"Alguns dos que estão no poder
São os mesmos que queimam cruzes"

(Rage Against the Machine, 1992.)

CAROLINE HARRIS
Princesa do Reino de Saphir

── Majestade, eu odeio interromper seus afazeres, mas eu trago más notícias ── falou Eratos, com a mesma feição arrogante de sempre.

Eratos é como um guarda costas de minha mãe, mas algo nele não me agrada. Lembro-me claramente de temê-lo quando era criança.

── E quando é que não são más notícias? ── Minha mãe revirou os olhos.

── O assunto desta vez é sério.

── Bem, então fale logo!

── Tem certeza de que não prefere falar em seu escritório? ── Ele perguntou, olhando para mim de relance.

Que absurdo! Se tem algo acontecendo eu quero saber. Quem ele pensa que é para me excluir da conversa?

Valquíria levantou da mesa e se dirigiu ao escritório, acompanhada de Eratos.

Não acredito que me excluíram da conversa.

Assim que a porta do escritório se fechou eu me levantei. Caminhei em passos leves até o escritório e encostei a orelha sobre a porta.

── Bem, eu acabo de receber a informação que aconteceu um assalto na residência dos Collins. ── Soou a voz de Eratos, abafada pela superfície de madeira que me separava da conversa.

Os Collins são mais uma das famílias de nobres que mantêm relações e negócios com minha mãe.

── Como? Quem fez isso? ── A rainha perguntou.

── O autor ainda não foi identificado. O assalto ocorreu durante a noite, enquanto eles dormiam, então ninguém se feriu, mas há um detalhe nessa história que não se encaixa.

── O que queres dizer? ── Minha mãe pareceu confusa.

── Todos os objetos roubados foram distribuídos a vários camponeses na aldeia hoje cedo.

── Malditos plebeus! ── exclamou ela. Algo que nunca entendi é a repulsa que minha mãe alimenta contra os camponeses. ── Como sabes disso?

── Alguns plebeus comentaram sobre isso com alguns cavalheiros do exército que vigiavam a região.

── Mas por que alguém furtaria os Collins, uma das famílias de nobres mais rica, e depois simplesmente daria tudo a outros camponeses imundos? ── perguntou.

── Não dá para saber, mas estou investigando.

── Tú achas que pode ser um devoto de Robin Hood?

Robin Hood? Quem diabos é esse?

── Já fazem mais de cem anos... Não é possível que tenham desenterrado essa ideia estúpida.

── Eu realmente espero que seja só uma inconveniente coincidência, caso contrário, teremos problemas maiores do que imaginamos. Encontre esse ladrãozinho depressa. Não quero que isso influencie os outros.

── Certo. Estou trabalhando nisso.

[...]

── Dá pra acreditar? ── perguntei à Eleanor, depois de contá-la o que ouvi hoje mais cedo.

Eleanor é filha de Amice, uma das funcionárias do castelo, e nós somos muito próximas. Eleanor é provavelmente a única amiga que tenho, porque todas as tentativas de minha mãe de me aproximar de filhas de nobres foram frustadas.

── E o pior de tudo foi eles terem me excluído da conversa! ── Resmunguei, de cima da macieira que eu havia subido para pegar maçãs.

── Eles recuperaram os pertences? ── perguntou ela, se referindo aos Collins.

── Eu creio que não. ── Joguei mais uma maçã dentro da cesta que Eleanor segurava. ── Eu adoraria ter visto a cara dos Collins quando receberam a notícia que todos seus pertences foram distribuídos ao camponeses. ── Digo, descendo da árvore.

── Eles devem estar morrendo por dentro agora. ── Eleanor comenta.

── Pois eu acho é bem feito. Eles são provavelmente os mais insuportáveis de todos. ── Peguei uma maçã.

── Só espero que tudo que acabamos de falar não volte contra nós ── disse Eleanor, me fazendo lembrar das vezes que Padre Constantino disse que não devemos desejar o mal, pois ele volta para nós.

── Se mesmo Padre Constantino que rouba dos fiéis ainda é um "enviado por Deus", acho que vamos ficar bem. ── Ela riu. Nos sentamos embaixo daquela árvore para desfrutarmos das maçãs frescas. ── Aliás ── faço uma pausa para terminar de mastigar minha maçã ──, você já ouviu falar em um tal de Robin Hood?

── Claro. Por que a pergunta? ── Pareceu intrigada.

── Durante a conversa, minha mãe e Eratos mencionaram esse nome. Quem é este, afinal?

── Robin Hood foi um homem que existiu há mais de um século atrás, durante o reinado de Rei Ricardo Coração de Leão e lutou nas cruzadas. Ele roubava dos membros da nobreza e dava aos pobres. Por alguns, foi considerado um herói, mas seus ancestrais da realeza o odiavam. ── Explicou e eu estava surpresa por não conhecer essa história.

── E o que aconteceu com ele? ── Queria saber tudo sobre essa figura tão intrigante.

── Sendo sincera, não sei.

── Eu não fazia ideia da existência desse Robin Hood. Ele devia ser um completo maluco. ── Não conseguia imaginar alguém tendo coragem suficiente para isso.

── De certa forma, sim. Tem que ser muito maluco para enfrentar a nobreza inteira, mas também é algo incrível.

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