no ar. Ela queria justiça tanto quanto eles, mas essa decisão parecia repentina, precipitada.
— Eu também quero isso, Mason... — começou ela, hesitante. — Mas... agora? Será que é o momento certo?
Mason a observou em silêncio por um momento, claramente impaciente com a sua hesitação.
— Se não fizermos isso agora, pode ser tarde demais. Pense no que ele já fez. Você sabe que ele não vai parar até destruir todos nós.
Amélia suspirou, confusa, lutando com seus próprios sentimentos.
— Eu... vou pensar. Só não tenho certeza se estamos prontos pra isso ainda. Eu te dou uma resposta depois, tá? Preciso de um tempo.
Mason a soltou, relutante, mas assentiu.
— Tudo bem, mas não demore. Não temos tanto tempo assim.
Ela deu um passo para trás, sentindo o alívio de se afastar da presença intensa de Mason. Sem olhar para trás, Amélia caminhou pelo corredor e se dirigiu ao quarto das garotas, seus pensamentos em turbilhão.
A madrugada era fria e silenciosa, enquanto Amélia se arrastava pelos corredores vazios do hotel. Cada passo parecia ecoar, amplificando o turbilhão de pensamentos em sua mente. Ela precisava de uma resposta, uma decisão — Mason havia despejado sobre ela um dilema devastador, e o peso dessa responsabilidade a impedia de dormir.
Ao virar uma esquina, avistou a varanda iluminada por uma luz amarelada. A silhueta de Klaus destacava-se contra a vastidão de Nova York. Ele estava lá, quieto, fitando a cidade que nunca dormia. As luzes piscavam ao longe, refletindo a incerteza que preenchia o ar.
Amélia respirou fundo, hesitante. Algo no jeito de Klaus lhe trazia inquietação — uma distância que ela não sabia como ultrapassar. Mesmo assim, ela deu um passo à frente.
— Klaus? — A voz dela quebrou o silêncio como uma lâmina afiada.
Ele se virou, o rosto inexpressivo à primeira vista, mas algo nos olhos dele brilhou de forma incomum. Não era raiva, mas uma mistura de frustração e uma dor profunda, quase escondida.
— Amélia... — A voz dele saiu firme, mas com uma frieza calculada. — O que faz aqui a essa hora?
Ela deu mais um passo, tentando diminuir o espaço que os separava, não apenas fisicamente, mas emocionalmente.
— Eu... eu não consegui dormir. Mason me disse algo... — Amélia hesitou, sem saber como continuar.
Klaus estreitou os olhos, o nome de Mason fazendo seus ombros se enrijecerem. Ele voltou a encarar a cidade, evitando o olhar dela.
— Eu vi vocês dois mais cedo, Amélia. — O tom dele carregava uma amargura velada. — A conversa parecia... intensa.
Amélia congelou. Havia algo em sua voz, algo que ela não esperava. "Ciúmes?" Ela balançou a cabeça, quase rindo da ideia, mas o peso do momento impediu qualquer risada.
— Não é o que você está pensando — apressou-se a dizer, as palavras saindo emboladas. — Mason me pediu ajuda para algo... perigoso. Ele quer... se vingar do diretor por ter mandado o irmão dele para a prisão.
Klaus permaneceu em silêncio, mas ela percebeu o leve apertar de seus punhos. Ele finalmente se virou, seu olhar frio como gelo, e ainda assim, Amélia sentia uma chama escondida ali, prestes a se libertar.
— E o que você vai fazer? — As palavras dele eram simples, mas carregadas de implicações.
Amélia deu um passo mais perto, os olhos suplicantes, como se buscando nele uma resposta para o que nem ela mesma sabia resolver.
— Eu não sei, Klaus. — A voz dela tremeu. — Eu... não quero fazer nada que prejudique o grupo, mas também... Mason parece tão desesperado, tão perdido. Não consigo simplesmente ignorar.
O silêncio entre eles era quase palpável. Klaus, em um movimento súbito, atravessou o espaço entre os dois, pressionando-a suavemente contra a parede fria da varanda. O toque foi inesperado, e Amélia sentiu seu coração acelerar. Ele estava tão perto que ela conseguia ouvir a respiração dele, sentir o calor que emanava de seu corpo.
— Amélia... — Ele começou, a voz grave e intensa, os olhos cravados nos dela. — Não faça nada por pena. Não se deixe manipular pelos sentimentos dos outros. Você precisa ser forte. — Sua mão subiu e tocou de leve o rosto dela, o gesto íntimo a fez prender a respiração. — Não posso te proteger de tudo... mas posso te ajudar a encontrar a melhor saída. Só... confie em mim.
A intensidade no olhar de Klaus era inegável. Ele sempre foi reservado, misterioso, mas naquele momento, ele deixava transparecer algo mais. Havia um apelo ali, uma conexão que ela não sabia nomear.
— Eu confio em você, Klaus — ela sussurrou, sem conseguir desviar o olhar. — Mais do que em qualquer outro.
Klaus esboçou um sorriso quase imperceptível, um que não chegou aos olhos, mas revelava que aquelas palavras tinham mais significado do que ela poderia imaginar.
— Vamos resolver isso juntos — ele disse, a voz agora mais suave, mais próxima. — E quanto a Mason... se ele tentar te arrastar para algo que possa te machucar, eu não vou hesitar. Eu... não vou permitir.
As palavras carregavam uma promessa. Havia algo mais profundo do que uma simples preocupação. Klaus não era o tipo de pessoa que se envolvia facilmente, mas agora, naquele instante, parecia que ele havia cruzado um limite invisível.
Amélia sentiu uma confusão de emoções crescer dentro dela — o calor do toque de Klaus, o peso da decisão que tinha pela frente e a súbita percepção de que talvez, só talvez, Klaus estivesse começando a ver mais nela do que uma simples companheira de missão.
O silêncio se estendeu entre eles, mas não era desconfortável. Era cheio de significados não ditos, de sentimentos que ainda não tinham encontrado as palavras certas para se expressar.
Ela finalmente recuou, ainda sentindo o toque dele na pele, mesmo que ele tivesse se afastado.
— Eu só... — Amélia começou, olhando para a cidade à frente deles. — Não quero que ninguém se machuque.
Klaus respirou fundo, voltando o olhar para as luzes que piscavam à distância.
— Nem eu, Amélia. Nem eu.
A noite se prolongou, e eles ficaram ali, lado a lado, em um silêncio confortável, cada um imerso em seus próprios pensamentos, mas ambos cientes de que, de alguma forma, estavam ligados por algo maior. Algo que ainda não tinham coragem de enfrentar completamente.
Mas, naquela varanda iluminada pela lua e cercada pelas luzes de Nova York, eles souberam que, acontecesse o que acontecesse, enfrentariam tudo juntos.
O vento frio da madrugada soprava levemente, mas nenhum dos dois parecia notar. As palavras não eram mais necessárias. A conexão estava feita.
E o que viesse a seguir, fosse o que fosse, eles estariam prontos.
Amélia continuou a conversa, buscando alívio para a dor que sentia.
— Michael era tudo para mim — começou ela, a voz carregada de tristeza. — Eu sinto tanto a falta dele. Ele era meu amigo, meu confidente, e agora... agora tudo está tão vazio. Não consigo parar de pensar nele, e sempre me pergunto se alguma vez vou conseguir seguir em frente.
Klaus ouviu atentamente, o rosto mostrando um misto de empatia e desconforto crescente. Amélia falou por um bom tempo sobre como Michael havia impactado sua vida, suas memórias e o luto que ainda carregava.
Depois de um tempo, Klaus percebeu que Amélia havia parado de falar e o silêncio se instalou. Ele então perguntou, com um tom de voz mais grave:
— Você ainda sente algo por Michael?
Amélia hesitou, a pergunta pegando-a de surpresa. Ela gaguejou um pouco antes de responder:
— Eu... eu não sei. É difícil de explicar.
Klaus, claramente incomodado, continuou:
— É capaz de esquecer esses sentimentos?
Amélia ficou em silêncio, sua mente girando com a resposta que não queria admitir. A hesitação e a dificuldade em encontrar palavras revelaram o que ela temia.
Klaus, frustrado, desabafou:
— Eu não sou o Michael. É difícil para mim, porque sempre que estou com você, sinto que você está pensando nele. E isso é frustrante.
Ele fez uma pausa, olhando para Amélia com uma expressão que misturava dor e compreensão.
— Acho que é melhor resolvermos isso depois que tudo terminar. Eu entendo que sua vida é complicada agora, e eu não quero forçar nada. Mas você precisa saber que seu coração não pertence a mim, pequena.
Klaus se aproximou mais de Amélia, a proximidade fazendo com que suas respirações se misturassem. Ele estava prestes a dizer mais, mas o tom do momento e a intimidade pareciam prestes a se intensificar.
Então, com uma voz baixa e tocante, ele continuou:
— Eu só quero que você seja feliz, Amélia. Se precisar de tempo para resolver suas emoções, eu estarei aqui para você, mesmo que não seja da forma que eu gostaria.
Klaus fez uma pausa, e seu olhar era um misto de tristeza e carinho. Ele estava prestes a se aproximar ainda mais, mas parou e deu um último olhar para Amélia.
— Boa noite — disse ele, com um tom que quase parecia despedida.
Sem esperar uma resposta, Klaus se afastou e voltou para o quarto dos meninos, deixando Amélia sozinha na varanda. Ela permaneceu ali, com seus sentimentos frustrados e confusos, com o peso das palavras de Klaus pairando no ar. A noite avançava, e ela lutava com suas emoções, enquanto Klaus se retirava para lidar com suas próprias frustrações e sentimentos.
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