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Capítulo 4: Perigoso

O silêncio ensurdecedor seguia os dois rapazes que caminhavam na escuridão da floresta. Jisung encarava o vampiro que estava um pouco mais a frente,  vendo-o devorar o último coração que carregava.

A cada mordida que o vampiro dava no órgão o acastanhado fazia uma careta achando extremamente nojento,  como ele conseguia comer aquilo sem fazer cara feia ou enguiar? 

E o pior é que ele não sentia remorso algum do que havia feito sendo que a única coisa que passava na cabeça do lobo era justamente a maneira que o Lee matou os outros três.

— Vai continuar me olhando assim ou vai falar logo o que quer? — Minho bufou, sentindo as costas queimarem levemente com o olhar atento.

— Por que matou eles? — Perguntou em um fio de voz.

De repente o vampiro parou de andar e então se virou para o menor, dando alguns passos e parando na frente dele.

— Porque tive vontade.  — Respondeu simples. — É o que eu faço,  lobinho. 

O Han encarou os olhos vermelhos que lhe fitavam com atenção,  desviando o olhar ao se sentir intimidado e um arrepio estranho subir por sua espinha.

Talvez por causa do momento de calmaria que passou ao lado do vampiro havia esquecido completamente quem ele era, acabou julgando até mesmo as outras pessoas como erradas por causa dos boatos que contavam sobre o Lee, mas aparentemente tudo era verdade e ele quem havia se equivocado.

Sentiu a mão gelada tocar seu rosto e o virar devagar forçando-o a encarar o Lee, juntando levemente as sobrancelhas um pouco confuso com o contato.

— Por que esse olhar? Está com medo de mim? — Questionou, rindo fraco.

— N-Não é isso...

Jisung prendeu a respiração quando o Lee aproximou ainda mais seus corpos,  desviando o rosto para o pescoço do acastanhado que evitava se mexer por puro receio.

Os olhos do vampiro se fixaram no pescoço bonito e convidativo do lobo, nas veias que se sobressaltaram levemente devido o nervosismo do outro sentindo seus sentidos um tanto que confusos com o cheiro do Han. Ele não era fedido como os outros lobos que conheceu, tinha um cheiro de amêndoas que o agradava.

— Você não precisa ter medo, jamais mataria você. — Comentou baixo, ousando passar a ponta da língua na pele do pescoço do outro antes de se afastar e o olhar.  — Brinco por mais tempo com presas gostosas.

O mesmo sorriso petulante estava nos lábios do Lee, irritando levemente o lobo. Jisung se afastou envergonhado e então passou a mão no local lambido com certa pressa para limpa-lo, ouvindo o riso baixo do vampiro.

— Eu pouco me importo para o que você pensa, mas quero que fique longe de mim e pare com essas brincadeiras.  — Falou, reprimindo o nervosismo que tentava o fazer entrar em pânico.

Minho o encarou com as sobrancelhas arqueadas e novamente se aproximou,  vendo o lobo se afastar com passos arrastados até ficar encurralado por ele e uma árvore.

— Você diz isso, mas sempre fica com os batimentos acelerados ou cora. — O Lee retrucou convencido. — Não se faça de difícil. 

— Não me faço de difícil,  realmente não tenho interesse algum em você ou nessa brincadeira.  — O lobo respondeu e empinou o nariz.

— Certo. 

Jisung virou o rosto e o encarou surpreso, vendo-o se afastar e voltar a prestar atenção no caminho a frente deles. Não imaginou que o vampiro reagiria assim, pensou que ele iria insistir um pouco mais e talvez aquela reação do Lee tivesse o desapontado.

Após pigarrear envergonhado ele se aproximou de onde o Lee estava, apontando para o caminho que tomariam antes de voltarem a andar lado a lado em silêncio. 

■■

Novamente pararam para que o lobo comesse e descansasse um pouco,  Jisung  estava com as costas apoiadas em uma pedra enquanto observava o vampiro próximo ao lago cristalino totalmente distraído.

Os olhos vermelhos estavam atentos aos vaga-lumes  que pareciam dançar em sincronia em cima da água, refletindo o brilho que parecia encantar o Lee visto a atenção exagerada dele. Minho moveu a mão devagar, brincando com os insetos minúsculos ao mover os dedos.

Observando aquilo Jisung suspirou, mordendo levemente o lábio inferior.  Havia chegado a conclusão que não sabia o que pensar sobre aquele ser.

Ao mesmo tempo que o vampiro parecia ser um homem mau capaz de cometer atrocidades e até mesmo o machucar – mesmo dizendo que jamais faria isso – ele parecia tão inofensivo, naquele momento aos olhos do lobo parecia até mesmo inocente.

Estava ciente que para o Lee aquelas provocações e insinuações não passavam de brincadeiras, mas não sabia se ele mesmo levava tudo de maneira esportiva ou não. Porra, ele não era cego e todos os seus instintos pareciam se aguçar quando estava muito próximo do Lee.

Ele não sabia o porquê,  mas não conseguia o ver como um homem ruim ou o odiar como os outros. Na verdade,  antes mesmo de o conhecer pessoalmente não nutria nenhum sentimento ruim referente ao vampiro.

Sabia que historicamente as duas raças eram rivais e se odiavam, entretanto nunca se sentiu tão atraído por um lobo como se sentia por aquele vampiro esquisito. O rosto mórbido e aquele sorriso petulante que estava sempre pintado nos lábios desenháveis do Lee estranhamente o atraía. 

— Podemos continuar? — A voz desinteressada soou atraindo a atenção do acastanhado que viajava em pensamentos.

Rapidamente o Han olhou o moreno notando que agora ele estava próximo de si, mas não o bastante como ele gostaria.

— Estamos perto e falta poucas horas para amanhecer,  acho melhor levantar acampamento aqui.

— Discordo.  Vamos acabar logo com isso para voltarmos, tenho coisas a fazer. — O Lee retrucou, fazendo o lobo arquear as sobrancelhas. 

— Por que ficou tão disposto do nada? Quer se livrar de mim logo?

A voz do lobo soou brincalhona e ele riu ao falar aquilo, sorrindo sem graça ao ver o olhar do vampiro se prender ao seu rosto.

— Exatamente. 

Jisung abaixou o olhar sentindo um incômodo estranho o atingir, tentando disfarçar que aquela resposta havia o atingido mais do que ele gostaria.

— Por quê? — Perguntou incerto.

O vampiro deu de ombros sem saber o que falar, arrependendo-se amargamente do que estava fazendo.  Ele havia decidido repelir o lobo visto que mais cedo ele havia o repreendido sobre suas ações,  tentava apenas fazer o que Jisung lhe pediu, mas ele parecia reagir cada vez pior.

Apesar do receio no que aquilo poderia acabar, excitava o Lee imaginar que no meio de todo aquele caos poderia acontecer um envolvimento carnal entre eles. O lobo cheirava bem, era bonito e tinha uma personalidade agradável. Ele parecia ser bom e talvez toda aquela bondade que exalava dele estivesse atraindo o vampiro, visto que eram opostos naquele aspecto. 

Não que Minho não fosse bom, ele apenas era ele e por ser ele automaticamente era alguém mau. Afinal, a bondade e a maldade eram a mesma coisa e tudo dependia da maneira que era interpretada.

— Olha... Eu não sei como dizer.  — Jisung começou, nervoso. — Mas você é estranho.

— Eu sei.

— Isso não é algo negativo, sabe? — Levantou o olhar e encarou o vampiro. — Acho que é isso que me puxa cada vez mais para você e me fazer ter curiosidade sobre tudo que o envolve,  mas... Sei lá.

— Eu também sinto que estou sendo puxado para você e algo em você me cativa mais do que deveria. — Minho admitiu,  suspirando. — Isso é perigoso e eu sei que é perigoso,  mas não consigo evitar.

Jisung se manteve em silêncio,  abaixando o olhar enquanto pensava sobre tudo o que estava acontecendo naquelas últimas horas. Sabia que o vampiro iria achar uma grande loucura,  mas sentia que o conhecia há anos e aquilo era estranho.

— Por que é perigoso? — O questionamento curioso soou, fazendo o Lee se afastar quase que automaticamente. 

— Apenas descanse.

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