Capítulo XVI: Poder e dever - Inocentes
— Na verdade, eu quero aproveitar que temos tempo e discutir sobre algumas coisas... — Mia falou em um tom sugestivo, olhando para uma das balas que removeu das costas de Finn, que possuía símbolos brilhando verde em seu interior, que era estranhamente oco e aberto.
— Essa bala? O que tem el~ Ah, é, você tinha dito que sentiu algo estranho vindo dela, né...? Você descobriu o que era? — Max soltou a dúvida, olhando direto para o objeto nas mãos da garota.
— Olha aqui, na parte de dentro tem uma palavra escrita em hebraico, igual naquele prego que eu tirei do seu pulso. — Mia se aproximou de Max, Mostrando o interior oco do projétil, que continha os símbolos "נָדִיף" entalhados em seu interior, brilhando um tom de laranja avermelhado.
— O que esses aí significam? — Max indagou sem tirar os olhos dos símbolos.
— Eles significam "volátil". — A garota respondeu pensativa.
— Não faço ideia do que isso mude pra bala, mas tenho quase certeza que é por causa dessas "runas" que a gente tá ficando com cicatrizes. — Max disse com a voz um pouco alterada, como se estivesse engasgando.
O rapaz, de repente, estava tendo alguns rápidos e curtos surtos de lembranças que o faziam sentir tontura e ânsia de vômito, de quando estava sendo torturado.
— Runas?!... Hum, Max, você tá bem? — Mia indagou com sua doce voz, ao notar que o jovem cicatrizado a sua frente tremia levemente, e sua pele, bem como seus pelos, estavam arrepiados.
— E~Eu tô sim... É só que parece que essas coisas me dão enjoo. E sim, runas, até onde a gente sabe, essas escrituras aí se encaixam nesse conceito. — Mas disse ofegante, se apoiando nos joelhos. Estava difícil de respirar.
— Ahh, meu Deus, deixa eu pegar uma água. — A garota deixou a bala deitada na mesa logo ao seu lado, até rolou brevemente, então se dirigiu aflita até a geladeira.
Quase instantaneamente, Max recuperou seu semblante normal e voltou a respirar normalmente, não antes de sugar o ar com força, como quem prendia a respiração.
— Ué? O que aconteceu? — Mia questionou confusa, fechando a porta do refrigerador.
— Eu sei lá... A primeira vez que tive essa sensação foi quando estávamos chegando em Guayaquil, e aquele helicóptero apareceu... Depois foi na chegada em Tokyo, mas a ficha só caiu quando senti a mesma coisa depois de segurar uma faca que peguei do Simon, também tinha essas marcações e eu tive a mesma sensação. Só não sei porque que essa droga acontece... — Falou pensativo, encucado, se levantando com ajuda da menina, que já se aproximara.
— Ontem eu acessei aquele laptop, li algumas anotações... Não foi tudo por que tinha muita coisa e eu tava ocupada com as crianças, mas parece que essas runas não eram lá um ponto de compreensão do homem que escreveu, mas tinham especulações e deduções sobre os efeitos colaterais, parece que são semelhantes a aglutinação do sangue, ocorreu com muitas cobaias, talvez você tenha ficado intolerante ou algo assim. — Mia pôs seus novos conhecimentos a mesa, mas tremeu ao mencionar o termo "cobaias".
A garota, como disse, não leu tudo que estava disponível no computador, no entanto, os documentos que a deram suas novas informações descreviam diversos aspectos e processos diferentes do experimento, a maioria deles que ela já conhecia, mas havia um que a fez engolir seco quando leu... A abertura...
O que acontecia no gritante... O que faziam com as pessoas lá... Mia não conseguia acreditar no quão desumanos eram tais ações, chegou a sentir os pelos do corpo eriçarem e as pernas bambearem só com a lembrança do que leu, não sabia se sentia nojo ou pavor, mas Max sequer notou, estava concentrado no assunto atual, as runas, foi então que respondeu:
— É, bem provável. Mas a sensação de mal-estar que eu tenho é praticamente... Inerente, essa é a palavra, ao ambiente, se falarmos da minha reação... Faz sentido eu sentir meu corpo inteiro ruim de dentro, mesmo o problema estando fora? —
— Bem, talvez as runas tenham um efeito parecido com a radiação, mas com efeito acumulativo permanente. Quanto mais você é exposto, menos você é aguenta. — A jovem trêmula sugeriu, tentando mais que tudo esquecer o que havia lembrado.
— Concordo, aliás acho que as runas devem ter algum tipo de carga, talvez o toque mesmo seja um, já que quando você soltou a bala a runa parou de brilhar e eu, de passar mal... Amém. — Comentou de forma leviana, sem perceber o peso que Mia carregava no olhar, ou o quão acanhada ela estava, principalmente por não conseguir mais continuar com aquele assunto.
— ...Ahr, tá tudo muito difícil, eu li as anotações sobre isso e mesmo assim... Tem tanto que não sabemos. — Mia comentou sem graça por já estar perdida nos pensamentos horríveis que rondavam sua mente, que faziam seu coração estremecer, seus olhos lacrimejarem e seus músculos amolecerem.
— Tem mesmo, mas acho que não é nossa responsabilidade lidar com isso, mesmo que faça parte do que somos agora, não somos heróis e nem policiais, não temos o dever de nos sacrificar pra descobrir o que essa conspiração quer, pelo menos não vocês. — Disse o garoto de forma séria e estoica. No fundo, ele não pensava assim, mas queria evitar qualquer possível interesse a mais naquele tipo de coisa, por parte de seus protegidos, afinal, sabia que seria ruim para eles.
No fim, aquilo foi a mudança de assunto e o estalo que Mia precisava para expurgar as imagens imaginárias de tortura da cabeça. Mas isso não quis dizer que ela mudou de humor... Na verdade, o novo assunto só fez foi o acentuar.
— Não é nossa responsabilidade? "Vocês"? Se não é a nossa, então também não é a sua! Não acha?! — Mia o provocou. Ela entendia que era errado jogar isso em cima de Maxwell, ainda assim o fez.
— Sabe, eu não entendo do que você tá reclamando, isso não é algo bom pra você? Não se envolver? Estar segura? — O rapaz torturado repontou, de maneira indignada.
— Independente de ser algo bom ou não, Max, não te incomoda fingir que ninguém se machuca por nossa causa? É como... atropelar uma vida... Não é isso que um criminoso faz? Colocar a própria paz acima de qualquer outra vida? — A menina baixou a cabeça, deprimida.
— É... Merda, pior que é! Mas presta atenção, Mia, não dá pra fazer nada. Eu escolhi devolver a vida de vocês, é minha responsabilidade, e se isso causar uma guerra, eu vou lutar!... Independente do custo, porque é só o que dá pra fazer no meio dessa confusão. — Max se exaltou indignado.
— A responsabilidade não é... Só a sua, e por acaso leu os jornais? Tem noção de quanta gente morreu depois que chegamos aqui?! Inclusive uma mãe e um bebê! Já pensou que talvez, só talvez, eu e os outros pudéssemos ter feito alguma coisa, e tomado um rumo diferente?! — Mia o retrucou irritada, mas com a voz fraca, chorosa.
Maxwell perdeu a postura, se rebaixou mudando seu olhar forte e imponente de forma bruta a uma face derrotada e mórbida. Então disse...
— Mia... Eu sei exatamente quantos inocentes morreram... Cada vez que eu me envolvi. Mas não fomos nós que miramos, não fomos nós que atiramos! Os filhos da puta que fizeram isso estão lá fora! Mentindo e enganando! Sequestrando e matando! Eles que começaram essa merda! Não eu! Eu só tô tentando manter a gente vivo! E não consigo fazer isso se tiver que me revirar toda vez que alguém for pego no fogo cruzado. — Max se irritou a cada palavra dita. Não queria se estressar com Mia, mas cada vez que ela o questionava, os pingos de certeza que lhe mantinham rígido e forte para sobrepujar toda a obscuridade do que enfrentava. E isso realmente o irritava.
— Então é isso? Você não liga pras mortes?! Caralho, Max, eu... Eu sinto vontade de vomitar toda vez que eu penso nisso... E você... Você não se importa nem quando a fonte é si mesmo! — Mia gritou. Ela sabia que não era justo dizer aquilo para Max, mas na hora foi o que saiu.
— Eu me importo com inocentes tanto quanto você, só que eu não posso me dar o luxo de me derrubar por isso! Porque por mais que eu queira, eu não consigo proteger todo mundo, porra! — Max se explicou exaltado, embora ainda
— Isso é engraçado, porque você matou todo mundo que cruzou o seu caminho até agora!! — Mia exclamou como um rosnar, se aproximando fervorosamente do cicatrizado. Nesse ponto, ela nem sequer se importava com o que dizia, estava já perdida nas próprias emoções, tais quais não só a proporcionavam péssimas noites, como maculavam sua própria e verdadeira vontade.
— O que você quer dizer?!... O quê?!... Anda, FALA NA MINHA CARA! — Max ordenou num grito, ele sabia que não queria saber a resposta, mesmo assim, vibrou por uma.
— O QUE EU QUERO DIZER, É QUE NO FINAL VOCÊ NÃO PASSA DE UM ASSASSINO! — Mia berrou, finalizando num silêncio. Foi instantânea a ausência de som.
Maxwell, no mesmo instante, se deixou derrubar, concordando com a cabeça, fechou a cara bufando e saiu marchando até a varanda num passo bruto.
Mia, no seu caso, foi terminar de falar e se arrepender. A garota não sabia mais o que pensar, não pensava mais. O que passava por ela agora... Medo, rancor, aspereza... A jovem sentia isso por seu protetor. E na mesma medida, não sentia nem um pouco disso, porque no fundo ela sentia a mais pura afeição pelo mesmo. Isso não muda o que ela disse, ou o que teria dito, mas aquilo a libertou de um peso maior do que seu atual arrependimento.
— ...Max... Me d~desculpa. — Mia suplicou com remorso.
— Relaxa, Mia... No fim, você tá certa. — Max respondeu sem olhar para trás, num tom ranzinza, cheio de desgosto voltado para si próprio, enquanto saia pela porta de correr entre o apartamento e a varanda.
Com um clima vazio em seu coração, Mia o viu sair e fechar a porta, e agora a garota não sabia como se desculpar com seu amigo, e também, emocionalmente falando, seu herói.
A garota quis ir até Max, mas as crianças começaram a acordar, praticamente todas juntas, então aquele momento teve de acabar por ali... Mas isso não quer dizer que não teriam desdobramentos posteriores...
— Bom dia, Mia... Ué, cadê o Aki? — Hana perguntou a Mia, ainda sonolenta, se espreguiçando.
— Ele deve ter ido pra escola, bobona. Ele não disse ontem que queria? — Chloé indagou também se levantando.
— Ei, não me chama disso! E sim, ele disse, mas pensei que os pais dele não tinham concordado... — Hana retrucou.
— Quê?! Mia, que história é essa?! — Chloé se exaltou preocupada.
— Bem, é que por estarmos com pressa pra ir embora, o Harry achou que seria uma ideia melhor se ele fosse a escola pra sabermos se ele precisa de ajuda, ou algo assim, até porque não seria legal se o Aki se envolvesse em uma briga com pessoas normais... — Mia falou sem graça, coçando a nuca.
— Hm... Entendo... —
— No final das contas ele não deve ter nada mesmo, quem aporrinharia alguém depois da pessoa sumir por um mês? Cês tem que parar de fazer escândalo... Meu deixem dormir mais um pouco. — Alexander soltou, ainda sonolenta. Mia acabou tendo um estalo com essa frase.
— Sim! Claro... — Mia comentou meio sem jeito, se perguntando se daria certo o plano que ela, e alguns dos outros mais velhos do grupo, bolaram no dia anterior, após a volta do monge, do britânico e de Finn em sua missão espontânea...
A jovem garota se pôs a servir o café de todos, receosa, pediu a Alexander que entregasse o de Maxwell, assim estabelecendo o sagrado café da manhã de cada dia.
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Enquanto isso, numa corrida por Osaka
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Aki, Harry e Yan estavam a caminho da escola. Aki, conhecendo aquela rota com a palma da mão, os guiava, correndo rápido como o vento, eles passavam nas calçadas da avenida Tanimachi suji.
Era de se espantar a velocidade que conseguiam alcançar, ultrapassava os cinquenta quilômetros por hora, o que era bem útil, já que a escola ficava a quase seis quilômetros do apartamento... Seria impossível chegar lá escondidos do Senhor e da Senhora Aburaya se não fossem tão rápidos.
— Acabei de perceber um pequeno problema... — Harry se pronunciou de repente.
— O que foi, Harry? — Aki indagou, olhando para trás sem parar de correr.
— E se Max descobrir nosso plano no meio da execução? —
— Acho que ele concordaria, até porque~ — Yan dizia logo antes de ser surpreendido pelo chiar de seu rádio.
O monge pegou o rádio preso no seu bolso de trás, logo mais ligando-o.
— Alô? — Yan anunciou.
— Oi, Yan. Escuta, eu confio em você, mas queria confirmar. Você tem certeza que vocês conseguem manter as coisas discretas, né?! — Mia perguntou com a voz alterada, saindo pelo aparelho.
— Assim, a maior parte do trabalho hoje vai ser com o Harry, mas acho que ele consegue. — Yan respondeu.
— Acha que eu esqueci de ontem?! Eu não vou confiar nele, e você, eu preciso escutar você dizer em voz alta! —
— Relaxa, Mia...Vai dar tudo certo, de acordo com o Maxwell, o anjo da guarda já resolveu os pormenores. É só a gente falar com o diretor. E se alguém perguntar, a morte dele foi um equívoco, e ele foi encontrado em Hida, depois de se perder pegando o ônibus errado. — O monge apontou as informações de Max.
— Tudo bem... Mas tomem cuidado, tá? Não foi legal o que vocês fizeram ontem. — Mia suplicou.
— Beleza, Mia! Vamos tomar! — Disse Harry, se metendo na conversa, parecia querer se desculpar.
— Certo... Então você se arrepende? — Yan perguntou desligando o rádio.
— Por ontem?! Claro que não! Posso ter levado um tiro e forçado o Finn a lidar com algo que não queria, mas aquilo só fez bem pra gente. O que me incomoda é o fato de eu ter traído a confiança da Mia... — Explicou Harry, cabisbaixo, quase aflito.
— Hum... Entendi... você é um babaca, mas é bom ver que tem coração. Hein, mas falando de algo mais importante, acha que consegue conversar normalmente? E formalmente? — Aki questionou.
— Claro que consigo! Eu só não suporto vocês pra agir direito o tempo todo. — Harry explicou desmerecendo os companheiros.
— Hum, faz sentido, aliás seu português tá muito bom, hein! — Yan comentou deixando Harry cheio de si.
— É claro que está! — O britânico afirmou orgulhoso.
Os três seguiram em frente totalmente despreocupados, velozes como o vento. Mas a corrida pelas calçadas não durou muito mais tempo, com o aumento do volume de pessoas e carros que circulavam, os jovens optaram por um caminho um pouco menos convencional, para chamar menos atenção.
— Ai, Harry, acho melhor subirmos! Vamos virar naquele beco logo em frente e fazer aquele negócio! — Yan anunciou.
— Ah, não! Tudo menos aquilo! — Harry reclamou.
— "Aquilo" o quê? — Aki questionou sem ser respondido por ninguém, nem Yan que tomou as rédeas e virou num beco mais a frente sem desacelerar, seguido por ambos mais novos ao seu lado.
Ao curvarem no beco, Yan elevou sua mão, criando uma corrente de ar que os levou direto ao topo do prédio que formava o beco. Harry não podia estar mais frustrado, e Aki, que costumava ter medo de altura, muito antes daquilo, apenas conseguia pensar "Que maneiro!".
Ao se nivelarem com o terraço do edifício os três continuaram a corrida se mantendo na fileira de construções logo ao lado da avenida pela qual seguiam. Aki ficou um pouco receoso no início, mas com um empurrãozinho de coragem de Yan e alguns pequenos monólogos racionais de Harry, Aki se viu salteando com uma habilidade quase inacreditável entre os prédios altos e imponentes que cobriam a paisagem de sua cidade.
Numa passagem entre um prédio e outro, ambos paralelos por uma rua larga, os mancebos se depararam com uma frota de tanques se realocando calma e sistematicamente em direção ao lado de fora da cidade, e nesse momento, um helicóptero passou pela lateral de uma das ruas adjacentes. Todos os três jovens instintivamente se esconderam por detrás do guarda peito na borda do edifício.
Passado o perigo, eles voltaram ao parkour sem perder mais tempo. E assim, correndo agradavelmente, com poucos minutos chegaram no quarteirão da escola particular Osaka Shik̄ Gakuin, às 07:38, onde desceram às ruas novamente em um beco, sem chamar atenção.
— Certo, parece que é aqui... Isso se eu estiver lendo esses kanjis corretamente. — Anunciou Harry ao ler o nome escrito em grandes Kanjis, logo acima da entrada da instituição a qual se aproximaram tranquila e casualmente.
— É aqui mesmo. — Aki confirmou.
— E agora? — Perguntou Yan.
— Agora a gente entra e procura o Diretor... Eu também tenho que escolher uma abordagem... Profissional, talvez? — Harry explicou seus devaneios.
— Hmm... O diretor Abe é meu amigo! Não precisa ser tão engomado, mas ele gosta de quem tem boa educação! — Aki sugeriu pensativo e sentimental.
— Espera, o que?! Amigo?! Mas você confia mesmo nele? Preciso saber porque vai ser mais fácil se pudermos agir sem muitos jogos de cintura. — Harry perguntou planejativo.
— Sim, confio. O Diretor é tipo um outro pai pra mim. Acho que podemos contar tudo pra ele. — Aki respondeu cerrando os olhos.
Aki tomou seu rumo adentro da escola, logo pela porta principal, seguido de Yan e Harry. E dessa forma uma nuvem de sentimentos sombreava o garoto, sua mente não parava um segundo, de tal forma que apenas alguém em sua mente poderia entender o que ele estava sentindo... Mas só se desse uma boa olhada...
Yoshiaki
Eu, Harry e Yan tínhamos acabado de chegar na minha escola, que para nossa surpresa, estava já com vários alunos, por sorte nenhum conhecido ainda.
Foi botar o pé na calçada e... Bum! Nada... Não senti nada? Não, eu senti sim... Me senti feliz... Me senti bem, tão bem que parecia mentira... Feliz... Eu estava feliz? Podia me sentir bem, mas era tudo tão... Monótono... Porcaria, eu era um copo cheio no fundo do oceano.
Eu estava caminhando até a sala do diretor, guiando Yan e Harry, pegamos o corredor que levava as escadas dos outros andares e subimos até o segundo, indo direto para a sala do do Senhor Abe, claro que, não me esqueci de apontar para qual lado ficava minha sala de aula antes de seguirmos.
Chegando na porta única de madeira escura, onde estavam pregados kanjis metálicos laminados a ouro que diziam "Diretor", formalidade não muito diferente das outras salas. Eu anunciei a Yan e Harry Que havíamos chegado, e ambos já foram entrando sem nem pensar.
*Japonês* — Pois não? — Perguntou aquele velho carismático, vestindo seu terno cinza, gravata azul-escura e camisa social branca, enquanto assinava algum documento dentre tantos numa enorme papelada.
*Japonês* — Olá, meu nome é Harry Gray Jackson. Perdoe o incômodo repentino, mas receio que tenhamos uma situação um tanto quanto exótica a qual devemos tratar... — Harry se apresentou num semblante cavalheiresco, totalmente diferente de seu eu normal e, devo dizer, irritante pra caralho.
Eu fui entrando calmamente, por trás de Yan, conforme Abe falava.
*Japonês* — Olá, pode me chamar de Diretor Abe... Você é bem educado rapaz, ainda mais para uma clara criança estrangeira, não? Me diga, onde estão seus... Pais... Meu Deus!... — O Diretor Abe falou de um modo humorístico e sério ao mesmo tempo, um costume profissional de sua parte, mas quando estava comigo ele era bem mais emocionado.
*Japonês* — Oi, Diretor... A quanto tempo, né?! — Falei sem graça, coçando a nuca.
*Japonês* — Senhor Aki! Meu Deus, o senhor realmente está vivo! Eu pensei que aqueles homens estavam mentindo pra mim! — Meu querido e velho amigo diretor correu para me dar um abraço, deixando os documentos e canetas caírem.
Eu já tinha visto ele de várias formas, mas sentimental como aquele dia, chorando como meu pai fez ao me ver em minha volta, foi a primeira vez.
Num abraço quente e apertado, o Diretor Abe caiu em prantos, quase desmoronando sua integridade... Eu queria poder dizer que o sorriso que eu dei era de verdade, mas acho que não... Claro que eu sentia falta dele, só que... Aquela euforia monótona que me sondava, alegria e bem estar... Não sei... Não pareciam mais verdade... Não pareciam mais eu...
*Japonês* — O que foi que aconteceu?... — Abe perguntou se afastando um pouco e enxugando suas lágrimas. Recebendo um olhar duro de Harry, que parecia não querer contar, mas eu o fiz, contei tudo ao diretor. Aliás nunca gostei da ideia de mentir... No máximo omitir.
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Mais uma outra longa explicação depois... Nunca mais... Nunca mais, da próxima conta outra pessoa, mas eu? De novo? Nem morto!
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Após ouvir sobre o gritante, a fuga, a corrupção, a "conspiração" e toda a mentira em que vivíamos, o Diretor Abe, sentado a sua confortável poltrona, mal conseguia esboçar reação além de uma bela cara de mosca pálida.
*Japonês* — ...Eu não consigo acreditar... Olha isso é algum tipo de piada? Fico feliz com a sua volta, Senhor Aki, mas essa história é absurda! Os homens assustadores que me deram os documentos sobre você podem ter sido bem convincentes sobre você ainda estar vivo, mas a sua história... Meu Deus... — Ele disse boquiaberto, e não menos indignado. Eu já esperava essa reação, mas não quer dizer que não me magoou um pouco.
*Japonês* — Entendemos que não é uma história convencional, mas de qualquer modo, nós precisamos que o Aki tenha um dia de aula hoje. O resto de nós precisa ir embora, e não podemos fazer isso sem saber como é para ele aqui. — Harry interviu na conversa, afagando a mão em meu ombro. Tive a impressão de que ele percebeu meu recuo... Aquele babaca era estranho pra caramba, ora se importava com seus sentimentos ora fazia pouco, não sei como não estourou uma briga entre eu e ele em nenhum momento. Nem o Katsuo era tão irritante.
*Japonês* — Escutem~ — Abe repontou, ou melhor, tentou, antes de ser interrompido.
— Olha, já está quase na hora... Yan, leva o Aki para a sala de aula. Eu termino de resolver tudo aqui, não se preocupe. — Disse Harry olhando o relógio de ponteiro pendurado acima do móvel cheio de gavetas e arquivos do diretor.
Yan obedeceu e me levou para a minha sala, eu não resisti, até guiei Yan, indo lenta e calmamente até minha sala, mas ainda assim eu queria saber o que Harry faria, estava preocupado com o Diretor, então usei minha audição para isso.
*Japonês* — Me escute, Diretor Abe. Eu sei que o Aki voltar assim pode fazer uma bagunça entre os alunos e que muito provavelmente era sobre isso que você ia falar agora pouco. Mas eu e meu amigão vamos embora logo, e queremos ver como ele é na escola mais logo ainda, para finalmente sairmos daqui. — Harry disse num tom esclarecedor... Mas não deixou de me irritar.
De novo o Harry veio com aquela conversinha... Já não bastava o dia anterior ele todo... Ele... Ahr... Eu gostaria de poder dizer que fiquei irritado e quis retrucar, mas não... Sobre o que ele disse, na hora, não senti nada.
*Japonês* — Em primeiro lugar, o Senhor Aki não é bem o tipo de pessoa que entra em brigas... Além disso, não é como se ele sofresse bullying, o problema é que ele sempre foi excluído, sabe? Foi assim que eu o conheci... Se lamentando sozinho numa sala mais afastada no intervalo... O único que faz mal a ele é um rapaz chamado Katsuo, mas ele é ruim com todo mundo, e eu não posso simplesmente expulsá-lo! Ainda assim não acho que você tenha muito com o que se preocupar. — Abe falou em seu tom calmo de sempre, mas também cordial, mantendo seu profissionalismo num tom mais sério que o de costume, me fazendo lembrar de algumas reuniões de pais...
Agradeço até hoje por ele não contar nada sobre a minha exclusão, isso porque eu nunca quis que meus pais ficassem preocupados comigo, ou coisa parecida, e eu sei exatamente o que eles fariam se soubessem... E além disso, de que adiantaria tentar obrigar alguns alunos a me notarem? Isso nunca teria o mesmo valor que uma amizade como a minha e a do Diretor.
*Japonês* — Discordo, é melhor ficarmos de olho nesse moleque, independente do que tipo de pessoa que o Aki é, tendo essa situação com o Katsuo aqui dentro pode ser que alguma coisa aconteça, e se ele brigar com o Aki, vai ser bem problemático. — Harry arrazoou.
*Japonês* — "Eu não faria nada com ele... Na impossibilidade de eu entrar nessa briga eu só daria uns socos de leve... Eu acho..." — Eu refletia numa incerteza estranha, lembrar dos problemas que Katsuo me causava... Me deixava nostálgico? Eu sei lá... Não parecia certo...
Aquela falta de emoção me incomodava. Não só Katsuo, mas... O sangue, a morte, a dor e a violência... Quando parei pra pensar nisso, não senti nada, talvez nostálgico com Katsuo, mais nada...
Havia experimentado muitas coisas boas desde que voltei pra casa, mas... Era só isso? Não podia sentir mais nada? Eu estava cheio? Não, vazio?... Eu... Não sei...
*Japonês* — Olha, por mais que eu goste do Senhor Aki... Não acho que seja uma boa ideia botar ele na aula hoje... Tem noção do estardalhaço que a volta dele vai fazer? Essa situação, boa ou ruim, é estressante do mesmo jeito. Expor ele à isso não deve ser uma boa ideia, se tudo que você falou for verdade. —
*Japonês* — Olha, agora eu poderia resolver isso com um argumento esplêndido, mas essa coisa de você não acreditar em mim está me tirando do sério, então acho que eu vou ter que mostrar pra você antes de dar a minha cartada. — Harry questionou em um tom ameaçador, seguido de um barulho estranho vindo da sala, que se manteve como um ruído parecido com o de uma tensão estática.
*Japonês* — O que é isso?! — O diretor perguntou apavorado.
*Japonês* — Esse é o meu poder, além dos atributos comuns com os outros, como super força, super velocidade e inteligência acima da média... Se bem que esse último sempre foi uma verdade no meu caso. — Harry explicou com seu tom arrogante.
*Japonês* — Certo, eu acredito em você! Sobre tudo! Agora me põe no chão! — Abe implorou.
*Japonês* — Claro, eu só queria te assustar um pouco com ele, mas antes, vou dar o meu argumento. O fato de essa situação ser estressante, é exatamente o que garante pra nós que, Se o Aki se mantiver na linha por hoje, ele deve ficar bem sem a gente. E agora eu te pergunto, vai permitir a volta do Aki ou não? —
*Japonês* — Vou sim, eu nunca nem pensei no contrário, pode contar comigo! Mas me põe no chão por favor! Isso está me deixando enjoado! —
*Japonês* — Certo, proteja seu peito e rosto com os braços. — Disse Harry antes do som estranho parar de repente e Abe soltar um grito desesperado.
*Japonês* — Ahr, Deus... Muito obrigado... Enfim, os professores e coordenadores já sabem dele, então não é tão complicado, mas eu vou precisar anunciá-lo para turma. Então... Se puder, poderia me soltar para irmos à sala dele? Estar no seu colo é estranho. — O diretor falou ofegante, seguido pelo som da porta abrindo, e assim, ambos seguiram a mesma direção do corredor que eu e Yan pegamos.
— Yan, espera um pouco. — Eu parei de andar no meio do corredor, segurando a camisa de Yan.
— O Harry já acabou? O que eles conversaram? — Ele indagou me fitando.
— Espera! Você também estava ouvindo?! —
— Claro que eu estava! Agora, o que aconteceu? —
— Pelo que eu entendi o Harry usou o poder dele para assustar o diretor... Parece que funcionou. —
— O Harry tem po~?! —
— Oi gente! Me perdoem a demora, mas agora que estou aqui com o diretor, vamos juntos. Ele disse que tem de anunciar a volta do Aki antes das aulas começarem. — Harry, ofegante, surgiu como mágica, interrompendo Yan.
Nós três concordamos, indo a passos mais largos a minha sala de aula, logo que o diretor Abe chegou mechando no celular.
Chegando na sala, que esperávamos encontrar vazia, notamos um garoto dormindo desleixado em uma das cadeiras ao fundo. Era Katsuo, o garoto problemático que ninguém, nem mesmo eu, gostava... Ele era, como posso dizer, agressivo, principalmente com pessoas como eu... Se bem que até quem ele destratava me excluía, né... Enfim, quando Katsuo se metia em uma confusão que não podia vencer, era seu irmão mais velho e ainda mais problemático, Katsuo, que vinha para resolver.
Eu nunca havia pensado em revidar caso ele viesse de implicância... Mas depois do que dizem ter acontecido, duvido que ele fosse mexer comigo... Ele era um babaca violento... Mas ainda tinha alguma compaixão.
O Diretor Abe mexia no celular, enviando mensagens para alguém, por mais um tempo, o qual Harry o vigiou atentamente, até que finalmente ele guardou o aparelho.
*Japonês* — Certo, e agora? — Harry indagou com seu tom naturalmente irritante.
*Japonês* — Agora nós esperamos as aulas começarem, já notifiquei os professores e coordenadores. Enquanto isso eu gostaria de botar o papo em dia com o Senhor Aki, se não se importam. — O Diretor disse, virando-se na minha direção animado, e se sentando em uma das cadeiras.
Assim, eu e ele batemos um longo papo nos minutos restantes, onde ele quis saber como eu estava, como foi minha experiência com todas aquelas coisas assustadoras acontecendo, e principalmente, como eu me sentia por estar de volta... No fim a conversa se resumiu a mim contando toda a história de como fui sequestrado saindo da escola, ocorrido que poderia ter sido contado de forma simples: Saio da escola, uber faz curva estranha, saco preto, pancada, acordo em lugar estranho e assustador.
O Diretor ficou tão assustado, que propôs me conseguir um motorista particular confiável ou então me dar carona, já que ele morava a três quarteirões da minha casa... Bom, essa parte da conversa, acredito que poderia ser resolvida por meus pais. Mas por hora, eu estava... Verdadeiramente, com meu amigo.
Narrador
O horário do começo das aulas se fez presente, e então, logo após todos os alunos entrarem na sala, o Diretor Abe fez um breve anúncio da volta de Aki logo antes das aulas começarem devidamente, arrancando expressões de extrema surpresa da turma. A única exceção dentre as expressões foi Katsuo, que sequer estava acordado.
Yan e Harry seguiram o diretor ao começar da aula e assim, terminaram numa pequena conversa no corredor, entre a porta da sala e a janela.
*Japonês* — Você disse algo sobre não poder expulsar o tal do Katsuo , mesmo ele sendo... Impertinente... Posso saber de onde vem esse passe livre? — Harry questionou de braços cruzados.
*Japonês* — Olha, por mais que eu odeie admitir, eu não posso expulsá-lo por causa do "patrocínio" dos país dele... Muito do nosso poder aquisitivo e posses legais são provenientes do dinheiro deles, fora que sem eles as taxas que o governo nos cobra pela área da escola já teriam nos falido. Óbvio que eu já quis expulsar aquele rapaz, mas essa é a única coisa que eu não posso fazer. E claramente, as detenções, incontáveis sermões e punições, como a limpeza completa da instituição não funcionaram. Eu já não sei mais o que fazer, só deixá-lo por aí e torcer para melhorarem um dia tem parecido uma ótima opção. —
*Japonês* — Os pais dele por acaso sabem do que ele faz? —
*Japonês* — Eles sabem. Só não sei como lidam com isso. Na verdade, as vezes eu acho que eles nem se importam. Aliás, toda vez que pergunto deles pro Katsuo, ele diz que tanto faz o que eu diga para eles, nada nunca vai mudar. O que me incomoda é que ele diz isso de maneira triste. — Abe disse receoso, igualmente passivo..
*Japonês* — Deixa eu adivinhar?... Os pais não dão muita atenção pra coitadinha? — Harry descruzou os braços fazendo movimentos de vitimismo, em deboche.
*Japonês* — Não ter os pais cuidando de você é um assunto sério, rapaz. Pode parecer que ele é mimado, mas ele também não tem muito além de uma casa grande e esta escola... De certo modo, aquele garoto cresceu sozinho num mundo de estranhos. Talvez por isso seja tão ignorante e desconfiado quanto ao resto das pessoas, ao ponto de tratá-las mal. —
*Japonês* — Hm... Quando você fala assim faz parecer muito solitário. Mas ele sequer tentou? — Harry bufou.
*Japonês* — Essa é uma pergunta que eu não tenho como responder, garotinho, eu era coordenador de outra escola quando ele entrou aqui, então não sei como foi para ele... Mas dizem que foi conturbado. Olha, se precisarem de mim, sabem onde fica a minha sala. Eu vou terminar aquela papelada... Vocês vão ficar por aqui? — O Diretor se apressou olhando o relógio prateado chique em seu pulso esquerdo.
*Japonês* — Sim, temos que ficar de olho do Aki, mas prometemos tentar não chamar atenção ou causar problemas. — Harry brincou fazendo uma continência, e recebeu uma confirmação silenciosa do Diretor, que apenas fez um tinindo e um olhar que dizia "confio em vocês".
E então, os dois mancebos se despediram do homem e abriram desceram até o pátio, com Yan olhando para Harry com uma expressão curiosa, se coçando para não perguntar sobre seus novos poderes.
Chegando ao pátio, ambos simplesmente deram um salto que os levou até metade da altura do edifício da escola, e logo em seguida, usando os braços, pegaram um impulso na parede que os levou direto ao telhado.
Ambos permaneceram ali, sentados no canto direito com visão para o pátio, com suas atenções voltadas para a sala de Aki...
— Hein Harry, quais são seus poderes? — Yan soltou de repente, quebrando o silencio, que durou pouco menos de cinco minutos.
— QUÊ?! Como você sabe que eu tenho~?! —
— O Aki escutou e me falou, simples. —
— Entendi... Eu até tinha esquecido que todo mundo podia usar a super audição quando quisesse. — Harry comentou, sentando na sacada do edifício.
— Imaginei. Ninguém usa muito essa habilidade além do Maxwell mesmo... Se bem que ninguém tinha motivo pra usar até agora, ninguém falava a mesma língua. — Yan comentou ajeitando sua bunda no lugar onde sentava, de maneira confortável, apesar de não ter encosto.
— Hum... Olha, eu ainda não tenho certeza de quais são os meus poderes, mas estou trabalhando para descobrir... Enfim, descobrindo eu te conto. — Harry explicou pensativo, com o punho segurando o queixo.
— Se você não me contar, eu não vou dizer o que eu vi hoje mais cedo... Tem a ver com o Max e a Mia, só pra esclarecer. — Yan já saiu dando aquele migué.
— O quê?! Como assim? O que aquele brutamontes fez com ela?! Por favor, me conta, eu faço qualquer coisa! — O menor entrou em desespero, implorando pela resposta de Yan com todo o seu ser.
— Tudo bem, tudo bem. Lá Vai... — O maior dizia, relembrando de como Maxwell e Mia haviam acordado. — Quando fui no quarto do Aki hoje mais cedo, foi durante uma discussão, entre os pais dele, o Max e a Mia. Pelo visto, eles dois dormiram na cama do no nosso pequeno Akinho. — Soltou levianamente.
— É O QUÊ????!!!!!!!! — O inglês berrou, espantando todos os pássaros da região.
— Calma, Rapaz! O Max dormiu no chão, só a Mia que puxou ele pouco antes de acordar. Eu ouvi quando aconteceu. — O monge esclareceu.
— E que diferença faz?! Eles dormiram juntos! No mesmo quarto! E na mesma cama! Um do lado do outro! Meu Deus, Yan, daqui a pouco vão estar até... Até... Eles vão fazer aquilo! — Harry se indignava a cada palavra enquanto pensava em Maxwell e Mia num... Bom... Ele era novo, o problema é que seu conhecimento extraordinário não se limitava a química e física, mas também a biologia, então não foi um mero beijo que passou por sua mente naquele instante, como Yan pensou que fosse.
— Ah, qual é? Vai dizer que eles não formam um bom casal?... Por acaso você gosta da Mia? Por isso que você fica encarando eles dois sempre que estão juntos? — Yan questionou como se finalmente tivesse caído sua ficha.
— Pelo amor! Claro que eu gosto dela! Eu não gosto é do Maxwell! —
— Harry... A Mia é um pouco velha pra você... Na real, você que ainda é meio novo pra essas coisas... — Yan comentou, fazendo com que Harry parasse de imediato e o encarasse por alguns segundos com cara de quem estranhou completamente a situação, até que finalmente caiu em gargalhos, as risadas mais sinceras que o menor já dera na vida. — O que foi?! — O monge indagou confuso.
— Eu... Gostando dela?! Tipo, como namorada?! Por favor, Yan-Li, que nojo! Pra mim, a Mia é como minha irmã. E além disso, eu tenho uma dívida com ela, tá? Eu tenho que proteger o coração dela, e pra mim, o Max é o tipo de pessoa a magoaria. — O garoto esclareceu de forma intrigante, ainda rindo da situação.
— Mas... E se eu te contar que ela, mais do que eu e você, está com medo... Se você visse, de verdade, como ela fica perto do Max... Harry, eu entendo que você quer protegê-la, mas o Maxwell, no momento, é o único apoio que ela tem, e a única pessoa que faz ela se sentir segura. Não acha que isso faz dele alguém bom pra ela? — Yan argumentou.
— Eu sei que é bom pra ela, Yan, por enquanto. Você sabe tão bem quanto eu que o Max é um cara com muitos problemas, problemas que o tornam perigoso como ele é... Eu sei que nunca o agradeci por me salvar e nem fui muito educado desde o Runner, e eu pretendo fazer isso um dia, agradecer, mas... Por hora, minha prioridade é a Mia, não quero que ela tome as dores daquele cara... Ela já carrega peso demais, e o que o Max suporta é impossível de carregar, com ou sem ajuda. — Harry rebateu com argumentos que Yan foi obrigado a aceitar.
— Tem razão... Mas você sabe que a escolha é dela, né? — O maior ficou cabisbaixo, sem saber como defender Maxwell, soltando o último de seus argumentos.
— Eu sei que fazer escolhas como essa costumam ser uma idiotice, olha o que eu fiz ontem por causa do Finn... Pode ser injusto com o Max, mas também ajudaria muito se você fosse amigo dele, tipo, amigo mesmo. — O inglês explicou fazendo leves movimentos de onda com as mãos, que desequilibravam o corpo de Yan a cada estocada.
— Eu tô tentando, mas ele pra mim é... Difícil... Ele mexe com a minha energia de um jeito muito desagradável... Olha, vamos falar de outra coisa? Tipo... E se o Aki descobrir que tem um poder individual? — Yan finalizou o assunto após perceber que este não era de sua alçada, voltando sua audição para a sala de Aki, que parecia um tanto movimentada. Yan não sabia o que diziam, mas os alunos falavam e comentavam sobre seu retorno, mas nada que realmente pudesse ser considerado fora da linha ou rude para a situação.
— Bom, tente mais um pouco, o Max e a Mia já parecem próximos demais pro meu gosto... E sobre os poderes do Aki, eu não sei. Só espero que não seja nada muito perigoso caso ele descubra, não quero ficar nem mais um segundo nessa cidade. — Harry respondeu, também voltando sua atenção para a sala de Yoshiaki, onde entendeu tudo que Yan não compreendia, porém como não haviam comentários "perigosos", Harry ficou calado a respeito disso.
— Hum... Se for assim e não tiver ninguém tão babaca quanto você por aqui, deve ficar tudo bem. — Yan implicou.
— Ah, cala a boca! — Harry riu de forma inocente, empurrando de leve o maior.
— Que foi? Se ele não saiu do sério com você, não é lá que ele vai sair. — Yan também riu, soltou gargalhos sinceros, que desencadearam uma longa e descontraída conversa, qual não se tirou muito de assuntos poucos importantes, como pessoas chatas e coisas ruins numa personalidade.
Então ambos ficaram ali, jogando conversa fora pelas próximas horas, descendo hora ou outra para beber água no bebedouro do pátio...
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De volta ao apartamento dos Aburaya
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Mia lavava os pratos do café da manhã, o qual já se findara, com exceção de Maxwell, quem se recusara a comer. Por outro lado a garota se mantinha pensativa, sem receber qualquer notícia de Harry. Fator inquietante, embora a fizesse concluir que tudo estava ocorrendo como deveria, e que os pais de Aki ainda não estavam sabendo.
A garota também não tirava da cabeça a incerteza do que faria para o almoço, juntamente às distrações do próprio remorso... Ela precisava se desculpar com Max.
Era quase nove da manhã, e cada moleque e moleca se enturmava agora, no grande grupo que atualmente conseguia se comunicar.
As meninas principalmente, que já queriam fofocar há séculos. Elas conversavam sentadas em uma rodinha, entre o sofá a televisão.
— Aí gente, finalmente a gente consegue conversar, né?! — Heidi disse com sua animação contagiante.
— Sim!!! Me diz Senhorita Müller, o que acha de falarmos daquilo?! — Chloé indagou de forma animada também, porém com um toque requintado e ao mesmo tempo brincalhão.
— Ah que isso! pode me chamar só de Heidi! E é claro que eu quero Chloezinha! Todas queremos, não é meninas?! — Heidi incluiu as outras.
— SIM!!! — Suyin e Hana gritaram de animação totalmente histéricas, a única que se mantinha calada era Evelyn.
— Então vamos para um esconderijo, minhas caras companheiras! — Heidi anunciou apontando determinada para o simples quarto de Yoshiaki.
E assim, Hana, Suyin, Chloé e Heidi foram correndo até o cômodo, puxando Evelyn contra a vontade junto, passando pelos meninos que de trás do sofá observavam Maxwell, na tentativa de entendê-lo.
As meninas continuaram como se eles nem estivessem ali, e então fecharam a porta do quarto ao entrarem, ouvindo um humilde pedido de Mia ao o fazerem:
— Podem brincar, mas por favor não quebrem nada, tudo bem meninas?! Não estão na casa de vocês. — Suplicou a jovem com sua voz indesobedescível, embora soubesse que as molecas não fariam nada perigoso.
Obviamente as quatro obedeceram ao pedido, mas isso não as impediu de se jogarem na cama da forma mais folgada que conseguiram, e depois se ajeitarem numa pequena roda, todas de bruços no colchão, estando Hana, Heidi e Evelyn de um lado, Suyin e Chloé do outro.
— E então... Acho que nós já sabemos quem vai ser o assunto do dia, né?! — Hana arrazoou fitando Chloé, fazendo uma careta curiosa.
— Quem?! — A francesa arregalou os olhos em confusão.
— Simm!!!! Conta pra gente, amiga! O que tem entre você e o Alexander?! — Suyin fez a pergunta de ouro, não tendo paciência para suspense, deixando Hana e Heidi embasbacadas com o quão direta ela podia ser.
— O~O que?! E~Eu e o~o Alexander?!... A gente... A gente é só amigo! E por que a gente tá falando disso?! Eu pensei que a gente ia falar de outra coisa, tipo nossas casas, cortes de cabelo e moda! — A loira se explicou aos gaguejos e constrangimentos. Ganhando a atenção de Evelyn.
— Ah qual é?! Vocês estão grudados desde sempre. É impossível que não tenha nada! E além disso, eu prefiro muito mais saber de amor do que de dor. Eu quero só... Sei lá, distrair a mente um pouco. — Heidi argumentou, virando de barriga para cima no colchão.
— Acho que tem razão, eu acho que também não quero pensar nessas coisas... Acho que é por isso que eu não saio de perto ele. Ele é calmo, e o jeito fofo dele me fazem esquecer de tudo, sabe?... E talvez eu também tenha achado ele bonito... — Chloé começou a corar de constrangimento, assim cobrindo seu rosto com ambas as mãos. Acabou que o olhar de Evelyn se desfez.
— Huh, ele pode até ser bonito... Ainda mais com aqueles olhos azuis profundos... Parecem até o oceano... — Heidi boiava como em uma fantasia. — Mas nada supera o Giovanni! Ele é a definição de um anjo! — Heidi comentou com os olhos ardendo.
— Ele é bem bonitinho, sim, seria um sonho se ele agisse comigo do jeito que o Alequinho age com você, Chloé. Tentei falar com ele algumas vezes, mas ele não me deu muita atenção... Querem saber, ele nem é isso tudo, sempre achei ele meio magrelo! — Suyin se expôs, com uma voz adocicada, embora frustrada e em negação.
— Ei, quem te deu permissão pra chamar ele assim?! Só quem da apelidos pra ele sou eu! — Chloé se enfureceu com o modo íntimo que Suyin agiu ao se referir a Alex.
— Aí que bonitinho! Ela tá toda apaixonada! Cheia de ciúmes. — Heidi riu, mas não com desdém, ou provocação, foi uma risada clara de felicidade, que acabou por cativar as outras meninas, que ao invés de brigarem, riram junto, claro que Chloé estava junto, mas sua vergonha superou a graça do momento, a fazendo cobrir o rosto.
— Verdade! Já temos um lindo casal entre a gente! Quer dizer, temos um casal e um Shipp muito forte. — Hana comentou em altos pensamentos.
— O que é "shipp"?! — As outras meninas questionaram em uníssono.
— É tipo um casal provável... Eu não lembro exatamente o que a Mia me explicou, mas tenho certeza de que era algo assim. — A menina de olhos estranha e majestosamente rosados explicou.
— Oh! Aí meu Deus! Conta pra gente amiga, quem é esse "shipp"?! — Suyin já foi perguntando com toda a histeria do quarto exalando de si, de repente, exalou uma epifania, arregalando os olhos. — Obviamente são a Mia e o Maxwell, né?! — Suyin sugeriu, se sentando e dobrando as pernas em cima da cama.
— Aqueles dois... Eles se dão desde que se conheceram! Só que eu ouvi eles discutindo feio mais cedo, será que eles estão bem? — Heidi ponderou apoiando seu queixo em sua mão.
— Ah, meus pais sempre brigam e se amam muito até hoje... Acho que é normal, né? Qualquer coisa, a gente faz uma "operação cupido". — Chloé se manifestou botando pilha no assunto.
— Eu acho que essa ideia é inapropriada para a nossa situação. — Evelyn finalmente disse algo, infelizmente se opondo.
— Ah qual foi, mana? Larga de ser chata! — Heidi deu um leve tapinha na nuca da irmã.
As outras garotas a zoaram também, "É Evelyn, deixar de ser chata!" Diziam, porém a ruiva mais robusta se pronunciou contra aquilo.
— Calem a boca, vocês. Só quem zoa minha mana sou eu, barangas! — A alemã brigou, fervendo imponência.
— Tudo bem, Heidi, nos perdoe... — Chloé se desculpou, assustada por não conhecer o xingamento, acreditando ser alemão. Heidi acatou o pedido.
— Só pra saberem, eu ainda não apoio a ideia. Tudo está muito turbulento ainda, porque vocês não esperam as coisas se acalmarem um pouco, pelo menos? —
— Olha, pode até ser uma boa ideia... Uhhh! — Hana comentou, de repente arregalando os olhos e arfando em surpresa. — Gente, minha casa! — Anunciou.
— O que tem a sua casa, Hana? — Suyin perguntou.
— Eu moro numa grande mansão, em uma pequena vila em Jozankei. — A menina explicou desengonçada e eufórica.
— Tá bom... E o que tem isso? — Heidi elevou os ombros, com o seguinte pensamento "Ela tá jogando isso na minha cara???"
— Minha vila tem vários pontos isolados, perfeitos para encontros, a minha casa tem vários quartos com pelo menos dois futons, além de termos fontes termais naturais e as ruas serem tranquilas noventa por cento do tempo, e mesmo se não estiverem, o terreno da minha família ainda é perfeito pra uma caminhada romântica. E meu pai é um verdadeiro amante de histórias de amor, se tem alguém com energia e disposição pra ajudar a gente é ele, ainda mais em casa. — Hana esclareceu frenética, pensando em todas as possibilidades. Heidi suspirou de alívio uma vez, e então mais uma de animação.
As outras meninas ouvindo se embasbacaram, boquiabertas como um desenho animado. Não contiveram os gritos agudos e eufóricos ao entenderem o que ocorreria.
— Amiga, já temos o plano perfeito! — Suyin gritou.
— Fale baixo! Se não eles vão ouvir e descobrir tudo! — Chloé deu um leve tapinha no ombro da Chinesa.
Evelyn, de saco cheio daquela conversa, que ao seu ver, era problemática para a situação, bufou de tédio e saiu do quarto a passos silenciosos, que a impediram de ser vista pelas garotas que agora bolavam algum plano miraculoso à cama.
Fechando a porta, Evelyn se deparou com outro grupo, o dos meninos. Estes fitavam Maxwell, posicionados e agachados logo atrás do sofá. Max estava na varanda, parecia aflito com algo, tremia o joelho e batia a mão no guarda peito freneticamente, exaltando sua ansiedade.arda peito freneticamente, exaltando sua ansiedade. Evelyn acabou se aproximando do grupo e observando Max junto deles.
— O que o Fangs tem? Ele parece nervoso. — A menina questionou. Giovanni, que estava atrás, junto de Alexander, respondeu.
— Não sei, mas ele e a Mia brigaram mais cedo. E parece que deu alguma coisa errada na negociação com o Shogun. —
— Perguntei a Mia, ela disse que ele tem um irmão, que provavelmente ganhou influência no país depois que o Fangs s deu um jeito naquela história de terrorismo. — Alexander acrescentou olhando de canto.
— É, foi algo assim... Mas indo ao que mais me importa, quem venceu no fim? Eu ou o Alex? — O italiano sorriu malicioso.
— Sabia que é falta de educação ouvir conversa alheia? — Evelyn respondeu, seca.
— Não quando escuto meu nome na conversa. Parei de ouvir depois que me chamaram de magrelo. Alguém me defendeu, pelo menos? — O rapaz se virou completamente, com um sorriso sedutor.
— Lamento, mas isso é assunto delas... — A alemã desviou o olhar firmemente. — Na verdade, eu não sei dizer quem venceu, o assunto acabou logo depois. — Continuou, ao pensar no que ocorreu.
— Larga de inveja, "Gio". Você não pode vencer meus lindos olhos azuis, profundos, como o oceano. — Alex provocou se virando também, com um sorriso exibido.
— Vou é te jogar pro mar com minhas asas de anjo! — Giovanni levantou.
— Ah é? Quero ver, magrelo! — Alex se pôs de pé, encarando o outro como um briguento.
Porém, antes de eles começarem a discutir pesado ou até brigar, ambos sentiram uma atmosfera pesada se manifestar sobre eles, como uma tempestade de inveja. Não era Maxwell, muito menos Mia, mesmo que os dois estivessem de olho naquela cena a algum tempo. Eram os outros garotos do grupo.
— Será que podem parar com isso?! — Diogo e Kabir os encararam ferozmente.
— Vocês pelo menos foram citados e elogiados, droga! — Finn e Jawari argumentaram, os encarando da mesma forma.
A pressão daqueles olhares foi tanta, que além de fazer Pablo fugir para o calor da proximidade de Mia, resultou na calmaria entre o italiano e o sueco.
Então, depois de todo o drama e engolir seco, todos voltaram ao que estavam fazendo, observar, agachados atrás do sofá, Max, que agora olhava de canto em direção a Mia alternadamente, seu olhar era triste e revoltado. A mais velha, por sua vez já estava totalmente distraída lavando as louças.
— Mas afinal, vocês estão querendo o quê aqui? Não param de olhar pro Fangs. — Evelyn questionou.
— A gente quer... Sei lá, saber mais sobre o Fangs. Tá bom que ele é assustador, mas ele é muito forte. E eu não sei os outros mas eu quero ser que nem ele... — Kabir saiu da frente é andou cautelosamente até o fundo da muvuca.
— Hmm, eu realmente não entendo vocês... — A garota se pronunciou.
Assim, um arfar pesado vindo do alvo observado foi escutando, voltando a atenção de todos até Maxwell, que estava a se virar e abrir a porta da varanda.
— Finn, foi você que o Yan levou pra um tiroteio ontem né? — O mais velho perguntou ríspido. E de prontidão obteve uma resposta.
— S~Sim... Foi, fu~fui eu sim! — O menino se pôs de pé, reto como um soldado em posição, fez até uma continência.
— Ótimo, então você já tem noção de responsabilidade pra fazer isso. Vai ali na varanda e fica de olho na cidade, use todos os seus sentidos, e não deixe nada passar despercebido, se possível, entendeu? — Maxwell ordenou, firme.
— S~Sim, senhor Fangs! — O menor fez continência.
— Pode me chamar como quiser, mas não use "senhor", isso me lembra a porra do Shogun... Vai lá, moleque. — O moreno bufou. — E se quiser podem ir mais dois, mas não conversem alto. —
— Certo, Fangs! Vamos vigiar direitinho! Prometemos! — Todos se levantaram e fizeram uma continência por mero instinto.
— Ei! Eu falei só mais dois! Mais do que isso vai chamar muita atenção, SÓ-MAIS-DOIS! — O cicatrizado brigou com a voz engrossada, fazendo o sinal de dois com os dedos. Viu como os meninos ficaram assustados, e então, retomando sua mente, respirou fundo e terminou arfando:
— Ahh... Olha, foi mal. Eu não tô muito bem... Mas olha, quem ficar de fora, ainda tem UNO pra jogar, pô! Eu não tô me desfazendo de vocês, só tô controlando nossos esforços... Me desculpem por gritar. — E assim, seguiu seu caminho até a cozinha.
As crianças o obedeceram, Finn, Kabir e Jawari ficaram de guarda na varanda, enquanto os outros foram jogar UNO na sala, inicialmente ainda vidrados nas ações de Maxwell. Todos incluindo Evelyn, que achou a ideia menos entediante do que as conversas atravessadas das meninas, além de poder trabalhar nos seus relacionamentos. Evelyn não era uma pessoa muito sociável, mas gostava de jogos, para ela era um momento em que se sentia de alguma forma incluída, sentimento que não batia seu peito em nenhuma outra situação...
Mia lavava um pequeno prato de porcelana, ela sequer notou que Max se aproximara, apenas o fez quando fora pegar um copo disposto ao lado da torneira e foi surpreendida por uma mão cheia de cicatrizes tomando-o primeiro.
— Huh?! — A garota esboçou confusa, ainda olhando para o fundo metálico da pia.
— Se quer saber, você tem razão. — Max soltou, ensaboando o copo sucintamente com a segunda buxa da pia.
— Han?! Max?!... Do que cê tá falando? — Ela pegou um garfo e começou a ensaboá-lo, seguindo com o serviço que se voluntariara a fazer.
— Você disse que eu não passo de um assassino. Você tá certa. Até porque até agora eu não fiz muito além de dilacerar pessoas e tirar vidas. — Explicou num tom triste e sério, terminando de lavar o copo, pondo-o para secar e tomando uma faca para limpá-la.
— Maxwell... Me desculpa... Eu sei o que eu disse, mas foi no calor do momento... Eu não quis dizer iss~ — Ela dizia trêmula ao pôr o garfo pra secar, quando foi interrompida.
— Não, você quis sim... Pensa! Quantas pessoas eu já matei? Quanto sangue tem na minha mão?! QUANTOS INOCENTES FORAM PEGOS NO CARALHO DO FOGO CRUZADO POR MINHA CAUSA?! PENSA! — Ele gritou, largando furiosamente a faca no escorredor.
Ele e Mia se encararam, ambos se olhando de forma séria e imponente. Deram uma pausa nas louças. As crianças que jogavam UNO no sofá os fitaram.
— Voc~ — Mia começou.
— Porra, Mia! Tudo que eu tenho tentado fazer desde aquele navio é levar vocês pra casa! Mas... Merda, eu não sei mais se eu tô fazendo as coisas direito! Ajudando o crime, roubando, matando, perdendo, ganhando, tentando manter a gente vivo e eu não sei se vou conseguir, porque nem o Simon eu consigo vencer! E isso me faz duvidar por quanto tempo vou conseguir manter vocês seguros também! Porque até agora, como você disse, só o que eu tenho conseguido fazer direito é matar, matar e matar, Merda! — O cicatrizado gritava, jogou a bucha na pia e sua bunda ao chão. Respirando fundo, segurando lágrimas, o moreno concluiu:
— ...Você... tem razão... Eu não sou... herói, nem um bem feitor, nem um bom homem, e por mais que eu tente eu não sou nada parecido com isso... Eu... Sou só um assassino... Nada além disso... — Sua voz fraquejava com seu olhar cabisbaixo.
— Max... Eu... Eu não quis dizer aquilo. Eu só falei porque eu estava irritada... Não com você... Com... Com tudo... Nada mais parece que faz sentido, o mundo que eu vivia era uma mentira... Só o que eu sei é que nos últimos dias eu não vi nada além de gente morrendo... E ver você tão... Tão focado em nos proteger, conseguindo aguentar tudo... Eu acho que fiquei com inveja, e acabei descarregando em você... — A garota, quase chorando, se sentou ao lado dele e segurou sua mão. Fez um sinal para as crianças no sofá, que estavam encarando, pararem de olhar. E assim feito, continuou:
— Você realmente não é... Um herói, não na visão comum, acho. Mas Maxwell, você é o MEU herói, e o herói dessas crianças também. — Mexia a cabeça na direção das crianças do sofá. — Se isso não vale de alguma coisa, e não te faz um bom homem, eu não sei o que vale. Mas por favor, Me perdoa por ter dito aquilo. Eu nunca te odiaria por me proteger, mesmo que você mate pra isso. — Dizia triste e angustiada, quase chorando, trazendo Max ao seu peito e o abraçando gentilmente.
Maxwell com um olhar denso e carregado a encarou, ele claramente continha seus sentimentos, mas não cedeu a emoção. Fez caretas de raiva, de inquietação, de tristeza e até desgosto... Foi desagradável para Mia ver a cena, mas no fim, respondeu com gratidão e uma expressão de pesar:
— ...Hm... Mia, a gente não se conhece direito, mas uma coisa que eu acho linda em você é que você entende o valor da vida de uma pessoa... Então eu duvido que você não se importe... Mas também é por isso que eu entendo a sua raiva... Mia, você me pediu perdão... Eu digo que você nunca precisou pedir... Eu não seria seu amigo se não fizesse, não é? — Ele riu, sem tirar seus olhos dos de Mia.
A menina sorriu, feliz, sua expressão harmônica e majestosa que ascendeu a alma de Maxwell, o rapaz sorriu sinceramente junto a moça, que corou junto dele, não de constrangimento, mas de gosto.
— Max, você é um bobo... A gente devia terminar de lavar as louças agora. E depois vamos fazer um Yakisoba. — Mia comentou levianamente, saindo daquela situação, que embora estivesse ótima, não demoraria para que ficasse vergonhosa ao seu ver.
— Tem razão. Vam'bora! — Maxwell se levantou rapidamente, já pegando de volta sua bucha. Mia fez o mesmo. Assim, ambos terminaram aquele compromisso com uma atmosfera leve e tranquila, e começaram a fazer o almoço.
Observando aquilo tudo, a irmã de Heidi ponderava:
—"...O que foi aquilo?... Como é que... Eu nunca consigo entender essas coisas, são desnecessariamente complicadas... Pensando bem, até que seria legal..." —
E por aí se manteve, numa tranquilidade monótona, mas gostosa, que fazia falta já a um tempo, eram momentos bons simples que todos tinham naquele momento, no apartamento. Bem diferente do que ocorria em um certo outro lugar...
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Novamente, nas dependências da Osaka Shik Gakuin
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Yoshiaki anotava as informações passadas no quadro por seu professor, agora lecionando aritmética, discorria a respeito da progressão geométrica de soma finita.
*Japonês* — Muito bem, turma, aqui temos uma boa questão... — Ele dizia enquanto escrevia no quadro a tarefa: "Qual é a quantidade de elementos da PG finita (1, 2, 4, ...), sabendo que a soma dos termos dessa PG é 1023?" — Alguém gostaria de resolver no quadro? — Terminou se sentando em sua cadeira, observando toda a turma cheia de rostos pensativos.
*Japonês* — Eu gostaria, professor! — Aki levantou a mão na mesma hora. Normalmente ele não faria aquilo, mas depois de tudo que passou ele estava mais confiante, e mesmo sem ter visto uma aula daquela matéria anteriormente, a certeza de que poderia resolver aquela questão era inabalável.
*Japonês* — Pois bem então, pode vir, Yoshiaki! — O professor aceitou, receoso por saber que Aki não havia presenciado nenhuma aula, mesmo tendo passado um breve resumo do que haviam aprendido até aquele momento... Mas queria saber de onde vinha tanta confiança.
Então Aki se levantou, pegou o pincel da mão estendida do professor, e resolveu a questão, explicando-a.
*Japonês* — Então gente, a resposta vai ser dez. Mas desenvolvendo a equação, sabemos... que o primeiro termo "a1"... Vale 1, a razão "q", pela lógica... vale 2... Então substituindo os valores... O número "n" de elementos vai valer... 10. — Ele dizia conforme escrevia no quadro.
E assim, com menos de um minuto a resolução se fez no quadro, sendo ela:
S(n) = a1 . 1 – q^n
1 – q
1023 = 1 . (1 – 2^n)
1 – 2
1023 = 1 – 2^n
– 1
– 1023 = 1 – 2^n
– 1023 – 1 = – 2^n
2^n = 1024
2^n = 2^10
n = 10
*Japonês* — Então pessoal, por isso a quantidade de elementos da PG é igual a dez. — O jovem se virou, entregando o pincel ao professor, que o encarava embasbacado, nada diferente do resto da classe. *Japonês* — O que foi gente? — Aki indagou, se sentindo estranho por tantos olhos o fitarem ao mesmo tempo.
*Japonês* — Aburaya, você é um gênio! — Alguns de seus colegas disseram. *Japonês* — Como fez isso tão rápido?! — Outros questionaram. A classe inteira virou uma baderna de impressões, cada uma mais surpresa que a outra.
Mas quem estava mais impressionado era seu professor, que outrora lidava com um aluno mediano, e agora viu o mesmo aluno realizar sem nenhuma dificuldade uma tarefa de uma matéria que pouco conhecia.
*Japonês* — Aburaya, o senhor foi perfeito. Estudou no tempo que esteve perdido, por acaso? Parabéns! — O professor bateu palmas com um sorriso. *Japonês* — Muito bem turma, agora vamos continuar a aula. — Ele riu, se levantando ao quadro ao mesmo tempo que Aki voltou à sua carteira.
A turma fofocava e falava de Yoshiaki. Ele era o assunto do momento, e não só entre os alunos, entre os coordenadores e professores também. Apesar da exaltação atual dos presentes em sala, todas as outras aulas ocorreram normalmente... Bem, quase.
Em três, das quatro aulas antes da merenda, Aki mostrou destaque em suas participações, na aula de gramática e de ciências, após a aula de matemática, impressionando seus colegas cada vez que o fez... O garoto, se sentindo o melhor e maior do mundo, cheio de orgulho próprio, não parava de sorrir, e embora quisesse, não conseguia se gabar, pelo menos não em voz alta.
De repente, durante a quarta aula, uma pequena bola de papel acertou a nuca de Yoshiaki, foi um acerto bem de leve, como se fosse apenas para chamar sua atenção.
Aki fitou a retaguarda, passando o olho da bola de papel no chão antes de ver quem era a fonte de sua implicância. O garoto viu seus colegas travados, como se estivessem com medo até de se mexer, e mais atrás um pouco, os cabelos loiros de Katsuo, que lançou um olhar curioso de volta e apontou para o papel.
O Aburaya voltou seu olhar arqueado ao amassado e o apanhou, desembrulhando suas dobraduras raivosas sem mais nem menos, ganhando visão para a seguinte frase escrita à kanji's: "Aburaya?! Você está vivo?! Quer dizer... O que aconteceu? Desde quando voltou? (Nota: Eu não estou te sacaneando dessa vez, essa pergunta é séria)."
O menino leu a mensagem, pensou, pensou, puxou uma folha de seu caderno e escreveu uma mensagem em resposta. Assim, amassou a folha arrancada e jogou de a mesa de Katsuo sem sequer olhar para trás. O Rapaz ficou boquiaberto ao ver aquele feito.
Sem enrolar muito, Katsuo abriu o papel e viu sua mensagem, que continha uma provocação que o deixou levemente irritado: "Você dormiu até agora, foi?! Voltei pra casa nesse final de semana... Eu... Peguei o ônibus errado e me perdi... Me acharam em Hida."
Katsuo devolveu a mesma bola de papel, mas com uma mensagem logo abaixo da de Aki: "E você não se importa com o meio ambiente, né? Podia ter escrito a sua resposta embaixo da minha?! Você se perdeu? E onde fica Hida?"
Aki viu a resposta do colega, quase riu, mas logo, dentro do possível, já que pensou numa desculpa para explicar como havia se perdido, devolveu a provocação: "Eu não tinha pensado nisso... Mas pelo visto você não sabe geografia, né? Hida fica no estado de Gifu, burro! E sim, eu me perdi, eu peguei um ônibus que me levou pra periferia, de lá eu tentei voltar pra casa, mas não deu muito certo."
A provocação de Aki foi o estopim para Katsuo se enfurecer de vez: "Pela primeira vez na vida eu te trato bem, e você me insulta? Faz isso de novo e eu te enfio a cara num vaso cheio de bosta igual eu fiz com o Akagi aquela vez!".
Yoshiaki não gostou do tom da mensagem, e então respondeu: "Takahashi, vamos evitar uma briga, por favor. Eu poderia te machucar, e quero evitar isso".
Katsuo finalmente perdeu o controle, juntou toda a força que tinha no corpo, e jogou com tudo a bola de papel amassado na cabeça de Yoshiaki. O menino reclamou soltando um nítido "Aí", dessa forma, a atenção do professor foi chamada, e ambos foram mandados a diretoria, não por conta do conflito em si, mas por Katsuo estar envolvido.
Katsuo e Yoshiaki então caminharam até a diretoria, ambos se encarando, com valente errôneo enfezado e o menor tranquilo, com um semblante tão sereno, que Katsuo entendia como deboche.
Harry e Yan, que conversavam ainda no telhado, viram ambos saírem da sala e não tiraram seus olhos deles até que entraram na sala do diretor, quando o monge e o britânico decidiram descer e observar o que acontecia, ainda que pelos ouvidos, nas laterais do escritório.
*Japonês* — Ahr... O que foi dessa vez, Katsu~??!! Senhor Aki?! Aqui?! Mas já?! — Abe perdeu as palavras nos lábios, com expressão que exaltava o tamanho de sua confusão. Já não recebia Aki na diretoria quase nunca, óbvio que, quando ocorria, era por conta de Katsuo, mas não esperava que, com sua volta, isso fosse acontecer tão rápido.
*Japonês* — É... Pois é... Bolinhas de papel. Dessa vez foi leve. — Aki explicou.
*Japonês* — Foi leve porque não deu tempo de eu pegar algo mais pesado! — Katsuo ameaçou, num surto de raiva, quase avançando em cima do colega.
*Japonês* — Senhor Takahashi, pare imediatamente!... Ahr... Dessa vez sua punição será limpar as salas depois das aulas, mas por enquanto, se contente em limpar os banheiros, certo? — O diretor interveio, fazendo o aluno problema se aquietar imediatamente.
*Japonês* — Mas que saco... Certo, entendi... humpf! — O loiro bufou, revirando os olhos, virando o rosto ao oposto de ambos os presentes na sala.
*Japonês* — Hm... E eu? — Aki fitou o colega, se direcionando ao diretor em seguida.
*Japonês* — Você pode voltar a sala. Sabe como é, o professor só te mandou aqui para confirmar a história do Senhor Takahashi. — O Diretor esclareceu, pegando um papel de registro de boletim de ocorrência em sua gaveta e pondo sobre a mesa.
Aki assentiu, se despediu educadamente de Katsuo, e saiu da sala, se deparando com Harry e Yan ao fechar a porta.
— ...Impressionante. Honestamente, não imaginei que você fosse lidar com sua vida escolar de forma tão... Complacente... — Harry apontou, engolindo o orgulho, sequer olhou nos olhos de Aki.
— Para dizer a verdade, eu também não... Achei que você fosse brigar com ele ou algo assim... — Yan coçou a nuca.
— Vocês dizem isso, mas quem está mais surpreso aqui sou eu... — Aki soltou, de forma quase triste.
— Como assim? — Harry o fitou.
— Antes... Eu não sei... Parece que tem alguma coisa faltando... — Ficou cabisbaixo. A forma com a qual soltou tal frase fora inquieta, apesar de sua voz estar vazia, como um vasto breu silencioso... O olhar que Aki lançou ao chão, mesmo que não pudesse ser visto com clareza, ainda era nitidamente carregado, e ver isso fez o mestiço a sua frente reagir impulsivamente.
Yan sentiu um calafrio percorrer sua espinha quando ouviu Aki dizer aquilo, algo faltando, era uma coisa que o monge não conseguia ouvir e ficar parado... Aquela frase o lembrava do inferno do seu passado, e junto com todo o peso que Yoshiaki exalava, veio o reconhecimento, Yan viu naquele garoto, tudo que podia ser visto no reflexo da água quando tinha sua idade. Por isso, ele acabou tomando uma atitude um tanto sábia.
— Harry... Volta pro telhado. Eu preciso falar com o Aki. — Disse com uma expressão tão mórbida quanto qualquer outra que Harry já tinha visto.
O britânico sentiu o clima, obedeceu a Yan. Nem quis pensar muito sobra aquilo, achou melhor deixar acontecer... Aquela foi uma das vezes em que Harry não podia fazer nada por não entender o que fazer, isso o fazia sentir medo... Pois todo aquele... Monte de sentimentos... Era desconhecido para ele.
— Aki... Quando eu tinha a sua idade, eu já tinha visto muita coisa... Coisas que me assustaram, e ainda me assustam até hoje, e... Olha, ultimamente, eu tenho tido problemas por causa disso, eu estou confuso, me sinto... Lutando contra tudo que eu acredito, mas mesmo assim, mesmo assim eu sei, que tudo que eu sou hoje só foi possível por causa do que eu passei e pelo que o meu pai me ensinou... — Yan parou, refletiu, arfou e deu continuidade. — Eu já senti isso, eu já estive no seu lugar. Eu perdi a minha mãe, ainda um pouco mais novo que você... Aki, não tem como descrever essa sensação, de vazio, mas quando meu pai me adotou eu fiquei muito feliz tão feliz, que tentei esquecer o que me atormentava. —
— Eu tenho me sentido muito feliz desde que reencontrei meus pais, mas, parece que é só isso que eu consigo sentir agora... — Aki soltou num tom quase inerte ao sentimento que gostaria de estar mostrando.
— Aki, vem comigo, vamos andar. — Yan começou a caminhar livremente. Aki o seguiu. — Depois de conhecer o monastério onde eu cresci, fiquei aliviado por ter uma casa, e fiquei melhor ainda por conta dos treinos e meditações que me ensinaram, não tinha muito tempo pra pensar no que tinha acontecido com ela, e na verdade, eu nem queria. Só que com o tempo eu fiquei... Perdido. Estava, como em você, faltando algo em mim... Bom, meu pai acabou percebendo, e daí, ele me disse uma coisa que a qual me moldei a partir dali. — O monge descia as escadas, dizendo tudo com mansidão.
— E o que ele te disse? — Aki o encarou.
— Ele me disse: "Yan-Li Huang, meu jovem, sei que o que você passou foi terrível, mas não acha que o que você está fazendo vai contra a ideia de superação? Pense numa borboleta... Elas precisam da luz do sol. Se ela quiser seguir seu caminho, Yan, ela precisa estar iluminada, ela precisa ver. E você agora, está fingindo ver enquanto vaga perdido por uma caverna escura". — Yan, em meio a lembranças, parou de andar logo ao sair para o pátio.
— ...Eu não entendi, o que ele quis dizer. Como assim? — Aki disse ao parar, logo à frente do monge, e se virar com uma expressão neutra.
— Eu levei muito tempo pra entender, e mais ainda pra aprender o que ele queria dizer... Na verdade, acho que ainda não aprendi totalmente, mas sei que essa história nos diz para olhar pra trás, pra entender e aceitar o seu passado. Só assim você vai conseguir enxergar seu caminho, e só assim vai ser capaz de encontrar o que perdeu nele. Eu não estou dizendo pra você ficar remoendo o passado, Aki, mas você não pode ignorar ou tentar esquecer o que aconteceu, isso só vai te desorientar... Você entende, né? — O mais velho se aproximou de Aki, se ajoelhando a sua frente e pondo suas mãos nos ombros do menor.
— Mas, Yan... Como eu faço isso?... — O mais novo soltou um sorriso, aparentemente sincero, mas pela primeira vez desde que voltara, foi nítido um outro sentimento, o desespero. Yoshiaki agora, não era capaz de demonstrar nenhum sentimento além de alegria, e não havia nada em seu coração que viera a sentir além disso há algum tempo, no entanto, forçando sua expressão de forma exagerada, foi capaz de demonstrar o que estava acontecendo.
Dizem que o medo pode moldar uma criança, torná-la agressiva ou tirar sua inocência. E Aki tinha perdido muitas coisas após ser sequestrado, os sentimentos principalmente, e Yan não sabia como lidar com a magnitude do que Aki estava passando, era um caso que ele não conseguia compreender totalmente, a situação era... Mais complexa, ainda assim, fez o possível para ajudá-lo.
— Bem, eu posso te mostrar como eu fiz, mas só quando não estiver tendo aula. — Ele sugeriu dando um sorriso para acalma-lo.
— Minha aula já vai acabar, faltam só dois minutos pra merenda. — Ele acalmou o sorriso bisonho.
— Então vem comigo, vou te mostrar uma técnica de meditação. — Yan-Li se levantou com energia, caminhando rumo a um canto mais isolado do pátio, onde não havia nada que pudesse os tirar a atenção pelas próximas horas.
E assim, ambos começaram, ficariam lá, quietos e ocultos das manadas infantis até o final do recreio, onde o relógio bateria 13:00, assim dando um anúncio perigoso ao povo nipônico.
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Às 13:00
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No que os ponteiros dos relógios japoneses cravaram exatamente uma hora da tarde, todos os programas televisivos de todos os canais de transmissão nacional foram interrompidos pelas emissoras jornalísticas do país, exceto os que já transmitiam algum jornal, estes apenas deram continuidade, mesmo que já estivessem finalizando, e fizeram o anúncio, e este feito foi... Aterrorizante, pelo menos para quem sabia o que ele simbolizava...
*Japonês* — ...Novas informações oficiais a respeito do ataque terrorista foram disponibilizadas, a ameaça em território nacional foi totalmente identificada e está sendo neutralizada! O Primeiro-ministro, Hiroshi Watanabe e o Primeiro-ministro adjunto, Takeda Hayakawa, foram identificados como organizadores e financiadores dos ataques devido a inúmeras provas físicas, tanto audíveis como visíveis, e estruturais, encontradas pelo grupo de forças especiais, SFG. Ambos foram presos e tiveram seus cargos revogados. As provas encontradas apontam que, além de um sistema de importação e transporte ilegal de material explosivo e outros recursos, havia também um processo corruptivo de agentes de segurança nacional, que garantia a assertividade do contrabando. Alguns dos agentes envolvidos já foram encontrados e presos, sendo 237 envolvidos até o momento. Acerca do envolvimento da tríade, esta fornecia pessoas, para mão de obra escrava, material de fabricação e guardas treinados para o golpe. Mesmo assim a tensão entre os governos, chinês e japonês, permanece. De acordo com as autoridades, os invasores foram implementados visando a declaração do estado de emergência nacional, e em seguida, os agressores já em solo nipônico agravariam o estado de terror com mais ataques, como a destruição do prédio na Avenida Izumi Sennan em Osaka, que matou 6 pessoas e deixou outras 23 feridas. O objetivo era usar os poderes extraordinários concedidos pelo estado de emergência para criar uma política de poder absoluto permanente. Com o caos em vigor, a câmara de conselheiros e a de representantes nomearam o ministro Akira Kudo como substituto do ex-chefe de estado. Este, fará uma declaração ao vivo, ainda agora. — Dizia a repórter da emissora TBS, trocando a tela em seguida para a visão de dentro da câmara de conselheiros do Japão, onde é estavam presentes todos os ministros, centralizando Akira Kudo ao lado de um homem, não muito mais velho, que era bastante familiar para um certo garoto torturado.
Homem este que ainda usava seu terno e gravata pretos e sua camisa social vermelha, assegurando sua imagem forte já interpretada por seu grosso bigode grisalho como os cabelos. Ele parecia desconfortável, embora disfarçasse. Mesmo assim, era como se seu objetivo fosse infernizar o garoto desequilibrado, e ele cumpriu essa tarefa, ainda que não fosse a meta.
*Japonês* — Boa tarde, cidadãos. — Disse Akira, num tom pomposo. *Japonês* — Nos últimos dias, nós vivemos momentos de terror, de medo e de incerteza. Tudo por conta da incompetência e corrupção, dos dois canalhas sem escrúpulos, que orquestraram este pandemônio! — Ele disse enfurecido e revoltado, teve de retomar o fôlego ao terminar. Ficou alguns segundos se recuperando.
Kyoichi Kudo, o homem ao seu lado, pôs a mão em seu ombro e balançou levemente, tentando reerguê-lo.
*Japonês* — Obrigado, irmão. — Akira se virou brevemente ao homem, e logo se inclinou ao público. *Japonês* — ...Eu fui eleito novo Primeiro-ministro diante nossa atual crise, porque fui julgado a melhor opção política para sanar tal feito... Lógico que, darei meu melhor para reerguer nossa nação, com o mínimo de sequelas possível, afinal, sei do número de famílias que foram deportadas injustamente ao SFG, e sei das muitas perdas que a população do nosso país sofreu, mas não me julgo pronto para lidar com tantos problemas, pelo menos, não sozinho, e devido às necessidades que nosso país agora enfrenta, o governo não pode demasiadamente arcar com toda essa responsabilidade, por isso, chamei aqui meu irmão, Kyoichi Kudo, a quem concedo a palavra neste instante. — Akira não parava de fitar cada olho no salão, isso até que parou de falar, e Shogun, em sua cadeira começou seu monólogo.
*Japonês* — Boa tarde, cidadãos. Eu, Kyoichi Kudo, pela decisão unânime da câmara de conselheiros e da câmara dos representantes do Japão, fui chamado aqui para anunciar que, oficialmente, fui nomeado o novo ministro de finanças do Japão, decisão tomada devido às minhas aquisições legais e relação com a nação chinesa. Vejam bem, não sou político. Não sou um homem do governo como meus prezados companheiros. Mas vou dar meu melhor e ajudar a pôr esse país na linha. — Disse num tom forte, criando um clima ríspido. *Japonês* — A economia e relações externas pelo menos. Ha! Tentei criar uma frase de efeito, mas não saiu como eu queria. De qualquer modo, cidadãos, vamos continuar e seguir em frente. O povo japonês já passou por muita coisa, e não será uma situação vexatória como essa que irá nos derrubar! Vamos nos reerguer! — Soltou com ardor, fazendo o coração de cada homem e mulher no Japão ferver com a esperança, e a raiva da revolta.
Assim, a tela voltou a repórter do jornal, que fez o encerramento da notícia. Foi quando Maxwell, que assistia do sofá enquanto terminava seu prato de Yakisoba, feito por ele próprio e Mia. Mais dela que dele, claro, já que ele não era lá muito bom na cozinha e ainda tiveram que passar quase três horas fazendo comida para todo mundo.
— Merda... Shogun... Seu desgraçado... — O cicatrizado boquejou, queria dizer algo mais, mas sua cabeça estava tão incrédula quanto ao que viu, que não era capaz de formular qualquer frase, ou pensar em qualquer coisa que não fosse a euforia do arrependimento e culpa.
Culpa por ter colocado um criminoso no poder, culpa, por ter condenado um país inteiro a se tornar algum tipo de corrupção estranha... Ele apertou o prato sem controle e o quebrou, derramando o que sobrou da substância viscosa e temperada do macarrão no recipiente.
— Olha Max, eu sei que não participei de tudo dessa coisa... Mas acho que o que tá acontecendo não deve mudar muito o rumo do país... Depois de tudo... O Japão ainda está nas mãos de criminosos afinal... Nada mudou... — Mia tentou tranquilizá-lo ao ver seu estado inquieto e desacreditado. Ela pôs a mão em seu ombro.
— Eu sei, Mia... Eu sei... Mas esse daí, quem botou lá fui eu... — Ele arfou com pesar, era notório seu remorso.
— É... Talvez... Só que você não tem que ficar assim, é uma... Uma droga, eu sei, mas, no fim, não acha que talvez isso realmente não represente nenhuma mudança real, talvez seja só mais uma troca de nomes? — Ela passou para a frente do sofá, abraçando seus ombros com um dos braços, apoiando a cabeça do garoto em seu ombro dócil, e afagando seus cabelos.
Maxwell se separou dela com uma expressão derrotada, e morbidamente disse, concordando com a cabeça:
— Tem razão... Provavelmente é o que é... Isso se não acontecer aqui o acontece no meu país... —
Terminando, Mia abaixou a cabeça e viu os cacos de porcelana nas mãos de Max, pegou-os e puxou ar tentando dizer mais alguma coisa, mas tudo era tão confuso em sua natureza, que ela não conseguiu dizer nada.
— Se for parar pra pensar em tudo que aconteceu... — Max devaneou em meio ao seu desespero mental. — Pelo que deu a entender, a Tríade tava aqui por causa do Shogun, e o irmão dele armou o golpe contra o ex-primeiro-ministro... Eles devem ter mudado o plano original por nossa causa, depois da declaração de estado de emergência nacional, por minha causa o plano dele deu certo e aposto que não deixou muita gente feliz, já que o plano da organização era usar a história do terrorismo pra caçar a gente livremente... — E assim, Max concluiu sua perspectiva do que havia acontecido até então, mas ainda restavam dúvidas, o que aconteceria a seguir?
O garoto parou, Mia o observou ainda sem saber o que dizer, e então, enquanto mexia o joelho freneticamente, continuou:
— O Japão é um país estável, com uma infraestrutura boa. Com Shogun e o irmão no poder, agora ou isso vai mudar drasticamente e o sistema vai se corromper diretamente com o crime organizado, ou o Kyoichi vai manter a Yakuza separada do governo... De qualquer jeito não vai ser bonito a forma como vai acabar. — Logo concluindo o raciocínio, não podia deduzir mais nada, sequer sabia qual era o objetivo de Shogun naquela posição afinal, lhe restava a dor de ter condenado um país inteiro a sofrer nas mãos de criminoso de colarinho branco.
— Eu não sei se isso ajuda... Mas independente de qual das duas opções se concretize, acredito o Japão não deve sair da posição que está na geopolítica global. Depois de tudo, não acho que seja interessante pra organização que o Japão se degrade... E além disso, os Estados Unidos tem muita influência e tratados com o Japão... No máximo o Shogun deve ficar mais livre e imponente no submundo agora... Então meio que o Aki, pelo menos, vai poder viver a vida dele como viveria antes... — Mia, saindo finalmente do silêncio, apontou a teoria, orgulhosa de si por pensar naquilo... Estava começando a pegar o raciocínio de Max, que não negou aquele obséquio.
Ele não conseguiu fazer mais nada senão soltar um sorriso de alívio e dizer carinhosamente:
— Você tem razão... Obrigado, Mia... — A encarou.
A menina o fitou de volta, retornou ao estado sem comentários. O tom com o qual Max soltou o agradecimento e seu sorriso eram tão confortáveis para Mia que a jovem apenas corou o rosto, encarando Max com um olhar e um sorriso dignos do adjetivo "apaixonados".
As meninas, que acabavam de almoçar, da mesa, os encararam, crentes que aconteceria alguma coisa. Os meninos, que estavam no chão, também não fizeram diferente.
— D~De nada, Max! — Mia respondeu num tom mais alto que o normal, constrangida. Seu rosto estava agora marcado pelo rubor do sangue ardente, e com ele, o de Max também enrubesceu.
Era uma ocasião estranha, saída de um assunto incomum, mas isso não muda o fato de que ambos, Max e Mia, com a tranquilidade e felicidade de saber que o desfecho que procuravam para Aki e sua família fora alcançado, se entreolharam com uma vontade inegável de se abraçar, mas não o fizeram.
Não o fizeram por que, de repente, um abraço parecia... Embaraçoso... Em outras palavras, depois daquela manhã eles reafirmaram sua amizade, Ambos ficaram mais próximos, por isso talvez aquele sentimento de querer se abraçar fosse constrangedor agora...
No apartamento, estava um clima apreensivo e ansioso, este que foi interrompido pelo tocar do telefone fixo da família Aburaya, que a maioria nem sabia que existia. Este tocava na parede acima da bancada da pia.
Maxwell foi tirado de seu transe na hora, se levantou e atendeu sem nem pensar em quem poderia ser, por sorte, ou não, era Hayato, o pai de Aki.
*Japonês* — Alô, é da minha casa? — Perguntou num tom um tanto estressado.
*Japonês* — Sim, senhor. É o Max, o que foi? —
*Japonês* — Então, Fangs. Eu estava olhando meu celular por um instante, e recebi uma mensagem do pai de um dos colegas do meu filho e tive uma notícia um tanto curiosa... QUE PORRA MEU AKINHO ESTÁ FAZENDO FORA DE CASA, SEM MINHA PERMISSÃO?! — Gritou furioso.
— Ah, puta que pariu! — Max chorou em pensamentos, aborrecido em como seu clima tranquilo fora cortado tão rápido...
Pelo menos, ele conseguiu passar o resto do dia sabendo que havia cumprido sua missão, ao menos uma parte dela...
<--To be continued...
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