Capítulo 5 - Flor Dourada
John havia adormecido, não sabia exatamente há quanto tempo, mas seus filhotes acabaram o acordando, por causa das brincadeiras na toca. Os pequeninos corriam um atrás do outro e também utilizavam o corpo do pai como um desafio de escalada. John suspirou fundo e observou as duas bolinhas de pelos, que já completavam seus 29 dias de vida. Os olhos de Auron eram da cor do mel e os de Noru um azul tão claro, quanto um céu isento de nuvens. Eles cresciam mais rápido que o comum, por terem nascido como lobos e agiam como tal. Acira e John tentavam ensinar algumas palavras, mas apenas emitiam alguns resmungos por ainda serem bebês.
O albino, Auron, ao notar que seu pai o observava, correu o mais rápido que pôde em direção à face de John e começou a lambê-lo com alguns choros lupinos e seu irmão, Noru, se juntou aos dois. John retribuíra as lambidas e sabia o que eles queriam dizer.
— Estão com fome, não é? — os acariciou e em seguida olhara para fora da toca. — Sua mãe está demorando hoje... — continuou observando o ambiente e sentiu seus filhotes deitarem entre suas patas dianteiras, se aconchegando no imenso pelo e em questões de minutos adormeceram. "Cadê você Acira?... Espero que esteja tudo bem.", pensou e deitou a cabeça entre os dois pequeninos, apagando junto a eles.
Em torno de duas horas após terem adormecido, já começara a escurecer e John despertou novamente. Ficou preocupado e se levantou com cuidado, mas acabou acordando os filhotes, que permaneceram deitados ao verem seu pai sair da toca. John encheu os pulmões e soltara um uivo longo e profundo. Para sua surpresa os pequeninos tentaram imitá-lo, soltando uivos desajeitados, não tão longo quanto o seu, mas que chamara sua atenção.
Ele foi até os filhotes e os acariciou, mas apenas obteve resposta de seu irmão, que chegou até a toca alguns minutos depois, junto de Jennifer em sua forma de loba. Jenny conseguira se transformar várias vezes em loba, desde o nascimento dos filhotes e também mantinha o controle na maioria das transformações, mas ainda teria muito a aprender.
— Está tudo bem John? — perguntou Allec se aproximando.
— Eles estão bem? — Jennifer perguntou indo em direção aos filhotes, que ao verem-na, começaram a abanar as caudas para cumprimentá-la.
— Sim, nós estamos bem... O problema é a Acira, ela saiu faz algumas horas para tomar água e não retornou até agora. — olhou para seus filhotes, que brincavam entre as patas de Jennifer e pediu: — Vocês poderiam levá-los até a fazenda, por favor? Eu irei procurar pela Acira.
— Sem problemas irmão, mas qualquer coisa nos avise Ok?
— Pode deixar, obrigado.
Jennifer e Allec apenas acenaram positivamente. Pegaram os filhotes pelo cangote, que pegos de surpresas, não conseguiram reagir e nem se movimentar direito na boca de seus tios. Allec lançara um olhar de "tome cuidado" a John e começou a escalada.
O primeiro local onde John fora era um riacho que ficava próximo da toca, cerca de uns 400 metros de distância. Havia vestígios de Acira, no qual indicava que ela estivera ali, mas o cheiro de outra coisa, que também marcara a presença o incomodava, um fedor desconhecido que não fazia ideia de que criatura era, mas que dava um calafrio na espinha. Já escurecia e também tinha começado a chover, dificultando o rastro que ela deixara em uma trilha, que ia para uma direção oposta à toca.
A chuva atrapalhava o rastro que ficava cada vez mais fraco, mas o que o preocupou foi sentir o cheiro de sangue entre algumas plantas. O coração de John ficou inquieto e também já estava impaciente, que começou a chamar por ela.
— Acira!... Aciraaa! Cadê você? — O rastro dela terminava em um barranco com grandes pedras e tinha em torno de uns 10 metros de altura. John parou na ponta do barranco e gritou mais uma vez pelo nome dela. Ao olhar para baixo, avistou com dificuldade alguma coisa de cor mais clara do que a escuridão, mas a densidade da chuva dificultava sua visão. Ele deu a volta no barranco, descendo por um caminho menos perigoso e correu como um foguete em direção ao que ele havia avistado. Era Acira.
Ele gritou pelo nome dela conforme se aproximava, mas ao chegar bem perto se surpreendeu e involuntariamente seu corpo começou a tremer. — Amor? — perguntou avaliando seu pulso, mas não escutava os batimentos dela. Ela possuía alguns ferimentos nas costas, patas e tinha batido a cabeça em uma pedra. Grande parte da pelagem branca e dourada dela havia ficado vermelha.
John estremeceu ao sentir o corpo gélido e enrijecido, do qual uma vida fora extraída. Sem saber como reagir gritou e rosnou muito alto, e suas lágrimas se misturaram com a chuva. Abraçou o corpo, encostou sua cabeça ao dela e sussurrou chorando: — Meu amor... Eu sinto muito, não pude protegê-la.
Allec e Jennifer estavam em forma humana e haviam alimentado os sobrinhos com leite bovino. Ambos ouviram quase que imperceptível, um uivo de lamentação muito distante dali. Os dois se entreolharam e observaram os pequeninos, que permaneciam dormindo no sofá e perdidos em seus sonhos.
— Aconteceu alguma coisa Al...
— Irei até ele Jenny, tome conta dos dois, por favor.
— Claro, tome cuidado! — lhe dera um beijo e Allec sairá às pressas em meio à chuva, para procurar pelo irmão e Acira.
Alguns minutos correndo para a toca, o cheiro de John encontrava-se próximo. Quando o avistou ele carregava Acira nos braços, mas Allec se apavorou, ao sentir o cheiro que Acira emanava. O cheiro da morte. Os únicos batimentos que ele conseguia ouvir eram o seu e o de seu irmão. Ficou sobre as duas patas e abaixou suas orelhas ao se aproximar de John, que permanecia com uma expressão descrente do que acontecia, porém triste e com um olhar vazio.
— Sinto muito... — Allec dissera e deixou escapar algumas lágrimas. — Quer que o ajude a carregá-la?
— Não precisa, eu mesmo a levo... — disse passando por Allec, que o seguiu sem dizer mais nada.
Eles levaram o corpo dela para o celeiro, para que os filhotes não a vissem naquele estado.
— O que aconteceu com ela John? — Allec perguntou ainda soluçando e chorando, segurando a pata direita dela.
— Alguém a assassinou Al... — disse apertando os punhos, mas não chorava mais. — E quando eu descobrir quem foi, irei dilacerá-lo e picá-lo em mil pedaços! — John mostrou os locais dos ferimentos a Allec e continuou:
— Veja isto, são marcas de garras, porém um pouco diferentes das nossas... Quando fui procurá-la, eu senti um cheiro estranho da criatura que deve ter feito isso a ela... Assim que clarear irei atrás dos rastros e...
— Não faça nada precipitado, lembre-se que você tem dois filhotes que precisam de você, eu e Jenny também precisamos...
John o encarou por um instante e voltou a olhar o cadáver.
— Não consigo acreditar que ela se foi Al...
Allec correu até seu irmão e o surpreendeu com um abraço. Há muito tempo não o abraçava daquele jeito, mas sentiu que ele precisava e nada disse. John ficou sem reação, mas retribuiu o abraço.
— Sinto muito John... Mas lembre-se que você não está sozinho! Quero ajudá-lo na busca do assassino.
— Obrigado irmão.
Daí em diante eles permaneceram em silêncio. Encontraram um pano no celeiro e a cobriram.
Jennifer despertara do cochilo com o barulho da porta de entrada e levantou imediatamente ao ver os machos ainda em forma de lobos. Os filhotes também haviam despertado. Ao avistarem o pai que se aproximava, tentaram ver alguma saída do sofá para correr em direção a ele, mas era muito alto e começaram a choramingar. John os pegou, mas os manteve longe de seu corpo, por estar molhado e apenas disse com um breve olhar a Jennifer:
— Obrigado por cuidar deles...
— Não é nada... Onde está a Acira? — ela perguntou encarando os dois em busca de respostas, mas John apenas desviou o olhar e foi em direção as escadas, que direcionava aos quartos, ficando em silêncio.
Allec esperou até que John subisse para dizer:
— Acira está morta Jenny... Ela foi assassinada! — ele disse com dificuldade em segurar as lágrimas.
— Como é que é? Você está brincado, certo? — perguntou Jennifer, que também deixara algumas lágrimas escaparem contra sua vontade.
Ele apenas acenou negativamente, pois não conseguira dizer mais nada e a puxou para seus braços.
No segundo andar, John foi para o seu quarto, colocou os filhotes na cama de casal e fora para o banheiro se enxugar. Os pequeninos sentiam um cheiro fraco de sua mãe naquele chão macio e instintivamente começaram a uivar desajeitados do lado direito da cama, onde Acira costumava dormi, como se eles já soubessem, que sua mãe não mais retornaria. Surpreso, John saiu do banheiro, se aproximou dos filhotes e começara uivar. Assim como dois seres no primeiro andar, que se juntaram ao coro fúnebre uivante.
Acira.
***
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