Um plano
Os fracos raios solares da manhã invadiram o enorme quarto da mansão. Eren acordou ainda meio sonolento um tanto incomodado com a forte luz em seu rosto. Levou a mão aos olhos para impedir aquela claridade e se sentou de supetão. Colocou a mão na cabeça como se isso fosse impedir a leve dor de cabeça pelo movimento repentino. Percebeu que a mão que segurava sua testa estava enfaixada, colocou a ponta dos dedos no rosto sentindo outros curativos.
Era surreal aquilo... Ele realmente havia sido resgatado? Não conseguia se lembrar muito bem. Hanji!...
Levantou-se apressado e ignorou a suave camisa que vestia, era algo largo e grande para si, bem diferente dos trapos que estava usando anteriormente. Estranhou o fato de estar limpo, mas não se atentou muito a este fato! Precisava saber onde estava Hanji. E se eles houvessem sido levados por outras pessoas que lhe iriam fazer mal? Malditas memórias desconexas que não lhe permitiam lembrar o que havia acontecido! Onde estava Hanji!
Virou um corredor e encontrou um homem alto e forte os cabelos loiros estavam suados como se houvesse acabado uma série de exercícios.
— HANJI! Onde ela está? - gritou para o homem e ofegava no corredor. Seu corpo havia descansado porém ele ainda estava muito magro e fraco, porém não desistiria de encontrar Hanji.
— O que você está fazendo em pé? Eu não sou obrigado a lhe falar nada! - assustou-se em um primeiro momento por ver o rapaz em pé e imediatamente respondeu sem cerimônia a audácia do outro, achando que podia chegar e lhe exigir coisas.
— O que vocês fizeram com ela? - a indagação veio seguida de ventos fortes, as janelas começaram a abrir e fechar e o canto do vento ecoou por entre os corredores.
— Moleque insolente! Para com isso!
— Diga-me onde ela está! - exigiu se aproximando e erguendo uma das mãos dançando com os dedos no ar e o homem viu que ele estava controlando o ar com o movimento circular dos dedos.
O loiro viu que agora a ventania se concentrava ao redor dele e cada vez que o vortex diminuía, era mais difícil para si respirar.
__--__
O café da manhã foi servido em abundância para comemorar o resgate de Hanji. Ela estava feliz comendo ao lado de seus amigos. Nunca imaginou que passaria por um sequestro e por mais que ela confiasse que Levi a encontraria, alguns dias eram mais difíceis do que outros e ela chegou a achar que morreria naquele lugar úmido e escuro junto de seu amigo Eren.
— É realmente muito bom ver vocês de novo! Erwin, Levi, Armin, Jean... Nunca achei que sentiria a falta de vocês como eu senti lá naquele lugar!
— Seja bem-vinda Hanji, espero que Eren possa se juntar a nós em breve. Armin disse que o estado dele é mais delicado do que parece, mas devido a grande força dele, ele não demorará a se recuperar – Erwin disse sorrindo para a amiga e tentou tranquilizar ela sobre o estado de Eren.
— Vocês estão ouvindo isso? - Armim chamou a atenção da mesa para o barulho que era ouvido.
— EREN! - Hanji se desesperou ao ouvir a voz do amigo e correu para ver o que estava acontecendo.
Levi correu mais rápido e passou por todos. Quando chegou no corredor da luta ficou preocupado. Eren claramente não se lembrava que havia sido resgatado e que ele e Hanji estavam bem. Sabia que deviam ter vigiado o rapaz para quando ele acordasse não se desesperasse. Hanji havia comentado do horror que eles passaram lá juntos, não culparia o jovem por tal atitude, mas também não lhe permitiria continuar mais.
Levi se colocou na frente de Eren e o moreno hesitou em sua magia desfazendo o vortex em volta do homem porém a ventania forte e constante ainda estava ali.
— Levi? - Testou Eren ao reconhecer o homem. Depois da descrição de Hanji, não era algo difícil, não era qualquer vampiro baixinho de olhos prateados que você via por aí – Onde está Hanji?
— Sim, Eren! Sou eu... - Tentou paciente e caminhando para se aproximar de Eren – Ela está vindo.
— Não se aproxime! Como eu posso saber se você é mesmo o Levi? Onde está Hanji? - questionou novamente olhando para os lados e levando a mão à cabeça sentindo uma pontada de dor e um pouco de vertigem e viu um flash de Hanji andando ao seu lado enquanto ele era carregado por um homem.
— Sei que você sabe quem eu sou porque Hanji falou de mim para você, então me pergunte sobre qualquer coisa que ela tenha lhe dito e assim eu poderei confirmar para você que eu sou eu...
Levi ofereceu com seu rosto impassível e tentando se aproximar de Eren. No mesmo instante foi impedido por um corte do ar em aviso. Ele apenas esperou entendendo que não adiantaria avançar, ele sentiu um movimento em sua lateral e olhou de soslaio.
— Nem pense em fazer isso, Reiner! Fique onde está se não quiser ser morto! - Levi avisou e ouviu a respiração frustrada de Reiner atrás dele.
— Muito bem! Eu aceito! Primeira pergunta – Eren o encarou enquanto ainda mexia as pontas dos dedos controlando a forte ventania que nem mesmo fazia Levi demonstrar qualquer tipo de desconforto – você e Hanji são grandes amigos, correto?
— Sim, eu ela e Erwin somos amigos desde a infância – ele admitiu sem vacilarapenas olhando para os grandes olhos verdes de Eren.
O moreno queria acreditar, queria que fosse mesmo verdade, no fundo ele achava que podia acreditar naquele homem, mas, por outro lado, foi sua inocência que o fez ser capturado a priori.
— Então como são amigos, quantas vezes você disse que a ama? - Eren sorriu com sua pergunta e por precaução aumentou a ventania em volta pronto para atacar quando o homem errasse a resposta.
— Eu nunca disse para a quatro-olhos que eu a amava, se ela disse alguma vez que eu pronunciei essas palavras, ela mentiu para você – Levi disse frio para o rapaz e sentiu a ventania acabar enquanto viu Eren cair sobre os próprios joelhos.
Uma criatura tão fragilizada e quebrada. Levi sentiu-se incomodado por ver como o verme do Zackly conseguiu quebrar tanto alguém. Eren não merecia isso. Ele parecia ser alguém forte e corajoso. Veja a confusão que ele arrumou, tudo por achar que Hanji podia estar em perigo e mesmo ainda a beira da morte ele reunia forças para tentar proteger Hanji.
— É mesmo você – Eren riu antes de começar a chorar.
Levi se abaixou e olhou para Eren nos profundos olhos verdes e assim que viu os olhos verdes tão de perto, sentiu uma pontada em seu peito.
Estendeu a mão para Eren que aceitou e se apoiou em seus joelhos para se levantar ficando de pé com a ajuda do vampiro.
— Eren! O que houve aqui? Você está bem? Se machucou? - Hanji perguntou enquanto tentava recuperar o fôlego.
Eren pediu desculpas a ela e explicou o mal entendido. O rapaz também pediu desculpas a Reiner que apenas acenou em descaso dizendo que não precisava se preocupar com nada.
Erwin chegou e pediu que Eren voltasse ao quarto para descansar. O mesmo disse que estava com fome e perguntou se poderia comer e beber algo.
Hanji ajudou o amigo andar e o levou até a grande mesa de café da manhã. A mulher ria divertida contando algumas coisas para o amigo já que ele havia dormido por dois dias seguidos. Eren ria com a energia da mulher que não parava de falar. Era surreal para si finalmente estar livre depois de um ano.
— Então Eren, eu sei que você está cansado e espero que consiga descansar e recuperar suas forças, saiba que você pode ficar conosco o tempo que quiser ou precisar. Mas seria muito importante para nós se nos contasse um pouco sobre o porque deles terem prendido você. Hanji não quis dizer muita coisa sobre isso. Algo como você precisar falar sobre isso e não ela.
Eren agradeceu a descrição da amiga e começou a falar.
— Bem, primeiro agradeço pelo resgate e segundo... Eu... Bom, não tem muito o que enrolar sobre isso... Zackly usou meu irmão para me enganar e me capturar. Como vocês devem ter percebido, eu sou um bruxo e eu achava que estava sozinho no mundo até receber uma carta pedindo ajuda. Era o meu irmão mais velho Zeke. Haviam muitos anos que não nos falávamos então é claro que eu fui ajudar ele. Só que chegando no local da carta, era tudo uma armadilha. Zeke trabalhava para Zackly e ele usou de seus poderes para me capturar e restringir meus poderes. Eu passei um ano preso sendo mantido praticamente como um morto vivo para não ter chances de escapar. Então Zackly achou de algum modo que eu seria útil para ele e ele usava de meu sangue para ficar mais forte. E...
— É o suficiente, Eren... Me desculpe por ter feito você reviver tudo isso. Por favor descanse em seu quarto. Minha casa é a sua casa. Como você deve ter percebido, temos vampiros, lobisomens, bruxos e faes aqui no castelo. Eu preso pelo respeito acima de tudo, então não se preocupe que todos irão lhe respeitar aqui.
Eren agradeceu e aceitou voltar para o seu quarto com Hanji.
Levi olhou para Eren saindo da sala e ficou sentindo aquela pontada estranha em seu peito sem entender o que estava acontecendo consigo mesmo. Nunca havia sentido isso por ninguém. Queria proteger Eren a todo custo, era estranho, como se existisse algum tipo de ligação entre eles.
__--__
Já haviam se passado alguns dias e Eren e Hanji estavam melhores. O moreno passou a maior parte de seus dias descansando em seu quarto, apenas saindo para as refeições. Não conseguia interagir muito com os demais. As únicas pessoas com as quais ele conversava era Hanji, Levi e as vezes Erwin. Chegou a se desculpar com Reiner e a tentar trocar algumas palavras com os demais, mas ele normalmente se acuava e preferia o conforto que conversar com Hanji trazia para sim.
Estavam tomando café e Eren estava esfregando os seus braços quase que nervosamente.
— Está tudo bem Eren? Você parece agitado hoje – Erwin questionou em determinado momento.
— O quê? Ah, sim... Não se preocupe, eu apenas não havia reparado que eu estava com tantas cicatrizes de agulhas em meus braços – confessou baixinho desviando o olhar por vergonha de ter sido pego em algo tão simplório.
— Você gostaria de algo para fazer elas sumirem, meu Eren lindo? - Hanji virou para o amigo com os olhos complacentes – O Levizinho ali poderia te ajudar! Sabe mesmo que ele seja um meio vampiro, o sangue dele serve como cura e... - Hanji se calou quando percebeu que sugeriu que Eren bebesse do sangue de Levi, justo ele que havia ficado um ano preso dando de seu sangue para outra pessoa.
Eren percebeu a aflição da amiga e tratou de consolar ela:
— Não se preocupe, Hanji, eu sei que o sangue de um vampiro pode curar. E não ache que compartilhar sangue seja traumático para mim. Claro, eu não gostaria de ter meu sangue tirado a força nunca mais de mim. Mas para mim é comum magia com sangue. E eu também tenho rituais sanguíneos como tradição entre minha raça. Eu não sou feito de porcelana...
— Eu... Me desculpe, não quis dizer isso! - tratou de se desculpar imediatamente.
— Oh, meu Deus! Tá tudo bem, desculpe, eu não quis parecer grosso com você...
— Vocês estão aí oferecendo o meu sangue, mas vocês sabem muito bem que o meu sangue não pode ser oferecido assim! Eu sou um vampiro, mas sou um mestiço...
— Putz! Verdade! Erenzinho! O Levi é metade vampiro e metade bruxo!
A revelação fez Eren arregalar os olhos para levi e depois bufar com um sorriso.
— É claro que é... - disse mais para si mesmo do que para outra pessoa – mas não se preocupe Levi, eu posso lidar com minhas cicatrizes – sorriu doce para Levi.
O coração de Levi falhou uma batida e ele quis dar seu sangue para aquele bruxo de lindos olhos verdes só para ter o prazer de ver a linda cor vermelha naqueles lábios voluptuosos.
— Tudo bem, tudo bem! Vamos ao que interessa! Precisamos falar do maior problema aqui. Hanji você disse que não teve outra alternativa a não ser criar uma máquina de destruição para Zackly mas que também acionou um ponto fraco para destruir a máquina.
— Exatamente, Erwin. Eu tentei enrolar o máximo possível na criação da máquina e garanti que ela precisasse de muito combustível para funcionar. Acredito que em um mês Zackly terá armazenado energia o suficiente na máquina.
— Não podemos esquecer também que nos últimos dias que estivemos presos, retiraram de mim mais sangue que o normal para armazenar em frascos. - Eren se arrepiou e se lembrou das surras que levou no último mês.
Hanji pegou a mão de Eren e tentou ignorar o aperto no peito que sentiu ao lembrar como o amigo voltava machucado.
— Precisamos deter esse lunático, eu sei que corremos o risco de entrar em guerra com os humanos, mas Zackly quer matar não só as criaturas mágicas como também os seres humanos. - Erwin comentou.
— Eu estou dentro! Eu vivi isolado por muitos anos porque eu não queria me envolver em guerras ou batalhas, mas eu não posso perdoar o meu irmão, muito menos Zackly.
Depois do café Eren resolveu andar pelo castelo, sentia um aperto no peito, tomado pela raiva e ressentimento. Queria se acalmar e resolveu passear pelos jardins. Em determinado momento viu Levi treinando sozinho debaixo de uma árvore. Ele dava golpes no ar rápidos e precisos. Eren notou que ele usava caneleiras e também pesos nos braços.
— Levi, não sabia que estava treinando aqui – comentou chegando perto do vampiro – achei que vampiros não podiam andar a luz do sol.
— Vantagens de ser metade bruxo – deu de ombros e parou um pouco para beber água enquanto parava para conversar com Eren. Ele estava sem camisa e não deixou de notar o olhar de Eren sobre o seu corpo. Sorriu internamente com a constatação e relaxou um pouco sua postura – você gostaria de treinar comigo? Você já está bem mais saudável do que quando chegou.
— Treinar? Seria um prazer... Eu ouvi muito sobre a sua força de Hanji, tanto que sinto que lhe conheço muito bem. - riu sentindo-se confiante.
— Você se acha muito para um pirralho – riu em escárnio – vamos lutar então...
— E o que eu ganho se eu vencer? - quis saber em um tom de desafio.
— Se você ganhar pode me pedir o que quiser, mas se eu ganhar, você me deve um jantar!
Eren sentiu as bochechas esquentarem, não imaginou que Levi gostaria de jantar com ele. Era até estranho porque ele se sentia muito bem perto do outro. Não conseguiu responder em palavras apenas acenou em concordância e parou em frente ao vampiro.
Levi se preparou retirando os pesos extras e usando de sua velocidade vampírica parou atrás de Eren e não perdeu o sorriso que o bruxo fez. Levi ignorou que o outro percebeu sua aproximação e precipitou um golpe que foi defendido com um campo de força.
Eren sorriu em escárnio para Levi que começou a levar a luta mais a sério.
Levi testava os movimentos e reações de Eren e este por sua vez também testava os ataques do vampiro. Pensando em fazer com que o bruxo contra atacasse, Levi investiu com mais veemência usando apenas suas unhas que eram pontudas como garras e acabou arrancando um pouco de sangue da bochecha de Eren.
— Eren, me desculpe eu achei que você desviaria desse ataque – Levi parou a luta se aproximando e assim que deu dois passos ele travou no lugar.
— Não se preocupe eu apenas calculei mal sua velocidade e... Levi? Você está bem? - perguntou se aproximando.
— Não se aproxime! Que estranho, eu não estou a tanto tempo sem beber sangue e mesmo assim o seu sangue, ele...
— O que tem o meu sangue Levi? - Eren indagou curioso e um tanto receoso.
O bruxo não queria acreditar que depois de tanto tempo ele... Não, não seria possível! Levi era um vampiro, era normal ele se atrair por sangue... Embora isso explicaria boa parte do que ele vinha sentindo desde que conheceu o outro.
— Eren, por favor, vá embora! Eu estou me controlando para não avançar em ti e... Vá embora – Levi apertou o punho controlando a sede de sangue que estava vibrando vertiginosamente dentro dele.
Eren segurou a ferida e correu castelo adentro. Levi tentou correr pelo lado oposto em busca de algum sangue para saciar sua sede. Contudo assim que estava longe o suficiente do castelo, a sede por sangue passou e ele apenas sentia seu corpo em êxtase.
Não entendia, era como se o sangue de Eren chamasse por ele. Como se aquele fosse o único sangue que ele deveria tomar em toda a sua amaldiçoada existência. Algum tempo depois julgou que já seria seguro voltar e estava começando a andar quando sentiu uma pontada em seu adomem.
— Merda! - Levi abriu sua camisa de botão e colocou a mão na mancha escura que havia aumentado de tamanho em seu torso esquerdo.
Voltou para o castelo e entrou no escritório de Erwin. Eren também estava lá agora com um curativo em seu rosto. O cheiro delicioso de Eren foi sentido mas pelo menos a sede desenfreada dele estava controlada.
— O que eu perdi? - Levi questionou ao trio.
— Traçamos um plano para acabar com a arma de Zackly e de quebra com ele. Vamos destruir a arma ao mesmo tempo que iremos expor alguns dos crimes de Zackly em uma mídia qualquer. É arriscado porque não sabemos se nosso contato no jornal é confiável, mas o principal objetivo é deter a máquina de destruição. Então essa é a nossa prioridade.
— Certo! Então estou indo embora – Levi anunciou e se virou para ir embora.
Quando saiu do escritório, sentiu Eren atrás dele.
— Levi, espere, eu...
— Desculpe se eu te assustei, Eren – tratou de logo esclarecer – juro que não é comum eu me descontrolar, prometo me controlar mais.
— Sem problemas... Eu só. Nós... eu não – Eren respirou fundo e tentou organizar as ideias em sua mente, estava tão nervoso que estava embolando as palavras – Eu não gosto muito de jantar, o que você acha de um café da manhã?
Levi ficou em silêncio alguns segundo tentando raciocinar se Eren realmente havia o convidado para tomar café da manhã. Ao que tudo indicava, ele não estava com raiva ou medo de si.
— Claro... Um café seria bom!
— Combinado! Depois nos vemos!
Eren se despediu e saiu de perto de Levi que o assistiu caminhar até ele sumir de sua vista.
Levi sentiu outra pontada em seu abdome e se virou para sair de onde estava. Viu Hanji o olhando e apenas passou por ela.
— Levi! Precisamos falar para os outros que você foi amaldiçoado!
— Não, Hanji! Eu concordei de você me ajudar a achar uma solução para isso! Mas eu não quero preocupar ninguém! Então fique calada! - Levi a relembrou olhando nos olhos dela tentando conter a raiva por ela sugerir aquilo novamente e a deixou sozinha no corredor.
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