Capítulo 19
******Paul Mitchell******
Minha vida era exageradamente conturbada; regada a bebidas e festas onde eu acabava com uma mulher qualquer em minha cama ou na cama delas. Eu sempre gostei dessa vida e nunca quis sair dela. Eu digo para Deus e o mundo que sou hétero e me orgulho disso, bom, eu me orgulhava.
Comecei a trabalhar para a senhorita Fairchild a pouco mais de seis meses e observava quase todos os dias a movimentação no prédio da Pretty Cherry. Numa das minhas rondas pelo prédio acabei me distraindo com uma conversa nada discreta entre dois estagiários.
Eu sabia que haviam gays no prédio da revista, mas não sabia que eram tão indiscretos assim. Eles estavam num banheiro da ala central, onde a maioria dos chefes transitavam. A ala central era basicamente um conjunto de mesas e cadeiras cheias de novos tecidos e uma boa quantidade de papéis de todos os tipos, quase não dava para notar a decoração de tanta bagunça espalhada. Voltando ao casal no banheiro, devia ser algum tipo de fetiche pelo perigo, não sei dizer.
Estava tão distraído que não vi quando um homem se aproximava de mim. Ele colocou a mão nas minhas costas e eu me virei rapidamente na defensiva.
- Quem é você? - ele olhou para mim e mordeu os lábios me analisando. Ok, eu não devia ter reparado naquilo.
- Eu sou Ricardo Dorèer e quero saber se Camille Fairchild está.
- Bom, eu não sei. Sou apenas um segurança.
- Ok, vou procurar quem possa me ajudar então.
Disse e virou as costas indo embora.
E essa foi a primeira vez que eu vi Ricardo Dorèer.
Alguns dias depois, o meu chefe de setor veio falar comigo e aquela conversa mudaria o rumo da minha vida. Eu só não sabia o quanto.
- E aí Paul? Tudo certo com a segurança interna?
- Sim Arthur, tudo ok.
- Ótimo, preciso que me faça um favor.
Olhei para ele desconfiado, mas resolvi ajudar. Afinal, quando seu chefe diz que precisa de alguma coisa, se você não quiser perder o emprego, você faz.
- Preciso que encontre um segurança gay.
Estava com um copo de água na mão e por pouco não engasguei.
- Pra que isso Arthur? Tá louco?
- Não, Cami.. a senhorita Fairchild pediu que eu arrumasse um segurança gay para o amigo dela. Eu só não sei o motivo.
Pensei bem enquanto Arthur falava. Nenhum homem pede um segurança gay sem uma intenção a mais. Eu não sou assumido. Mas sei que sou bissexual. Acho que não custa nada colocar esse pervertido no lugar.
- Quem é esse cara? - perguntei temendo a resposta. E se fosse o Peter? Aquele maldito mal humorado.
- É o senhor Ricardo Dorèer.
Pronto, abalou minhas estruturas instantaneamente. Eu vou aceitar ser o segurança desse cara. Ele me pareceu bem interessante quando o vi. Seria uma bela forma de testar minha sexualidade.
- Eu posso ser o segurança dele.
Arthur me analisou por um instante e depois caiu na gargalhada.
- Eu sei que seu trabalho é horrível e que você não gosta de mim, mas você não é gay Paul. Ela foi bem clara comigo.
- Posso não ser gay, mas sou bi.
Ele cessou as gargalhadas e falou:
- Você começa amanhã.
******
Quando me encontrei com Ricardo pela primeira vez, pensei que ele seria rude e grosseiro comigo, já que estava gritando aos quatro ventos como uma pobre moça era péssima em seu trabalho e que só não a demitiria porque tinha um coração mole.
- Bom dia senhor Dorèer. Sou Paul Mitchell e venho a mando de Camille Fairchild para ser seu segurança pessoal.
Ele parou com a sessão de gritos e me olhou. As veias do pescoço saltadas e o corpo marcado pela camisa social colada e a calça que apertava levemente nos lugares corretos. Ele era quente só de olhar. Ele puxou o cinto da calça um pouco para baixo e eu suspeitei que ele tinha me pego no flagra. E estava certo, ele ostentava um sorriso malicioso nos lábios enquanto me olhava da mesma forma - acho - que olhei para ele.
- Alicia, deixe-me a sós com o rapaz, se recomponha e faça seu trabalho.
- Sim senhor.
O modo como ele dominava a situação era excitante. Ele era todo excitante.
- Bom, acho que te devo uma apresentação melhor. - ele sorriu maroto e veio em minha direção, comecei a suar frio e a tremer levemente. - Sou Ricardo Dorèer, todo a seu dispor.
Engoli em seco percebendo o teor sexual de suas palavras.
- S-sou Paul Mitchell também inteiro a seu dispor.
Gaguejei e devolvi a sensualidade dele com as mesma jogada. Dois podem se queimar nessa brincadeira.
Ele se virou de costas - me dando uma bela visão, devo acrescentar - e foi até o telefone, digitou alguns números e falou em seguida:
- Cancele todas as minhas reuniões, retire todos do meu andar e não me interrompam até segunda ordem. Tenho um assunto muito importante para resolver.
Disse olhando descaradamente para a minha ereção que ameaçava aparecer. Desligou o telefone e veio em minha direção em passos firmes.
Me pegou pelo pescoço e me deu um beijo que eu não esperava. Retribui tanto ou mais sedento que ele. Um beijo forte, quente e cheio de más intenções.
Instintivamente levei minhas mãos até sua nuca e puxei seus cabelos suavemente e eram tão macios quanto eu imaginei. Ele gemeu em apreciação e depois de alguns segundos interrompeu o beijo e disse de uma maneira tão sensual que devia ser crime:
- Quem manda nessa relação sou eu. Você levanta essa bunda gostosa e eu te fodo, entendido? Aqui sou seu senhor Dorèer. Repita comigo.
- Meu senhor Dorèer.
E foi aí que minha vida desandou. Eu costumava mandar, era eu quem fodia, era eu que detinha todo o controle. Agora não mais, Ricardo era literalmente meu dono e eu não conseguia me opor a isso. De nenhuma forma.
******
Quando voltamos de Manhattan, estávamos bem, tínhamos brigado no dia anterior sobre eu não conseguir me assumir e continuar tentando manter minha fama de hétero fodão, como ele mesmo dizia.
A senhorita Fairchild desceu com Arthur em seu encalço - como sempre - e eu ia descer com Rick, mas assim que íamos sair do avião, ouvimos os disparos. Eu corri para ajudar, afinal era meu dever e Rick veio logo atrás de mim, peguei minha arma e empurrei Ricardo para trás e ele ficou meio atordoado e quando eu me virei para a frente levei um tiro no braço.
- CARALHO. - gritei com uma dor alucinante no lugar em que fui ferido. Ricardo veio em minha direção e antes que eu pudesse o deter, o maldito atirador o acertou também. Ouvi seu grito de dor e foi como se eu tivesse recebido outro tiro. Diferente de mim, o tiro o acertou no peito e meu coração pulou três batidas. O meu amor não.
Peguei ele no meu colo e atirei três vezes contra o maldito, acertando apenas dois disparos em sua coxa e em sua virilha. Larguei a arma na escada do avião e quando olhei para Ricardo e o vi inconsciente, percebi que estava chorando. Minhas vistas estavam embaçadas e eu não conseguia raciocinar. A dor no meu braço não me ajudava a pensar com clareza e a dor que eu sentia ao ver o meu homem naquele estado me enchia de pavor.
E se ele morrer? E se ele sobreviver e ficar com alguma sequela? Eu não posso suportar isso.
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