Os olhos do lobo estavam fechados enquanto ele cochilava profundamente com as costas encostadas no tronco de uma árvore, diferente dos companheiros que estavam acordados conversando entre cochichos próximo de onde haviam feito a fogueira.

Minho por outro lado estava pendurado na árvore em sua forma de morcego os observando em silêncio. Havia ficado muito tempo trancafiado que não sabia mais interagir socialmente, mas ainda conseguia distinguir pessoas babacas e naquele momento estava cercado por um grupo. Todos eles eram grandes imbecis, salvando apenas - ironicamente ou não - o lobo que parecia ser imparcial.

Ouviu uma agitação no mato alto próximo de onde estavam, conseguindo ver a criatura monstruosa aparecer em um pulo na frente de onde os outros três rapazes estavam reunidos. O vampiro cruzou os braços mantendo os olhos atentos naquela movimentação sobre-humana, encarando os olhos amarelos e o rosto desconfigurado.

Os três que estavam sentados se assustaram ao ver o inimigo parado os observando, totalmente amedrontados. Dando passos curtos recuaram devagar, notando que aquele ser parecia curioso sobre eles e não os atacariam se eles não fizessem movimentos bruscos.

Entretanto, outro ser da mesma espécie surgiu desesperado ainda mais o pequeno grupo. Por se sentir cercado e tomado pelo desespero os três saíram correndo enquanto gritavam, fazendo com que o vampiro rolasse os olhos um tanto que desapontado com aquele comportamento.

Por causa dos gritos e das movimentações bruscas os seres sobre-humanos se agitaram começando a atacar enquanto os seguiam, fazendo Jisung acordar assustado devido o barulho. O lobo sentiu o corpo petrificar e os batimentos cardíacos aumentarem ao ver o monstro em sua frente, sem conseguir ter uma reação por causa do pânico que crescia dentro de seu peito.

Antes que os seres monstruosos o notassem o vampiro puxou o lobo para cima do tronco da árvore, ficando atrás dele enquanto mantinha a mão na frente dos lábios do acastanhado para evitar que ele gritasse. Ficaram imóveis ouvindo os rugidos irritados dos monstros enquanto os pés grandes batiam tão forte no solo que balançava o chão, procurando pelos outros três completamente irritados.

Ficaram alguns minutos daquele jeito até que os dois monstros se afastaram tomando um caminho diferente, fazendo com que o Lee soltasse aos poucos o menor quando se certificou de que agora estavam sozinhos.

Jisung limpou a boca desesperado e então respirou fundo, fechando os olhos e suspirando aliviado quando percebeu que naquele momento já estava seguro. Desceu da árvore e então voltou os olhos para o vampiro, vendo-o fazer o mesmo.

Quando Minho parou em sua frente os olhos escuros do lobo o fitaram com atenção pela primeira vez, avaliando cada detalhe do Lee. Os cabelos curtos e pretos destacavam o rosto pálido e mórbido, de olhos escuros e um pouco caídos, com os lábios carnudos e totalmente desenháveis ressaltando uma singela pinta próximo ao canto de sua boca. O olhar do lobo caiu para as roupas que o outro usava, notando só então que era uma blusa de mangas compridas branca com um detalhe de renda no colarinho, havia um corset preto enlaçado na cintura modelada que escondia os botões da calça vitoriana que ele usava, sem contar nos sapatos fechado de couro que pareciam brilhar de tão limpos.

— Vai perder mais tempo me olhando ou pretende ir? Não é um lugar seguro.

— Nenhum lugar é seguro. — Jisung retrucou e então encostou o ombro na árvore, cruzando os braços enquanto encarava o outro. — Iremos quando os outros voltarem.

Minho gargalhou alto, negando com a cabeça. O som do riso foi tão genuíno que ele parecia ter o guardado há séculos, deixando a mostra as presas afiadas quando o fez.

— Você é idiota? — O som áspero da voz demonstrava que havia sido uma pergunta retórica. Jisung arqueou as sobrancelhas ao vê-lo se aproximar. — Eles estavam falando mal de você antes daqueles caras aparecerem, sem contar que fugiram e nos deixaram para trás como se fossemos sacrifícios.

— Eu sei muito bem o que eles falam de mim quando não estou prestando atenção, mas ainda assim somos um grupo e precisamos continuar unidos. — O acastanhado respondeu e então avançou na direção do Lee, batendo de frente com ele.

— Não pensaram em nosso grupo, eles não confiam em nós e nos deixaram para morrer. — Minho falou com as sobrancelhas finas unidas, insistindo no assunto.

— Você já está morto, sanguessuga.

— E você também estaria se eu não te salvasse. — Retrucou, sorrindo convencido. — A diferença é que você não continuaria consciente se seu coração parasse, diferente de mim.

Jisung rosnou baixo e então o viu rir antes de se afastar, esticando os braços enquanto parecia fazer um aquecimento.

— Você quer os encontrar então? — Virou a cabeça para encarar o lobo com um sorriso estranho no rosto.

— Sim.

— E esse seu nariz empinado consegue farejar ainda? — Provocou, rindo ao ouvir o rosnado do lobo. — Tente me acompanhar.

Quando terminou de falar o vampiro sumiu em um piscar de olhos, levantando um pouco de poeira e a deixando para trás. Jisung se apressou e também começou a correr, conseguindo enxergar o cabelo preto do Lee balançar enquanto ele parecia cortar o vento devido a velocidade que corria.

Assumiu a forma de lobo ao tomar um impulso e pular por cima do Lee, cravando as patas grandes no chão e o deixando para trás assumindo a liderança. Os olhos amarelos brilharam, sentindo o ego alto ao ter ultrapassado o vampiro.

Jisung fechou levemente a pata sentindo com fervor o solo, sendo embriagado pela sensação de liberdade enquanto sentia a adrenalina subir por suas veias o dando impulso para ir ainda mais rápido. As árvores pareciam apenas riscos que o cercavam, o vento balançava seu pelo e levava para longe os pensamentos ruins que costumavam rondar sua cabeça ultimamente.

O lobo estava tão perdido em todas aquelas sensações que acabou se assustando quando sentiu a falta do solo, batendo levemente as patas grande no ar antes de mover os globos oculares para cima e conseguir enxergar as asas enormes que batiam em cima de si. Talvez por estar se debatendo ou por pura maldade o vampiro o largou, sorrindo diabólico ao ver o lobo cair.

Mas antes mesmo de chegar ao chão Jisung conseguiu morder a perna do enorme morcego, puxando-o para a queda também. Os dois corpos rolaram no solo um por cima do outro por alguns metros, antes de pararem por se chocarem em um pedregulho que tinha no meio do caminho.

Jisung caiu em cima do morcego, apertando a pata enorme no pescoço pequeno enquanto o via bater as assas inquieto debaixo de si. O viu voltar a forma humana, mas permaneceu o sufocando levemente.

— Se quer me machucar mesmo tem que afundar essas garrinhas mais fundo. — O tom de voz soou baixo enquanto os olhos estavam fixos aos do lobo.

O rosnado baixo preencheu os ouvidos do Lee e a pressão em seu pescoço aumentou, sentiu as pontas afiadas das unhas perfurarem levemente sua pele fazendo-o rir baixo e passar a ponta da língua nos lábios cheinhos.

Jisung acompanhou com os olhos o movimento sem perceber, sentindo a mão gelada se afundar na maciez do seu pelo.

— Seus olhos são lindos. — Minho sussurrou quase encantado.

O lobo se afastou de maneira brusca trazendo o moreno de volta a realidade, sentando no chão quando se viu livre. Um tanto que envergonhado o Lee encarou o outro, vendo-o voltar para a forma humana se forçando a desviar o olhar ao perceber que ele estava nu.

Com cautela o menor alcançou a bolsa que carregava, tirando roupas de dentro dela e a vestindo com certa pressa. Jisung percebeu que o outro estava o espiando pelo canto dos olhos, mas depois daquilo preferiu não falar nada e tornar as coisas ainda mais estranhas.

— Vamos andar antes que o sol nos alcance, ele está nascendo. — Comentou, colocando a mochila nas costas.

Minho suspendeu a cabeça conseguindo enxergar os primeiros raios solares, sentindo os olhos doerem devido a claridade. Levantou do chão e então se transformou em morcego, batendo as asas na frente do menor que o encarava.

— O que? — Jisung questionou confuso.

— A claridade me incomoda mesmo nessa forma, poderia me acolher?

O lobo riu incrédulo e depois de suspirar concordou. Iria remover a mochila das costas, mas se assustou ao sentir o pequeno morcego se enfiar dentro de sua camisa e grudar as patas um pouco ásperas em sua barriga.

As bochechas de Jisung coraram quando se deu conta do que o vampiro havia feito, sentindo a cabeça dele se esfregar levemente em sua pele fazendo com que um arrepio subisse por seus braços. Rapidamente o puxou pelo pé o tirando de dentro de sua camisa, vendo as asas baterem com força enquanto ele resmungava.

— Sem contato íntimo, sanguessuga. — Tentou falar firme, mas a voz estava um pouco trêmula.

— Lá estava quentinho~ Me tira daqui cachorro maldito! — O morcego se debatia enquanto falava alto, tentando fugir de dentro da mochila sem conseguir visto que o lobo havia fechado o zíper.

"Desgraçado!" Era o que Minho pensava, se sentindo preso em uma gaiola.

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