Bônus
Avisinho rápido:
Algumas informações para entender esse capítulo bônus.
Esse capítulo conta um pouquinho da história e como cada membro (principal) se tornou pirata da tripulação do Black Swan. Além de, é claro, contar como o Yoongi se tornou o Capitão do navio.
Será por ordem, então vou começar pelos que já eram antigos tripulantes do Black Swan, até o último a se juntar à tripulação, que foi o Hoseok.
Lembrando que:
Sungjae foi o último verdadeiramente, mas nós já sabemos como aconteceu dele se juntar ao navio, então não vai entrar nesse bônus.
Também não vai entrar no bônus o breve romance do Sungjae com o Yoongi.
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BLACK SWAN | ϐοα ℓєιτυяα
𔘓 ‧₊˚ Bônus
A EPOPÉIA DE UMA TRIPULAÇÃO
Capitão Min, Namjoon, Jungkook, Jared, Scott e Sven.
O Black Swan estava ancorado próximo a Nabuco. Era um dos poucos navios pirata que conseguia se aproximar daquela Ilha, sem ser atacado. Os marujos festejavam ao som da banda há pelo menos três dias, e ninguém parecia se importar com a situação do navio.
O mastro traseiro estava deteriorado, a principal vela da proa já não operava corretamente e a engrenagem da âncora estava ficando tão oxidado, que parecia nunca ter visto uma manutenção na vida.
Mas o Capitão achou mais necessário gastar todo o saque que haviam feito há duas semanas, com bebida e Ômegas. Afinal, eles eram os reis dos mares. Em sua opinião, Francis Bonny que foi um tolo, por ter guardado toda sua fortuna sem ter a chance de gastar uma única moeda.
Alma Negra tomava sua bebida completamente despreocupado. O líquido era desperdiçado quando descia pela sua barba e molhava suas vestes. Mas a verdade era que o porão estava vazio, sem uma única moeda de bronze, e os barris com rum, vinho e tequila não eram infinitos.
— Capitão. — Sid, o contramestre, se aproximou do lúpus. Temeroso, pois as notícias não eram boas. — Já não temos moedas para pagar aos Ômegas.
— E qual é o problema? — Alma Negra indagou. — Se não podem pagar, pegue-os à força.
— Obrigado Capitão!
— Traga um para a minha cabine também. — Alma Negra ordenou. — O mais belo de todos.
O pirata assentiu e correu até seus companheiros, para informar sobre a nova ordem do capitão. Todos vibraram felizes, exceto um pequeno grupo que estava sentado na escuridão, junto à popa.
— Esse navio vai naufragar. — Sven comentou.
— Ah, você acha? — Jared perguntou com sarcasmo e revirou os olhos. — O que seria de nós, se não fosse você para nos informar o óbvio.
— Ele só falou o necessário. — Scott saiu em defesa do irmão. — O que ninguém tem coragem de dizer.
— E no quê isso ajuda? — Jared rebateu. — Falar não muda nada. Esse maluco vai matar a todos nós.
— Alguma coisa precisa ser feita. — Jungkook argumentou. Eles se referiam ao Capitão Alma Negra. — Não podemos continuar assim. Quando não está matando a própria tripulação com sua espada, o Capitão nos condena à míngua com esses gastos exagerados e sem sentido. Não há mais nada no porão.
— Está falando sério? — Namjoon perguntou.
— Infelizmente sim. — Jungkook respondeu. — Há um balaço em cada canhão, mas não há possibilidade de recarregá-los após o uso. — ele apontou na direção da ilha de Nabuco e ainda afirmou: — Se o Barba-Ruiva souber disso, estaremos fodidos.
— Yoongi? — Namjoon se aproximou do Alfa.
O jovem lúpus estava sentado e com as costas apoiadas no mastro traseiro, enquanto riscava um engradado utilizando o seu punhal. Ele ergueu a cabeça e encarou o pequeno grupo que o observava em silêncio.
— Sim?
— Você é forte. É um lúpus. O único que pode bater de frente com o Capitão.
— Ele possui números... a maioria estão com Alma Negra.
É claro que Yoongi já havia pensado na possibilidade de um motim, ele apenas queria saber até onde iria a vontade daqueles piratas.
— Mas eles não têm o que nós temos. — Jungkook afirmou, trocando olhares com os demais. — Um líder.
— E até onde estão dispostos a ir com isso?
— Até o fim. — Namjoon afirmou oferecendo a mão.
Yoongi aceitou de imediato e mirou nos olhos de cada um, antes de comunicar:
— Faremos o seguinte...
🏴☠️🏴☠️
Alguns Ômegas conseguiram fugir do domínio dos piratas e pularam do navio. Eles nadaram juntos tentando chegar na margem, sendo recebidos por alguns pescadores e outros frequentadores da ilha.
Os que não conseguiram este fato, ainda sofreram nas mãos dos desprezíveis piratas. A farra seguiu pela terceira noite adentro, e perdurava pela madrugada. Com a escassez de bebida, os piratas tornavam-se ainda mais desequilibrados e miravam suas atividades em mais atos de violência, uns contra os outros, e contra os Ômegas.
Alma Negra quase destruiu a porta ao sair da cabine, e agarrou o pescoço do primeiro marujo que encontrou.
— Vão buscar mais bebidas! — o Capitão exigiu. — Sid?! Onde está, seu inútil?!!
O contramestre subiu pela escotilha da proa, correndo para atender seu mestre:
— Sim, Capitão?
— Leve um grupo consigo e traga mais bebida.
— Não temos moedas. Precisamos fazer algum saque, Capitão. — Sid sugeriu.
Alma Negra sacou sua pistola e mirou no peito do contramestre.
— É desse jeito que você vai trazer mais bebidas. Diga que Alma Negra solicita alguns barris, se alguém for burro o bastante para negar, mate.
— Sim, senhor. — Sid engoliu em seco e respondeu com voz trêmula. Em seguida ele ordenou: — Vocês aí do convés, desçam alguns botes. Jungkook, você também vai.
— Eu vou no lugar dele. — Yoongi se ofereceu.
— Não é você quem decide isso, garoto. — Sid negou.
— Deixe-o ir. — Alma Negra ordenou e logo depois dirigiu-se para sua cabine. — O garoto é um lúpus, colocará medo em quem ousar se abster em entregar as bebidas.
Quando Sid virou-se para entrar em um dos botões, Yoongi puxou Jungkook em segredo e sussurrou para que apenas ele e Namjoon, que estava ao lado, ouvissem:
— Façam como combinamos.
— Mas Yoongi...
— Façam!
O jovem lúpus girou na direção dos botões e desceu junto aos demais bucaneiros.
— O que ele está fazendo? — Jared questionou.
— Foi no meu lugar. — Jungkook respondeu. — É melhor abortar o motim.
— Não. — Namjoon determinou. — Façam como Yoongi disse. O plano segue.
Os piratas assentiram e cada um se posicionou no lugar onde Yoongi determinou. Jungkook, Scott, Sven e Jared foram para os canhões, enquanto Namjoon subiu até o convés superior.
Capitão Alma Negra voltou para a cabine onde seu Ômega o aguardava.
Alguns minutos após a visita dos infames piratas às tabernas da ilha, mediante a violência e bestialidade dos bucaneiros, ninguém ousou desafiar as ordens de Alma Negra, principalmente diante de um lúpus portando duas letais adagas.
Assim que os piratas encheram os botes com barris cheios de rum e tequila, eles remaram de volta para o navio.
Jungkook estava diante dos canhões superiores, seus olhos atentos à movimentação dos piratas na margem. Quando os barcos estavam a uma certa distância do Black Swan, ele esperou até que estivessem na mira.
— Fogo! — Jungkook vociferou. Ele, Jared, Scott e Sven dividiram-se e acenderam cada pavio.
Os canhões dispararam simultaneamente e atingiram os botes cheios de piratas e barris. Yoongi não sofreu nenhum dano pelo fato de ter saltado do barco segundos antes de Jungkook ter dado a ordem.
O barulho dos disparos chamou a atenção de Alma Negra, que se divertia com o desafortunado Ômega. Ele tentou abrir a porta, mas Namjoon saltou de cima do convés superior e trancou-a pelo lado de fora.
— Vermes miseráveis, o que estão fazendo?! — o Capitão rosnou chutando a porta.
Alguns piratas que permaneceram no navio, surgiram pelas escotilhas armados com seus punhais, machados e espadas. Hesitaram ao ver Jungkook, Namjoon, Sven, Scott e Jared também armados e em posição de ataque.
— É um motim, Capitão! — Matt bradou. — Estão tentando tomar o navio!
— Abram essa maldita porta! — Alma Negra rugiu.
Ginny tentou atender a ordem do Capitão, mas Namjoon direcionou sua espada contra ela e a Alfa recuou. Apesar dos piratas que explodiram nos botes, outros bucaneiros surgiram tomando suas posições.
Alguns eram fiéis ao Capitão e se opuseram à rebelião. Outros, puseram-se a puxar suas armas e ficaram ao lado dos agitadores, quando o combate teve seu início pela espada impetuosa de Jerome.
Após vários socos a porta da cabine foi destruída. Todos os piratas paralisaram ao ver a imagem do Capitão de pé no umbral. Ele segurava uma pistola em uma mão e uma espada na outra. Seus olhos estavam vermelhos e de sua garganta ouvia-se um rosnado profundo e furioso.
— Estamos do seu lado Capitão! — alguns bucaneiros gritaram com medo de serem atingidos por ele. — Estamos do seu lado!
O anúncio não foi considerado. Alma Negra ergueu sua arma e disparou contra todos que estavam em seu caminho. Scott e Sven juntos atacaram o grande lúpus, mas ambos foram lançados ao chão quando o pirata mais velho lançou sua espada contra eles.
Enquanto a luta se desenrolava no piso do convés, os agitadores e até mesmo os aliados de Alma Negra buscavam se afastar do velho lúpus, mas o pirata conseguia alcançá-los agitando sua espada ou disparando com sua pistola.
Enquanto isso, Yoongi diminuiu a distância entre ele e o Black Swan nadando incansavelmente. Quando chegou rente ao casco, ele subiu através das cordas que pendiam lateralmente na embarcação.
Um pirata surgiu na mureta e sorriu alucinado quando o viu subindo pelas cordas. Ele usou uma faca e começou a cortar os cabos. Ao ver o que o pirata pretendia, Yoongi puxou seu punhal e o lançou no meio das sobrancelhas do bucaneiro, que instantaneamente caiu morto de costas no chão.
Assim que chegou no alto, Yoongi pulou para dentro do navio. Chutou um Beta que caiu na sua frente e puxou suas duas adagas, pronto para entrar no embate.
Alma Negra lançava sua espada contra Jared e quase o acertou, se não fosse por Namjoon tê-lo defendido com um escudo feito com os destroços da porta da cabine. O Capitão rugiu e lançou um caixote em sua direção, mas Namjoon desviou sendo amparado por Sven.
Jungkook disparava contra os aliados de Alma Negra. Sempre que a pólvora em suas armas chegava ao fim, ele puxava outras duas pistolas em uma velocidade impressionante, que mal dava tempo de os piratas o atacarem.
Alma Negra girou com toda a sua fúria contra Sven e Namjoon, mas o que encontrou em seu caminho foi um jovem Alfa com a mesma coloração avermelhada em seus olhos.
— Você vai me matar, Yoongi? — o pirata gargalhou. — Está na hora de ensinar-lhe uma última lição!
O Capitão rugiu insano e lançou sua espada com toda fúria contra o mais novo. Yoongi ergueu as adagas e interceptou o ataque. Alma Negra o empurrou e girou o corpo tentando golpeá-lo lateralmente, mas Yoongi novamente conseguiu se esquivar e lançou a ponta de uma adaga contra o abdômen do velho pirata.
Alma Negra pulou tropeçando para trás e só teve tempo de se jogar no chão ao lado, quando Yoongi ergueu as duas adagas e cravou-as no chão, poucos segundos antes de onde Alma Negra estava.
Enquanto tentava se reerguer, Alma Negra foi chutado pelo lúpus mais novo e caiu de lado, tentando apoiar-se em uma das mãos. Quando Yoongi se aproximou, o Capitão volveu sua espada e rasgou a carne da perna do jovem pirata, que caiu com um joelho no chão.
O Capitão se levantou rapidamente, segurou no cabo da espada com apenas uma mão e lançou seu último ataque contra o mais novo, que ainda estava apoiado no chão sobre o joelho da perna machucada.
Yoongi defendeu-se de um pirata que chegou covardemente para atacá-lo, suspendendo a adaga da mão esquerda para atravessar seu coração. Com a mão direita, ele ergueu a outra adaga e decepou a mão de Alma Negra que empunhava a arma.
A espada caiu no chão e Alma Negra tombou para o lado, segurando o seu punho dilacerado. Ele apoiou-se na mureta da embarcação e rugiu tão alto e colérico, que os mastros estremeceram. Yoongi ergueu-se do chão e avançou contra o velho Capitão, lançando-o para fora do navio.
Os piratas prostraram-se ao lado do navio para ver Alma Negra sendo puxado para o fundo do navio pelas correntes marítimas.
— Conseguimos! — Namjoon recebeu o lúpus com um forte abraço e os demais piratas gritaram festejando a vitória.
Jungkook puxou a última pistola com pólvora e a descarregou atirando para o alto.
— Precisamos comemorar! — Dojun sugeriu e foi bem aceito pela maioria.
— Não. Vamos escolher nosso Capitão, primeiro. — Jared supôs.
— E vocês ainda tem dúvidas? — Jungkook perguntou. — É claro que é o Yoongi.
— Ele é muito jovem para ocupar tal cargo. — Minah afirmou.
— Eu tenho o dobro da idade dele. — Bill Lee concordou com a pirata.
— O dobro da idade mas não consegue fazer nem um décimo do que ele é capaz. — Namjoon argumentou. — Vamos votar.
— Eu voto no Yoongi. — Jared ergueu a mão.
Scott e seu irmão fizeram o mesmo. Sendo seguidos por outros piratas. E a grande maioria ergueu as mãos direcionando seus votos ao jovem lúpus.
— Temos um resultado, então. — Namjoon afirmou. — A partir de hoje, Min Yoongi é o Capitão do Black Swan. — ele fez uma pausa olhando nos rostos dos que não votaram em Yoongi. — A não ser que algum de vocês queira demonstrar com suas espadas, que são melhores do que ele.
Os bucaneiros olharam para o lúpus, Yoongi inclinou a cabeça para o lado esperando alguém se atrever a lutar com ele, mas os piratas apenas assentiram, respeitando a decisão da grande maioria.
— Qual sua primeira ordem, Capitão? — Jungkook perguntou.
Todos se prostraram ansiosos. Yoongi estudou todo o piso da embarcação, ele viu uma pequena movimentação na proa e comandou em voz alta:
— Levem os Ômegas de volta a Nabuco.
— Não deveríamos comemorar? — Junseo bradou. — Vamos aproveitar que os Ômegas ainda estão aqui.
Alguns bucaneiros gritaram vibrantes com a sugestão.
— Não. — o silêncio se instaurou quando ouviram a negativa do Capitão Min. — Se vão mesmo permanecer nessa tripulação, terão de se adaptar às novas regras. — ele caminhou entre os piratas olhando nos olhos de cada um e cessou os passos para continuar: — Estupros não serão tolerados, eu não aceito insubordinação e muito menos traição. A punição para quem desobedecer qualquer uma das regras citadas, será a prancha! — os piratas entreolharam-se mas ninguém disse nada. Yoongi continuou: — Todos os saques serão repartidos igualmente entre todos. Qualquer um terá direito a opinar quanto às decisões, mas a palavra final sempre será a minha.
Capitão Min esperou algum bucaneiro se manifestar contra. Como ninguém teve coragem de argumentar qualquer palavra contrária, ele deliberou:
— Jungkook e Jared, levem os Ômegas de volta a Nabuco.
Os dois piratas assentiram e prepararam os botes que restaram, ajudando os Ômegas a embarcarem.
— Namjoon. — o Capitão chamou o alfa e apontou para a cabine.
— Capitão?
Yoongi sorriu.
— Todo navio precisa de um contramestre.
Namjoon sorriu assentindo e o acompanhou. Quando Yoongi entrou na cabine, viu um Ômega sentado na cama, e este encolheu-se ainda mais quando viu os alfas entrarem no quarto.
Yoongi se aproximou devagar, agarrou as roupas do Ômega no chão e jogou-as para ele. O garoto pegou as roupas e vestiu sem tirar os olhos de ambos os alfas. Assim que se vestiu completamente, o Ômega ficou de pé, com os ombros encolhidos e esperando pelo que viria.
O Capitão abriu a porta inteiramente e com um movimento de cabeça, indicou para que o Ômega saísse. Mas ele não saiu. Ao invés disso, ele ficou parado diante do Capitão, sentia muito medo naquele momento, mas ainda conseguiu criar coragem para pedir:
— Deixe-me ficar na sua tripulação?
— Ômegas não podem ser piratas. — Namjoon afirmou, rindo.
— O maior pirata da história foi um Ômega.
— Um forte Ômega lúpus. — Namjoon corrigiu. — Você é uma coisinha pequena.
O Ômega não deu atenção a Namjoon, voltando sua atenção para o Capitão:
— Eu posso não ter habilidades com lutas, mas posso limpar o navio! Veja como ele está imundo. Aposto que a tripulação não gosta de fazer isso.
O Capitão ouvia os argumentos do Ômega ao passo que se distraía com seus olhos cor de amêndoas. Ele era realmente muito lindo, foi quase um pecado ter passado pelas mãos imundas e violentas de Alma-Negra.
— Qual seu nome? — o Capitão quis saber.
— Sungjae.
Yoongi o estudou por um tempo. Não precisava de um Ômega para limpar o navio, os próprios Alfas e Betas podiam fazer isso, mesmo não gostando da ideia. Porém, o maldito lobo dele era fortemente atraído por Ômegas corajosos, e aquele pequeno falava com a cabeça erguida, ao contrário dos demais Ômegas que fugiram correndo quando tiveram a oportunidade, lhe chamou a atenção.
— Muito bem, Sungjae. Eles fizeram a maior porqueira no convés. — o Capitão estava se referindo à festa dos piratas de Alma Negra. — Pegue um balde e o esfregão. Ao trabalho!
O Ômega respirou profundamente aliviado. Não iria mais precisar vender seu corpo para obter dinheiro. Eles eram piratas. Piratas que roubam muitas quantidades de moedas. Um dia, quando tivesse a oportunidade, Sungjae poderia deixar o navio e seguir sua vida livremente.
Sungjae correu até o porão em busca de um esfregão. Ele subiu de volta para o convés e nunca fez uma faxina tão feliz da vida.
Na cabine, Yoongi pegou alguns mapas e os colocou em cima da mesa. O lúpus estudou alguns lugares e um pedaço de pergaminho surgiu em sua visão. Ele pegou o fragmento para olhá-lo mais de perto, sem compreender o que estava escrito.
— Se tivéssemos todas as partes, talvez poderíamos desvendar o mistério por trás desse mapa. — Yoongi afirmou. Ele pegou uma vela e colocou o pedaço de papel contra a luz.
— Não adianta, Capitão. — Namjoon disse. — Já tentamos de tudo. É impossível saber o que está escrito aí.
— Talvez se conseguirmos um bom navegador... — o Capitão pensou em voz alta.
Namjoon sorriu assentindo. Ambos estudaram os mapas e traçaram a próxima rota.
Assim que saíram da cabine, os piratas buscaram por novas ordens.
— O que faremos agora, Capitão? — Jared indagou.
— Vamos saquear pequenos vilarejos e recrutar mais Alfas e Betas para a tripulação. Alcem a âncora, icem as velas! Eu vou assumir o leme. — o Capitão ordenou subindo para o convés superior. — Nós vamos para a Coréia.
A notícia foi bem recebida pelos bucaneiros, que gritaram eufóricos pelo novo destino traçado.
— O que estão esperando?! — Namjoon rugiu. — Ao trabalho!
Os piratas correram pelo convés, para cumprir a ordem determinada pelo Capitão. A âncora foi erguida e as velas negras soltas ao vento.
Quando o navio chegou em alto mar, os corpos de alguns bucaneiros mortos foram lançados no oceano, e a embarcação ganhou velocidade com as fortes rajadas de vento favoráveis, levando o Black Swan de volta à Coréia.
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Seokjin
O pôr do sol já não é mais o que era antes. Até mesmo os pássaros mais alegres pareciam estar cantando de um jeito mais melancólico. Uma semana após a última homenagem à sra. Kim, e as flores do seu jardim começaram a morrer, pela falta de cuidados.
A residência estava quase completamente silenciosa, se não fosse pelo barulho de alguns vasos de porcelana quebrando, toda vez que o sr. Kim chegava em casa completamente embriagado e esbarrando nos móveis.
— Jin?! Onde você está?! — pela falta de resposta, o velho Alfa rosnou irritado e largou o corpo no sofá, esperando o único filho chegar.
Mas naquela noite Seokjin não retornaria para casa. Era de sua preferência permanecer no hospital em que trabalhava mesmo após seu horário de expediente, ao ter de aguentar as discussões com o pai bêbado.
Desse modo ele ia ser mais útil, e sua saúde mental seria preservada.
— Não amarre tão forte, Andy. — Seokjin aconselhou seu ajudante. — Pode comprometer a circulação sanguínea desse membro.
— Sim, senhor. — Andy assentiu.
Após imobilizar o braço fraturado de um beta, o Ômega ajudante acompanhou o paciente até seus familiares e informou as condições em que teriam de cuidar daquela lesão.
— Esse foi o último. — o Ômega avisou.
Seokjin suspirou frustrado. Isso significava que ele teria de voltar para casa e encontrar aquele Alfa. O seu pai.
— Eu vou ficar. — o médico afirmou.
— Outra vez? Não temos nenhum paciente em espera. Devia ir para casa descansar.
— Acredite, Andy, estarei mais descansado se eu ficar.
— Então eu também vou ficar.
— Tem certeza?
O Ômega assentiu com a cabeça.
— Além do mais, eu gosto de aprender com o senhor.
Seokjin sorriu encantado com o entusiasmo do jovem Ômega.
— Certo. Então sente-se nessa cadeira, porque eu vou te ensinar coisas que não estão no cânone da medicina.
Os olhos de Andy brilharam e ele fez como o mais velho disse.
Era seu grande sonho ser um curandeiro como Seokjin, mas pela sua natureza Ômega, nunca lhe foi permitido tal realidade. Logo, a forma mais próxima com que ele conseguiu realizar esse sonho, era sendo ajudante de um médico.
Seokjin o ensinou vários artifícios medicinais utilizando ervas, sementes e outros recursos naturais como auxílio no tratamento de certas moléstias, e até mesmo na contenção de algumas dores mais leves.
Ambos estavam distraídos em uma agradável conversa, quando gritos foram ouvidos no andar térreo do prédio hospitalar. Eles correram na direção em que ouviram uma pequena aglomeração de pessoas e viram um Ômega na frente de todos, carregando uma pequena Alfa nos braços.
— Doutor, salve a minha garotinha! — o Ômega implorou com lágrimas nos olhos.
— Coloque-a nesta sala. — Seokjin informou e perguntou ao pai da criança: — O que aconteceu?
— E-eu não sei. Ela estava brincando e de repente começou a vomitar e sentir uma forte dor na barriga.
— Dói muito! — a Alfa exprimiu. — É como se houvesse uma lâmina me rasgando por dentro.
O Ômega ajudante do médico viu a menina com as mãos travadas em certa parte da barriga e tentou retirá-las, mas a Alfa gritou ainda mais.
— Não a toque. — Seokjin ordenou e o Ômega afastou-se dando espaço ao Beta. O médico examinou a pequena alfa e logo chegou a um diagnóstico: — É a doença do lado. (Apendicite aguda)
Andy olhou para o médico com espanto. O Ômega pai da criança percebeu a troca de olhares e entrou em desespero.
— O que é isso? Ela vai morrer?! Por favor, doutor, salve a minha filha!
— Eu vou operá-la. — Seokjin determinou. — Andy, você vai me ajudar.
— Mas doutor-...
— O que estão falando? — o pai da menina os interrompeu. — Por que não estão fazendo nada?
— Por favor, espere lá fora. — o médico solicitou.
— Não deixe a minha pequenina morrer! — o Ômega pediu e logo em seguida saiu, sendo amparado por familiares e amigos.
— Seokjin, você vai mesmo abrir essa garota? — Andy perguntou alarmado ao ver o Beta separar alguns itens que iria precisar. — Você já fez isso antes?
— Já... — Seokjin pigarreou e corrigiu-se: — Estudei o cadáver de um homem que morreu com essa mesma doença.
— Não é a mesma coisa. Isso é loucura!
— Isso é medicina. — o Beta retrucou. — Agora traga um pouco de ópio.
Andy negou com a cabeça mas foi em busca do que o médico pediu.
— Eu vou morrer? — a alfa perguntou com a voz trêmula, tentando suportar a dor. Seokjin apenas a observou com o cenho franzido. Não houve uma resposta concreta para aquela pergunta. A menina tomou algumas respirações e continuou com certa dificuldade: — Eu não posso morrer, meu pai ficará sozinho.
Neste momento, Andy retornou trazendo o remédio consigo. Seokjin recolheu o pequeno frasco e se aproximou da menina:
— Isso vai fazer você dormir um pouquinho. — a criança aceitou o conteúdo. — Qual é o seu nome?
— Anne.
— Eu não sei dizer se você vai morrer, Anne. Não me foi dado tal conhecimento. Mas eu farei o possível para salvar você.
A pequena Alfa assentiu. Seokjin permaneceu ao lado enquanto os sentidos da garota eram adormecidos gradativamente, até ela perder a consciência.
— Seokjin-... — o Ômega ainda tentou, mas foi interrompido pelo médico.
— Não posso fazer isso sozinho, Andy. Mas se você for apenas atrapalhar, saia.
O Ômega olhou para a garota desacordada, pegou uma tesoura e cortou suas roupinhas na parte do torso.
Após toda a preparação e cuidados, Seokjin respirou fundo e abriu a barriga da menina. Ele buscou pelo lugar onde a moléstia se manifestava mas teve dificuldade devido a grande quantidade de sangue, diferentemente do cadáver em que manuseou em seus estudos.
— Sinais vitais? — Seokjin perguntou mantendo sua atenção no interior da incisão.
— Respiração lenta, mas o coração está acelerando.
Foi longa a procura. Seokjin manteve-se estável durante todo o momento. A garota quase acordou em alguns momentos, mas Andy a sedou em todas as vezes.
— Bisturi. — o médico solicitou quando encontrou a fonte daquela condição.
Por insistência do pai da criança, Andy permitiu que o Ômega entrasse enquanto Seokjin passava as ataduras. Assim que viu o Ômega se aproximar, ele explicou:
— Ela precisa descansar. Não temos certeza de que sobreviverá.
— Eu só queria vê-la.
Seokjin anuiu e deixou o pai com a menina durante algum tempo.
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O médico estava sentado no chão e com as costas apoiadas na parede. Suas pálpebras estavam pesadas e os olhos se fechavam a cada instante.
— Devia ir para casa, Jin. — o Ômega ajudante sugeriu. — Você está muito cansado, precisa descansar.
— Estou bem, não se preocupe.
— Tudo bem, mas e como os pacientes ficam? No estado em que você se encontra não consegue diagnosticar nem mesmo uma lepra.
Seokjin bocejou e passou as mãos nos olhos.
— Você tem razão. Eu estou exausto. Tomara que aquele Alfa não esteja em casa... — a última frase foi dita em tom muito baixo e o Ômega não escutou.
— O que disse?
— Nada. Até mais tarde.
— Até, Jin.
O Beta seguiu do hospital diretamente para casa. Era cedo pela manhã e Seokjin imaginou que talvez seu pai estivesse jogado em qualquer parte da casa, ou quem sabe no quarto dormindo. Caso tivesse conseguido subir as escadas.
Seokjin tomou um longo banho e largou seu corpo no colchão macio. Ele perdeu a consciência poucos minutos. Sonhou que estava no jardim com sua mãe, ajudando a cuidar das plantas.
Foi acordado por seu estômago faminto. Ele desceu as escadas até a cozinha e assustou-se ao ouvir seu pai resmungando naquele cômodo.
— Ah, então você resolveu dar o ar de sua graça. — o Alfa disse assim que viu o filho.
— Bom dia, está com fome? — Seokjin tentou ser gentil. — Vou peg-...
— Bom dia só se for para você! — Sr. Kim o interrompeu com ignorância, massageando as têmporas. — Minha cabeça vai explodir.
— Há algumas ervas no jardim. Eu vou buscá-las e fazer um chá para o senhor.
— Não vai trazer feitiçaria para dentro da minha casa! — o mais velho bradou lançando uma xícara na parede. Ele estremeceu com o barulho e encolheu os ombros. — Onde esteve essa madrugada?
— No hospital.
— Virou a sua casa, agora? Fica no meio daqueles moribundos, arriscando trazer alguma maldita doença. Se eu pegar lepra eu mato você.
Seokjin respirou fundo e saiu para o jardim para tomar um pouco de ar. Na presença do seu pai era quase impossível respirar. Ele o sufocava com suas palavras, sempre agressivas e maldosas.
Sentiu tristeza ao ver todas as flores murchas. E observando-as, Seokjin lamentou o quanto era tênue a linha entre a vida e a morte.
Não querendo suportar a presença do seu pai nem por mais um segundo, o Beta voltou ao hospital mais cedo do que pretendia. Visitou alguns pacientes e sorriu ao ver que Anne estava se recuperando bem. Aquilo pelo menos alegrou o seu dia.
Enquanto atendia um paciente que estava perdendo sua visão, ouviu o barulho de uma confusão vinda do lado de fora e se alastrando para dentro do hospital. Andy correu até onde o médico estava e com voz pesarosa ele comunicou:
— Seu pai está aqui. Ele está completando embriagado.
As pupilas de Seokjin se dilataram e a sua frequência cardíaca aumentou drasticamente. Ele deixou o paciente aos cuidados do Ômega e desceu para tentar impedir o seu pai de destruir aquele lugar.
— Quem ousar tocar-me, eu mato! — Sr. Kim rosnou segurando uma garrafa de vidro quebrada.
— Pai, volte para casa. — Seokjin afirmou com voz calma, porém firme.
— Aí está! O filho que prefere estar acompanhado de uma corja de desconhecidos do que com o próprio pai! Engraçado, se acha um deus curando esses malditos. Mas é um inútil que foi incapaz de salvar a própria mãe!
— Coloque essa garrafa no chão.
— Você não manda em porra nenhuma. — Sr. Kim rosnou. Dois médicos se aproximaram à esquerda, na tentativa de desarmá-lo, mas o Alfa percebeu e girou a mão com a garrafa tentando atingi-los: — Afastem-se!
Seokjin pegou uma vassoura, e num ato completamente arriscado, ele lançou o lado das cerdas contra a mão do pai. O sr. Kim deixou a garrafa cair no chão, os médicos se aproveitaram da ocasião e conseguiram conter o Alfa.
— Chamem os guardas! — um dos médicos anunciou.
Em pouco tempo a baderna foi dispersada quando o Alfa bêbado foi levado para fora do hospital. Seokjin se colocou a recolher todos os cacos de vidro da garrafa, mas parou ao sentir a mão em seu ombro.
— Deixe que Andy faça isso. — um outro médico afirmou. — E não precisa ficar aqui hoje.
— Eu prefiro ficar.
— Você está abalado, eu posso ver isso. Mesmo que tente se manter calmo.
Seokjin assentiu. Ele não queria deixar o hospital, era o único lugar em que conseguia se sentir útil, e não pensar em como sua vida havia desandado desde que sua mãe morrera. Mas nada podia fazer, aquele era seu superior.
O Beta perambulou pelas ruas da cidade, sem um destino certo. Ele ouviu quando algumas crianças comentaram que havia um navio pirata na costa. Imediatamente ele se lembrou do seu irmão mais novo, que partiu para trabalhar em um navio mercante quando tinha quatorze anos.
Foi com esse pensamento que Seokjin decidiu que faria uma visita a família de pescadores que criou seu irmão durante a infância.
A casa era pequena e simples, como as demais da periferia. Mas o Beta sentiu-se confortável assim que se aproximou da porta. Aquele lugar lhe trazia um sentimento nostálgico da época em que a Sra. Kim o trazia para visitar o seu irmão.
Seokjin bateu na porta e foi recebido por Madalena, a dona da casa.
— Oh, venha ver, marido. É o Jin! — a Ômega o abraçou. — Como você está? Faz tempo que não o vemos. Entre.
— Com licença...
Seokjin entrou e apertou a mão de Jaekwon, o Alfa esposo de Madalena.
— Você chegou em um ótimo momento. — Jaekwon afirmou apontando para um dos quartos. — Vá...
O Beta franziu o cenho, mas seguiu desconfiado para o cômodo indicado pelo mais velho. Antes mesmo de entrar, notou que havia um Alfa de costas para ele, vestido inteiramente de preto.
— Você fala tão alto que eu ouvi sua voz daqui. — o Alfa pronunciou. Ele virou-se devagar e quando ficou de frente para Seokjin, abriu um grande sorriso vendo a cara de espanto do Beta. — Que foi? Parece até que viu um fantasma.
Seokjin correu até o irmão e o abraçou fortemente. Ele respirou profundamente e fechou os olhos ao inalar aquele inconfundível perfume de rosas.
— Cinco anos, Yoongi!? — a voz retornou a garganta do Beta. — Você esperou cinco anos até voltar e visitar sua família?!
O Alfa se afastou, coçando a cabeça.
— Eu estive ocupado...
— E o que você estava fazendo, afinal? — Seokjin estudou o irmão e arregalou os olhos ao notar as armas que carregava. — Você se tornou um pirata?
— Sim.
— Oh, céus. — o Beta parou para respirar um pouco. Ele voltou a falar quando lembrou-se de algo: — A nossa mãe...
— Eu sei. Como aconteceu?
— Contraiu a peste branca. (Tuberculose)
— E o seu pai?
Seokjin hesitou antes de responder:
— Conseguiu o ato incrível de se tornar uma pessoa pior. Os vícios dele só aumentaram. Está mais violento... ele invadiu o hospital ainda hoje.
— Por que insiste em continuar aqui? Não há nada para você nesse lugar.
— E para onde eu iria?
— Venha comigo.
— M-mas assim? De repente? Me tornar um... pirata? Sem ofensa.
— Não ofendeu.
— Desculpe... não posso.
Yoongi ouviu uma movimentação e seguiu até a sala, onde encontrou um membro de sua tripulação tomando chá com Madalena.
— A senhora é muito gentil. — o pirata afirmou com um sorriso. — E esse chá está delicioso.
— Jungkook? — o lúpus indagou confuso.
— Capitão! — o Alfa se assustou, mas sua expressão logo mudou para uma surpresa quando viu Seokjin ao lado dele. — Oh, eles se parecem mesmo. Bem que a senhora disse.
— E não é? — a Ômega riu.
— Por que está aqui? — Yoongi cortou o assunto.
— Já fizemos o... — o pirata estava se referindo aos saques, mas hesitou devido aos pais adotivos de Yoongi: — Aquilo que viemos fazer aqui. A tripulação está voltando para o navio.
Capitão Min assentiu, depositou um saco de moedas em cima da mesa e disse ao seu pai:
— Compre um barco e redes melhores. — ele girou para Seokjin: — Está certo de sua decisão?
— Sim.
Yoongi nada pode fazer a não ser aceitar a escolha do seu irmão. Para ele, Seokjin iria definhar aos poucos se permanecesse na companhia funesta do próprio pai. Mas era uma decisão que cabia apenas a Seokjin.
O Capitão Min despediu-se de seus pais adotivos e de Seokjin, e rumou com Jungkook a caminho do cais.
🏴☠️🏴☠️
Os piratas estavam organizando as cargas dentro dos botes, para transportá-las até o navio. Yoongi foi o último a subir em um dos barcos, quando ouviu de longe a voz do seu irmão:
— Yoongi! — Seokjin gritou correndo pela praia.
— Esperem. — o Capitão ordenou.
O Beta chegou até onde eles estavam quase colocando os pulmões para fora. Ele segurava uma maleta e recuperou o fôlego antes de perguntar:
— Ainda há uma vaga para mim nesse barquinho?
— Minah, vá para o outro bote. — Capitão Min disse a Alfa que ocupava um lugar no mesmo bote que ele. Yoongi indicou o espaço que ficou vazio ao seu lado. — Sente-se aqui, Seokjin.
Assim que os botes chegaram no Black Swan. As cargas foram levadas ao porão e o Capitão apresentou o mais novo membro a tripulação:
— Este é Seokjin. Ele será o médico do navio.
— Sabe doutor, eu estou com uma dor bem aqui... — um dos piratas se aproximou, com a mão na região íntima.
— Isso acontece porque ele enfia esse pau murcho em qualquer buraco que encontra no navio. — Jared comunicou.
— Cale-se! Eu não falei com você!
Uma pequena discussão iniciou-se, Seokjin pigarreou alto:
— Eu vou examinar cada um de vocês. Há algum lugar onde eu possa fazer isso em particular e com calma?
— Bom, tem as cobertas inferiores, que é onde dormimos. — Hamin contou. — O porão de carga, a cozinha...
— Claro, Hamin. — Jared riu com ironia. — Porque o médico vai examinar esse teu pau mole bem onde eu preparo a comida!
Seokjin revirou os olhos e respirou fundo.
— Eles são assim trinta horas por dia. — um pirata anunciou. — E só param quando estão dormindo.
— Mas um dia só tem vinte e quatro horas. — Seokjin afirmou.
O pirata começou a contar nos dedos.
— É melhor se acostumar, você vai ouvir coisas bem piores. — um outro pirata se aproximou. — A propósito, sou Namjoon.
Seokjin sorriu para o pirata e ofereceu-lhe a mão para um cumprimento um pouco mais caloroso.
— Onde fica o dormitório?
— Por aqui... — Namjoon indicou o caminho para o médico.
🏴☠️🏴☠️
O médico recebeu cada membro da tripulação separadamente. Ele ficou satisfeito ao concluir que nenhum dos piratas estava com alguma doença grave e transmissível.
Quando o último bucaneiro foi examinado, Seokjin esticou as costas e decidiu dar uma volta pelo convés, para se adaptar melhor ao novo estilo de vida. Haviam poucos piratas circulando entre a meia-nau, a maioria deles se encontrava na popa, jogando cartas.
O Beta caminhava distraído, observando os enormes mastros que suportavam todas aquelas velas. Ele admirou por algum tempo a brilhante engenharia de um navio.
— Inferno! — uma voz irritadiça chamou sua atenção e ele seguiu mais a frente, até a proa.
Um alfa estava mexendo em um apetrecho na frente da embarcação. Era Namjoon, o contramestre. Sua cara de bravo indicava que estava tendo problemas com aquele instrumento.
— Olá? — o médico chamou.
— Olá, o que faz aqui? — o pirata se levantou limpando as mãos.
— Só dando uma volta... e você?
— Tentando consertar a âncora. — ele mostrou certa parte do aparelho. — Aqui nesta parte interna é onde onde os aros da corrente se acomodam... desculpe, você não deve se interessar por isso.
— Ah, não... continue. Eu quero ouvir a sua explicação.
Namjoon sorriu assentindo.
— Você bebe rum? — o médico franziu o cenho e negou com a cabeça. — Vinho? — Seokjin assentiu. — Espere aqui.
Namjoon ausentou-se por alguns minutos, mas logo retornou trazendo uma garrafa de vinho e duas canecas. Ele serviu a ambos e voltou a contar como funciona a estrutura de uma âncora.
A partir desse dia, tornou-se um hábito para ambos passar longas horas na companhia um do outro, na proa do Black Swan, tomando vinho e conversando alegremente.
🏴☠️🏴☠️
Junbuu
O palácio da família real estava mais movimentado do que de costume. A chegada do Imperador do Japão mobilizou a morada da Rainha pelo menos algumas semanas antes da chegada do monarca.
Tudo deveria estar impecável, por isso, mais servos foram contratados para ajudar na preparação das formalidades. Floristas entravam e saíam com carroças cheias de arranjos e dividiam-se entre o enorme jardim e o palácio.
A cozinha era o local mais exigente de todos. Os alimentos eram os de melhor qualidade e o manuseio dos ingredientes era feito com todo o cuidado. Se um simples ramo de tomilho caísse no chão, era motivo para o cozinheiro chefe esbravejar nos ouvidos dos ajudantes.
— Imprestáveis! — Junbuu gritou cravando a faca numa tábua. — Pedi que me trouxessem assistentes e o que me deram foi uma legião de burros!
— Não precisa falar com eles desse jeito. — um Alfa segundo no comando afirmou.
— Escute aqui, seu merdinha. — Junbuu se aproximou movimentando a faca afiada. — Quem manda nesta cozinha sou eu. Ou você aceita ou tira esse seu traseiro atrevido aqui!
O Alfa engoliu em seco ao ver a ponta da lâmina apontada para si.
— Precisamos terminar esse banquete.
Os demais cozinheiros e ajudantes assentiram e voltaram ao trabalho. Sempre recebendo gritos do velho Beta.
Assim que terminaram os preparativos para a cerimônia inicial, um dos supervisores chamou Junbuu em um canto para lhe informar sobre as queixas recebidas.
— Desse jeito não pode continuar. — o supervisor informou. — Pode pegar suas coisas e vá embora.
Junbuu permaneceu alguns segundos aéreo, sem entender o que estava acontecendo. Depois de anos trabalhando na cozinha do palácio real, ele simplesmente foi demitido por um Beta que não sabia ao menos fritar um ovo.
— Então é isso o que eu recebo depois de anos de dedicação... — Junbuu pensou em voz alta.
— Como disse?
— Tire o ouvido do cu, que você vai ouvir!
— É justamente por causa desse comportamento repulsivo, que o senhor está sendo afastado de suas funções.
— Ah, vá tomar no seu cu! — Junbuu esbravejou e saiu derrubando tudo que estava em seu caminho. — Eu não preciso disso!
De fato, o velho Junbuu nasceu com um verdadeiro dom para cozinhar. Desde a despensa cheia do palácio real a um simples barril de legumes, o Beta sabia fazer uma deliciosa refeição.
Contudo, todos os seus bons atributos não foram o suficiente para encobrir a sua personalidade ríspida e o seu desequilíbrio para trabalhar em equipe.
O Beta tentou ingressar em um albergue. E o resultado foi parecido com seu emprego anterior. Ele estava na cozinha discutindo sobre a próxima refeição, com um dos donos do estabelecimento.
— Você pode fazer creme de milho com galinha? — o Ômega sugeriu. — Os clientes adoram.
— Sim, mas onde está a galinha?
— Ora, está no galinheiro ali nos fundos. — Junbuu foi em busca da ave enquanto o Ômega continuou falando sozinho sem perceber: — Mas pode deixar, meu Alfa vai abater a galinha porque ele faz de modo que ela não sofra tanto-...
O Ômega perdeu a voz quando se virou para continuar sua explicação, e deu de cara com o Beta segurando a ave em cima da mesa. Junbuu ergueu uma machadinha e cortou o pescoço da galinha com um único golpe.
— Aaaah! — o Ômega gritou cobrindo os olhos. — Que horror!
— Deixa de ser fresco e comece a depenar.
Junbuu jogou o animal sem cabeça para o Ômega segurar, mas ele ainda estava com os olhos cobertos, e gritou mais uma vez quando sentiu o corpo da ave bater contra seu peito.
— Aaaah!
A porta dos fundos foi aberta abruptamente, com um Alfa entrando logo em seguida.
— O que está acontecendo aqui? — o Alfa perguntou puxando seu Ômega para si.
— Olha o que ele fez. — o Ômega mostrou a roupa suja de sangue. Ele estava com os olhos cheios de lágrimas.
Junbuu estava abaixado erguendo a ave que estava no chão, e colocou-a junto com a cabeça em cima da bancada.
— Esse Ômega é um molenga. — Junbuu afirmou.
Quando ergueu a cabeça para encarar o Alfa, foi recebido por um soco em seu olho esquerdo, que o fez girar e cair estabanado contra o chão.
— Fora daqui! — o Alfa rugiu apontando para a porta.
O Beta se levantou resmungando muito baixo e saiu sem olhar para trás. Ele cuspiu um dente cheio de sangue enquanto seguia pelas ruas da cidade, frustrado por ter sido demitido mais uma vez. Injustamente, ao seu ver.
— Não está vendo que eu não vou cozinhar para uma tripulação de piratas. — o velho ouviu dois Betas conversarem. Não era de seu interesse a vida alheia, mas os dois falavam tão alto que foi impossível não ouvir: — Eles são um bando de bastardos grosseiros e estúpidos. Não trabalho para animais...
Grosseiros e estúpidos. Aquelas palavras chamaram a atenção de Junbuu. Em seu subconsciente elas lhe eram íntimas. Ele se aproximou dos rapazes e os chamou para perguntar:
— Onde estão recrutando para essa tripulação?
— Há um jovem Alfa na taberna. — um dos Betas respondeu. — Acho que é o Capitão deles.
Junbuu agradeceu e rumou para o local indicado. Alí estava um trabalho onde o velho Beta não seria demitido por seu comportamento indelicado.
— Onde está a tripulação em busca de marujos?
Os clientes da taberna olharam para o velho e riram de sua pergunta. Junbuu os ignorou e observou toda a extensão do local. Haviam dois Alfas ocupando uma mesa, um deles não parecia dar atenção a ninguém ao seu redor. Apenas tomava sua bebida e conversava com o que o acompanhava.
— Quero me juntar a sua tripulação. — Junbuu afirmou assim que se aproximou da mesa. — Sou cozinheiro.
— Vá procurar outro lugar para morrer, velho. — Namjoon respondeu.
— Eu falei com o Capitão, não com seu lacaio.
— O que disse?! — Namjoon rosnou batendo na mesa.
Yoongi ergueu a mão e fez sinal para que seu contramestre se controlasse e ele voltou a se sentar.
— Já temos um cozinheiro. — Capitão Min informou, sem olhá-lo.
— Seu cozinheiro sabe fazer uma refeição saborosa com apenas cenouras e ervilhas? Ou sabe como preservar a carne durante as longas viagens no mar? A gororoba que ele deve fazer compensa os gastos?
— Ele é útil não apenas na cozinha, mas em qualquer situação. — Yoongi afirmou. — Você sabe segurar uma espada?
— Eu tenho duas mãos que podem segurar qualquer arma, e sei exatamente como usá-las. Eu não temo a morte, Capitão. — Yoongi ergueu o olhar para encarar o Beta. — Me dê uma chance para provar que eu posso ser útil, e se eu não superar suas expectativas pode me entregar como alimento para os tubarões.
— Acho que isso pode ser interessante. — Namjoon afirmou.
— Tudo bem, pode se juntar a nós.
Levado ao navio, o Beta cozinheiro desceu até a cozinha e encontrou alguns Alfas tentando fazer o que parecia ser a próxima refeição. Um deles estava cortando uma abóbora e jogava as cascas em uma caixa
— Jogue isso. — Jared entregou a caixa a Sven.
— Ficou maluco, garoto? — Junbuu entrou no meio. — Vai jogar alimento fora quando se pode aproveitar?
— Ninguém come cascas aqui, velho. — Jared afirmou. Ele e o outro Alfa começaram a rir.
O Beta se aproximou de Jared, mantendo o semblante sério e avisou:
— Eu tenho um nome, e é Junbuu. Da próxima vez que me chamar de velho, eu sirvo a sua cabeça na próxima refeição.
O queixo de Jared caiu e Sven ergueu as sobrancelhas. Ambos entreolharam-se mas permaneceram mudos.
Junbuu tomou a caixa com as cascas.
— Você chegou aqui agora, cara. — Jared recuperou a voz. — Eu estou há muito mais tempo. Você precisa respeitar a hierarquia.
— Você é o Capitão desse navio? — Jared negou com a cabeça. — Então suas palavras e bosta, para mim, são a mesma coisa.
O Alfa rosnou.
— Deixa ele. — Sven segurou o amigo. — Deixe-o servir cascas ao Capitão. Ele vai conhecer a prancha antes que possa dizer parola.
Ambos os Alfas voltaram a rir do velho, que continuava tranquilo fazendo seu trabalho e ignorando-os.
Durante a noite, Jared e Scott não cabiam de ansiedade, para ver o que o Capitão faria com aquele velho ousado quando percebesse que ele lhe serviu cascas na hora do jantar. Porém, até mesmo eles admitiram que aquele arroz cremoso, que foi feito juntamente com as cascas das abóboras, estava simplesmente magnífico.
— Essa foi a melhor coisa que eu já comi na vida. — Joe afirmou, lambendo os dedos. — Eu quero mais!
— Se for assim eu também quero! — Scott ergueu o prato.
— Até tu, Scott? — Jared indagou frustrado.
O Alfa deu de ombros e se levantou para repetir.
E assim, o velho Junbuu provou o seu valor e permaneceu no domínio da cozinha, para a felicidade dos piratas. Incluindo Jared.
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Chaerin e Dahyun
O Black Swan havia ancorado no porto de Taiwan, para reabastecer o estoque. Os piratas aproveitaram as poucas horas que teriam para se divertirem em terra, antes de voltar ao árduo trabalho no navio.
Próximo ao grande Império Chinês, aquele porto era um dos lugares mais movimentados de toda a região. Perdendo apenas para a Ilha de Nabuco.
Uma Alfa entre os muitos trabalhadores que descarregavam os navios, buscava ingressar em uma das embarcações. Mas sem nenhuma moeda nos bolsos, sua entrada foi barrada em todos os navios mercantes.
Chaerin lamentou dia e noite desde que deixou sua vida na Coréia, para se aventurar em busca de novas oportunidades próximo a China. Sempre foi uma Alfa aventureira e a falta de freios a levou até a situação em que se encontrava.
Seu próximo alvo era a Terra do Sol Nascente. Mas sem moedas, aquela opção estava longe de se tornar realidade. Ela sentou em um caixote e amaldiçoou cada navio ancorado no cais.
— Tomara que todos afundem e vão para as profundezas do inferno. — a Alfa estudou as embarcações à procura do que mais parecia o primeiro que ia conhecer o fundo do oceano.
Seus olhos pararam em um cujo a cor, desde o casco até o mais alto dos mastros, era preto.
— E temos o vencedor. — ela riu cruzando as pernas.
— Se você derramar um grão dessa maldita pólvora-... — um Alfa vinha resmungando no ouvido de outro.
Chaerin observou os Alfas seguirem pelo cais, carregando caixas em direção ao navio de velas negras. O primeiro pensamento da Alfa foi imaginar aqueles dois piratas em desespero, assim que o navio deles começasse a afundar no meio do Pacífico.
Em seguida, ela teve uma ideia que poderia levá-la ao destino desejado. Ela se aproximou dos Alfas e chamou por eles:
— Estão indo para o Japão?
— Por que quer saber? — um dos Alfas perguntou. O outro depositou o caixote em cima do seu e a madeira rangeu. — Olha que porra você tá fazendo!
— Isso tá muito pesado, Jungkook.
— Foda-se. — o Alfa respondeu. — Se perdermos essa carga eu vou tirar pólvora do seu cu para alimentar os canhões.
— Tsc... Você só sabe-...
— Quero uma carona. — a Alfa interrompeu a discussão.
— Olha pra gente e diz se temos cara de quem damos carona?
A Alfa estudou o bucaneiro e suspirou desinteressada, voltando sua atenção para Jungkook:
— Eu posso pagar.
— De quanto estamos falando?
— Uhm... — Chaerin hesitou. — Com trabalho.
Os piratas entreolharam-se e riram desacreditados.
— Por que você não trabalha para conseguir algumas moedas e depois tenta outra vez?
— Estão esperando as cargas embarcarem sozinhas? — Yoongi perguntou ao se aproximar da rampa para o navio.
— Desculpe, Capitão. — Joe respondeu. — Essa Alfa nos parou pedindo carona.
— Mentira. — Chaerin revelou. — Vocês pararam aqui porque não aguentaram o peso dessas caixas.
— Fica na tua Alfa. — Jungkook rolou os olhos. — Só estávamos calculando a distância...
— Parem de perder tempo e embarquem logo de uma vez. — Yoongi deliberou e virou-se para voltar à Cabine.
— Capitão! — Chaerin o chamou, vendo que esta seria a sua última chance. O lúpus voltou-se para ela e esperou. — Seu navio vai naufragar.
Yoongi franziu o cenho.
— Como sabe?
— Pelo modo que o timoneiro manobra o seu navio. — ela apontou para o casco. — Estaciona sem se preocupar em atingir o deque. Talvez não afunde de imediato, mas se continuar com essas avarias, é só questão de tempo... eu posso manobrá-lo para o senhor, se me levar até o Japão.
— E se não estivermos indo para o Japão?
— Julgando pelas suas transações, eu diria que uma hora ou outra vai passar por lá.
— Tudo bem, suba aqui e mostre o que sabe fazer.
A Alfa sorriu grande e suspirou feliz. Estava tão entusiasmada por finalmente poder sair daquele lugar, que agarrou a caixa de Joe e a levou para dentro do navio.
O Capitão a guiou até o leme, e esperou que ela fizesse como prometido. Chaerin segurou nas malaguetas e respirou fundo.
Era como um maestro guiando uma orquestra. Ela girou o leme fazendo parecer fácil, e manobrou o navio para fora da angra. O Black Swan deslizou imperturbável rumo ao norte, tão suavemente quanto um cisne nas águas de um lago.
E para maior felicidade de Chaerin, o navio realmente estava subindo a caminho do Japão.
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Após alguns dias de viagem, a tripulação foi obrigada a fazer uma nova parada. Não estavam interessados no que o Arquipélago de Ryukyu tinha a oferecer, mas o visível desgaste dos mastaréus fazia com que o navio perdesse consideravelmente a sua velocidade.
Eles trocaram as velas há pelo menos algumas semanas, mas a estrutura do navio já necessitava de reparos urgentemente.
No cais pouco movimento da cidade, havia uma Beta recém formada, em busca de tirar seu diploma do baú e mostrar o que aprendeu na escola de engenharia. Mas a pouca idade aliado à falta de experiência, fazia com que ninguém quisesse arriscar contratar os seus serviços. Afinal, prata não cresce em árvores.
Dahyun perdeu as contas de quantos "nãos" recebeu só naquele dia. Desistir não era algo que estava em seu vocabulário, mas chega uma hora em que o coração aperta quando você não consegue expor todo o seu potencial, porque simplesmente não acreditam na sua capacidade. E a Beta estava começando a sentir que não tinha um lugar no mundo.
— Eu devia aceitar o trabalho na lavanderia, Jean — Dahyun afirmou para o Alfa. — E não estaria dependendo da sua boa vontade. Sinto que estou-...
— Pode ir parando agora mesmo, Dahyun! — Jean exigiu. — Você é um gênio. Deveria estar na melhor construtora, mas você sabe como esses lugares funcionam. Ainda mais nesse fim de mundo... eu aposto que se você fosse uma Alfa, já teriam aceitado sua falta de experiência.
— Mas acontece que eu não sou, e eu tenho contas para pagar. Não posso viver aqui para sempre. Um dia você vai encontrar um Ômega e vai se casar.
— Você sabe que pode ficar aqui o tempo que for. — Jean afirmou com sinceridade. — Mas você já pensou em trabalhar em algum navio mercante? Eu sei que viagens de navio são bastante demoradas e cansativas, mas geralmente ninguém quer trabalhar em navios, então...
— Eu já tentei. Busquei comandantes que ancoraram aqui, mas nem ao menos quiseram me ouvir.
— Você pode comprar uma passagem e quando estiver lá dentro, mostra pra eles.
— É muito caro. Eu não sei se devo gastar todas as minhas economias em algo que eu não tenho certeza.
— Eu pago.
Dahyun já sentia-se mal por estar vivendo dependente do Alfa, seu orgulho não iria suportar causar mais esse transtorno. Ou pelo menos era como ela via a situação.
— O que é a vida se não nos arriscarmos alguma vez, não é verdade? Pode deixar, Jean. Eu mesma vou comprar essa passagem e depois vou voltar aqui e mostrar para esse mundo de construtoras seletivas o que elas perderam.
O Alfa a puxou para um abraço carinhoso.
— Você vai conseguir. Eu sei disso.
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Dahyun chegou cedo no porto, em busca de uma passagem. Para a sua decepção, o valor que tinha nos bolsos não era suficiente para custear uma passagem nem mesmo para a Ilha ao lado. Mesmo na embarcação mercante mais simples
A Beta resolveu dar uma volta pelo cais, para se distrair e pensar no que faria da sua vida. Não podia simplesmente voltar e contar ao amigo que não tinha moedas para a passagem, seria humilhante. Ela sabia que além dos navios mercantes, os piratas também faziam seu comércio naquela parte da ilha. Ilegal, mas faziam.
Dahyun só queria adquirir um pouco de experiência, não importava como. E daí que piratas roubam, sequestram, torturam e matam suas vítimas? Ela poderia trabalhar para eles, sem se tornar uma criminosa.
A Beta leu nos livros que piratas adoram pechinchar, logo, das moedas que lhe restavam ela poderia manter boa parte consigo. Pelo menos era o que ela tinha em mente. Mas esqueceu de considerar o fato de que, sim, os piratas amam pechinchar, mas em benefício próprio.
Buscou pelo navio pirata com as piores condições. Havia uma embarcação com as velas inteiramente rasgadas e em boa parte mal remendadas. Os mastros estavam partidos e os cabos tinham tantos nós, que talvez em um século eles conseguissem consertar sua estrutura. Não. Extremo demais. Nem ela estava tão desesperada a esse ponto.
Outra embarcação estava em condições melhores, mas os bucaneiros possuíam uma aparência medonha, vil. A Beta sentiu apenas de olhar para aqueles marujos, que esta seria sua última viagem caso embarcasse naquele navio.
Havia uma embarcação mais distante. Velas gastas, casco mal cuidado, balaustrada partida e alguns mastros talvez, mal posicionados. Ela não tinha tanta certeza pois estava ligeiramente distante para enxergar. Mas de uma coisa ela tinha certeza; aquela seria sua passagem para o sucesso.
O navio era lindo. Um pouco mal cuidado. Um pouco, não. Vamos falar a verdade; aquela embarcação estava parecendo uma banheira velha. Mas de fato, para os olhos engenhosos da Beta, aquele navio era magnífico, só precisava de uma boa mão.
A âncora da embarcação começou a subir, e Dahyun viu que se quisesse alguma chance de embarcar deveria correr como nunca correu na vida. A Beta disparou na direção do navio e quase esbarrou em um Alfa enorme de cabelos inteiramente brancos.
— Desculpe! — Dahyun ofegou ao receber um olhar extremamente zangado do pirata. O Alfa comprimiu os lábios e seguiu para a rampa. Mas parou ao sentir o braço sendo puxado. — Leve-me nesse navio, eu pago.
Namjoon franziu o cenho, e sua expressão suavizou quando viu a Beta balançar um saquinho de moedas. Ele puxou de sua mão e abriu examinando a quantia.
— Isso aqui não é um navio mercante. — ele avisou.
— Eu sei, eu só quero ir para o oeste.
— Estamos indo para o norte.
— Eu também. Quanto isso vai me custar?
— Tudo o que você tem.
— Mas eu pensei que piratas gostassem de pechinchar.
— Piratas gostam de ouro, riquezas. Não essa mixaria que você carrega.
— Desculpe, mas essas são minhas economias de meses-...
O pirata a interrompeu devolvendo o saco de moedas, jogando contra ela.
— Então fique com suas economias.
— Tudo bem! — ela estendeu o saco para que aceitasse novamente. — Eu aceito, pode ficar.
Namjoon suspirou indeciso, mas com um gesto de cabeça indicou para que Dahyun embarcasse. E a Beta finalmente pode sentir que sua vida ia se transformar.
Assim que pisou no convés, Dahyun caminhou olhando para cima e ficou encantada com o desenho da bandeira. Um cisne com as asas abertas, totalmente imponente. Uma pena que o navio não estava fazendo jus àquela figura.
— Estamos virando a companhia dos benfeitores, agora? — Minah perguntou.
— Não fode, Minah. — Jungkook afirmou rolando os olhos. — Tá sempre reclamando de tudo, que Alfa insuportável.
— Ela pagou. São negócios. — Namjoon esclareceu a Alfa. — Agora você deve estar com tempo de sobra para ficar aqui insinuando coisas, não? Pegue um esfregão e limpe esse convés!
A Alfa conteve um rosnado de fúria, e foi em busca de fazer o que o contramestre ordenou.
— Você pagou apenas pela viagem. — Namjoon voltou-se para a Beta: — Então se não pretende morrer de fome é melhor contribuir com algum trabalho.
— Os canhões precisam ser polidos. São vinte. — Jungkook disse quando se aproximou. Ele entregou um pedaço de pano a Beta e acrescentou: — Em cada lado.
— Parece que você já encontrou um serviço. — Namjoon afirmou e saiu para cuidar de outros assuntos.
— Eu gosto de fazer isso todos os dias. — Jungkook ainda comentou. — Para que o desempenho deles seja mais preciso.
Dahyun assentiu. O Alfa se retirou, deixando-a sozinha com os canhões. Antes de iniciar a limpeza, ela olhou para cima e estudou a armação dos mastros. Não era de se esperar que a velocidade estivesse tão fraca.
— Ótimo. — ela ironizou. — Terei de limpar esses canhões por seiscentos dias antes que esse navio percorra três milhas.
🏴☠️🏴☠️
Enquanto limpava os aparelhos, Dahyun não deixou de olhar na direção em que ficava a cabine do Capitão. Quatro dias já haviam se passado desde que embarcou no Black Swan, mas nunca teve a chance de falar com o Capitão. Nem ao menos viu o rosto dele.
Após limpar os dez canhões superiores do lado esquerdo, a Beta decidiu que tentaria se arriscar e seguiu sorrateira até a cabine. Ela se assustou quando uma Alfa surgiu ao seu lado e cruzou os braços junto a porta, ela perguntou:
— Aonde a senhorita pensa que vai?
— Eu só estava dando uma volta.
— E por que você não vai dar uma volta no piso inferior? Lá está cheio de canhões para você limpar. Não foi isso que Jungkook mandou você fazer?
— Sim, eu...
— Ou você quer ficar sem jantar?
— Minah, você não tem mais nada para fazer? — uma voz suave surgiu através da porta da cabine, quando esta foi aberta. O médico da tripulação balançou as mãos indicando um lugar distante qualquer. — Procura outro para importunar, vai.
— Você se acha só por que o é irmão do Capitão, não é Beta?
— Pois é, Minah. Eu sou o irmão do Capitão. Você vai fazer o que, hm? — Seokjin cruzou os braços, esperando que a Alfa tivesse a coragem de fazer alguma coisa. Ou melhor, a loucura.
Minah engoliu a raiva e saiu resmungando em forma de rosnados coléricos. Dirigindo inúmeras pragas ao médico do navio. Mas nunca iria passar disso, pois teria um destino pior do que a morte caso tentasse contra a vida daquele Beta.
— Você é o irmão do Capitão? — Dahyun indagou surpresa.
— Sim. O irmão mais bonito. — ele riu divertido e em seguida recobrou a postura. — Por que o interesse?
— Eu... só... pensei... — embora estivesse falando sem gaguejar, a Beta dizia cada palavra tão pausadamente que estava impossível de entender. — Que... talvez-...
Seokjin a interrompeu.
— Calma, mulher. Respira comigo. — ele inalou uma boa quantidade de oxigênio, em seguida, expirou devagar. A Beta seguiu o exemplo e aos poucos foi se tranquilizando. — Pode falar.
— Eu só queria enunciar que um cavalo marinho poderia ultrapassar esse navio se assim o quisesse... — Seokjin deixou o queixo cair. — Desculpe, eu fui deveras inconveniente.
— Não se desculpe. É difícil ter uma conversa inteligente aqui, uma ou duas se salvam. Eu confesso que notei a lentidão desse navio, mas imagino que seja devido às condições de desgaste.
— Não é apenas isso. Eu sei de um jeito de aumentar a velocidade, apesar das avarias.
— Como você sabe tanto?
Dahyun respirou fundo quando respondeu:
— Eu sou engenheira mecânica.
— Espere um minuto. Não saia daqui. — Seokjin voltou a entrar na cabine e fechou a porta.
Naquele momento o medo começou a dominar a Beta e as paranóias invadiram sua mente:
"Eles vão me matar pela ousadia. Eu não devia ter vindo. Onde eu estava com a cabeça?"
Dahyun roeu as unhas e quase saltou para trás quando a porta foi aberta novamente, e dessa vez, um Alfa apareceu junto ao médico. Os três ficaram durante alguns estranhos segundos se encarando.
Seokjin cutucou a Beta com o cotovelo:
— Conte para ele sua ideia sobre aumentar a rapidez do Black Swan.
— Ah, sabe... não é bem uma ideia. É a lógica... — os irmãos entreolharam-se com o cenho franzido. — Não estou dizendo que sua lógica está errada, na verdade os piratas são muito inteligentes-...
— Fale de uma vez. — o Capitão a interrompeu.
— Aquele conjunto de velas alí. — a Beta apontou para o alto. — Aquelas duas parecem reter uma boa quantidade de vento, mas não é o que está acontecendo. Então se retirar uma delas e criar mais auxiliares, teria espaço para o sotavento circular com mais liberdade. Não criaria um bolo desnecessário entre os mastaréus. Isso é parte do que está causando a lentidão...
Dahyun parou de falar e observou o Capitão olhando para cima. Ela torceu para que ele estivesse entendendo o que ela falou. Mas é claro que saberia, ele é o Capitão de um enorme navio. As paranóias estavam entrando em cena mais uma vez.
— Jared. — Yoongi chamou o bucaneiro.
— Sim, Capitão? — o pirata engoliu em seco, pois imaginou que seria repreendido por estar escondido ouvindo a conversa.
— Mude a posição das velas secundárias. Transforme-as em auxiliares.
— Todas?
O Capitão olhou para Dahyun.
— As de gávea não será necessário.
Jared assentiu e começou a subir pelos mastaréus.
Yoongi escancarou a porta da cabine e moveu a cabeça indicando para que Dahyun o acompanhasse.
— Entre.
A Beta olhou para Seokjin e este assentiu. Ela então respirou fundo e entrou, sendo seguida pelo Capitão.
— Você não é uma simples passageira. — Yoongi afirmou, sentando em uma cadeira do outro lado da mesa.
— Não pretendo me tornar uma pirata. Mas é verdade que tinha planos quando embarquei nesse navio.
— Continue.
Dahyun explicou os motivos de suas escolhas. Foi totalmente sincera quando disse que aquela foi sua última opção.
— Conheço lugares onde vendem materiais com melhor custo-benefício. São de ótima qualidade. Eu não conheci esse navio em seu auge, mas só de olhá-lo eu posso ver do que ele é capaz, se for consertado pelas mãos certas.
— E as suas são essas mãos, eu imagino.
— Sim. Eu provei do que sou capaz.
— Você mudou uma vela de lugar. Qualquer um poderia ter feito isso.
— Mas não fizeram. Isso significa que precisa de alguém com um olhar mais técnico sobre a armação do navio. Eu não vou mandar em nada, e você poderá determinar o que será feito ou não...
Yoongi riu.
— Obrigado por me permitir tomar as decisões do que será feito no meu navio. — o tom de sarcasmo não passou despercebido.
Dahyun sentiu-se corar.
— Eu me expressei errado. Desculpe. Eu quis dizer... bom, eu ofereço meus serviços e habilidades à sua disposição.
— Mediante pagamento. — Yoongi supôs.
— Sim, senhor.
O Capitão puxou um pedaço de pergaminho em branco, molhou a ponta de uma pena no tinteiro e começou a escrever. Ele assinou o próprio nome no fim da folha e entregou-a para a Beta.
— Veja se está de acordo com os termos.
Dahyun leu cada linha daquela espécie de contrato. Sendo bastante sincera, a quantia recebida não era o que ela esperava, mas era o que tinha para o momento. Ela molhou a pena no tinteiro e assinalou seu nome no lugar apropriado.
O Capitão apresentou a nova mecânica do Black Swan a tripulação. Dahyun ocupou-se bastante durante a viagem. Tinham muitas coisas a serem revistas no navio. Ela subiu até o convés superior e estudou a timoneira guiando o leme.
— Posso ajudar em alguma coisa? — Chaerin perguntou, sentindo-se pouco confortável ao ser observada pela Beta.
— Você faz isso parecer fácil.
— E é. — a Alfa respondeu sorrindo. — Pena que esse brinquedinho não está em suas melhores condições.
— Eu posso dar uma olhada?
Chaerin deu um passo para trás, deixando espaço para a Beta trabalhar. Dahyun estudou o interior do timão e logo puxou uma chave de boca. Ela manuseou a ferramenta entre as engrenagens daquele aparelho e o olhar atento de Chaerin.
— Tenta agora. — a Beta se afastou.
Assim que Chaerin voltou a assumir o leme, a resposta veio através do seu sorriso. Ela olhou extasiada para a Beta e acertou um tapa no braço da mesma.
— Você é foda, garota!
—Ai! — Dahyun massageou a área atingida.
— Desculpa, eu me empolguei.
— Sem problemas. — "que mão forte" a Beta pensou, observando a timoneira dos pés à cabeça.
— Ficará conosco até os consertos serem finalizados?
— Sim, e você?
— Até o Japão.
Dahyun assentiu e permaneceu conversando com a Alfa um pouco mais. Em seguida, ela deixou a timoneira trabalhar e rumou para o porão, quando a chamaram para consertar algumas rupturas.
Durante a viagem, Dahyun costumava conversar bastante com Seokjin. Quando não estava na companhia do outro Beta, ela gostava de admirar o trabalho da timoneira.
Era encantador vê-la guiando a embarcação, no lugar mais alto do navio. O vento batia contra seu cabelo e jogava seus fios platinados para trás. Era como uma obra de arte. E quando Chaerin passava, deixava para trás um delicioso aroma de maracujá.
Quando finalmente o Black Swan se aproximou da costa japonesa, chegou o momento em que Chaerin passaria o comando do leme para uma outra pessoa. No entanto, a Alfa mudou de ideia quando o Capitão assumiu o dispositivo.
— Eu posso continuar no comando do leme?
Yoongi pensou a respeito. Mesmo em águas turbulentas, o navio permaneceu com boa estabilidade sob as mãos daquela Alfa. Chaerin realmente faria falta ao Black Swan, se desembarcasse agora.
— Por que a mudança repentina? — o Capitão quis saber.
Chaerin correu os olhos pelo convés inferior, e viu Dahyun trabalhando com o contramestre na proa. Na estrutura da âncora, exatamente.
— Eu gostei da tripulação. Quero permanecer nesse navio até não me considerar mais útil.
O Capitão permitiu.
— Tudo bem. Que seja, então.
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Após os consertos necessários, o Black Swan pareceu aumentar de tamanho. Além da velocidade que nunca havia atingido antes. Satisfeito com os serviços da mecânica, Yoongi ofereceu um lugar fixo na tripulação.
Dahyun não hesitou em aceitar, quando soube que a timoneira também ia permanecer no navio.
O interesse de uma era desembarcar quando a outra o fizesse. Mas como nenhuma das duas revelou a verdadeira natureza de suas escolhas, permaneceram com a tripulação até os dias atuais.
🏴☠️🏴☠️
Taehyung e Billy
O conhecimento é a maior riqueza que o ser humano pode adquirir. Existem pessoas que são como verdadeiras raposas em busca de sabedoria. Conhecer o mundo, para muitos, era mais do que um passatempo banal.
Haviam aqueles que em nome da ciência e do progresso, percorriam regiões onde ninguém mais ousava desbravar. O desconhecido sempre foi uma ameaça para muitos. Ilhas com criaturas medonhas, canibais, o frio extremo das terras do gelo, ou o temido Triângulo da Morte.
Só um louco para percorrer aquele caminho. Um louco, ou um jovem Beta amante da cartografia. Como muitos de sua época, ele não possuía uma grande quantidade de ouro, apenas poucas moedas adquiridas com pequenas excursões ou venda de alguns mapas desenhados por ele mesmo.
Taehyung estava no bar, saboreando um delicioso rum enquanto folheava as páginas de uma enciclopédia, quando uma forte tempestade alcançou o navio em que viajava.
Para infelicidade da tripulação, as ondas enormes e grandes tiveram força suficiente para virar a embarcação e destruir boa parte do casco, levando a um naufrágio iminente.
De todos os tripulantes, apenas o Beta havia sobrevivido quando foi levado pelas ondas até uma ilha localizada naqueles arredores. Ele acordou após dois dias na completa escuridão de sua consciência, e quando se descobriu sozinho, o desespero só não foi maior porque havia uma garrafa de rum jogada na areia ao seu lado, e sua bolsa contendo os mapas estava presa pela alça em seu torso.
O Beta ergueu as costas do chão, abriu a garrafa e tomou alguns goles da bebida.
— Nada mal. Acho que posso sobreviver até que alguém venha me resgatar.
Taehyung encontrou um bom abrigo, comida e até construiu uma grande fogueira com galhos e matos secos. A esperança é a última que morre, eis o seu lema preferido.
Contudo, os dias de entusiasmo chegaram ao fim, junto com as últimas gotas de rum contidas naquela doce garrafa.
Taehyung sacudiu o objeto para que a última partícula caísse em sua boca, e quando não restou mais nada, ele suspirou:
— Agora eu estou triste de verdade.
Desanimado, ele largou as costas sobre a areia novamente e fechou os olhos. O sono o atingiu poucos minutos depois, e ele sonhou que estava na melhor taverna da ilha de Nabuco, tomando o melhor rum da região enquanto admirava seus mapas.
Devido ao tempo em que ficou exposto ao sol, o Beta sofreu uma terrível insolação. Quando acordou, não conseguiu caminhar dois passos e logo foi acometido pela escuridão novamente.
🏴☠️🏴☠️
— Ele está acordando. — a voz de uma criança foi ouvida.
— Eu vi. Ele piscou os olhos. — de uma outra também.
— Saiam de perto. — um Alfa adulto se aproximou. — Deixem espaço para ele respirar.
As crianças se afastaram quando Taehyung tentou se levantar da cama, mas estava muito debilitado para isso e voltou a deitar-se novamente.
— Onde estou?
— Indo para Nabuco. Esse barco é de minha propriedade. — o Alfa explicou. — Meu nome é William e encontramos você desacordado em uma ilha deserta.
Taehyung passou os olhos pela cabine. Era pequena e possuía alguns artigos de pesca. Ele arregalou os olhos de repente.
— Meus bebês!?
— Calma, é melhor permanecer um pouco quieto. Você está muito fraco ainda. — o Alfa fez uma pausa com uma expressão de pesar. — Desculpe, eu não encontrei nenhuma criança.
— Não. Eu estou falando dos meus mapas.
O pescador ergueu as sobrancelhas e tossiu limpando a garganta.
— Suas coisas estão em cima da mesa. Já estão secas.
Taehyung suspirou aliviado, e voltou a descansar. Após alguns dias, sua energia estava quase completamente restaurada. Embora estivesse um pouco magro, ele ajudou os pescadores a voltar mais rápido para Nabuco, através de uma rota estipulada por ele.
— Poxa, como você é inteligente. Economizamos muitos recursos com essa viagem rápida. — o Alfa afirmou enquanto desembarcavam. — Por que não fica conosco?
— Eu confesso que sua profissão é extremamente necessária. Mas viver limitado em um certo perímetro quadrado de mar não é o que almejo. Eu sou como um pássaro e o oceano é o meu céu. Gosto de estar livre, descobrir coisas novas. A monotonia não me encanta.
O Alfa piscou sem ter entendido metade do que Taehyung quis expressar, mas no fim ele sorriu, assentindo.
— Pelo menos aceite isso. — o pescador ofereceu algumas moedas de bronze. — Sei que é pouco, mas talvez o ajude a se estabilizar.
— Muito obrigado. — Taehyung recolheu um pergaminho da sua bolsa e o entregou ao pescador. — Um atlas marítimo completo das melhores zonas de pesca.
— Como você...? — o Alfa sorriu perplexo.
— Eu já viajei bastante e registro tudo o que vejo. — o Beta se despediu. — Mais uma vez, obrigado por ter me salvado.
Após se despedir, Taehyung rumou para o centro da cidade, disposto a fazer a primeira coisa que sonhou enquanto estava perdido naquela olha. Sim, estamos falando de uma bela garrafa de rum.
— Aqui está algo em que vale a pena gastar. — ele ergueu a garrafa e brindou consigo mesmo. — Ao rum.
Algumas mesas atrás, estava um grupo de Alfas bebendo e rindo animados enquanto jogavam cartas. O Beta se aproximou e assistiu ao jogo, assim como os demais curiosos. Ele estudou por um tempo as jogadas de cada um.
— Não tenho mais nada para apostar, eu quero sair. — um Alfa se levantou irritado, após perder tudo o que tinha.
— Eu entro. — Taehyung afirmou.
— Aqui só jogamos apostando. — um dos que estavam na mesa disse.
— Eu percebi. — o Beta colocou as moedas de bronze sobre a mesa.
O Alfa assentiu e indicou para que Taehyung se sentasse.
Logo na primeira jogada ele faturou o dobro do que havia apostado. Em um lance mais alto, ele triplicou e até algumas moedas de prata foram para a sua posse.
A essa altura, a quantidade de curiosos ao redor daquela mesa havia se multiplicado, assim como as moedas que o Beta mal conseguia contar. Furioso, um Alfa socou a mesa e destruiu o jogo armado sobre ela.
— Ele está roubando!
— Senta essa bunda aí, Billy! — um dos jogadores exclamou. — Só fala isso porque é o que mais está perdendo.
— A culpa não é minha se você é tão previsível em suas jogadas.
— Devolva as minhas moedas! — Billy exigiu apontando para o Beta. — Não estão vendo isso? Ele está trapaceando. É impossível alguém vencer tantas vezes seguidas.
— Quando se usa a intel-... — Taehyung foi interrompido pelo rugido de um Alfa.
— Billy tem razão. Eu nunca perdi tantas moedas como hoje.
Uma pequena comoção foi se tornando algo muito maior. Taehyung se levantou devagar e tentou recolher as moedas, mas foi agarrado pela gola da camisa e teve as costas pressionadas contra a parede.
— Eu vou te matar!
— Vamos conversar como duas pessoas civilizadas... — mal tendo tempo de terminar sua frase, o Beta foi atingido por um soco no nariz.
Taehyung despencou sobre uma mesa, rolou e caiu no chão. Seus mapas caíram de sua bolsa e se espalharam. Entre aquela multidão de curiosos, um Alfa lúpus se abaixou e pegou um dos mapas. Ele o observou e ficou impressionado com a riqueza de detalhes.
— A quem isso pertence? — o lúpus questionou erguendo o pergaminho.
— Àquele camarada ali que está apanhando. — uma mulher apontou na direção que um Beta engatinhava por baixo de uma mesa, tentando fugir da fúria de um Alfa.
— Vai, Billy! — um dos jogadores gritou. — Pega ele, frita ele, faz purê!
Billy jogou a mesa para o alto e Taehyung encolheu os ombros quando o Alfa avançou contra ele pronto para socá-lo mais uma vez. Ele freou bruscamente quando um outro Alfa surgiu e agachou-se na frente do Beta, bloqueando seu caminho.
— Ei!
Capitão Min ignorou o Alfa e mostrou o mapa a Taehyung:
— Você que fez isso? É um navegador?
— Sim. Quase isso. Sou um cartógrafo.
— Ei cara, está atrapalhando. — Billy esbravejou. — Sai daqui e espera a sua vez.
Yoongi lançou um olhar vermelho e furioso para o Alfa e rosnava ameaçador. Billy engoliu em seco e recuou alguns passos.
— Pode ler qualquer mapa? — o Capitão voltou sua atenção ao Beta.
Taehyung olhou para Billy por cima dos ombros do lúpus. Através de leitura labial, o Beta conseguiu entender o aviso de Billy:
"Eu vou te quebrar"
Taehyung então voltou sua atenção ao rosto de Yoongi.
— Sim! Eu consigo ler e decifrar qualquer mapa.
— Seja meu navegador. — o Capitão convidou.
Outros Alfas se colocaram ao lado de Billy, segurando barrotes de madeira. Taehyung foi ligeiro em perguntar ao lúpus:
— Quando eu começo?!
O Capitão Min ergueu o olhar para o seu contramestre, e ambos sorriram pensando na mesma coisa. O fragmento do Imperium. Yoongi ajudou o Beta a se levantar e um outro membro da tripulação recolheu seus mapas.
— E lá se foi o maldito com as suas moedas, Billy.
— Isso não vai ficar assim. — afirmou Billy. Ele os seguiu até o cais, antes de Yoongi embarcar, ele o chamou: — Capitão, sou muito habilidoso com espadas, trabalho em qualquer condição e estou disposto a me juntar a sua tripulação e ser inteiramente fiel ao senhor.
— Não vai fazer do meu navio um palco para o seu ajuste de contas.
— Eu só quero recuperar as moedas que perdi. E sei que posso ganhar muito mais me juntando a sua tripulação.
Capitão Min estudou o Alfa, sabendo que sua verdadeira intenção era se vingar do Beta. Mas resolveu dar uma chance a Billy, caso fizesse qualquer bobagem, era só matá-lo.
🏴☠️🏴☠️
Ainda sem uma rota definida, o Black Swan rompeu pelo horizonte, a caminho de um novo saque. O ânimo entre a tripulação cresceu quando souberam que um navegador estava a bordo. Era só questão de tempo para que o Beta os guiasse pelo caminho certo em busca de ouro.
Encontravam-se dentro da cabine; Yoongi, Namjoon e Taehyung. O Beta estava sentado diante da mesa do Capitão, examinando um pedaço de pergaminho. Ele parecia encantado diante daquele papel, enquanto os Alfas estavam de braços cruzados, esperando que ele revelasse o que estava escrito.
— Fascinante... — o mistério só crescia quando o Beta murmurava algumas palavras. — Incrível...
O Capitão e seu contramestre trocavam olhares ansiosos.
O navegador examinou cada pedacinho daquele fragmento. E parecia descobrir algo novo a cada vez que deslizava os dedos por cima dos riscos contidos em sua superfície.
— Vai ficar nessa o dia todo? — Namjoon perguntou impaciente. — Fala logo o que isso significa. O que esses riscos querem dizer?
— Oh, eu não sei. — a confissão do navegador foi como um choque.
— Você disse que consegue decifrar qualquer mapa. — Yoongi o lembrou.
— Qualquer mapa. Mas isso é apenas um fragmento... — Taehyung respondeu. O Capitão respirou fundo quase como um rosnado. — Mas eu posso ajudar a encontrar os outros...
— É um inútil. — Namjoon refletiu. — De que nos serve encontrar as outras partes se ninguém vai conseguir ler, oh gênio?
— E se encontrar alguém que possa ler? — Taehyung contrapôs. — Vai precisar de um navegador para ajudá-lo.
— Ninguém consegue ler esse mapa. Você era a nossa última esperança. — Namjoon explicou.
— O mapa foi criado por alguém, então obviamente ele pode ser lido. Isso já é certo.
— Vai ver só o Francis consegue entender. O maldito Ômega fez todo mundo de idiota.
— O tesouro dele é incalculável... — Yoongi pensou em voz alta encarando o nada.
— Capitão? — Namjoon o chamou. Yoongi olhou para ele. — Quais suas ordens?
— Se me permite. — Taehyung ergueu a mão com cuidado. Os Alfas olharam para ele e Yoongi assentiu com a cabeça. — Eu sugiro a linha dos comerciantes. Não posso lhe dar o significado desse fragmento, mas eu garanto as melhores rotas para emboscar os mais ricos galeões.
— Eles são protegidos pela Marinha. — Namjoon ponderou.
— É por isso que temos o melhor atirador e estrategista. — O Capitão sorriu e aprovou a sugestão do navegador. — Crie um itinerário.
O navegador foi deixado sozinho na cabine estudando os mapas e criando as novas rotas para o Black Swan. Minutos depois, a porta foi aberta e um Alfa aproximou-se da mesa.
Taehyung estava tão concentrado nos atlas que não deu atenção ao sujeito. O Alfa pigarreou alto, fazendo o Beta erguer a cabeça em um sobressalto.
— Pois não?
— O Capitão me mandou aqui para falar com você. — o Alfa puxou uma cadeira e sentou-se. — Sou Jungkook, o atirador.
— Taehyung. — o Beta se apresentou.
— Eu sei. — Ambos se encararam por alguns segundos. Pela falta de diálogo, Jungkook sorriu e perguntou: — E então?
— Então o que? — Taehyung indagou, descendo os olhos pelo corpo do Alfa. — Nossa, quantas pistolas.
Jungkook passou as mãos pelo torso coberto pelas armas e perguntou:
— Gostou? — o Beta umedeceu os lábios. — São as melhores companheiras na hora da ação.
Taehyung sorriu.
— Não tenho dúvidas. — ele mostrou uma planta do Black Swan. — Qual lado da embarcação você acha melhor para buscar um navio?
— Qualquer um.
— Está falando sério?
Jungkook assentiu com a cabeça.
— Posso afundar qualquer navio em qualquer ângulo que esteja.
Era um Alfa muito interessante, Taehyung pensou. Além de fisicamente muito bonito, também era inteligente. Guardou suas notas pessoais para si mesmo e continuou a elaborar as rotas.
— Obrigado. Saber disso vai ajudar bastante.
O Alfa sorriu satisfeito. Taehyung não imaginava, mas ele não era o único a fazer suas notas mentalmente. Para Jungkook, por exemplo, aquele Beta ficava muito sexy diante de todos aqueles mapas, estudando cada centímetro dos lugares por onde iriam percorrer.
O Capitão retornou à cabine e lhe foram apresentados os planos para o próximo saque. Ele ficou muito satisfeito com a cooperação entre o navegador e o atirador e decidiu que eles iriam trabalhar juntos mais vezes.
🏴☠️🏴☠️
Enquanto caminhava pela popa observando as constelações, Taehyung fazia novas anotações quando foi surpreendido por um Alfa.
— Devolva as minhas moedas!
— Ainda com isso, Billy?
— Você trapaceou!
— O melhor vencedor é aquele que aceita a derrota. — Taehyung tentou passar, mas o Alfa agarrou seu braço.
— Pela última vez, devolva as minhas moedas. — Billy inquiriu com voz calma, porém seus olhos em tons amarelos não demonstravam a mesma paciência.
— Tentando intimidar um Beta? — os dois ouviram uma voz logo atrás, e quando Billy girou a cabeça eles viram o atirador encostado na parede externa da cabine, com os braços cruzados enquanto observava-os. — Por que não encara alguém do seu tamanho?
— Não se mete que isso não é assunto seu. — Billy avisou.
— Eu me meto sim. — Jungkook afirmou se aproximando. — Porque acontece que eu estou entediado e não fui com essa sua cara feia.
Billy rosnou enfurecido e Jungkook fez o mesmo. Antes que aquela pequena confusão se transformasse em dois Alfas mortos no chão da popa, Taehyung os afastou segurando em seus ombros.
— Guardem as presas, lobinhos. Ninguém precisa morder aqui. — Taehyung virou-se para Jungkook: — Você é muito bonito para morrer. — E depois, para Billy: — E você... eu realmente não sei para quê serve... mas escuta, eu realmente não trapaceei naquela aposta. Você é muito previsível e é fácil ler suas expressões.
— Mas isso é trapassa. — Billy bateu o pé no chão, reafirmando sua opinião. — Eu sou burro e você usou sua inteligência contra mim.
Jungkook e Taehyung trocaram olhares sem acreditar no que estavam ouvindo.
— Certo. E se eu te ensinar alguns truques?
— Como assim? — Billy indagou, desconfiado.
— Te ajudo a identificar quando o outro jogar está blefando. Quando ele está com uma boa carta... e você esquece o incidente da taberna.
— Tudo bem, eu aceito.
Taehyung suspirou aliviado. Jungkook ainda observou o Beta ensinando Billy e dando algumas dicas essenciais para sempre vencer em um jogo de cartas.
Satisfeito pela aula recebida, Billy sorriu estufando o peito, sentindo-se mais sábio do que há dois minutos.
— Quero testar minhas habilidades.
— Melhor que não seja comigo. — Taehyung logo esclareceu.
— Por que não?
— Porque é melhor começar com alguém mais estúpido do que você.
Billy franziu o cenho.
— O que quer dizer com isso?
— Nada...
— Eu conheço alguém que se encaixa perfeitamente. — Jungkook afirmou. — O Jared.
— Onde ele está? — Billy perguntou interessado.
— Nas cobertas inferiores.
Billy anuiu e correu para descer até o local indicado.
— Obrigado.
— Pelo quê? — Jungkook ficou confuso.
— Me ajudou a dar um fim a esse assunto.
— Ah, que bom. — o Alfa sorriu. — Eu vou te mostrar uma coisa, vem comigo...
Taehyung franziu as sobrancelhas mas o seguiu sem contestar. Assim que chegaram no convés, Jungkook apontou para a artilharia pesada do navio.
— Canhões?
— Sim. Vou ensinar como usá-los. — Jungkook respondeu, batendo a mão em um deles. — Você gosta de aprender coisas novas, certo?
O Beta olhou de Jungkook para os canhões e então para ele novamente. Sem uma resposta, o Alfa concluiu:
— Foi uma péssima ideia.
Pela falta de uma resposta imediata, era o que realmente parecia. Mas a verdade era que Taehyung ficou tão encantado com aquele ato, que as palavras sumiram. O ato fofo de Jungkook, de ter prestado atenção no Beta foi o que lhe chamou mais a atenção.
— Não... — Taehyung suspirou. — Essa é a coisa mais interessante que alguém já tentou me ensinar. É diferente. Eu não esperava por isso.
Jungkook sorriu grande.
— Sabia que eles são como uma pistola gigante? — ele fez suspense e o Beta negou com a cabeça, muito concentrando na explicação. — Você coloca fogo nessa cordinha, ela aciona um martelo que bate na pólvora e causa uma explosão, lançando o balote em direção ao alvo.
A aula particular manteve-se durante o restante da noite. Com Jungkook muito entusiasmado e Taehyung prestando mais atenção no atirador, do que no objeto da explicação.
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Hoseok
Durante séculos uma organização dominou o que se tornou conhecido como o submundo da Coreia. Onde Alfas, Betas e Ômegas dotados das mais extremas habilidades, são treinados para lidar com todo tipo de situação.
Desde encontrar pessoas desaparecidas, fugitivos, torturas e assassinatos. Tudo pode ser encomendado. A reputação dessa organização rapidamente ultrapassou as fronteiras da Coréia, espalhou-se pela Ásia e hoje, pessoas do mundo inteiro recorrem aos serviços da chamada Ordem de Caçadores.
Na Coréia, todos os caçadores estavam alvoroçados pela notícia que se espalhou pelos inúmeros túneis da sede subterrânea. Um alvo, há muito tempo temido pela Marinha e o motivo de inúmeros fracassos de tentativa de captura, foi aceito como missão por um caçador.
Jung Hoseok, o espadachim. Considerado o melhor quando se trata do ofício de assassinar. Seus olhos presenciaram mais mortes do que pode contar, e sua katana se tornou um dos objetos mais temidos de sua época.
— Você tem certeza? — Seungho, o líder da prestigiada Ordem perguntou.
— Sim. — a resposta do espadachim foi curta.
Embora todos admirassem Lee Seungho, Hoseok era um dos únicos que não possuía o mesmo sentimento pelo seu líder.
"Um Alfa que só fala", era o que pensava do Lee.
— Muito bem, desejo-lhe sorte. — o tom usado por Seungho não correspondia aos seus verdadeiros sentimentos.
Se traduzido para o idioma comum, aquilo poderia ser entendido como:
"Foi bom te conhecer."
Na opinião do líder, Hoseok era algo como um mal necessário para a Ordem. Porém, se morresse, não faria tanta falta.
Quando saiu da sala de Seungho, o espadachim foi recebido por dezenas de olhares curiosos. Alguns negavam com a cabeça, desaprovando a decisão do jovem Alfa. Ele havia se tornado um caçador há apenas dois anos.
Hoseok tentou se misturar na multidão e sair da Ordem a caminho da sua próxima missão, porém, um par de olhos castanhos o viu em sua tentativa de ser furtivo e seguiu até onde o amigo estava.
— Deveríamos fazer isso juntos. — Jackson afirmou.
— Não. É algo que eu preciso fazer sozinho. Se eu não consiguir capiturar um maldito pirata, então não sirvo para ser um caçador.
— Se você morrer, eu te mato. — Hoseok riu da afirmação do amigo. — Quando o encontrar, mate-o.
— O contrato diz vivo ou morto.
— Morto é mais desejável.
Hoseok riu outra vez, negando com a cabeça.
— Cuida das coisas enquanto eu estiver fora. Não deixe aquele cara manchar nossa reputação.
— Aquele cara... você quer dizer, o nosso líder?
— Tanto faz.
— Você sabe, nossa reputação só cresce com a liderança dele.
— Isso é discutível. Eu não o respeito e pareço ser o único que o enxerga verdadeiramente como o covarde que ele é.
— Você devia cuidar mais do que diz. — Jackson avisou em tom amigável. — Está falando do seu líder.
— Ora, o que é isso? Eu estou no tribunal do santo ofício? — Hoseok brincou. — Você, mais do que qualquer um, deveria entender o que estou falando.
— Eu não vou entrar no mérito da questão.
Hoseok deu de ombros.
— Não importa. Melhor eu ir, meu transporte partirá em alguns minutos.
Jackson e Hoseok deram as mãos e o espadachim partiu, antes que outros caçadores o parassem para fazer seus questionamentos indesejados e despedidas incômodas.
Pelas viagens que já fizera em missões anteriores, o caçador embarcou em um navio mercante que estava a caminho da Ilha de Folsom. Um dos maiores destinos procurados pelos piratas. A ilha não era muito de seu agrado, mas havia uma chance do seu alvo estar naquele lugar.
Quando desembarcou na dita ilha — assim como imaginava —, alguns Ômegas se aproximaram do Alfa, buscando nele um novo cliente em potencial. No entanto, o interesse do espadachim naqueles Ômegas chegava quase a ser zero. Seu olhar pouco simpático e o brilho da katana que exibia intencionalmente, foi o que afastou aqueles que ele apelidou como "carrapatos incômodos".
Após uma detalhada varredura na ilha, o caçador concluiu que o seu alvo não estava em Folsom.
— Viagem perdida. — Hoseok refletiu. Ele estava sentado em uma taberna, enquanto apreciava um pouco de hidromel.
O caçador formulava seu próximo passo, quando sentiu um doce aroma preencher o espaço ao seu redor. Imaginando se tratar de mais um rameiro, o espadachim moveu a mão para afastá-lo, porém, o Ômega ignorou e revelou o motivo de ter se aproximado:
— Me disseram que há um caçador na taberna, é você? — pela falta de resposta, o Ômega continuou: — Estou precisando dos seus serviços. — ele agarrou um saco contendo algumas moedas e o entregou ao Alfa.
Após examinar a quantia, só então Hoseok lhe deu atenção. Já que seu alvo não estava naquele lugar, seria produtivo aceitar algum serviço que não fosse atrapalhá-lo no andamento de sua missão principal.
— O que quer que eu faça?
— Meu Alfa me expulsou de casa e não permite que eu veja meu filhote. Quero que o traga para mim.
"Fácil" — Hoseok pensou.
— Onde ele está?
O Ômega suspirou aliviado e no mesmo segundo, indicou ao espadachim onde se localizava sua antiga casa, onde o Alfa mantinha seu filhote cativo.
— Você tem a chave?
— Não. Ele mandou que um marceneiro trocasse as fechaduras. — o caçador se aproximou da porta e o ômega tentou avisar: — Tenha cuidado, ele é um pouco agre-...
Antes que o Ômega pudesse concluir seu aviso, o caçador chutou a porta da casa, arrombando-a de imediato.
Ouvia-se um grunhido assustado seguido de gritos raivosos.
— Que porra está acontecendo? — o Alfa dono da residência questionou do alto da escada. Ele travou na metade do caminho, para impedir que o espadachim chegasse no andar de cima. — Fora da minha casa.
Hoseok o ignorou, e quando o outro tentou impedi-lo de subir avançando contra ele, o caçador foi rápido quando o atingiu com um golpe e lançou-o por cima do corrimão. O Alfa caiu estatelado, batendo as costas na quina de um suporte.
Uma criança estava encolhida em sua cama, e fechou os olhos apavorada quando o caçador se aproximou. Mas ao sentir o cheiro do seu pai, ele abriu os olhos novamente e estendeu os braços feliz, quando foi erguido pelo Ômega.
— Estou aqui meu pequeno. Estou aqui.
— Vamos. — Hoseok deliberou e foi seguido pelo Ômega.
No andar térreo, o Alfa ainda estava no chão e gemendo com as mãos nas costas. Ele praguejou e rosnou ameaças completamente inúteis contra o Ômega.
— Se dobrar o valor eu o mato. — o caçador ofereceu.
— Céus! Não... não quero que mate o pai do meu filho. Não precisa disso. Voltarei para a casa dos meus pais em Nabuco. Ele tem medo de pisar naquela ilha por causa dos piratas que a frequentam constantemente.
— Piratas?
— Sim. Aquele lugar é o maior centro de comércio ilegal. Sei disso porque meus pais são proprietários de uma pousada lá, e eles contam que a cada dez clientes, pelo menos sete são piratas.
Agora a conversa se tornou muito interessante e proveitosa. Se havia uma chance do Capitão Min estar naquela ilha, mesmo que fosse mínima, então este seria o próximo destino do caçador.
Hoseok embarcou com o Ômega e seu filhote. E após mais alguns dias navegando pelo mar da China Oriental, eles saltaram no cais de Nabuco e seguiram para a pousada da família do Ômega.
Mal tendo se hospedado, o caçador não poupou esforços para agilizar seus negócios naquela ilha. Embora Nabuco fosse extremamente grande em hectares, ele obteve um mapa da região e destacou os lugares onde teria a maior chance de localizar o seu alvo.
Além disso, o caçador precisava lidar com o controle de Fenn Barba-Ruiva. Não havia ninguém que pudesse entrar naquela ilha sem que o terrível pirata não ficasse sabendo. E como os caçadores e piratas são inimigos declarados, o espadachim precisava manter-se fora de vista, sem chamar atenção. Era algo que dificultava seu trabalho, de fato. Mas não o impossibilita de ser feito.
Foi a oeste da ilha que o caçador encontrou a embarcação comandada pelo seu alvo. Um navio por inteiro sombrio, destacava-se pelas velas completamente negras e a bandeira com o desenho de um cisne, que temeluzia ao vento forte da costa. O Black Swan.
O espadachim analisou a movimentação dos piratas no cais durante dois dias, quando ficou satisfeito ao concluir que, pelo menos em certa hora da noite, o Capitão Min voltou sozinho ao navio para se recolher em sua cabine.
Hoseok sorriu confiante. O melhor jeito de capturar um alvo que está no comando de uma grande tripulação, seria emboscá-lo de modo que seus marujos não surgissem para dificultar as coisas.
Mais tarde, o espadachim iria descobrir que o Capitão Min não dependia de sua tripulação para ser salvo.
🏴☠️🏴☠️
Os piratas bebiam e farreavam em uma das tabernas da ilha. Estavam ancorados em Nabuco há pelo menos duas semanas, esperando a confecção de alguns materiais solicitados pela mecânica.
Não era de interesse do Capitão amanhecer em uma taberna sem um pingo de sobriedade, tombando pelos cantos ou metendo-se em desavenças desnecessárias. Então, como havia feito em todos os outros dias, o Alfa retornou para o navio a fim de tentar compreender o significado do misterioso fragmento que possuíam.
Caminhando pelo deque vazio, ele parou quando chegou diante da viga de madeira que dava acesso ao Black Swan. Havia um Alfa de cabelo castanho sentado no alto da rampa, obstruindo a passagem entre o pirata e sua embarcação.
— Saia do meu caminho se não quiser morrer. — o Capitão avisou.
O canto da boca de Hoseok curvou-se em um pequeno sorriso.
— Alguém vai morrer hoje e nós dois sabemos que não será eu. — o caçador respondeu, passando a ponta dos dedos sobre o cabo da katana ainda embainhada. — Você prefere vir comigo e aceitar seu destino, ou dificultar as coisas?
O Capitão Min puxou sua pistola e disparou contra o Alfa. Hoseok ergueu as sobrancelhas e pulou rápido, quase sendo atingido pelos estilhaços da pólvora. Quando caiu de pé no chão do deque, ele já estava sobre a mira da arma do lúpus novamente.
Yoongi não deu chance do espadachim se recuperar, quando voltou a disparar em sua direção. Hoseok se jogou atrás de alguns engradados de farinha e rosnou baixo:
"Filho da puta!"
O barulho dos disparos cessaram quando a munição da pistola chegou ao fim. Hoseok empurrou uma das caixas na direção do lúpus, e este desviou-a com um chute.
— Acabou o show? — Hoseok indagou com o mesmo sorriso, desembainhando a katana.
O Capitão Min fez o mesmo puxando suas duas adagas, e esperou pelo que o espadachim faria a seguir. O Alfa avançou contra o pirata movendo sua katana para atacá-lo, o barulho do metal triscando um no outro indicou a defesa bem sucedida do lúpus, ao erguer as adagas em formato de xis.
Hoseok pulou recuando e faíscas romperam no ar quando ele puxou a katana. Dessa vez o Capitão Min investiu contra ele com uma adaga tentando perfurar seu coração, e a outra, ele moveu-a de modo que rasgaria o peito do caçador, caso este não tivesse recuado mais uma vez.
O lúpus não daria chances para o espadachim contra-atacar, e prosseguiu contra ele agitando suas adagas em um ataque rápido e preciso. Hoseok teve dificuldade para escapar da última investida, e teve que apoiar uma mão no chão para impulsionar o corpo para o lado e fugir de um golpe fatal.
Com a íris de seus olhos amarelados, ele conseguiu acompanhar a velocidade do lúpus, quando este, atacou mais uma vez investindo as adagas e prontas para cravar cada lado de seu corpo. Hoseok posicionou a katana no meio de ambas e girou a lâmina para desarmar o pirata e decepar seus antebraços.
Yoongi largou o cabo das adagas e puxou seus braços segundos antes que a lâmina afiada do espadachim o atingisse. Por um breve momento, as suas armas ficaram livres no ar quando ele lançou um chute no abdômen do caçador, lançando-o para trás. Antes das adagas caírem, o Capitão agarrou-as novamente, e assim que Hoseok ergueu-se do chão, ele viu um par de olhos vermelhos que acompanhava atentamente cada movimento seu.
— Você faz jus a fama que tem. — Hoseok reconheceu.
— Se me conhece tão bem, sabe que nunca perdi uma luta. — Yoongi afirmou, em forma de aviso.
— Para tudo há sempre uma primeira vez. — o espadachim deu de ombros.
O ruído de vozes há alguns metros atrás do lúpus, mostrava que alguns dos piratas já estavam retornando ao navio. O Capitão Min acompanhou a movimentação nos olhos de Hoseok, desse modo, sem precisar olhar para trás, ele soube exatamente o número certo de bucaneiros que estavam atrás de si. Mas ignorou.
— Não vai pedir a ajuda deles? — o caçador sugeriu.
Yoongi sorriu quando afirmou:
— Quem tá precisando de ajuda aqui é você. — e avançou mais uma vez fazendo o espadachim defender-se enquanto recuava dos ataques do lúpus.
Hoseok pulou do deque e aterrissou no chão de areia, enquanto o Capitão Min contornou pelas escadas, descendo calmamente e seguindo atrás do espadachim.
"Um dia da caça, outro do caçador". O ditado cabia perfeitamente bem naquela situação.
Embora estivesse em desvantagem naquele momento, Hoseok sentiu-se completamente diferente. Algo como motivação. Não no sentido de capturar aquele pirata e concluir sua missão, mas no desejo de seguir alguém como o Capitão Min. Ele sim, era digno de ser chamado de líder.
O embate continuou quando o lúpus o alcançou, e seguiu com suas adagas tentando acertar o caçador ao passo que se defendia da fúria em forma de katana. Os ataques não se resumiam apenas às lâminas, os dois também usavam o próprio corpo para infligir dano um ao outro. Seja com chutes, socos — no caso de Hoseok que possuía arma de apenas uma mão — e cotoveladas.
Em dado momento, os ataques eram aflingidos com tamanha força que as armas de ambos foram lançadas cada uma para um lado, e caíram cravadas na areia.
Com o punho antes livre, Hoseok acertou um soco no rosto do pirata que o fez curvar o corpo para trás. Yoongi girou a perna e deu uma rasteira no caçador, fazendo-o cair de costas no chão. O pirata ainda o chutou novamente, na altura do queixo, deixando o espadachim zonzo durante alguns segundos.
Yoongi aproveitou o momento, segurou o caçador pela gola da roupa e o arrastou até a água. Ele agarrou com ambas as mãos o pescoço de Hoseok e o forçou a submergir para afogá-lo e dar um fim aquela luta.
O caçador balançou seus braços para cima, tentando atingir seu algoz de algum modo. Mas seus braços foram curtos para sua envergadura se sobrepor ao do lúpus. Engasgando-se com a água salgada, Hoseok debatia-se tentando se salvar da morte que estava prestes a acontecer.
Enquanto movia seus braços tentando afastar o pirata, suas mãos foram de encontro ao cabo de um punhal que estava preso na cintura do Capitão. Sem pensar duas vezes, o caçador puxou a arma e conseguiu atingir o lúpus com a ponta da lâmina.
Mesmo o golpe só atingido em sua bochecha minimamente, aquele ataque foi suficiente para distrair o pirata por breves segundos, e fazer com que Hoseok conseguisse chutá-lo para trás.
O caçador emergiu tossindo ofegante e tentando recuperar o oxigênio perdido, enquanto tombava de volta para areia em busca de sua katana. Yoongi fez o mesmo e conseguiu apoderar-se de suas adagas novamente.
Era realmente uma pena que eles fossem inimigos, pois o caçador passou a admirar seu alvo em poucos minutos de uma luta em que jamais tivera igual. E diferentemente do líder da Ordem, o líder dos piratas não se escondia por trás de sua tripulação.
Enquanto Lee Seungho manda seus caçadores livrar-se dos inimigos, o próprio Capitão Min se encarrega disso. E com uma extrema habilidade.
Até aquele dia, Yoongi considerava o Capitão Alma Negra o pior adversário que já tivera em sua vida. No entanto, aquele caçador superou essa perspectiva.
Morrer não era uma opção. Mas deixar esse mundo pelas mãos daquele espadachim, seria mais do que honroso.
Em um último ataque, Hoseok lançou a ponta da katana contra o lúpus. Ela passou direto quando Yoongi desviou e girou o corpo, acertando uma cotovelada na boca do caçador. O Capitão Min ainda puxou a mão direita para cima, Hoseok inclinou rapidamente o corpo para o lado e a ponta da adaga rasgou a pele do braço do alfa.
Yoongi colocou-se em uma posição de defesa, mais uma vez esperando pelo que o caçador faria e aproveitando para se recuperar. Hoseok levou a mão até o braço, sentindo a umidade, ele examinou a palma da sua mão e encarou o sangue por um breve momento.
Ao mesmo tempo em que ele se assombrou por alguém tê-lo atingido pela primeira vez com uma lâmina, ele estava admirado pelo fato ocorrido. Hoseok não se colocou em posição de defesa e muito menos contra-atacou, ao invés, ele encarou o lúpus nos olhos e o surpreendeu quando pediu:
— Deixe-me entrar para a sua tripulação.
Capitão Min permaneceu quieto. Ele franziu o cenho e estudou o caçador, quanto a sua verdadeira intenção com aquela pergunta. Porém, antes que qualquer teoria começasse a fazer sentido, o espadachim lançou sua katana na direção do lúpus, de modo que a lâmina cravou no chão ao lado dele.
O caçador o entregou a própria arma, e fez o mesmo com a adaga do Capitão, quando a lançou com cuidado para que o lúpus a agarrasse.
Yoongi guardou as adagas e o punhal, à medida que se inclinava devagar para o lado até agarrar o cabo da katana. Ele puxou a arma do espadachim e apontou diretamente no coração do Jung. Hoseok não recuou, não piscou, não moveu um centímetro de seu corpo. Ele manteve o olhar no lúpus que igualmente o encarava de volta.
O Capitão se aproximou devagar, mas em vez de acabar com a vida daquele Alfa, ele abaixou a arma vagarosamente, devolveu a katana ao espadachim e assentiu ao seu pedido.
— Você costuma aceitar em sua tripulação todos que tentam te matar? — Hoseok perguntou fazendo o outro rir.
— Você é o primeiro que tentou, desde que me tornei Capitão.
— Por que decidiu me aceitar? Não teme que eu tente matá-lo enquanto estiver dormindo?
Yoongi negou balançando a cabeça.
— Se quisesse realmente me matar, teria me apunhalado no coração enquanto eu o afogava.
Hoseok sorriu. Aquela afirmação era verdadeira. Foi escolha do espadachim atingi-lo na bochecha, apenas para conseguir se livrar do afogamento.
Os dois estavam acabados. Cheios de escoriações pelo corpo e encharcados com a água do mar. Enquanto se aproximavam caminhando lado a lado pelo deque, os piratas que já estavam a bordo e sem saber onde seu Capitão estava, assim que os viram de longe, alguns puxaram suas armas e outros ficaram confusos sem saber o que fazer.
— Que merda aconteceu? — Namjoon perguntou, estudando os dois dos pés à cabeça.
— Ele tentou me matar e agora faz parte da tripulação. — Yoongi afirmou como se aquilo não fosse nada, subindo a rampa.
Os piratas arregalaram os olhos e entreolharam-se ainda mais confusos. Hoseok deu de ombros e também seguiu para dentro do navio.
— Capitão. — o contramestre ainda tentou: — Com todo o respeito mas, você ficou louco?
— É o que parece... — Yoongi refletiu e ficou observando o nada por um tempo. A tripulação o encarou esperando quando de repente, o Capitão concluiu: — Mas eu sei o que estou fazendo. — e rumou para dentro da cabine, sendo seguido por Namjoon e Seokjin.
Os piratas não tiravam os olhos do mais novo membro.
— Mas que katana grande... — o navegador comentou, umedecendo os lábios.
— Parece pequena olhando daqui. — Jungkook argumentou.
— É porque você não imagina o estrago que posso fazer com ela. — Hoseok piscou para o atirador.
— Vem. — Taehyung se aproximou do espadachim: — Vou te mostrar as cobertas inferiores.
Quando os dois desceram pela escotilha do convés, Billy chegou junto de Jungkook e aconselhou:
— Se eu fosse você, ficava de olho nesse aí...
— Por que? — Jungkook indagou desconfiado.
— Você e o navegador se tornaram bastantes íntimos esses meses... e agora, ele está sozinho com o espadachim... — Billy fez uma expressão de dúvida. — Sei não, heim...
Jungkook franziu o cenho e ficou pensativo por um tempo. Em seguida, ele ergueu as sobrancelhas parecendo ter chegado a alguma conclusão e rumou com pressa para as cobertas inferiores.
— Você é o diabo. — Jared comentou rindo.
— Que os jogos comecem. — Billy respondeu, sorrindo de volta.
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Anos depois...
No Oceano Pacífico, ao lado da costa asiática, o Black Swan seguia pela rota dos comerciantes à procura de seu próximo saque. Segundo Taehyung, aquela passagem era repleta de navios que transportavam a maioria da prata que circulava pela Coréia.
Os bucaneiros trabalhavam pela meia-nau, movendo os cabos a todo instante, sendo orientados pelo contramestre, para melhor aproveitarem a circulação do vento.
Durante a chegada da noite, o número de velas foram diminuídas a fim de impedir qualquer colisão. Mesmo através dos olhos de um lúpus, era praticamente impossível enxergar o Black Swan na escuridão daquela noite. O navio era completamente negro e se camuflou perfeitamente.
Mas nada poderia passar despercebido aos olhos de quem estivesse a bordo do Black Swan. Com sua luneta, o navegador enxergou um navio com velocidade reduzida, e logo chegou em seu Capitão para informar.
A tripulação estava reunida no piso superior esperando pelo que aconteceria, quando Yoongi tomou a luneta para si. Ele analisou a movimentação pelo convés da outra embarcação e concluiu:
— É um galeão. A Marinha está a bordo.
— Deve ter cargas de muito valor naquele porão. — Namjoon anunciou.
— Muito mais do que isso. — Taehyung afirmou pensativo enquanto ainda analisava o galeão. — Devem estar transportando alguém muito importante.
— O que faremos, Capitão?
Yoongi pensou por alguns segundos e voltou-se para a tripulação:
— Vamos invadir o galeão. — os piratas sorriram ávidos. — Jungkook, destrua o mastro principal deles. Namjoon, assuma o controle da invasão. Hoseok, encontre quem eles estão protegendo. Vamos fazer um valioso pedido de resgate...
Namjoon escolheu os melhores bucaneiros para acompanhá-los naquela investida. Os botes foram descidos e quando os piratas estavam próximos do navio, um tiro de canhão foi disparado através do Black Swan e dois balotes ligados a uma corrente foram lançados e destruíram o mastro principal do galeão.
O Capitão Min acompanhou o início da invasão de longe, e sorriu satisfeito ao ver que seu contramestre não teve dificuldade para render os que estavam a bordo. Ele estalou o pescoço e dirigiu-se para sua cabine, onde receberia a pessoa raptada pela sua tripulação.
[ Obrigada pela leitura ꨄ ]
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