Capítulo Bônus - O Início do Raio de Sol
Primeiramente quero agradecer por você ter chego até aqui \^___^/!
Sobre este Capítulo Bônus, a história se passa alguns anos antes dos irmãos John e Allec nascerem. Sem mais delongas, vamos ao capítulo!
Desejo uma boa leitura! ;)
Eram por volta de cinco horas da tarde de um dia de primavera. Charles corria com uma lebre em sua boca, em direção a seu grupo há alguns quilômetros de distância. Era aventureiro e gostava de caçar sozinho algumas vezes. No caminho farejou algo diferente na região e seguiu o odor que o levou até um barranco, cercado por densas árvores e arbustos. Assustou-se ao encontrar uma fêmea de pelagem dourada, pendurada de cabeça para baixo inconsciente e desidratada.
Charles largou a lebre e se aproximou da fêmea, analisando a armadilha que prendia a pata esquerda dela. Ela aparentava ter lutado bastante para se soltar e deviam fazer várias horas de que estava ali pendurada. Chegou bem próximo e ficou sobre duas patas, alcançando por muito pouco a corda que a prendia e começou cerrá-la com suas garras.
A loba despertou ao senti-lo bem próximo e quando se virou deu de cara com o abdômen dele. No susto rosnou e o empurrou para longe, o fazendo cair de costas no chão.
— Hey, qual o seu problema mulher? Estou tentando ajudá-la se não percebeu...
— Para mim parece que tentava algo mais, seu pervertido!
— Pervertido? Você não me conhece madame, se eu quisesse tentar algo já teria feito! — tentou se aproximar dela novamente, mas ela rosnou em alerta. — Se vai continuar agindo assim, tudo bem, não é da minha conta mesmo se você fica ou não pendurada aí até os caçadores aparecerem... — disse indo até a lebre e se preparando para ir embora.
— De qualquer modo, desejo boa sorte! — afirmou e deu as costas para ela.
— Espere! — o chamou com um olhar de clemência e desculpas.
— Não me deixe aqui... Por favor, me ajude...
— Olha só, então a senhorita tem bons modos. — ele largou novamente a lebre no chão e se aproximou.
— Me desculpe por antes, você me assustou. — ela disse desviando o olhar.
— Tá tudo bem, só aviso que precisarei tocá-la e segurá-la para não balançar a corda... Com o seu consentimento é claro.
— Ok.
Ele a virou de maneira que ficou de costas contra o corpo dele. Mesmo sem encará-la, pôde senti-la incomodada e envergonhada. Chegou bem próximo e continuou a rasgar a corda. Quando ela foi cair, ele a segurou pela cintura e a colocou no chão calmamente.
— Obrigada.
— Não é nada... — foi até a lebre e a jogou pra ela. — É melhor comer isso...
Ela farejou a lebre. — Tem certeza?
— Sim, não se preocupe, eu arranjo outra depois.
— Obrigada! — agradeceu e devorou o animal, porque fazia aproximadamente um dia, que não se alimentava.
— Você não é daqui, é?
Charles perguntou intrigado, pois nunca a havia visto na região. Ela apenas acenou negativamente, enquanto mastigava a carne e continuou:
— A propósito, pode me chamar de Charles... Charles Mool...
— Barbara Aniery. — ela respondeu e o encarou surpresa.
— Por que essa cara de surpresa?
— Já ouvi falar sobre o seu clã, é um dos clãs milenares, não é?
— É, tamo aí na luta... Lamento não dizer o mesmo, mas sua família é de onde? Pois é um clã novo para mim.
— Meu clã é da Itália, migramos pra cá há algumas décadas, mas somente eu e meu pai estamos na região.
— Entendi, e por que ele não veio caçar contigo?
— Ele anda meio doente... E onde estamos morando a caça está muito escassa, pois algo afastou os animais de lá. Como tive que procurar em uma distância maior, achei melhor ele ficar descansando e vir sozinha.
— De que local exatamente estamos falando?
— A aproximadamente 15 quilômetros daqui em direção ao sul...
— Você aparenta ter andando bem mais do que isso. — ele disse desconfiado.
— É que... Eu acabei me perdendo... — ela disse desviando o olhar e abaixando as orelhas.
— Como assim se perdendo? Utilize seu olfato oras! — se levantou e andou em volta dela.
— Eu... Eu ainda estou aprendendo... — ela colocou a cauda entre as pernas.
— Desculpe a pergunta, mas quantos anos tem Barbara?
— 18.
— E ainda não aprendeu a farejar uma trilha? — ele sentou-se de frente pra ela, que apenas acenou negativamente sem encará-lo.
— Quando foi sua primeira transformação?
— Há três semanas mais ou menos...
— Que curioso... É a primeira lycan que conheço, que se transformou em idade avançada...
— Falando assim até parece que sou uma idosa... — resmungou cabisbaixa sem encará-lo.
— Não foi o que eu quis dizer raio de sol, você está muito bem e é atraente aos meus olhos... — percebeu o que tinha acabado de dizer e ambos coraram e disfarçou mudando de assunto.
— Bom, vamos então!
— Como assim?
— Vamos, eu te levo pra casa!
— Sério? — ela perguntou abanando a cauda, enquanto o seguia.
— Quem seria eu se deixasse uma criança à deriva na floresta?
— Falou aí o ancião! — ela resmungou e riu.
— Ancião não, tenho apenas 23 anos minha jovem...
— Só é alguns anos mais velho e por que tá me tratando feito criança agora?
— Chega de perguntas e acelere o passo raio de sol, que em breve irá anoitecer. — ele comentou rindo.
Alguns quilômetros depois eles encontraram uma lareira e Charles disse:
— Vamos descansar aqui por esta noite, porque caminhar durante o dia é mais seguro nestas montanhas.
— Ok. — ambos se aconchegaram a uma distância de um metro um do outro.
Charles demorou a pegar no sono, pois vigiava ao redor e farejava o ambiente. Hora ou outra seus olhos se prendiam na loba dourada e ficava hipnotizado, perdido em seus pensamentos. Quando finalmente veio o sono, Charles despertou novamente ao escutá-la tremer, devido a baixa temperatura, que caía drasticamente durante a noite. Se levantou e deitou-se ao lado dela. O calor de seu corpo começou a esquentá-la e logo ela parara de tremer e Charles adormeceu junto a ela.
Na manhã seguinte, Barbara acordou com a luz do sol em seu rosto. Olhou ao redor e observou a folhagem ao seu lado, que indicava que ele havia dormido ali. Ficou corada, visto que nunca tivera contato tão próximo com outros machos, além de seu pai.
— Charles? — se levantou e começou farejar o ar em busca do cheiro dele.
Seguiu por um caminho em direção a uma pequena nascente e do topo do barranco o avistou. Escondeu-se atrás de uma árvore ao notar que ele estava nu e em sua forma humana. Charles mergulhava a cabeça e lavava o rosto juntamente do cabelo longo, metade de seu corpo estava coberto pela água, mas conseguira avistar os músculos bem definidos daquele macho atrevido, que a surpreendeu dizendo:
— Gosta do que vê raio de sol? — perguntou ainda de costas para ela e continuou se banhando na nascente. — Pode olhar, eu não me importo...
Ela não respondeu e pressionou seu corpo contra a árvore e seu coração disparara.
— Não precisa se esconder raio de sol, eu sei que está aí! — se virou na direção dela e continuou: — Venha se banhar, eu já estou de saída.
— Nem pensar! Eu sei que você vai me espiar! — ela gritou ainda atrás da árvore.
— O que foi que eu te disse? Se eu quisesse tentar algo já teria feito... Nós lycans jamais voltamos atrás com nossa palavra e se eu digo que não vou, não irei te espiar. Fico de costas pra você saber onde eu estou o tempo inteiro se quiser... — começou a se transformar e quando ficou na forma de lobo saiu da água. — Venha logo e pare de frescura, você tá precisando de um banho!
Ela saiu de trás da árvore após o tom de voz autoritário e avistou o lobo, já fora da água sentado entre as roxas na margem.
— Você promete?
Ele bufou e riu. — Você ouviu o que acabei de dizer, não ouviu?
Barbara acenou positivamente e se aproximou da nascente sem tirar os olhos dele.
— Olha, ficarei sentado aqui, para você saber onde estarei o tempo todo! — sentou-se de costas para o riacho e continuou após ouvi-la entrar na água. — Recomendo você se banhar em forma humana, é bem mais rápido e prático...
— Tá bem, obrigada. — ela seguiu seu conselho e alguns minutos depois o assustou ao se secar de maneira lupina e bem próxima, voando toda a água nele.
— Se sente melhor? — ele perguntou rindo, se levantou e chacoalhou os pelos novamente para tirar a água.
— Uhum, obrigada!
— Eu te disse que precisava de um banho! — Charles riu e continuou seguindo seu caminho.
— Você diz isso a todas as fêmeas do seu clã? — retrucou.
— É claro que não, somente aquelas que realmente precisam e também as crianças teimosas que não gostam de banho. — respondeu rindo.
— Hey! Pro seu governo eu gosto de tomar banho sim!
— Deu pra ver, até parecia que era um riacho banhado a prata por ter hesitado tanto...
— Não fala besteiras eu até...
— Shhh... — ele a interrompeu e começou a andar abaixado entre os arbustos.
— O que foi? — ela sussurrou, mas não obteve resposta. Barbara o imitou e se assustou quando ele saiu em disparada em uma direção e alguns metros depois conseguira abocanhar uma lebre. Permaneceram em silêncio e ele começou a devorar o animal. Ela manteve certa distância e quando menos esperava, um pedaço da lebre fora jogado entre suas patas.
Ele piscou para ela, enquanto ainda lambia os beiços e disse:
— Vai fundo raio de sol...
— Obrigada... Você é um ótimo caçador!
— Obrigado, mas isto é apenas prática... Se quiser posso te ensinar qualquer hora... — se levantou e continuou a caminhada.
— Eu adoraria! — afirmou corando, pois ficava cada vez mais fascinada por aquele lobo.
3 horas após se alimentarem, eles corriam através de um campo florido e Barbara sorria enquanto dizia:
— Como assim eu não farejei este lugar maravilhoso? É tão perto de onde eu moro.
— Você tem muito a aprender raio de sol.
Os dois pararam e Barbara o desafiou.
— Eu aposto que ganho de você em uma corrida até o outro lado, Sr. Ancião!
— Ora, ora, não faça apostas que não possa ganhar!
— Ora digo eu, está com medo de aceitar é?
— Não tenho medo, só gostaria de saber o que vou ganhar, pois você irá perder com certeza...
— É mesmo? Veremos!
Ela o surpreendeu e disparou em meio ao campo florido.
"Garota esperta! Distraiu-me pra sair na frente... Não por muito tempo!" — pensou e correu atrás dela.
Barbara era rápida, mas devido às pernas mais longas do macho, ele conseguira alcançá-la e quando eles estavam chegando ao final do campo, ele a pegou pela pata traseira e ambos rolaram entre as flores.
— Hey! — ela resmungou e ficara debaixo dele.
— É, pelo visto deu empate... O que eu ganho agora princesa?
— Nada, porque você trapaceou!
Ela o distraiu com seus hipnotizantes olhos da cor do céu e o empurrou para o lado, ficando sobre ele.
— Por essa eu não esperava... — Charles sorriu surpreso.
A loba ficara vermelha feito uma pimenta e congelou quando ele levou uma de suas patas em seu rosto.
— Onde você esteve por todos esses anos?
— O que quer dizer Charles? — ela se sentou e levou sua pata esquerda sobre a dele.
— Mal nos conhecemos, mas estive procurando uma fêmea à sua altura raio de sol...
Ela quase desmaiou de nervoso e se arrepiou quando ele disse:
— Acho que estou apaixonado por você...
— Você não pode! — ela afirmou nervosa e se afastou, sentando-se a alguns metros de distância e de costas pra ele.
Ele se aproximou e cochichou em seu ouvido:
— Tem razão, eu não posso evitar o que estou sentindo por você exatamente agora.
— Não é isto que quero dizer...
— Eu sei o que quer dizer Barbara.
— Não sabe não!
— Você fala demais, sabia? — ele a puxara suavemente para trás, de maneira que a deitou sobre as flores e ela não reagiu.
— É mesmo? Pensei que fosse ao contrário! — ela riu e o empurrava com as patas traseiras, mas sem fazer força o suficiente.
— Engraçadinha... — Charles agachou lentamente sua cabeça em direção ao focinho da fêmea, que imediatamente tapou a própria boca com as duas patas. Ele a encarou, confuso, e ouvi-a dizer:
— É melhor pararmos, estamos indo rápido demais, você não acha?
Charles desviou o olhar e se afastou dela, caminhando em posição oposta, totalmente perdido em seus pensamentos.
— Charles? — ela se levantou indo atrás dele. — Está tudo bem?
— Olha raio de sol, me desculpe se a forcei fazer algo que não queria, ok? Eu devo ter compreendido errado seus sinais, pois pensei que estivesse a fim também...
— Espera, por favor... — ela correu e entrou na frente dele, que parou imediatamente. — Você está absolutamente certo sobre o que eu quero, é só que... Estou apenas pedindo para que possamos nos conhecer melhor, antes de realmente firmarmos isto...
Charles a encarou sério e logo seu sorriso surgiu.
— Sabia que você fica uma graça pedindo as coisas? — comentou e voltou a caminhar.
— Ora seu ancião, eu aqui tentando me desculpar e você aí fazendo piadas! — ela o seguiu.
— Não é piada, você realmente fica uma gracinha! — ele afirmou rindo.
Os dois se entreolharam e sorriram.
— Você, com essa pinta de galã... Quem me garante que não é nenhum lobo psicopata?
— Sua imaginação é incrível princesa... Mas te garanto, está em boas mãos.
— Bom, então me conte mais sobre você, Charles Mool!
— Bem, por onde eu começo...
Eles caminharam aproximadamente 2 horas, até chegarem na fazenda onde Barbara morava e descobriram diversas coisas um sobre o outro, mas os risos cessaram-se ao avistarem a casa, onde o pai dela deveria estar.
— Ai meu Deus... — Barbara observou assustada sua casa, que havia sido queimada e apenas escombros restavam no local.
— Papaiiiii!!! — ela correu até o local gritando e Charles a seguiu em silêncio e olhava ao redor, em busca de alguma emboscada, mas o cheiro dos humanos que passaram por ali, já era fraco. — Cadê você papai? — ela começou a chorar e revirar os escombros carbonizados. Farejou o sangue de seu pai no local onde era a sala de estar e começou a revirá-la dizendo: — Onde está? Onde...
Charles prendeu-a por trás e a abraçou firmemente, pois sabia que os caçadores da região levavam os corpos junto deles.
— Onde... — ela começara a chorar e tentava se soltar dos braços dele, para que continuasse sua busca, mas fora perdendo a força, até que parara de se mover.
— Sinto muito, mas não irá encontrá-lo por aqui...
— Como sabe disso?
— As famílias destes caçadores são cruéis... E...
— Preciso encontrá-lo... — ela o interrompeu. — Por favor, me leve até eles Charles, ele ainda pode estar vivo!
Ele acenou negativamente, pois não queria dar falsas esperanças.
— Sinto muito Barbara, mas a chance disso ser verdade é praticamente zero...
— Você não sabe! — ela começou a lutar para sair dos braços dele, que resistia para segurá-la. — Me solta!
Ele a soltou e disse:
— Pare com isso, você só irá se tortura deste modo.
— Você só pode estar mentindo! — ela rosnou. — Como pode saber de uma coisa dessas?
— Eu... Eu... — lembranças ruins vieram à tona e Charles apenas desviou o olhar.
— Tudo bem se estiver com medo, eu agradeço a ajuda por me trazer até aqui...
— Não é isto Barbara, eles são muito perigosos, eu só te peço para que não vá atrás deles.
— Você não entende, eu preciso vê-lo... — começou a chorar ao lembrar-se de seu pai.
— Eu sei como se sente, mas não vai gostar do que encontrará...
— Muito obrigada pelo seu otimismo! — ela rosnou nervosa.
— Será que não vê que estou tentando ajudá-la, desde que nos conhecemos? Acredite em mim, não vá até eles, são muito perigosos!
— Eu já entendi, mas é melhor você ir embora agora, não quero envolvê-lo nisso.
— Deixe de ser teimosa mulher! — Charles rosnou e ela retribuiu o gesto.
— Não se intrometa!
— Se quer assim então beleza, estou indo nessa! — o lobo dera as costas para Barbara.
— Ok então, adeus! — ela rosnara e saiu correndo.
Durante o caminhar de volta a montanha, Charles ficou pensativo.
"Você acaba de encontrar a mulher que tanto ansiava e vai simplesmente deixá-la ir? Acorda seu imbecil!" — disse a si mesmo e se virou, mas Barbara já havia sumido.
Começara a chover, mas as marcas dos pneus ainda estavam recentes. Barbara andou por um longo tempo na estrada de terra, que era pouco movimentada. Alguns quilômetros à frente, a trilha automobilística mudara radicalmente em direção as árvores mais densas do bosque.
Barbara sentia que se aproximava deles e seu coração acelerou. Hesitante, continuou seguindo o barro, que já formavam pequenas poças de água, por causa da chuva, que ficara mais densa. A loba pareceu não se incomodar e já estava encharcada. Há aproximadamente cem metros, avistou luzes em meio a neblina que se formava. Observou todos os ângulos e quando foi correr, sentiu alguém tapar sua boca e a puxar para trás.
— Shhhhh... Sou eu Barbara! — sussurrou Charles. Ele pôde senti-la acalmando-se ao reconhecê-lo e continuou sussurrando: — Vou te soltar agora...
— O que está fazendo aqui? — questionou rosnando.
— Vim te ajudar, oras... Afinal eu os conheço melhor do que você.
— Não precisava ter vindo, eu sei me virar sozinha! — ela afirmou lhe dando um pequeno empurrão com sua pata direita.
Ele deu de ombros e segurou a pata que lhe empurrava. Com a pata livre, Charles apontou para um sino pendurado a uns 30 centímetros do chão, em uma linha amarrada entre duas árvores e retrucou:
— Deu pra ver, se não fosse eu, já teria chamado a atenção de todos do acampamento.
Barbara assustada se dava conta de que havia diversos alarmes ao seu redor. Ela rosnou para as armadilhas e voltou a encarar o lobo encabulada e agradeceu.
— Obrig...
Ele a interrompera, tapando a boca dela e dizendo:
— Não me agradeça ainda, somente depois que estivermos em um lugar seguro... — ela assentiu com a cabeça e ele continuou:
— Vamos chegar mais perto para tentar avistá-lo e depois eu os afastarei, para que se aproxime de seu pai... Me siga! — ordenou e foi andando lentamente, observando cada canto entre as árvores.
— Ficou maluco Charles? Isso é suicídio!
Ele a encarou brevemente e sorriu dizendo:
— Não esquenta raio de sol, eles não vão me pegar! Só me siga, tá bem? — e pensou, voltando a caminhar: "O que não fazemos pelo amor, hm?"
Andando em linha reta, eles se depararam com cinco armadilhas. Há 9 metros do acampamento, eles avistaram um mural encostado em um caminhão. Mesmo com a chuva, Barbara jurou ter avistado orelhas e pelos lupinos atrás daquela parede úmida e sinalizou com os olhos para Charles, que apenas acenou positivamente e foi para o outro lado. Ali ela permaneceu agachada entre a folhagem dos arbustos e em silêncio. Por volta de três minutos depois, escutou uma sequência de sinos do outro lado do acampamento. O barulho chamara a atenção dos cães, que foram soltos pelos caçadores e saíram em disparada ao ruído.
Barbara, lentamente caminhou até seu alvo e observava todos os lados. Notando que a presença de caçadores era praticamente zero, correu até o mural que transbordava um cheiro familiar. A pequena esperança que nela havia, a chuva levara embora, no momento em que fitara o corpo de seu pai mutilado. Estava pendurado com pregos e cordas, como uma espécie de troféu ou isca.
— Papai? — Suas palavras mal saíram e hesitante o tocou na face. — Ai meu Deus, o que fizeram com você? — Tocou a pele gelada, já fazia algumas horas que a vida tinha sido extinta daquele corpo e ela começou a chorar. Voltou a si, quando escutou os latidos dos cães se aproximando e pensou, o tocando pela última vez: "Sinto muito... Adeus papai..."
Quando virou para seguir o mesmo caminho, dera de frente com um caçador e ambos se assustaram. O caçador direcionou a arma para ela, mas fora derrubado pela loba no momento do disparo, que pulou por cima dele e sumira na mata. Barbara correu com todas as forças e pegou uma distância considerável do caçador, mas começara a sentir sua visão turva. Suas patas dianteiras se enfraqueceram repentinamente, devido a uma ardência e dor no seu peito, a fazendo tropeçar. Havia sido baleada. Tentou se levantar mais duas vezes, mas voltou ao chão, se sentindo mais fraca e já perdia a consciência.
"Preciso sair daqui...", pensou e avistara dois olhos amarelos na escuridão, vindo a seu encontro. "Será meu fim?", e apagou.
— Barbara! — Charles farejou que ela estava ferida. Tinha despistados os cães, mas mesmo com a chuva, eles sentiam seu cheiro e o som deles ficava cada vez mais alto. — Acorda Barbara! — ele mexera em seu ombro, mas ela não respondeu. — Droga! — resmungou e olhou para trás, esperando visualizar um de seus inimigos, mas nem sinal deles. Enfiou sua cabeça abaixo da pata esquerda da fêmea e com um movimento a colocou em suas costas. Foi em direção a um barranco próximo dali, que dava em um riacho. Carregou-a com dificuldade, por causa da água no terreno, que ficara escorregadio, chegando a cair junto dela uma vez, mas precisou se apressar. Já bem próximo a beirada do barranco, pensou:
"Não há outro meio...", analisou a altura, que era em torno de 10 metros. Olhou para trás ao escutar os latidos, que ficavam cada vez mais altos. "É agora ou nunca.", levantou a loba e a segurou firme por trás. "Aguente firme raio de sol...", pensou se jogando abraçado da loba e caíram na água.
Alguns quilômetros riacho abaixo, Charles conseguiu arrastá-la para a margem. Encontrava-se em uma região de seu território. Checou o pulso da fêmea, cada vez mais fraco. Já parara de chover e ele soltara um uivo alto. Em seguida a colocou em suas costas e começou a carregá-la. Segundos depois, ouviu dois uivos em resposta e continuou caminhando. Charles havia batido a cabeça entre as rochas e se sentia zonzo, mas fez seu máximo para prosseguir. Ao avistar alguns lobos de pelagem escura, se sentiu aliviado ao se aproximarem e falou fracamente:
— Adonias, Bianca, Marley, me ajudem a levá-la para aldeia, por favor... E rápido! Ela foi ferida com uma bala de prata... — E os lobos sem pensarem duas vezes, já foram ajudando os dois e Charles também acabou desmaiando no caminho.
Barbara acordara de repente, mas não se moveu. Sentiu uma leve pontada no peito e levou sua mão até o local, que já havia cicatrizado. Notara que estava em forma humana e olhou ao redor. Era uma cabana bem reforçada e feita de madeira. Sentou-se na cama, com uma camisola branca e perguntou baixinho:
— Onde eu estou? — continuou observando o local e ao olhar para a porta que se abrira, notou uma criança sorrir surpresa ao encará-la e correu novamente para fora. Olhares curiosos e tímidos espiavam pela porta entre aberta, até que Charles chegou e estava em forma humana.
— Barbara! Que bom que acordou!
— Charles! — ela exclamou sorrindo e corou ao olhar novamente, para as pessoas da porta fixadas nela e o sorriso cessou-se, se enfiando um pouco abaixo da coberta.
Charles sentiu o desconforto dela e disse:
— Vamos pessoal, deem um pouco de espaço pra ela, assim que ela se sentir a vontade, todos a conhecerão melhor! Irei fechar agora, com licença...
Comentou enquanto encostava a porta e ambos puderam ouvir os cochichos, dizendo sobre o quanto ela era bonita.
O macho se aproximou timidamente de Barbara encabulado, devido aos comentários e disse com um sorriso:
— Me desculpe por isso...
— Tá tudo bem.
— Posso? — questionou gesticulando em direção a cama.
— Claro!
Ele sentara aos pés de Barbara, ainda cobertos e perguntou:
— Obrigado. Como está se sentindo raio de sol?
— Bem, eu acho... Onde estamos e o que aconteceu?
— Aqui é seguro, não se preocupe! Estamos na aldeia da minha alcateia... E você foi baleada e ficou inconsciente por dois dias.
— Entendo... — ela levou sua mão até o local da cicatriz. Lembranças de seu pai começaram a invadir sua mente e começou a chorar.
— Raio de sol, o que foi? — se levantou e chegou mais perto para consolá-la. — Vamos, me diga! — pegou nas mãos dela após limparem as lágrimas.
— Me desculpe...
— Pelo quê?
— Eu devia ter te ouvido... O que fizeram com ele... Foi horrível!
Ele a abraçou e disse:
— Sinto muito Barbara pela sua perda. — ela retribuiu o abraço e ficaram em silêncio por alguns segundos. Ele se soltara do abraço e continuou: — Não sei se serve de consolo, mas uma coisa eu sei sobre eles... Seu pai não sofreu.
— Como pode saber de uma coisa dessas?
— Eu hesitei em ir com você porque... Porque quando mais novo eu... — ele suspirou e continuou: — Eu os vi acabarem com meus pais e irmãs...
— Meu Deus, eu sinto muito Charles!
— Tá tudo bem, já faz um bom tempo... Eu era apenas um garoto na época... Mas impotentemente eu assisti a execução deles, minha mãe havia me escondido no piso de madeira, que era pequeno demais para esconder a todos... Eles executaram cada um deles com uma bala na cabeça, mas as atrocidades que fizeram nos corpos deles foram apenas depois das almas já terem partido. Acredito que seja o método deles. — se levantou e a encarara, notando certa expressão de que ela iria cair em lágrimas a qualquer momento.
— Sinto muito raio de sol, não devia ter tocado no assunto... É só que...
— Tudo bem Charles, eu entendo o que está tentando fazer... Muito obrigada... Se não fosse por você, eu não estaria aqui hoje... Eu só não faço ideia do que farei agora... — começara a chorar. — Não tenho mais ninguém, estou sozinha de agora em diante.
Barbara levara as mãos no cabelo e Charles pegara uma delas.
— Deixa de falar besteiras raio de sol, você não está sozinha... Tem a mim e a todos deste bando, se quiser morar conosco é claro, mas em especial comigo... — ele pegara algo do bolso.
Ela o encarou surpresa ao ver o anel, que ele erguera com a mão livre. Era simples e de madeira, mas com alguns detalhes esculpidos a mão.
— O que é este anel Charles?
— Estou te pedindo em casamento sua boba...
Ela corara e pegara o anel por alguns segundos e logo o colocou nas mãos dele novamente.
— Não posso aceitar...
— Por que diz isso? — a encarou triste.
— Você merece coisa melhor, eu não sou digna de fazer parte de sua família...
— Você só pode estar brincando, certo? — ele a puxou pelas duas mãos e a encarou dizendo: — O que está escondendo raio de sol? Se acha que vou deixar a mulher da minha vida, sair facilmente de minhas mãos? Só se for por uma boa razão! Então comece a falar... Por favor...
Ela deixara escapar algumas lágrimas e começou a falar baixinho, pois os dois estavam bem próximos.
— Lembra quando eu disse, que migramos para cá há algumas décadas?
— O que tem isso?
— Minha família é fugitiva, Charles, há diversos históricos de lobos, que atacaram humanos, desde há algumas centenas de anos... Os primeiros a experimentarem o sangue deles, devem ter passado algo para as demais gerações agirem semelhantes. Somos uma família nômade e grande parte de nós são caçados e eliminados tanto por lobos, quanto por humanos, graças aos nossos ancestrais... O que quero dizer é, que meu sangue não é puro como o de vocês...
Ele a surpreendeu dando lhe um beijo e disse:
— Acha mesmo que eu me importo com isso? O que me interessa é você raio de sol, independente de onde tenha vindo...
— Por que é tão bom comigo? — ela começou a chorar.
— Eu já disse que estou apaixonado por você! — ele lhe direcionara o anel novamente e ela o colocou no dedo.
Barbara o puxou para um beijo e disse:
— É sim!
Os dois aprofundaram-se no beijo e acariciavam o corpo um do outro. Barbara sentou-se no colo dele. Os corpos de ambos ansiavam algum tempo por aquele momento e com a ajuda dela, Charles abrira sua calça e ali mesmo concretizaram sua união.
Alguns minutos depois, com ambos ofegantes ele disse:
— Você é minha agora e eu sou todo seu! Eu te amo Barbara...
— Também te amo!
Os dois se beijaram e sorriram.
Alguns anos depois.
Era de manhã e o dia estava fresco.
Barbara caminhara para fora de casa, com seu filho de dois anos e meio em seu colo. Andara por alguns minutos dentro da floresta, que rodeava sua casa até chegarem a um campo aberto. Ali ela se sentou em uma rocha e aguardou. John brincava com as flores próximas a eles, até que escutou um uivo longo e olhou para sua mãe afirmando contente:
— Papai!
— Sim querido, vamos até ele? — disse se levantando e lhe estendera a mão.
— Sim! — respondeu e correu até sua mãe.
— Que tal avisarmos que estamos aqui? — ela perguntou a John que afirmou com a cabeça e começou a uivar desajeitado e fora acompanhado de sua mãe, com outro longo e alto uivo.
Outro uivo veio em resposta e Barbara afirmou:
— Muito bem meu amor, ele nos ouviu! — mãe e filho foram caminhando ainda mais pra clareira e alguns minutos depois da resposta do último uivo, Charles surgira em sua forma de lobo e corria até sua família.
— Papai! — John começou a correr em direção a ele. Quando se aproximou o suficiente, pulou em cima daquele lobo enorme, que se jogou no chão ao mesmo momento, fingindo ter sido derrubado pelo filho.
— E aí campeão! Não devia estar dormindo? — Charles perguntou encarando seu filhote, que brincava na pelagem de seu tórax.
John apenas acenou negativamente com a cabeça e sorriu.
— Estávamos sem sono e ansiosos pelo seu retorno... — Barbara disse chegando perto dos dois e agachou para ficar na mesma altura de todos.
— Oi amor! — disse levando seu focinho ao colo dela, que o acariciou e a surpreendeu com uma lambida. Ainda de barriga pra cima, Charles comentou agora, encarando seu filhote:
— Parabéns pelo uivo garotão, está melhorando a cada dia, todos da matilha conseguiram ouvi-lo. John apenas sorriu em resposta e antes que sua mulher pudesse perguntar, Charles continuou: — Pegamos um dos grandes hoje, querem vê-lo?
— Sim! — afirmou John pulando, quando seu pai o colocara novamente ao chão e Barbara assentiu sorrindo.
— Todos a bordo! — disse Charles se ajeitando de maneira, que sua esposa e filho pudessem subir em sua costa.
— Pronto amor! — Barbara afirmou segurando firmemente na pelagem dele e em John.
— Vamos lá então! — e correram ao encontro da matilha desaparecendo entre as árvores.
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FIM
Mais uma vez agradeço por você ter disposto seu tempo na leitura de BloodLycan, Muito obrigada! ^w^
Se puderem Compartilhar, comentar e votar, me ajuda muito! =D
Espero que tenham gostado! <3 *abraça*
Confiram os capítulos Bônus em versão comic, através do site:
www.bloodlycan.com/comics
Bônus: Abaixo seguem mais algumas imagens dos personagens.
# Charles e Barbara em forma Lycan
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