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Capítulo 6 - Despedida


John acordara cedo na manhã seguinte a sua perda. Seus pensamentos estavam inquietos e sentia um enorme vazio dentro do coração. Notou que Auron se enfiara embaixo de seu pescoço, enquanto Noru dormia estirado entre suas patas traseiras. John mantinha-se em sua forma de lobo desde o nascimento dos filhotes e pretendia ficar deste modo até que eles ficassem maiores, pois assim ele estaria sempre pronto para protegê-los, sendo esta forma a sua real força. Quando se moveu para levantar, os filhotes acabaram acordando. Antes que Auron pensasse em se mover, John o abocanhara no cangote ao descer da cama e o deixou no chão. Repetiu o gesto com Noru, o deixando junto ao irmão. John os observou do alto por alguns segundos. Ficou em sua forma quadrúpede e foi em direção à porta. Os filhotes já pisavam mais firmemente no chão e o seguiram rumo às escadas emitindo alguns grunhidos. Pacientemente John desceu os largos degraus na velocidade dos filhotes, para que aprendessem a enfrentar os obstáculos, no qual eles já se saíam muito bem. Ao final da escada John os acariciou como aprovação do desafio lançado por ele.

Ele preparara as mamadeiras e se sentou de maneira aconchegante no enorme sofá, com um pequenino em cada braço para alimentá-los. O dia estava surreal e parecia que Acira desceria as escadas a qualquer momento. John observava o albino devido à semelhança dele com a mãe e apenas fechou os olhos, antes que as lágrimas viessem.


John voltou a abrir os olhos para responder aos cumprimentos de Allec e Jennifer, que desciam as escadas.


Jenny se aproximou de John e o tocou em seu braço direito, pois as mãos seguravam os bebês e expressou suas condolências ao alpha, que agradeceu.


— Assim que eles adormecerem e acabarem aqui cremarei o corpo dela... — John disse voltando o olhar para os filhotes.


— Irei preparando tudo então. — comentou Allec e acenara com a cabeça se retirando.


— Eu te ajudo Al... — Jennifer disse o acompanhando.



Após adormecerem, os filhotes foram deixados no quarto de John com a porta trancada, para evitar acidentes. Eles prepararam uma espécie de altar com pedras e troncos, um pouco afastado da fazenda e a colocaram-na em uma posição com as patas cruzadas no tórax. Depois de se despedirem, Allec e Jenny observavam a distância segurando uma tocha, apenas aguardando a despedida de John. Ele permaneceu um longo tempo ao lado dela, na mesma posição, segurando sua pata como se fosse uma fotografia. Foi muito difícil a ele dizer adeus ao seu primeiro e único amor, desde sua infância e algumas lembranças vieram em sua mente.


Charles ensinava a John no tanque, que ficava atrás da casa a como limpar um animal. Retirava as entranhas e por mais estranho e nojento que isto parecesse para uma criança de oito anos de idade, John parecia gostar do que via. De repente Barbara aparecera para chamá-los.


— Meus amores, eles chegaram! — afirmou sorrindo e voltou para dentro da casa.


— Já estou indo amor, só irei me limpar... — respondeu Charles e continuou. — Vá na frente com sua mãe filho...


— Tá bem papai! — ele respondera e entrou correndo para dentro da casa. Avistou alguns adultos com quem sua mãe conversava, mas ao se aproximar de todos, notara uma garotinha logo à frente. A menina de aproximadamente seis anos parecia uma boneca, com os cabelinhos bem compridos e loiros e ao notá-lo, ela sorriu e acenou para ele, que se escondeu um pouco atrás de sua mãe, pois era muito tímido.


— Diz oi pra ela querido... — Barbara o incentivou.


— Oi munino... — Acira dissera, pois ainda aprendia a falar corretamente e foi na direção de John. — Qual su nome?


— É John! E o seu? — perguntou gaguejante.


— Acira! — ela afirmou sorrindo, encarara Barbara e perguntou: — Tia, a gente pode brincar lá fora?


— Claro que sim meu anjo, filho, por que não a leva para conhecer a casa?


— Tá bem, vem Acira...


John a guiou até a porta de onde vieram, enquanto os adultos observavam e comentavam algo sobre as duas crianças.


Já no lado de fora, Acira avistara uma mariposa e instintivamente a perseguiu.


— Hey, calma aí Acira! — John correu atrás dela. — Cuidado para não cair, tem muitas pedras e buracos no terreno...


Ela parou de correr ao avistar o tanque em que John e Charles trabalhavam mais cedo.


— O que tem ali John? — ela apontou com o indicador e ficou curiosa.


— Ah, ali? Estão os animais que meu pai e eu caçamos... — John disse para se exibir, mas apenas seu pai caçara.


— Sélio? — ela parecia impressionada. — Posso vê?


— Não, você é muito nova ainda... — John pegou na mão dela e a guiou para o outro lado. — Venha, vou te mostrar um brinquedo legal! — e começou a correr.


John soltara um pequeno riso ao se lembrar de alguns eventos e brincadeiras junto de Acira na infância, principalmente quando ele a empurrava em um carrinho de mão ao redor de sua antiga casa. Até o dia em que ela sem querer, o fez cair em uma poça de lama, depois de bater com o carrinho em uma pedra. John alargou o sorriso após admitir para si, que sua companheira sempre fora uma peste e pensou:

"Vou sentir sua falta amor... Você ficará para sempre no meu coração e memórias...", ele encostara seu focinho ao dela. "Eu tomarei conta de nossos filhotes, não se preocupe."

John deixara escapar algumas lágrimas, mas as limpou antes de se virar para Allec e acenar positivamente. Allec se aproximou e a tocou pela última vez, antes de colocar fogo na madeira. Todos se afastaram e observaram o fogo purificar aquele corpo, que um dia habitou uma maravilhosa e inesquecível alma. Acira.


Jennifer chorava abraçada de Allec, mas ninguém disse uma palavra, até porque elas se perdiam junto à dança que o fogo fazia. Algum tempo depois Allec e Jennifer abraçaram John e depois retornaram para a residência. John permaneceu alguns minutos a mais, mas ouvira os uivos de seus filhotes, que despertaram e chamavam por ele.


— Adeus meu amor! — se despediu e se retirou.



Algumas horas depois John e Allec enterraram os restos mortais de Acira na floresta. Jennifer ficou cuidando dos bebês enquanto Allec e John foram até o riacho em busca de respostas.


Eles farejavam por todo o terreno em que ela estivera pela última vez, mas a chuva havia enfraquecido os rastros. Allec sentiu um cheiro estranho vindo de uma árvore próxima e resolveu escalá-la. O cheiro era forte em alguns galhos e o fez sentir um arrepio e comentou.


— Que estranho... Eu já senti essa sensação antes, quando ainda estávamos naquele hotel após a primeira transformação de Jenny...


— Como assim?


— Uma sensação de estarmos sendo observados... Este cheiro, mesmo fraco parece ser da mesma pessoa que senti há algum tempo atrás. — comentou Allec descendo da árvore.


— Acho que sei do que está falando, eu também senti isso quando procurava por Acira... Estou com um mau pressentimento.


— É estranho, porque é como se este animal ou criatura viesse saltando entre as árvores, mas a distância de um salto ao outro são muito grandes... Que tipo de animal, além de nós é capaz de fazer isto?


— Não me vem nada em mente... Mas por agora, acho melhor voltarmos! Precisamos ir embora deste lugar, não é mais seguro.


— E para onde iremos?


— Qualquer lugar longe daqui.




Já era noite. John havia conversado com os dois sobre partirem ao amanhecer e deixarem uma carta ao proprietário. Allec e Jenny chegaram a arrumar as malas. John dormia com os filhotes entre suas patas, mas uma brisa fria vindo da janela o fizera despertar. Sentira uma sensação de desconforto e o fedor da criatura, que rodeava a fazenda. John levantou e pegou os gêmeos sonolentos e foi até o quarto de Jenny e Allec. Sussurrou para que acordassem e explicou-lhes o que estava acontecendo.


— Eles estão aqui! Estão cercando a fazenda, consigo senti-los fracamente, temos que sair agora!


Allec e Jenny assustados começaram a se transformar. Em silêncio todos se reuniram na sala e John cochichou.


— Faremos o seguinte, eu sairei primeiro pelos fundos, indo em direção à toca, daí depois que eles forem atrás de mim, corram para a cidade e os protejam, por favor.


— Mas e você John? Isso é suicídio! Nem sabemos com o que estamos lidando. — Allec disse nervoso.


— Sou o mais rápido de nós, irei despistá-los e encontrá-los próximo a entrada da cidade, aquela que tem uma torre...


— Tome cuidado irmão.


— Vocês também, mas antes... — John pegara duas pequenas almofadas e as passou uma em cada filhote.


— O que está fazendo? — Jenny perguntou.


— Eles só podem estar atrás dos filhotes, pois são uma raridade de nossa espécie... Então eu os levarei comigo! — afirmou rindo e mostrando as almofadas com vestígios do cheiro de cada filhote. Em seguida John foi até Auron e Noru e os lambeu dizendo:


— Até breve meus pequenos... — olhou para Allec e Jennifer e continuou: — Se cuidem... Antes de eu me aproximar de vocês novamente irei uivar, caso eu não o faça, tomem cuidado.


O casal assentiu e encararam o alpha determinados a seguirem o plano. Todos os lobos ficaram em suas posições e ao sinal de John, com as duas pequenas almofadas na boca, Jennifer abriu a porta e o alpha disparou para fora.



John correu o mais rápido que pôde e conseguiu sentir as criaturas o perseguindo e pensou: "Isso! Deu certo!", continuou correndo em direção ao riacho. Ao chegar lá escondeu as almofadas entre alguns arbustos e se preparou para enfrentar seja lá o que fosse. Eles se aproximavam e John sabia que o vigiavam das árvores e rosnou.


— Apareçam, seus covardes! Sei que estão aí!


De repente uma jovem moça de cabelos longos e ruivos, aparentando ter seus 17 anos, surgiu entre as árvores dizendo:


— Olá cachorrinho!


— Você vai ver o cachorrinho quando eu estraçalhar essa sua cara! — John rosnou eriçando os pelos.


— Ora, isso são modos com uma dama? — surgiu um rapaz com os cabelos loiros do mesmo local e aparentava ser mais velho.


— O que são vocês e o que querem seus desgraçados? — John perguntou e fingia proteger o arbusto, no qual estavam as almofadas.


— Queremos os pequeninos de sua espécie, que estão neste arbusto atrás de você... E nós somos... Ah não importa! — a moça lançou um sorriso.


— Só por cima do meu cadáver! — John avançara neles, que se esquivaram e correram em direção ao arbusto, mas antes que pudessem bisbilhotá-lo, John foi para cima deles e por pouco não acertou o ombro da moça com sua pata, porém arrancou alguns fios avermelhados do cabelo dela. Fazendo os dois voltarem para os galhos das árvores, no qual John teria desvantagem.


— Grrr... Na próxima será a sua cabeça! — ele voltou a eriçar os pelos.


A moça olhou para o rapaz, que fez um sinal positivo bem sutil, e saltou dos galhos, ficando a uns dez metros de distância de John.


— Não tenho medo de você lobo... — ela esticara as mãos, fazendo aparecer suas garras de aproximadamente seis centímetros e também suas presas.


John avançara novamente, e quando foram se atracar, ela saltara por cima dele, mas ela não esperava que ele enxergasse seus movimentos e a pegou pelo pé, dando um giro e a lançando longe na escuridão.


Em questões de segundos, John sentira o homem em suas costas, que começou a arranhá-lo, mas com a adrenalina não sentira dor. Pegou impulso e se jogou de costas contra o chão com intenção de esmagá-lo, mas o homem era ágil. Quando John se levantou e fora na direção do homem, sentiu algumas picadas no quadril. A garota tinha voltado e disparara dardos tranquilizantes de cima da árvore. Sua visão começou a embaçar e apagou rapidamente.


— Esses cães são sempre tão grosseiros? — perguntou a garota arrumando o cabelo, enquanto voltava ao normal e foi até o arbusto.


— Não conheci muitos puros, mas geralmente só querem saber de morder e morder, esse aqui foi um dos poucos que dialogaram... — retirara o arbusto e resmungou ao ver as almofadas. — Desgraçado, ele nos enganou!


— Vamos matá-lo igual à outra? — a garota perguntou.


— Não Megan, ainda não, até porque ele também é raridade hoje em dia, pois estão quase extintos... Vamos levá-lo conosco, pode ser útil para encontrar os filhotes.


— Tá, tá, você manda Michael.


***

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