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Capítulo 4. Jujutsu

   Acertei a fatia de peixe com meu garfo, o levei até a boca sentindo uma mistura de sabores de fazer salivar. Sorri, apoiei o rosto em minhas mãos e olhei para o monstro bem na minha frente.

— Você até que é bem fofinho. — Inclinei a cabeça, e apontei o dedo na direção dele. — Está com fome?

— Inacreditável. Eu te deixo sozinha por um dia, e você faz amizade com uma maldição. — Gojo surgiu de pé ao meu lado com algumas sacolas em mãos, parecia ter voltado do shopping há pouco tempo, me virei.

— É mais bonito que você. — Apontei, Gojo se sentou e fez o monstro desaparecer. — Eu estava começando a gostar dele. 

— Eu não o matei, só o afastei temporariamente. — Ele se sentou e pegou uma fatia do peixe que eu estava comendo. — A questão lindinha, é que eu quero que faça amizades com pessoas normais. Como seus novos colegas.

— Você por acaso é o meu pai? Por que tanta preocupação?

— Não é isso. Eu quero que se sinta a vontade com os outros como você. — Sua explicação não me convenceu, cruzei os braços e me encostei no banco.

— Por acaso isso tem algo a ver com Itadori e o seu alter ego, Sukuna? — Franzi o cenho, ele riu e baixou a cabeça.

— Eu não sei. Quem sabe?

— Você quer que eu fique amiga do Itadori pra ele não ficar sozinho, não é? Isso não tem nada a ver comigo afinal. — Tentei uma suposição baseada no pouco conhecimento que tinha de cada um.

— O Itadori não é do tipo que precisa de ajuda pra fazer amigos. —Ele disse, assim, me lembrei do jantar. Gojo estava certo, era eu quem estava insegura com a ideia de conhecer outras pessoas, e acabar decepcionando-as. — Vamos fazer assim...

Gojo se levantou e colocou uma das sacolas em cima da mesa, analisei a logo, parecia ser de uma loja de roupas.

— O que é isso?

— Seu uniforme. Eu pedi para personalizar baseado no seu jeitinho peculiar. Então, prove e pense um pouco. Não precisa vir se não quiser, eu não vou te forçar. — Ele se levantou, espiei por cima do pacote, consegui ver um tecido vermelho com algumas listras brancas. — Se mudar de ideia, apareça no lugar que vou te mandar por mensagem.

Enquanto ele dizia, abri o pacote e retirei o uniforme de dentro da sacola. Os botões eram iguais aos do Itadori, mas o uniforme era completamente diferente.

— O que quer dizer com o meu "jeitinho peculiar"? — Quando olhei em volta, ele já havia desaparecido. Guardei o uniforme de volta e levantei, levei a sacola comigo.

Quando saí do estabelecimento, encontrei meu monstro parado em frente a porta, passei direto por ele.

— Você está aí, eu to indo pra casa. — Expliquei de cabeça baixa, ele me seguiu até em casa e desapareceu sem nem perceber.

Antes de dormir, vesti o uniforme e me olhei no espelho enquanto pensava no que Gojo havia me dito. Me juntar à pessoas como eu, me deixava nervosa e insegura. Com receio de não me adaptar, de não ser como nenhum deles, como Junpei, que havia descoberto a visão de maldições há poucos dias.

Não seja sem graça. Vamos ver aqueles rostinhos bonitos da escola nova, com certeza é melhor do que estudar em casa. — Aoi disse enquanto me olhava no espelho, tirei o casaco e joguei em cima da cama.

— Cala a boca. — Pedi, ela riu. Estendi a mão na direção do uniforme, congelei por alguns segundos e então me joguei na cama. — Eu to cansada Aoi, você podia parar de ser uma vaca e me ajudar pra variar.

— Acho que não lindinha. — Ela brincou com o apelido, peguei uma almofada e gritei no tecido abafado.

Me virei e tentei dormir, já estava tarde, e meu corpo parecia querer apenas se desligar de tudo. Quando acordei, ouvi o celular vibrar em cima da cômoda. Era uma mensagem de Gojo, exatamente como ele disse que faria, mandando a localização e a hora. Me levantei e fui até o banheiro, lavei o rosto. Meu cabelo caiu na frente do rosto, minha pele estava tão pálida que conseguia ver as olheiras levemente roxas abaixo dos olhos.

— Acho que se eu sair assim, não vou passar uma boa primeira impressão. — Senti outra mensagem vibrar no bolso do pijama, peguei o celular enquanto escovava os dentes com uma das mãos.

"Haverá um evento de intercâmbio entre escolas, não esqueça do uniforme, e não se atrase lindinha. ;)"

— Evento? Que ótimo. — Suspirei, fingindo não estar ainda mais tensa com a situação.

Tomei café da manhã e me vesti, coloquei um boné vermelho como o uniforme personalizado. Gojo podia até ser muito mais velho, mas ele tinha um bom gosto para roupas. Com meu celular em mãos, segui o GPS até a escola onde o evento iria ocorrer, inicialmente esperava algo como barraquinhas de comida, e muitos estudantes por todos os lados em pequenos grupos. Mas a escola Jujutsu parecia vazia, não havia ninguém em lugar algum.

Quando entrei, segui pelos corredores externos buscando em volta qualquer pessoa para me dar alguma informação. Ouvi alguns gritos e sons de luta, cruzei o corredor e me deparei com quatro alunos, pareciam estar brigando, uma garota foi jogada para a minha direção e caiu nos meus pés, olhei para baixo. Seus cabelos eram cor de caramelo, e ela tinha olhos grandes e brilhantes, a maquiagem em seu rosto era sutil e combinava perfeitamente com seu tom de pele.

— Isso deve ter doído, pelo menos não machucou o rosto. — Acrescentei, ela se inclinou para frente e se levantou.

— Quem é você?! — Gritou, pronta para lutar.

— Eu to procurando o Satoru Gojo, vocês sabem onde posso encontrá-lo? — Coloquei as mãos nos bolsos e me inclinei para trás confortavelmente.

— Então, você não é de Kyoto? — Ela apontou para o uniforme, mais especificamente para os botões. — Nunca te vi por aqui.

— Acho que não. — Cocei a nuca, me senti levemente sem jeito.

— Então você também é caloura? Esse lugar aceita qualquer tipinho hoje em dia... — Uma outra garota, de cabelos curtos e um vestido colado, debochou.

— Ela é bem gata. Faltam algumas curvas aqui e ali, mas tem belas pernas. — Seu colega super musculoso, disse. Desviei o olhar.

— Só pode estar brincando. — Resmunguei para mim mesma, me virei de costas.

— Ei garota! Quem disse que pode virar as costas pra nós?! — A garota de vestido gritou, cerrei os punhos dentro dos bolsos, continuei no mesmo lugar.

— Deixa ela ir, ela não tem nada a ver com isso. — Outro garoto disse, mal tinha notado sua presença, ele estava quieto até o momento.

— Se ela for caloura mesmo, tem que aprender a respeitar os veteranos. — A garota disse e sinalizou pro amigo musculoso ao seu lado. —  Todo, pega ela.

O grandão chamado de Todo, correu na minha direção em passos largos. Ele tinha o dobro do meu tamanho e passou facilmente pelos outros dois calouros. Num reflexo, escalei seu braço e pulei por cima dele. Continuei com as mãos em meus bolsos.

— Esse tamanho ta te prejudicando. — Avisei, ele se virou e tentou me acertar um soco, desviei com perfeição.

— Para de ser idiota, acerta logo ela! — A garota gritou, continuei desviando. Eram movimentos diferentes, Todo queria me acertar, e eu queria me esquivar, estávamos ambos gastando nossas energias para efetivar nossos movimentos de forma excepcional.

  Nós dois paramos no lugar, de repente, a garota de vestido aproveitou a distância para me surpreender, e me acertou pelas costas. Caí de cara no chão, ela gargalhou alto.

— Não sei ainda o que você é, por isso não quero pegar pesado com uma novata. Vai que você é inútil igual a minha irmã.

— Eu nem sei quem é a sua irmã. — Disse entredentes, me levantei e acertei um chute na sua costela, ela bateu contra a parede. — Mas eu sou bem forte.

Ela cuspiu sangue, os outros arregalaram seus olhos. Ajeitei a postura e me virei novamente.

— Eu não sei qual é o problema de vocês, mas eu não tenho nada a ver com isso. — Afirmei, ela rangiu os dentes atrás de mim. Senti outro golpe chegando, alguém atravessou um bastão entre eu e ela, impedindo-a de me acertar.

— Maki, sempre chegando na hora errada. — A garota disse, Maki sorriu.

— Já chega, não queremos assustar nossos calouros. — Ela disse e piscou para mim, franzi o cenho.

— Maki, acho que ela também é novata. Apesar de que o Satoru não nos disse nada.

— É surpresa. — Brinquei, ela sorriu de orelha a orelha.

— É uma ótima surpresa, pra falar a verdade estava chato ser a única caloura. — A garota com cabelo caramelo disse e estendeu a mão. — Me chamo Nobara Kugisaki.

— Akiko Hayashi. — Entendi a mão e a cumprimentei, ela sorriu e apontou para o garoto que mal falou desde que os encontrei.

— Esse é o Megumi, somos seus colegas!

— Maki Zenin. — A mulher que me salvou se apresentou logo depois, ela estendeu a mão e me cumprimentou.

— Então vocês são meus colegas? Parecem mais normais que aqueles dois ali. — Sugeri, ela gargalhou alto e jogou seu cabelo para trás.

— Apenas os ignore, eles são da outra escola.

— O intercâmbio. Claro. Gojo me disse algo sobre isso. Por mensagem... — Resmunguei, Maki franziu o cenho e suspirou.

— Claro que foi por mensagem. Aquele cara adora desaparecer nos momentos mais importantes.

— Pensei que o Itadori estivesse aqui, ele ainda não chegou? —Procurei em volta, Megumi e Nobara trocaram olhares.

— Conhece o Yuji?

— Ele devia estar morto. — Megumi disse com seriedade, senti um frio na barriga.

— M-morto é? Claro. Isso. — Afirmei, Nobara apoiou as mãos na cintura.

— Sabe de algo que não sabemos? — Ela disse, cocei a nuca mais uma vez, me virei e avistei um panda vindo na nossa direção.

— Espera, aquilo ali é um panda?!

— O que ta rolando? — Ele disse, arregalei os olhos.

— É claro que ele fala. — Resmunguei para mim mesma, ele passou por mim e ficou ao lado de Maki.

— Esses novatos estão estranhos.

— Devíamos era agradecer por esses esquisitos não estarem na nossa escola. — A mulher de vestido disse, Maki acenou para eles. — Vamos embora Todo, a gente se vinga depois.

— Nós também temos que ir, e nos encontrar com os outros. — Maki sugeriu, os quatro passaram na frente, corri para acompanhar.

— Aliás eu sou o Panda, é um prazer conhecer você.

— Akiko.

— Akiko, seja bem-vinda a academia Jujutsu.

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