Prólogo ─ Meu Trono.
"Eu levei você para casa
Coloquei em um vidro
Eu arranquei suas asas
Então eu ri"
(Change, Deftones.)
VALQUÍRIA HARRIS
Rainha do Reino de Saphir,
[18 anos atrás]
Arthur havia decido jantar no castelo esta noite. Já faziam semanas que ele não vinha desde os últimos acontecimientos e, francamente, eu estava ansiosa com sua aparição. Parece que as coisas começariam a finalmente dar certo para mim.
Nós nos arrumávamos em nossos aposentos. Nenhum tipo de interação ocorria entre nós dois. O clima ainda não estava o melhor, mas em poucos minutos tudo se resolveria. Pelo menos, foi o que eu pensei...
─ Já está pronto? ─ perguntei, sentada na beirada da cama, empertigando-me.
─ Quase. Pode ir na frente, eu já desço ─ respondeu ele, com certo desânimo.
Ah, Arthur... Parece que pela primeira vez em tempos você estava finalmente facilitando as coisas.
─ Ótimo. Não demore. ─ Levantei rapidamente, alisando meu visto e me dirigindo até o andar de baixo, onde estava preste a ter o melhor banquete de toda a minha vida.
Assim que sentei-me a mesa, os criados vieram com tudo que eu havia solicitado anteriormente.
─ Sirva um pouco para Arthur também. Sabe como ele é amante de vinho ─ pedi para a mulher que despejava vinho em minha taça. Sem hesitar, ela atendeu ao meu pedido e preencheu a taça de meu marido com a bebida.
Logo todos se retiraram e em alguns instantes Arthur havia se juntado à mim para que desfrutássemos de toda aquela fartura.
─ Suas escolhas foram impecáveis ─ disse ele, após experimentar um pedaço daquela carne assada.
─ Sempre são ─ me gabei.
Arthur pigarreou.
─ Eu estou muito feliz por ter me aceitado de volta. ─ Um pequeno sorriso cruzou seus lábios.
Olhei no fundo de seus olhos castanhos e céus... Eles ainda brilhavam. Pouco, mas brilhavam. E parte de mim sabia o quanto aquilo seria dolorido. Por que você foi nos destruir, Arthur? Por quê?
─ Eu também, Arthur ─ declarei com a voz calma e suave que eu não usava há tempos.
Ele voltou a devorar toda aquela comida e eu acompanhava cada um de seus movimentos com o máximo de atenção.
E então, ele finalmente pegou a taça. A mesma taça que havia sido preenchida de vinho há minutos atrás.
Meu coração disparou dentro de meu peito. Era como se tudo estivesse em câmera lenta naquele momento. Suas mãos guiando a taça até sua boca e meus olhos acompanhando aquela cena com tamanha ansiedade.
─ Está tudo bem? ─ Arthur afastou a taça e perguntou-me.
─ Ah, está sim. ─ Ele pareceu um tanto quanto desconfiado de minha resposta, mas continuou a levar a taça até a boca.
E em segundos todo aquele líquido estava descendo por sua garganta.
Assim que afastou a taça novamente, vi uma expressão indecifrável surgir em seu rosto.
─ Nossa, que vinho amargo. ─ Ele colocou a taça sobre a mesa.
─ O meu está uma delícia ─ falei, bebendo mais um pouco.
Ele deixou de lado a questão do gosto de seu vinho e voltou a comer, mas de repente ele soltou os talheres sobre a mesa e começou a tossir descontroladamente, enquanto uma de suas mãos estava sobre seu peito, e a outra em seu pescoço.
Sua tosse era desesperadora e eu conseguia ver o sentimento de desespero em seus olhos que, agora, estavam arregalados. Eu observava aquilo com um pequeno sorriso esboçado no rosto.
─ Socorro ─ pediu ele, a voz em um fio.
─ O que aconteceu, querido? Não gostou do vinho? ─ perguntei sínica, enquanto ele se sufocava.
Seu rosto já estava roxo e ele continuava se debatendo e tossindo na intenção de salvar sua vida.
─ Você se lembra, Arthur? Do momento que me deixou sozinha e quebrou todas as promessas que tinha feito? ─ Ele tossia, mas prestava atenção no que eu dizia. ─ Você transformou-me em um oceano perdido num lugar aberto e nada podia tirar a minha dor. Mas eu te perdôo, porque cada ferida vai me moldar. Cada cicatriz construirá o meu trono.
─ Como você... ─ Sua voz falhava, e as reações do veneno que coloquei em seu vinho pioravam ainda mais seu estado.
─ Vou deixar-te engasgando em cada palavra que você não disse e vou reconstruir tudo o que você quebrou.
Ele se levantou e cambaleou, com as pernas fracas, a garganta se fechando e impedindo que ele respirasse. Ele se escorou na parede e logo caiu.
Coloquei-me de pé ao seu lado, segurando minha taça na mão direita, observando sua morte patética.
─ Isso, querido Arthur ─ apontei meu dedo indicador esquerdo em sua direção ─, é o preço que pagarás por todos os seus pecados. ─ Vi seus olhos se arregalarem mais ainda com minhas palavras. ─ Espero que o veneno que coloquei em seu vinho, tenha adoçado sua boca! ─ sorri, bebericando mais um pouco de meu vinho.
Arthur não tinha mais muito tempo de vida, então agora era hora de meu teatro.
─ Socorro! ─ Gritei, me abaixando até ele. ─ Socorro! ─ Gritei novamente e em um piscar de olhos, os inúmeros criados estavam em volta tentando evitar o inevitável.
─ O que aconteceu? ─ perguntou um deles.
─ E-eu não sei. ─ Fingi desespero e forcei minhas lágrimas. ─ Estávamos comendo e de repente ele começou a tossir sem parar e só piorou! ─ Levei minha mão à boca.
Mas Leonard, nosso mordomo, claramente não havia gostado de meu espetáculo. Ele sabia que aquilo não era um acidente, e sim um assassinato premeditado. Eu forçava minhas lágrimas e ele me encarava como se visse até minha alma, mas ele não contaria sobre a verdade para ninguém.
─ Rei Arthur, consegue me ouvir? ─ perguntou uma mulher e não obteve respostas.
─ Ele vai ficar bem, não vai? ─ perguntei, ainda em meu personagem.
Um silêncio interminável pousou sobre aquele momento e foi aí que eu tive certeza que Arthur estava muito longe daqui.
─ Majestade ─ um dos criados me olhou com os olhos transbordando pena e fez uma pausa dramática ─, eu sinto muito...
─ Não... Não pode ser. ─ Fechei os olhos, fazendo mais lágrimas escorrerem. ─ Ele não pode ter morrido!
+ NOTAS !
- vcs provavelmente não tão entendendo nada ainda, mas vai fazer sentido lá na frente!
- não se esqueçam de votar e comentar!
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