
Episódio 4: Intimidado
Jeongguk continuou imutável. O vampiro assentiu para si mesmo, levando a mão até as madeixas do humano, puxando-as para deixar o pescoço mais a mostra. Jeongguk fechou os olhos, já imaginando que sentiria a mesma dor de antes.
Entretanto, quando os dentes pressionaram sua carne, a sensação era estranha, mas não desagradável. Não doía, e um sentimento agradável crescia rapidamente. Mas assim que demorou um pouco mais, a tontura o fez piscar várias vezes, tentando estabilizar a visão. Foi quando Taehyung de repente se afastou, o lábio inferior vermelho pelo sangue ingerido.
Os olhos do vampiro pareciam puro escarlate. A atenção dele estava toda sobre si agora, e Jeongguk sentiu o coração acelerado. O medo ainda estava lá, e sinceramente, ele não achava que conseguiria continuar sendo corajoso se Taehyung realmente o machucasse.
- Qual é o seu nome? - o vampiro perguntou baixo, quase como se tentasse raciocinar também, cheio de confusão.
Jeongguk engoliu, pensando não ter problema dizer a ele o seu nome.
- Jeongguk. - respondeu.
Notou como mesmo disfarçando, o vampiro parecia surpreso. Ele passou o polegar contra o lábio ainda coberto de sangue, chupando-o em seguida.
- Você foi um dos seis humanos cobaias que fugiram da sala de testes, não foi? - Jeongguk não respondeu, porque aquele assunto era a pior coisa que poderia ter sido perguntado a ele. Mas não adiantou muito, já que Taehyung sorriu, parecendo entender tudo. - É claro que sim. Não há justificativa para seu sangue ser tão doce e agradável e... delicioso.
- Por favor, me deixe ir... - Jeongguk falou baixo e temeroso, aquele assunto trazendo certa ânsia.
- Eu só pretendia descobrir onde vocês estavam se escondendo e pegar alguns humanos, você sabe, meus subordinados tem fome, e eu não sou mágico. - O vampiro pareceu divagar, sem olhar Jeongguk. - Mas isso... Foi por sua causa que eles me usaram...
Jeongguk não entendeu.
- O que quer dizer?
Taehyung finalmente olhou para ele, e Jeongguk conseguiu ver um lampejo de raiva, mesmo que dessa vez não fosse direcionado para ele.
- Meus pais permitiram que fizessem testes comigo para que eu conseguisse ser imbatível por vocês, o que significava que poderia procurar os humanos que fugiram do centro de testes. E veja só, eles tinham razão quando disseram que eu era útil o suficiente para não ser descartado como meus outros irmãos - O vampiro disse ironicamente, suspirando em seguida. - Sabe, os outros morreram antes que eu conseguisse pegá-los. Seja por doença dos humanos, seja por outros vampiros. A questão é que eu sofri fisicamente por cada uma dessas perdas. Mas aqui estamos.
- Por favor, não me leve para aquele lugar de novo, por favor! - Jeongguk pediu desesperado. Ele não queria voltar a passar por tudo que já tinha passado antes.
- Se eu levar você, eles finalmente vão me ver como um filho digno do amor deles, e eu poderei viver sem problemas. - Taehyung falou calmamente enquanto Jeongguk negava nervosamente. - Mas sabe de uma coisa, Jeongguk? Há muito eu deixei de desejar carinho vindo deles. Meus irmãos sofreram tanto, e não seria justo que só eu fosse feliz, não é? - ele perguntou, e Jeon ficou sem reação. - Não é? - Taehyung perguntou de forma baixa e ameaçadora.
- Sim, você está certo. - respondeu baixo.
Taehyung se afastou um pouco, como se pensasse em algo. Jeongguk o viu se mover de um lado para o outro antes de parar e fitá-lo com um sorriso ardiloso nos lábios.
- Vamos fazer um trato, garoto - Taehyung propôs.
- Eu tenho um nome.
- Vamos fazer um trato garoto com nome - ele provocou, e Jeongguk realmente queria se soltar e socá-lo. Era estranho não sentir intensamente o medo de outrora, mas ainda sim, não queria confiar demais.
- O que você pretende?
- Meus pais provavelmente sabem que eu os mataria se tivesse a oportunidade, por isso sempre estão alerta comigo. Mas você... Eles não esperam que um humano indefeso possa machucá-los. - Taehyung iniciou a explicação, e Jeon tentou ao máximo prestar atenção, mesmo que seus braços estivessem doendo agora.
- Você os matará para mim.
Jeongguk arregalou os olhos.
- Matá-los? Isso parece um absurdo!
- Não, não é. Absurdo é tudo que eles já fizeram com os próprios filhos pelo desejo de sangue. - O vampiro ficou mais próximo de si, olhos vermelhos o encarando firmemente. - Você os matará e eu assumirei a liderança dos vampiros que seguem o nome da minha família.
Jeongguk mordeu o lábio inferior, pensando no que ganharia se recusasse. Melhor seria tentar matá-los do que ser jogado como um pedaço de carne para o desjejum.
- O que eu ganho com isso?
Taehyung riu alto, fazendo Jeongguk olhá-lo com a testa franzida.
- Pensei que fosse óbvio. Eu não matarei você.
- Isso é pouco para uma troca. Você quer que eu mate seus pais, vampiros que podem me fazer em pedaços em um vacilo. Não acho que isso está equilibrado.
- Você tem razão. - Taehyung concordou. - Que tal eu não matar você e nenhum de seus amigos?
Jeongguk não sabia se o que ele dizia era verdade, mas na sua situação, não estava muito apto a opinar.
- Tudo bem. - Jeongguk disse. - Mas você precisa cumprir sua palavra!
- Não se preocupe, eu irei. - Taehyung falou com seriedade. Houve um silêncio antes que os dedos do vampiro tocassem seu pescoço, ficando próximo dele novamente. - Isso selará o nosso trato.
E então, Jeongguk sentiu-se ser mordido de novo. Era terrível não poder reclamar e dizer o quão horrível era a mordida, porque senti-la era nada mais que bom. Seus olhos fecharam-se, suspiros deleitados deixando seus lábios enquanto seu sangue lentamente era drenado. Foi difícil continuar desperto minutos depois, e seu corpo acabou desmaiando pela perda de sangue.
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Quando Jeongguk acordou, ele só enxergou branco. Quando acostumou-se com a luminosidade, tentou descobrir onde estava. Um quarto amplo e vazio, a única coisa que o preenchia era a cama na qual estava sentado agora. Reparou no próprio corpo, vendo que suas roupas também eram diferente. Havia um cheiro de maçã em sua pele, e pelo que pode perceber, ele havia sido banhado.
Estava começando a ficar nervoso quando a porta foi aberta, surgindo entre ela o rosto que ele já reconhecia bem.
O vampiro fechou a porta, trazendo alguma coisa na cintura que rapidamente tirou quando sabia que não corria mais riscos.
- Você acordou, isso é ótimo para mim, mas péssimo para você.
- Eu imagino. Onde estamos? - perguntou, voltando sua atenção ao próprio corpo. - E isso...
- Estamos na casa dos meus pais. Eles ainda não sabem que você está aqui, mas eles me disseram todos os procedimentos do que fazer antes mesmo de eu conhecer você, então é isso que eu fiz. Pedi que alguns criados trocassem suas roupas e limpassem seu pescoço, os tratamentos básicos deles.
Jeongguk assentiu.
- Aqui está - Taehyung ofereceu duas flechas para Jeongguk, a terceira continuando consigo. - Quando o primeiro deles for mordê-lo, fure-os com isso. Deve ser suficiente.
- Mas não serviu para você...
- Eu sou uma exceção não natural. Isso é consequência dos testes, não é um dom. - disse, caminhando de volta para a saída do quarto. - Eu cuidarei do outro. Mas é bom que saiba que se você errar, nós dois morremos.
Jeongguk engoliu, colocando as flechas na cintura, usando a camiseta larga para cobri-la.
- Vamos, está na hora.
E Jeongguk não poderia fazer mais nada para impedir aquela frase.
Jeongguk seguiu o vampiro por dois largos corredores antes de adentrarem um salão imenso. As paredes brancas o faziam desviar o olhar, nada mais além de duas poltronas no final do local, onde conseguiu enxergar duas pessoas sentadas.
Assim que eles notaram sua presença, levantaram-se, parecendo animados.
Quando Taehyung parou a dois metros deles, Jeongguk ficou ao seu lado. O nervosismo queimava de dentro para fora, e ele sinceramente tinha medo de por tudo a perder por isso.
- Esse é... - O homem foi o primeiro a falar, olhando para Jeon como se estivesse vendo o melhor presente do mundo.
- Como vocês pediram, eu trouxe o humano dos testes. Esse é o último. - Taehyung explicou com a expressão impassível. Eles estavam sorrindo até que a Kim mais velha soltou um grito assustado. Ninguém entendeu até ela dizer.
- O pescoço... o pescoço dele...
Foi quando o Kim também notou. Jeongguk colocou a mão sobre a marca, mas o vampiro apenas a puxou com força, olhando desgostoso para aquilo.
Taehyung viu quando seu pai se aproximou, sua cabeça virando para o lado pelo tapa que recebeu. Engoliu toda a raiva que sentia, ficando parado.
- Seu idiota! Era para trazê-lo livre de machucados e mordidas!
- Já fazia dias que eu não comia nada, estava com fome.
Quando seu pai levantou a mão de novo, Taehyung segurou seu pulso com força.
- Não me provoque, garoto.
Taehyung deu de ombros, soltando a mão do mais velho, afastando-se dois passos.
- Querida, a primeira mordida é sua. - O pai de Taehyung falou, e a Kim rapidamente se aproximou, ficando em sua frente. Então seria ela, Jeongguk percebeu.
- Eu mal consigo acreditar que finalmente poderemos saciar esse desejo! - sua voz parecia até mesmo difícil de sair pela saliva acumulada.
- Vá em frente e aproveite - Taehyung provocou.
- Cale a boca, Taehyung! - e antes que alguém dissesse algo, Jeongguk sentiu os dentes cravados em sua pele. Fechou os ossos com força, pegando as flechas da cintura, e com toda a intensidade que conseguiu, afundou-as na barriga da Kim.
Primeiro ouve um grito agudo, e logo depois ela se afastou bruscamente de si.
Quando o Kim notou a atrocidade, seus olhos dobraram de tamanho.
- Seu humano miserável, o que você-
E antes que pudesse completar sua frase, Taehyung tinha feito o mesmo com ele.
- Ta-Taehyung, seu... - ele tentou, caindo de joelhos, ao lado da Kim.
- Não se preocupe, pai. Talvez você encontre seus filhos pelo caminho.
Segundos depois, cinzas encheram o chão ao som de lamentos. As flechas sendo o único barulho contra o chão depois que tinha acabado.
Jeongguk tocou os dedos na ferida do pescoço, tentando estancar o sangue. Olhou para Taehyung, vendo que ele também o olhava. A distância diminuiu entre eles, e o vampiro retirou a mão de Jeon que cobria o pescoço, segurando-a pelo pulso enquanto a baixava.
- Você fez bem, Jeongguk. - Taehyung disse baixo, quase um sussurro próximo ao seu ouvido. Jeongguk sentiu os pêlos arrepiados, e ele não entendeu qual foi a razão de ter virado um pouco para o lado para dar espaço a Taehyung. Ele deveria ser maluco.
Taehyung riu soprado, e antes que Jeongguk pudesse perceber a permissão que havia dado, os dentes do vampiro estavam em sua pele.
Fechou os olhos, o ar preso sendo libertado. A sensação parecia mais forte, e foi impossível conter os suspiros de deleite. Seu corpo parecia estar virando gelatina, e ele intimamente agradeceu quando Taehyung colocou uma das mãos em sua cintura, firmando-o.
A tontura estava lá agora quando Jeongguk abriu os olhos, e sinceramente, era demais para ele.
- Você... V-Você disse... que não me mataria. - tentou dizer, a fraqueza ocupando todos os seus poros. Como um despertar, Taehyung se afastou, mas sem soltar o humano.
- Eu ainda estava com fome - ele respondeu baixo, quase como um pedido de desculpas. Jeongguk assentiu, sem forças para dizer algo.
- Vou deixar você descansar no quarto enquanto resolvo as coisas por aqui. Depois disso, você pode voltar.
Jeongguk só concordou, mas ele não entendeu nada. Tudo que ainda conseguiu perceber foi um percurso borrado, a maciez de uma cama e o calor de um cobertor.
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