Tempos Sombrios
Fiquei onde eu estava observando Casper se movimentar até os caixões, ele despertou Adam e depois Suzana, ele lhes deu um pouco do próprio sangue, no início eles ficaram confusos como Casper ficara. Mas logo estavam ao meu lado me enchendo de perguntas, as quais eu mal prestava atenção, meu olhar continuava ocupado em Casper, desde o momento que ele parara de conversar comigo, não voltara a me olhar.
Eu estraguei tudo, estraguei e dessa vez eu não sabia se teria concerto. Nem cheguei a contar nada para ele sobre eu e Bernard... Como ele poderia ter percebido? Casper sabia mais coisa sobre esses Guardiões que eu não sabia... Eu precisava saber o que significava ter um guardião ao meu lado, para ele ficar daquele jeito devia ser algo muito.... Íntimo. Mas o que eu tinha na cabeça afinal? Eu realmente acreditava que ao contar de Bernard, Casper aceitaria? Tudo ficaria bem? Os dois se odiavam. Eu sou o ser humano mais otário desse mundo, mais otário e o mais burro.
- Elli?
Pisquei os olhos em confusão olhando para Adam.
- Você me ouviu?
- Desculpe Adam, o que você disse? – Perguntei me concentrando nele.
- Qual o plano? – Ele perguntou.
- Bom, nosso plano foi por água abaixo quando Afanasi apareceu com seus lacaios. – Falei centrada tentando bolar algo.
Vi os 3 ficarem surpresos quando falei em Afanasi.
- E onde ele está agora? – Perguntou Suzana preocupada.
- Acredito que morto. Ele tomou uma doze generosa de sangue de morto e foi atirado pela janela. – Respondi apreensiva, a fama de Afanasi devia ser das piores entre os vampiros.
- Então temos que sair o mais rápido possível daqui. – Casper disse com urgência. – O pai dele pode mandar uma força maior de lacaios.
- Então o novo plano é limpar a saída para que todos possam sair. – Falei.
- Improviso, gosto disso. – Adam sorriu sarcasticamente.
- Elli você fica no nosso meio, não saia da formação ou você pode estar correndo risco. – Casper disse me fitando nos olhos. O senti tão distante de mim, tão centrado em qualquer outra coisa, mas menos em mim. Ele precisava de tempo e eu não o atormentaria mais.
Ele mal terminou o que dissera e então foi na frente abrir a porta. Baixei meu olhar triste para minhas mãos, quando levantei meu olhar encontrei os de Suzana, ela me encarava e logo depois olhou para Casper, seu olhar se demorou em mim mais uma vez para então ela caminhar tomando sua posição. Algo me dizia que ela estaria me procurando mais tarde para uma conversa.
Antes de Casper abrir a porta da câmara pude vê-lo mudar sua forma humana para aquela de predador, então finalmente a abriu e correu a toda velocidade, deixando eu, Adam e Suzana para trás. Suzana virou-se olhando para mim.
- Ele está limpando o caminho para que possamos chegar até os outros em segurança. – Ela disse transformada como Casper.
Eu apenas gesticulei com a cabeça. Nós corríamos humanamente por minha causa. Chegamos ao topo da escadaria, havia 4 vampiros com os pescoços dilacerado caídos no chão e Casper não estava mais ali.
- Sangue de vampiro nos ajuda na recuperação, não é o mesmo que animal ou humano, mas é melhor do que continuar fraco. Claro que Casper já devia estar forte para conseguir matar esses 4 sozinho. – Suzana disse gentilmente.
Então corremos seguindo para o salão principal onde eu podia ouvir sons de luta, gritos, rosnados e coisas quebrando.
- Elli fique próxima de nós! – Adam disse.
Antes mesmo de ver, eu podia sentir o cheiro de sangue e morte. E então adentramos o salão, corpos de vampiros pelo chão ensanguentado, muitos em estado deplorável, sem membros, sem a cabeça, com órgãos para fora... Havia dois lobisomens mortos também, mas eu não sabia dizer quem eram, pois não tiveram tempo para desfazer a transformação. Estava um tumulto, um caos. Havia luta por todo lado, mais vampiros lutavam com meus amigos.
Bernard estava entre um grupo de vampiros romenos, estava concentrado na briga. Os vampiros o cercavam esperando uma brecha na defesa para o atacarem, Bernard se mantinha em posição de defesa e então eles o atacaram, alguns golpes ele conseguia desviar, mas não era todos. Ele também os atacava, e mesmo um lado estando em vantagem, a luta estava equilibrada. Jamie já estava acordado e também lutava, mas contra Jonaf e Benjamin, parecia ser questão de tempo até ele render-se, Jamie estava exausto. Olhei para o outro lado do salão, Kaleb lutava com vários vampiros, alguns lobos lutavam com Rougyne e Nicol, eu não via Sophie em lugar algum, mas minha respiração falhou ao perceber que Casper enfrentava Skandar.
Vampiros avançaram contra Suzana e Adam, logo eu estava sozinha em meio ao caos. O que eu não daria para que meus poderes se manifestassem nesse momento! Mais um lobisomem estava morrendo nos braços de um vampiro, Bernard estava encurralado os romenos haviam conseguido pega-lo. Ouvi um som de trovões vindo de dentro da mansão, procurei pela razão do barulho... Era Skandar, suas mãos estavam direcionadas para Casper enquanto que raios de um brilho azul saiam por elas. Eu estava espantada, nunca imaginara que o poder dele fosse tão forte. Casper se contraía no chão enquanto recebia enxurradas de raios um atrás do outro.
Não muito longe dali, Suzana sucumbia nas mãos dos vampiros eles estavam a pouco de lhe arrancar o coração, Adam estava tentando chegar até ela desesperado, mas nem com toda sua força conseguia se livrar de tantos vampiros aglomerados a sua volta.
Estava tudo dando errado, TUDO! Eu não podia deixar isso acontecer!
- Parem! – O desespero estava tomando conta do meu corpo. – PAREEEM! – Algo estalou na minha mente. Por alguns segundos o mundo parecia estar em câmera lenta e então senti uma força emanar de mim e espalhar-se por todas as direções, aquela força atingiu a todos como o vácuo de uma bomba explodindo, atirando-os para trás. Essa força quebrou o restante de janelas do salão, espalhando os estilhaços. Todos me observavam perplexos, menos os vampiros romenos, eles levantaram furiosos e vieram me atacar.
Ergui minhas mãos para dois deles e os fiz flutuar, quebrei seus pescoços e joguei suas carcaças contra outros quatro. Espalmei minha mão direita na direção de 4 deles e os joguei para fora da janela, fiz outros 3 deles levitarem bem alto e então os empurrei contra o chão, repeti isso mais 3 vezes até larga-los. Mas quantos mais vampiros eu eliminava, mais apareciam, aquilo estava começando a ficar cansativo. Logo, todos presentes no salão voltaram a lutar pouco a pouco, deixando o ambiente, novamente um caos.
Os vampiros ao meu redor começaram a se tornar muitos e eu estava fraquejando, meus poderes já não eram os mesmos. Vi um pé vindo em minha direção e já era tarde para fazer algo, a dor era intensa. Eu cai para trás, minha visão estava turva, não tinha nem forças para levantar, eu só sentia dor no meu rosto, na minha cabeça e logo pelo meu corpo todo pelos chutes que eu levava.
- NÃO! – Ouvi ao longe Bernard gritar e um clarão alaranjado se acendeu. Eu via mais clarões por todo lado, além de gritos e cheiro de... Carne queimada.
Começou uma correria, os vampiros tentavam fugir. Uma fumaça densa e escura começara a preencher o salão, estava ficando quente também. Bernard havia usado o seu poder de guardião, a mansão estava ardendo em chamas.
Senti mãos me segurarem firmemente e me tirar rapidamente de lá de dentro, em uma velocidade impossível para um humano. O ar puro era muito bem-vindo nos meus pulmões. Olhei para o meu salvador, Bernard. Ele agora, caminhava num ritmo mais humano, olhei por cima de seu ombro, a mansão era apenas um ponto laranja dispersando fumaças negras que atingiam as nuvens brancas do céu. Meus amigos o seguiam, em seus olhos havia um pesar silencioso e seus olhares não saiam do chão, os pensamentos voando para longe. Era mais do que compreensivo, até eu sentia isso. Algo mudara hoje, para todos e não a era apenas pela perda de dois amigos.... Procurei pelos corpos, Alexander carregava um e o outro era carregado por Christopher.... Eram Steven e Eric. Haviam vestido os dois, eles pareciam estar dormindo se não fosse pela pele muito pálida....
Meus olhos ardiam pela vontade de chorar, o nó na minha garganta fechava-se cada vez mais apertado. Quantos mais morreriam por minha causa? Os dois eram tão jovens, tão cheios de vida, quando sorriam iluminavam tudo... Era tão errado vê-los tão sombrios, aquilo não era descanso no semblante deles, aquilo significava que eu nunca mais os veria, eles nunca mais iriam voltar a andar sobre a terra.
Percorri o olhar por todos ali e não vi Casper, ao olhar para o lado lá estava ele, com uma expressão melancólica no rosto enquanto olhava a frente, então ele também me olhou e pude ver a tristeza que quase transbordava por seus olhos. Logo seu olhar estava em Bernard e mudou para uma irritação intensa, Bernard devolveu o olhar com a mesma intensidade de Casper. Aquilo só pioraria. A tensão entre eles era quase palpável. Temia que nada voltaria a ser como antes com eles, com todos.
Meus soluços eram audíveis, por mais que eu tentasse os abafar, todos ouviam, eu odiava isso. Por que eu tinha de ser tão fraca? Ninguém ali estava chorando, porque eu sempre teria de ser a frágil, a sensível? Aquilo só piorava a taciturnidade que acometia a todos. Após ouvirem meu choro, vários lobisomens estavam com os olhos cheios de lágrimas, alguns deixavam algumas lágrimas silenciosas escapar. Os Auduwen estavam silenciosos e sérios em respeito a dor dos lobos. Jamie estava aborrecido e andava um pouco afastado de todos, deveria estar se perguntando o que fazia no meio daquele grupo.
Bernard apertou-me um pouco contra seu corpo em amparo. Ele me observava com os olhos suavizados, vi compreensão em seu rosto. Ele entendia minha dor. Aquele gesto fez me acalmar um pouco.
- Como você está? – Ele me perguntou.
- Triste. – Respondi num sussurro cortado enquanto secava as lagrimas do rosto com as mãos. - Cansada. - Cada célula do meu corpo parecia doer, eu desconfiava que havia até algum osso quebrado. – E com muita dor... Tudo dói. – Completei.
Senti minha visão ceder, meu olhos reviraram e senti minha cabeça tombar um pouco, mas então recobrei os sentidos novamente, eu deveria estar péssima mesmo. O dia havia sido bem agitado e da pior maneira que poderia ser.
Bernard parou de caminhar no mesmo instante, comprimiu os olhos. Os outros também pararam e o observaram. Ele me colocou no chão delicadamente e tentou me examinar, estava preocupado e os pensamentos longe. Levantou-se e tudo parecia acontecer em câmera lenta, de um jeito vertiginoso. Bernard dirigiu um olhar de ódio a Casper que o correspondeu a altura. Adam e Suzana estavam em alerta e Jamie aproximou-se um pouco curioso.
- Foi tudo culpa sua! Se soubesse se defender ela não precisaria estar nessa situação! – Bernard jogou na cara dele.
Vi o momento em que Casper perdeu a razão.
- Calma Casper. – Suzana já estava ao seu lado tentando acalmá-lo.
- Afaste-se Suzana. – Ele disse baixo, aproximando-se furioso de Bernard.
- Cala a sua maldita boca! Se você e sua família idiota não tivessem sequestrado ela, ninguém estaria nessa situação! - Ele empurrou Bernard.
Então Bernard socou a cara de Casper, tão repentino e rápido, que jurei ter imaginado, mas então Casper avançou contra Bernard e a briga seguiu-se, feia.
Kaleb me pegou no colo e afastou-se deles enquanto eu sussurrava fraca "Parem de brigar."
- Vocês estão loucos?! – Kaleb gritou. – Parem com isso! Não é hora pra brigarem! – Kaleb percebeu que nada que dissesse iria fazer com que os dois parassem. - Separem esses dois idiotas, antes que eles acabem envolvendo a Elli junto na briga.
Kaleb voltou a caminhar deixando os outros para trás. Eu conseguia ouvir algumas vozes alteradas separando a briga. "Deixa que eu seguro ele, você cuida do outro." Parecia ser a voz de Adam. Um pouco mais de esforços e ouvi um gemido de dor. "Meu Deus eu acho que ele quebrou o meu nariz!" Ouvi Cayélle reclamar.
- Elli você precisa descansar. – Kaleb disse a mim calmamente sua voz parecia estar distante, ia e voltava.
E então apaguei. Mas não completamente, eu não conseguia entender onde eu estava. Para qualquer direção que eu olhasse, não havia nada. O local era muito iluminado e branco sem teto, sem paredes e sem chão.... E eu não tinha pés, pernas, não tinha corpo. Ainda assim me sentia levitar no ar.
"Que lugar é esse?" Perguntei divagando. Mas para minha surpresa uma voz respondeu "A questão não é Onde e sim Quem."
Hesitei diante daquela voz doce e feminina.
"Quem é você?" Perguntei receosa.
"Sou e não sou você." Ela pausou. "Uma parte viva. O que sobrou de cada antecessora sua."
"Você é a profecia?" Perguntei surpresa. Nunca imaginei que a profecia seria viva.
"Digamos que sim.... Talvez você possa me chamar de consciência, afinal sou eu quem tem mantido você viva. Era eu que a alertava sobre os Auduwen, eu que lhe dizia quando algo estava errado, eu libertei seus poderes e fui eu que possibilitei o despertar do primeiro guardião."
"Pensei que tudo isso havia sido eu." Falei um pouco decepcionada comigo mesma.
A consciência riu gentilmente. "Não Elli, foi tudo eu. Você nunca percebeu que dividíamos o mesmo corpo?"
"Como isso é possível?" Perguntei refletindo.
"Da mesma forma que foi possível você ser a escolhida dessa era." Ela disse divertida.
"Vim lhe avisar a respeito de algumas coisas, agora que já me apresentei a você."
Um clarão ofuscou minha visão e então vi uma silhueta dourada surgir diante de mim enquanto que a claridade diminuía. Era uma garotinha de 8 anos. Ela sorriu para mim e então tomou um ar sério. Algo dentro de mim dizia para não confiar em sua aparência, nada era o que parecia.
"Isso mesmo, não confie em minha aparência. Seu subconsciente me disse que essa era a forma adequada para não te assustar e ganhar sua confiança. É assim que eu ajo lhe aconselhando, quis apenas fazer uma demonstração." Ela sorriu mais uma vez.
Espertinha. Realmente eu gostava de crianças e ficava mais difícil de estar desconfortável na presença de uma garotinha adorável. O ar sério voltou em suas expressões.
"Elli a partir de agora as coisas ficarão mais difíceis pra você, seja forte. Tenha muito cuidado em quem você depositar sua confiança, lembre-se, todos a querem, haja com cautela. Tenha ciência de que sua jornada está apenas começando, use sua astucia." Após ela disser aquelas palavras como se eu fosse sua pupila. Suas palavras foram mais gentis. "Agora descanse, você tem que estar preparada para o que está por vir, tem que estar preparada para resolver alguns problemas pendentes com seus amigos."
Em apenas um segundo tudo que havia acontecido nos últimos meses, até o ocorrido na mansão de Skandar, voltaram na minha mente. Eu lembrava de tudo. Até minha situação com Casper e Bernard. Droga, ela tinha razão, eu precisava descansar para ser capaz de encarar esses problemas.
Minha mente girava pelo cansaço mental, até mesmo ali o cansaço me alcançara, então deixei-me ser levada por um sono profundo e tranquilo. Enquanto a tranquilidade pudesse estar comigo eu a aceitaria de braços abertos, eu sabia que ao acordar, desafios estariam à minha espera. Estava tudo de pernas pro ar e eu temia que nada mais voltasse a ser como antes. Algo me dizia que ao acordar eu estaria recomeçando minha vida do zero.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro