Capítulo 5: Você já amou alguém?
O som da música clássica soava no enorme salão alegrando os ouvidos do vampiro. Minho estava vestido com uma roupa elegante naquele baile. Vestia uma blusa preta transparente, tendo um corset vermelho vinho, sua calça vitoriana também preta e os sapatos sociais com decorados com spikes, além de que um casaco elegante de gola alta completava suas vestimentas.
Em seus dedos haviam alguns anéis de prata puro, sendo que em um deles uma enorme joia vermelha refletia indicando o seu compromisso, era um anel de noivado. No pescoço por baixo da gola alta do casaco alguns colares com pingentes de cruz invertida decoravam seu peito, todos os acessórios pareciam brilhar e embelezar ainda mais o vampiro se é que era possível.
Noivo. Ele estava noivo e nunca esteve mais feliz em toda a sua vida.
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Minho piscou atordoado com todas aquelas lembranças que tomaram sua cabeça tão de repente, afastando o corpo do lago quando os primeiros raios solares atingiram a água e refletiram sobre ela.
Com rapidez tomou sua forma de morcego voando para onde o acastanhado estava, vendo-o dormir pesadamente.
Jisung estava em sua forma animal já que quando resolveu dormir era madrugada e o tempo havia esfriado mais do que o previsto, seus pelos o protegia daquele frio e por isso optou em dormir como um grande lobo cinzento.
O morcego o encarou por alguns segundos, deitando próximo do pescoço peludo sentindo a textura macia do pelo em contato com sua pele um pouco áspera. Fechou os olhos e tentou dormir, mas como estava muito próximo a boca do lobo e ele não parava de roncar o Lee acabou voando para próximo das patas enormes.
Usou uma das patas do lobo como cobertor e finalmente fechou os olhos, ignorando os roncos baixos do outro enquanto pensava apenas no quão quentinho e seguro era os braços do Han, independentemente da forma que ele estava.
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Minho acordou atordoado ao sentir o corpo molhado, ouvindo um sacudir brusco enquanto mais água o atingia. Sentou no chão encarando o lobo que estava em pé, vendo-o se balançar mais uma vez com a tentativa de se secar.
Acabou mudando para sua forma humana ao perceber que o tempo estava fechado e um temporal caía do céu, sorrindo minimamente. Ele gostava de dias chuvosos porque eram melancólicos e a melancolia era um sentimento lindo aos seus olhos.
Totalmente diferente do lobo que estava visivelmente irritado, tentando se secar sem ter êxito.
— Precisamos sair dessa chuva. — Jisung comentou depois de um tempo, olhando ao redor como se procurasse um abrigo.
Apesar de gostar da chuva ele entendia que os lobos odiavam se molhar, então acabou concordando com o acastanhado. Jisung correu um pouco rápido, sendo seguido pelo vampiro que tentava entender para onde ele estava indo sendo que o caminho que iriam tomar era o oposto.
Refazendo o caminho que haviam feito o lobo adentrou uma caverna, voltando a sua forma humana quando estava seguro das gotas de água que caiam do céu.
— Eu vi isso quando passamos por aqui. — Se justificou, vestindo as roupas um pouco apressado.
Minho apenas concordou e então se sentou na entrada da caverna, observando em silêncio a chuva enquanto sua mente vagava novamente para aquele dia. Quase trezentos anos havia passado, mas ele não conseguia esquecer o dia em que perdeu seu grande amor.
Vendo o silêncio do Lee e a expressão melancólica presa ao rosto do vampiro o lobo se aproximou, sentando ao lado do moreno que sequer o olhou.
— Você está bem? — Acabou perguntando depois de um tempo em silêncio, atraindo a atenção do vampiro.
— Eu já estive bem, Jisung. — Murmurou, apoiando o queixo nos joelhos que estavam unidos.
O lobo o olhou curioso, conseguia ver a dor transmitida no olhar perdido do Lee e aquilo o deixou triste. Tocou carinhosamente as costas do moreno, fazendo um carinho calmo enquanto sentia a textura molhada da camisa branca deslizar por seus dígitos.
— Quer desabafar? As vezes precisamos colocar para fora... — Comentou, apesar de estar incerto sobre aquilo.
— Você já amou alguém?
O olhar intenso do vampiro se prendeu no rosto corado do lobo, vendo-o desviar o olhar diversas vezes por se sentir intimidado, mas voltar a o olhar segundos depois.
— Até o momento não... — Jisung respondeu, envergonhado.
— Então não me entenderia. — O vampiro concluiu.
— Só porque nunca amei alguém até o momento não significa que não sei o que é o amor ou do que ele é capaz, Minho.
Um riso fraco soou dos lábios do vampiro, deixando o acastanhado confuso com aquela reação.
— Você me conhece, certo? Digo, acredito que já ouviu os boatos sobre mim e o motivo pelo qual fui preso. — Comentou, deitando no chão sem se importar em sujar as roupas.
— Sim... — O lobo respondeu e fez o mesmo, deitando ao lado do Lee sem se importar com a proximidade dos dois corpos. — Mas sinceramente nunca acreditei nesses boatos.
— Por que não? Acha fantasioso uma única pessoa ter dizimado uma grande quantidade de humanos? — Minho o olhou. O lobo não saberia dizer, mas havia algo diferente naquele olhar do vampiro. — Eu realmente matei todos eles sozinho e levei apenas uma noite para fazer isso.
— Você quase acabou com a espécie humana, isso é impossível.
Minho sorriu convencido, arrastando o corpo e ficando ainda mais perto do lobo que não se afastou. O vampiro abraçou o tronco escultural do acastanhado, enfiando o rosto na costela dele.
— E eu teria conseguido se as malditas fadas não me parassem. — Respondeu com a voz abafada. — Estava com raiva.
— Imagina se todos fizessem isso ao sentir raiva... — Jisung riu sem ânimo. — Se eu agisse assim todas as vezes que algo me irritasse provavelmente seria o único na terra. Não gosto de matar.
— Eu falei que você não me entenderia.
O lobo parou por um momento e então analisou a situação, juntando em sua cabeça os indícios que o vampiro havia lhe dado durante aquele diálogo conseguindo entender o que ele queria dizer.
— Então você fez isso por amor? — Questionou, surpreso. — Digo, matou todas aquelas pessoas por amor?!
— Sim. — Suspirou, relembrando vagamente seu maior pesadelo. — Era uma época difícil e os humanos temiam tanto os seres sobrenaturais que constantemente faziam ataques a nós, vivíamos escondidos... — Comentou, dedilhando distraído a barriga do lobo enquanto sentia os músculos dele contraírem com o toque. — Mas diferente de todos os outros ele era bom. Digo, um humano bom.
Jisung não conseguiu disfarçar a surpresa, virando o corpo para ficar de frente pro vampiro.
— A curiosidade dele o levou até mim e nós ficamos próximos muito rápido, era como se fôssemos almas gêmeas. — Um sorriso amoroso tomou os lábios do vampiro, surpreendendo o Han. — Eu sentia que algo estava sempre me puxando para ele já que no início eu o repeli com medo do que poderia acontecer, era como se nossa conexão fosse tão forte que absolutamente nada era capaz de nos separar, sabe?
— Então ele o traiu?
— Não! Claro que não! — Minho riu com aquela suposição. — Ele nunca me trairia, estávamos noivos.
Jisung concordou, conseguindo captar o sorriso de antes desaparecer do rosto alheio e a expressão dele endurecer de repente.
— Anunciamos o nosso noivado com um baile, haviam diversos convidados de todas as raças possíveis, inclusive alguns humanos...
— Mas os humanos não nos odiavam na época? — Jisung questionou confuso.
— Sim, mas ninguém sabia que ele se casaria com um vampiro já que nossa relação era um segredo e ele decidiu que revelaria aquilo para a família e amigos próximos. — Explicou calmamente, suspirando depois.
— Oh...
— Permitir isso foi o meu erro. Quando os humanos descobriram a verdade tentaram impedir nossa união e foi o maior inferno, ele até fugiu para morar comigo porque seus pais queriam o mandar para longe. — A lembrança dolorosa o atingiu, fechando levemente a mão sobre o peito do lobo. — Um grupo enorme de humanos quebraram as janelas do meu castelo e o invadiram armados com lanças, espadas, adagas... Eles queriam me matar por estar "prendendo" meu noivo.
O silêncio predominou a caverna por um tempo e apenas o barulho da chuva podia ser ouvido, Jisung acolheu a mão do Lee entre a sua e a apertou levemente.
— Para me defender e também proteger ele eu lutei com alguns daqueles homens e os matei, mas em um momento de distração não vi que um deles me atacaria pelas costas e para me proteger ele simplesmente preferiu ser atingido... — A voz transmitia toda a dor do luto que ele ainda parecia viver. — Obviamente foi fatal, falhei em proteger ele e o salvar.
— Por que não o transformou? — O lobo questionou, estava inconformado com aquilo.
— Ele nunca quis ser um vampiro, aceitei viver com ele sabendo que um dia iria o perder para a velhice. — Sorriu triste. — Seria egoísmo o transformar em algo que ele nunca quis ser, certo?
— Certo.
Jisung respondeu totalmente surpreso, achou muito bonito aquela demonstração de amor do vampiro. Apesar da perda e do poder que tinha em trazer seu amor à vida ele preferiu respeitar a decisão do amado em ser humano, vivendo com o peso de sua trágica morte.
— Quando eu o peguei em meus braços e vi que havia o perdido para sempre perdi totalmente minha sanidade, minha consciência desligou e em um piscar de olhos virei uma máquina de matar. — Minho relembrou, conseguindo sentir o gosto de sangue em sua boca apesar de não ter muitas lembranças do seu surto naquela época, realmente havia desligado. — Eu sabia que tirar a vida deles não traria ele de volta, mas queria acabar com aquela raça inferior.
— Eu acho que se estivesse em seu lugar faria o mesmo, não sei... — O lobo falou incerto. — É compreensível, sabe?
— Mas para os outros eu virei uma ameaça viva e só não me mataram porque não podiam. — Riu forçado. — Por isso fui preso durante todo esse tempo e consequentemente virei o vilão da minha própria história, mas realmente não ligo para o que pensam de mim.
Jisung se manteve em silêncio sem saber o que falar ao outro, sabia que ele não queria e nem precisava ser consolado.
— Acho que por isso me sinto tão conectado a você. — O vampiro admitiu baixo, olhando nos olhos do Han. — Você me lembra ele.
— Eu não sei nem o que dizer.
Jisung riu nervoso e então se afastou, sentando enquanto apertava a própria nuca totalmente nervoso. O vampiro observou e logo depois fez o mesmo, confuso com aquele comportamento.
— Eu disse algo inapropriado? — Era nítido a preocupação em sua voz.
— Não... Eu só... — O lobo murmurou, desviando o olhar. — Eu não sou ele e é meio decepcionante ouvir isso tão abertamente.
Ainda confuso o Lee continuou encarando o outro, esperando que ele se explicasse melhor, obtendo apenas o silêncio incômodo como resposta.
— Eu não entendi onde você quer chegar.
— A sua atração por mim é porque de alguma forma o lembro o seu noivo e não porque sou quem sou. — Sorriu triste. — Isso é decepcionante.
O vampiro não teve nem tempo de negar, ficou estático sem saber o que responder vendo o lobo se afastar devagar para o fundo da caverna.
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