[20] Aprendizado
O capitão se aproximou do contramestre calmamente, e sentou-se no caixote que o ômega havia utilizado para soltá-lo.
- Respeitarei sua decisão seja qual for. - Changbin falou.
Ele não tentou se justificar ou implorar por clemência. Sabia que havia cometido uma falta grave, mas a sua consciência estava tranquila.
- É até engraçado você falar isso, já que estamos nessa situação justamente porque você não respeitou minha decisão. - O contramestre anuiu sobre o que foi a grande ironia em suas palavras. - Você acha que eu sou o mesmo de cinco anos atrás.
- Esse ômega...
- Jisung não é Bang Chan.
- Não. Seu poder de persuasão é muito maior. - Minho riu balançando a cabeça em negação - Mas creio que não há nada que eu possa falar que o faça enxergar isso. Afinal, é a sua vontade.
- Minha vontade, meu caro contramestre, foi explusa-lo desse navio desde o primeiro momento em que soube de suas façanhas imbecis.
- Entendo completamente. - Changbin se levantou, pronto para deixar o navio.
- No entanto - Ele parou ao ouvir o capitão -, a tripulação decidiu que você merecia uma segunda chance... e Eu também. Por tudo o que passamos juntos.
O contramestre ergueu as sobrancelhas completamente surpreso. Motins era considerado algo imperdoável entre tripulações piratas, e por isso, receber uma segunda chance do capitão significava que Minho possui grande confiança nele. Changbin sentiu -se imensamente grato, e nunca teve tanta certeza de que escolheu seguir o alfa certo. Prometeu a si mesmo que nunca mais decepcionaria o Capitão Lee novamente, enquanto pertencesse àquela tripulação.
- Obrigado, Capitão.
- Mas no segundo em que eu perceber que é uma ameaça para meu ômega, você vai implorar para ser expulso.
O olhar sombrio que o capitão lhe dirigiu, fez todas as células do alfa congelarem.
- Compreendo. - Changbin disse, engolindo em seco.
- Vamos voltar lá para cima. Temos uma questão importante a ser discutida.
Changbin assentiu, respirando tranquilo. O mar era a sua casa e a tripulação do Black Swan sua família. Ele não teria nenhum outro lugar para ir, e muito menos queria deixar seu lar, entre seus companheiros.
- Então, o que faremos a seguir? - Yoongi questionou.
Todos estavam na cabine do capitão, em torno de sua mesa, enquanto examinavam os mapas dispostos sobre ela.
- Iluminar a entrada. - Jeongin leu em voz alta, a tradução do terceiro fragmento. - Eu sugiro que...
- Como você consegue saber onde devemos ir? - Yoongi o interrompeu - Está sempre bêbado.
- Ora, que conversa! Não estou bêbado...
- Estou sentindo o cheiro de rum daqui.
- Por que você não cala a sua boca? - Seungmin se dirigiu a Yoongi - Deixe ele falar.
Jeongin o lançou um sorriso agradecido e voltou à sua reflexão:
- Como eu estava dizendo, eu sugero que devemos direcionar nosso curso à linha dos comerciantes. Como não sabemos onde estão os demais fragmentos, pelo menos nós podemos fazer alguns saques. Nosso estoque de prata está quase vazio.
- Claro. O capit-...- Yoongi interrompeu o que seria uma crítica pelos gastos exagerados que Minho fez, para liberar jisung do leilão e no tributo à Barba-ruiva, mas o capitão lançou-lhe um olhar tão sombrio que o pirata engasgou com sua língua e fechou a boca no mesmo segundo.
- Diga, Yoongi. - Lee se aproximou do alfa.
- Eu ia falar que concordo com o nosso navegador.
- Vou falar com Moonbyul. - Jeongin disse saindo da cabine.
- Changbin - O capitão se voltou para o contramestre - No próximo saque eu quero que leve jisung consigo.
- Mas ele não sabe-...
- Leve-o.
Changbin comprimiu os lábios, mas nada fez além de concordar com a ordem que foi recebida.
🏴☠️
A taça que estava na mão do governador Han Shinsung trincou, até partir em dezenas de pedaços de vidro. O sangue escorreu por seu antebraço, pingando no chão. O Comodoro acabara de lhe contar sua falha tentativa de resgatar o filho dele. Ao seu lado, estava o oficial que recebeu o tiro na mão, do próprio jisung.
- Ele disse que agora é um pirata. - O alfa o informou - Que pertence a tripulação do Black Swan e... e que seu nome é Lee Jisung.
- Ele o seduziu! - Han rosnou, atirando no chão os cacos que restaram em sua palma - Jisung nunca faria algo assim.
- Saia. - Choi ordenou ao outro oficial e ele se retirou - Seu próprio filho disse que se entregou àquele patife. Nessas condições eu acredito que não tenho outra escolha, a não ser cancelar o contrato.
- Está dizendo que meu filho não é digno de você? - fúria exalava das feições do governador - É muito audácia da sua parte.
- Ele se entregou à outro alfa, senhor.
- Então sugiro que você procure outro emprego. Porque no momento em que desistir desse casamento e manchar a honra do meu filho, você será expulso da marinha.
- Ele não me quer. - Choi ainda tentou insistir.
Ele era um alfa que mantinha o mesmo pensamento arcaico que a maioria das pessoas da sua época. Para ele, um Ômega deve comparecer ao leito de núpcias ainda intacto. Mas jisung além de ter entregue seu corpo a um outro alfa, fez questão de mostrar o quanto estava orgulhoso daquele comportamento. Casar-se com um ômega assim, era de extrema humilhação para o Comodoro.
- Jisung é um Ômega, ele não tem esse poder de escolha e nós dois sabemos disso. Ele vai se casar com você, eu responderei por ele diante do padre. Agora vá e encontre um jeito de conseguir trazê-lo de volta.
O Comodoro assentiu e saiu do gabinete, deixando o governador sozinho.
🏴☠️
Jisung estava sentado na proa do Black Swan conversando com o médico da tripulação. Após cuidar dos machucados do seu irmão, Félix ouvia feliz o depoimento do ômega, sobre suas façanhas ao salvar Minho e também, os momentos em que ficou perdido na ilha com o Capitão Lee.
- Pirata Lee Jisung, hm? Quem diria.
- Eu não sei porque disse isso. Eu nem sei como fiz aquilo tudo... - O ômega respondeu sorrindo nervoso - Minhas mãos ainda estão tremendo, veja.
- Você foi muito forte. Salvou nosso Capitão. - Félix o elogiou - Parece que você agora é um pirata, não é?
O ômega sorriu um pouco ruborizado, e ficou pensativo com a pergunta. Ele não se enganou a respeito dos piratas, eles eram sim Alfas e Betas cruéis e dispostos a tudo para obter riquezas. Contudo, ele tinha que admitir que aquela tripulação se distinguia das demais em alguns aspectos.
- Eu acho que é isso...- Jisung sorriu incerto, mordendo o lábio inferior. - Sabe, pode parecer um pouco precipitado, mas é como se eu estivesse começando a viver agora.
Jisung não tinha dúvidas do quanto amava seu pai e também o irmão, entendia que tudo que seu pai fez foi na intenção de que tivessem uma boa vida. Mas jisung nunca se sentiu ele mesmo sempre que fazia de tudo para agradar o governador. Aquele jisung era apenas uma peça que se movia de acordo com o que a sociedade exigia, e isso o deixava infeliz, embora escondesse tão bem. Agora, estava se sentindo livre pela primeira vez, para ser quem ele realmente era.
- E eu estou muito orgulhoso. - Ambos olharam na direção daquela voz, e viram Minho se aproximar.
Neste momento, changbin também se aproximava da proa, e quando Félix o viu de longe, se levantou no mesmo instante. O beta ainda estava chateado pelo comportamento prepotente do alfa de semanas atrás. Ele se levantou no mesmo instante em que o Changbin se juntou a eles.
- Tenho coisas importantes a fazer, com licença. - Félix saiu sem dirigir ao menos um olhar ao contramestre.
Changbin olhou para o capitão e o mesmo deu de ombros.
- Você que lute.
O contramestre logo tratou de rumar para outro canto, ajudando alguns bucaneiros pelo convés inferior.
- Então, Lee Jisung...- o Capitão se aproximou do ômega e o abraçou quando uma rajada de vento forte os cortou. - Está muito frio aqui fora, por que não vem me fazer companhia em nossa cabine?
- Estava pensando em algo...
- Conte-me.
Jisung desceu da mureta e encarou o alfa de frente.
- Na noite em que fui levado pelo Barba-ruiva até os aposentos dele. Eu vi ômegas presos em seu quarto. Eu queria soltá-los mas Hyunjin me levou para fora com ele...
- Embora seja um excelente espadachim, ele não seria capaz de salvar todos vocês. Assim que os soltasse, eles seriam capturados novamente.
- Mas eles estão presos e sabe-se lá os tipos de torturas que estão fazendo... eu queria salvá-los, Minho.
- Estamos muito longe de Nabuco. A tripulação já decidiu que vamos passar pela rota dos comerciantes. - Jisung suspirou com tristeza - Mas assim que possível nós vamos voltar à Nabuco, e vamos libertá-los.
- Está falando sério?
- Eu lhe dou a minha palavra.
- Obrigado. - Jisung abraçou o próprio corpo, protegendo-se do vento gelado.
- Está frio. Vamos entrar.
- Ah, o Jeongin vai me mostrar como navegar seguindo as constelações.
Minho olhou para cima, o céu estava bastante estrelado. Ele então retirou seu casaco e o encaixou nas costas do ômega.
- Tudo bem. Mas fique com isso.
Jisung assentiu e o mais velho entrou na cabine.
Ele apertou o manto negro em volta do seu corpo, e inalou o aroma natural do Capitão que provinha dele. Era quentinho e cherava a rosas. Jeongin, juntamente com Hyunjin se juntaram à ele e juntos aprenderam com o beta, noções de orientação e navegação sem auxílio de uma bússola.
🏴☠️
Na manhã seguinte, Yoongi enxergou um navio mercante através da lente de sua luneta, no alto do mastro. Ele desceu eufórico e logo comunicou ao restante da tripulação.
- Vamos intercepta-los pela lateral. Se eles tentarem alguma coisa, conhecerão o fundo do Pacífico. - Lee comandou.
Os piratas assentiram e conduziram as velas e mastros à bombordo. A experiente timoneira, girou o leme com habilidade e com extrema rapidez eles se aproximaram da embarcação mercante. Ao verem a aproximação do navio de velas negras, os tripulantes do navio mercante subiram bandeiras brancas, simbolizando sua rendição imediata. Assim, o Black Swan pôde se aproximar, sem necessidade de descerem os botes. Pranchas foram dispostas através das duas embarcações, para levar os piratas até o outro lado.
Jisung seguiu na frente junto ao contramestre. Alguns minutos antes, Changbin havia lhe ensinado como falar com a tripulação e render todos os alfas, desde os grumetes ao comandante. Minho também fôra junto dessa vez, para ver como o ômega iria se sair em seu primeiro saque.
Com a cabeça, Changbin fez sinal para que o ômega começasse.
Jisung engoliu em seco.
- B-boa tarde...- ele diz em voz baixa - Meu nome é-...
- o quê?! - um dos alfas rendidos questionou forçando a audição.
- Não estou ouvindo nada. - Um beta adicionou.
- Fale mais alto. - Changbin indicou e o ômega assentiu.
- Meu nome é jisung! Eu quero as...as... eu.
- Você atirou contra um oficial da marinha. - Changbin o lembrou - Vamos, fale o que ensinei.
- Eu estou nervoso...- Jisung tentou engolir o nervosismo e suspirou, começando mais uma vez: - M-meu nome é jisung. Eu-...
- Isso nós já ouvimos. - Um beta rendido disse com um tom de riso - Difícil vai ser saber o que a gracinha deseja se não p-parar de g-g-gaguejar - Ele gaguejou forçadamente para imitar o ômega, arrancando risos dos demais tripulantes.
- É - Um alfa concordou, entrando na brincadeira - F-fala logo d-d-de uma vez.
E todos os tripulantes da embarcação mercante caíram outra vez em uma gargalhada irritante. Eles pararam de rir ao verem o Capitão Lee, que ainda estava sobre uma das pranchas, descer as escadas até o convés da embarcação.
Minho se dirigiu ao ômega e acariciou sua face, ignorando todos que os assistiam.
- Por que você não volta ao Black Swan, babe? - ele indagou com uma voz suave e um sorriso terno. - Ajude Jeongin a encontrar aquilo que procuramos, entre os pergaminhos que iremos mandar.
Jisung suspirou assentindo e retornou ao Black Swan. Assim que ele atravessou a prancha completamente e sumiu das vistas de Minho, o Capitão levou a mão as duas adagas presas em seu cinto e voltou-se aos alfas e betas que estavam zombando do seu ômega.
A tripulação do Black Swan ignorou os gritos de desespero que os alfas e betas da embarcação mercante exprimiam, enquanto levavam as cargas de valor. Eles tentavam manter suas bocas fechadas, outros tossiam engasgados com o próprio sangue, gemendo de dor. O chão, estava repleto com dezenas de dentes que foram arrancados de forma violenta pelo Capitão Lee.
- Terminamos, Capitão. - Seungmin informou, ignorando as lumúrias vindas dos rendidos.
Minho limpou as lâminas de suas adagas que estavam sujas de sangue, na roupa de um dos alfas e assentiu.
- Obrigado pela cooperação e não deixem de sorrir. - disse ironicamente, e logo após subiu nas pranchas para deixar o navio e retornar ao Black Swan.
Continua.
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