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Capítulo 𝐬𝐞𝐠𝐮𝐧𝐝𝐨

❝O amor é uma droga que me deixou facilmente entorpecida. No princípio, eu estava obcecada o suficiente para perceber e, conforme o tempo passava, esse maldito sentimento de euforia se convertia numa triste overdose.❞

── Henry, espera! ── demandei, seguindo os seus passos precipitados sobre o asfalto tomado por névoa.

Por mais desesperadora que houvesse sido a entonação da minha demanda, Henry não cedeu. Muito pelo contrário, ele demonstrou indiferença andando em direção à sua Mercedes Benz — que se encontrava do outro lado da rua —, dispersa entre a calmaria da noite e os demais veículos sofisticados.

Era pouco mais das quatro da manhã quando, o que era para ser apenas uma festa, cessou em caos. Eu me culpava por ter sido a responsável pelo desastre e, para piorar, ter emporcalhado os sapatos caríssimos de Henry. Mas, o que mais me afligia no momento era o futuro incerto da nossa relação. Eu não sabia onde arranjar coragem para expressar tudo o que vinha sustentando no fundo da garganta.

── Por favor, me escute! ── implorei, me agarrando com firmeza ao seu braço direito antes que ele partisse.

Henry livrou-se das minhas mãos num movimento brusco, e deu atenção aos meus olhos.

── Eu sei que fui inconveniente com você, ── afirmei. ──, mas, eu estava apenas tentando me divertir.

── Se embriagar a noite inteira não é diversão para garotas comprometidas!

── Também acha que eu me divirto sendo supervisionada por você o dia inteiro!?

Eu tentava não perder a cabeça sem motivos, mas, quando estávamos juntos, aquilo era quase inevitável.

── Por acaso está insinuando que eu estou te reprimindo? ── Embora parecesse hostil, Henry sorriu com escárnio. ── Acontece que eu te amo e me importo com você, mas parece que pouco lhe interessa se estamos sendo justos um com o outro.

── Não, isso não faz mais sentido! ── rebati. ── Henry..., olhe para nós! Estamos discutindo a cada dez segundos. Ainda chama isso de amor?

── Como você pode ser tão hipócrita? ── Ele franziu as sobrancelhas, abismado. ── Eu sempre estive ao seu lado enquanto a sua vidinha de merda desmoronava!

Faz sentido...

Agora entendo o porquê da minha vida ser tão infeliz.

Naquele instante, eu almejei expor tudo o que sentia e o quão esgotada eu estava. Mas fiquei tão insegura sobre como ele reagiria, que apenas abaixei a cabeça, pois nem mesmo tive coragem o suficiente para encará-lo.

── Eu achei que você me amava... ── Mordi o lábio inferior, para não expor a minha fraqueza diante dos seus olhos. ── Mas agora percebo que você só ama me desestabilizar.

── Não seja tão emocional! Eu não queria dizer aquilo. ── Henry bufou. ── Agora, pare com o drama e vamos embora. ── Ele abriu a porta do carro.

Eu não cedi.

Fiquei paralisada no meio da avenida. Para mim, ser esmagada por algum veículo parecia ser mais agradável.

── Você não pode simplesmente me dizer o que fazer!

── Entra logo na droga do carro, Jennie! ── Ele gritou, fazendo o meu corpo trepidar pela sua indelicadeza. ── Se não fizer isto por vontade própria, juro que eu mesmo farei!

O seu semblante medonho não contestava as suas palavras.

Pensei em persistir, pois sabia que ele nunca faria algo para me machucar, mas, no fundo, eu ainda tinha um certo receio e não hesitei em caminhar até o veículo cabisbaixa.

Acomodei-me ao banco e afivelei o cinto de segurança em silêncio. Logo, fui surpreendida com um estrondo da maneira violenta na qual ele bateu a porta. Eu não tive pretensão de discutir a respeito da sua arrogância, porque sabia que Henry surtaria. Afinal, ele já possuía diversos motivos para isso.

Henry dirigiu 45 km de Malibu à cidade de Los Angeles. Durante o percurso, a sua boca sequer soltou uma palavra. A paisagem tropical e as canções reproduzidas pela estação de rádio eram as únicas distrações que ocupavam o silêncio angustiante. Pelo menos, ele era um bom apreciador de música e essa era uma das poucas coisas que possuíamos em comum.

Enquanto apreciávamos o nascer do sol na costa pacífica, a brisa do mar me fazia recordar de todas as vezes que passeamos por aquela mesma estrada. Lembrava-me especialmente de uma ocasião, no entardecer do dia, sem a capota do conversível, os cabelos esvoaçantes ao vento e os braços elevados para o céu. Eu cantava The Night We Met com um sotaque engraçado e Henry não parava de gargalhar ao volante.

Apesar da vista frequente, ela nunca era cansativa, pois o céu era pintado com uma nova cor a cada dia. Por esta razão, eu sempre tive esperança de dias melhores.

Henry parecia inquieto. Os seus olhos claros davam-me uma olhadela de escanteio a cada dez segundos. Eu queria enxergar aquilo como algo positivo, semelhante aos tempos em que o seu contato visual era algo capaz de me causar calafrios. No entanto, não havia sinal de flerte e, muito menos, de proteção alguma naquele olhar profundo e maçante.

Felizmente, aquela tortura durou somente até o veículo estacionar subitamente na avenida deserta.

Aquele havia sido o percurso mais tenso da minha vida!

── Se importaria de me aguardar por um momento? ── Henry perguntou, já me entregando o seu celular junto às chaves do carro.

── Aonde está indo?

── Numa loja, para me recompor deste estado inadmissível que você me causou ── ele olhou para baixo, referindo-se ao vômito em seus calçados. ── Mas, não se preocupe! Levará no máximo 20 minutos.

Me preocupar?

Eu nunca estive tão contente!

Assenti sorrindo amistosamente e, quando ele virou de costas, eu descontrai os lábios.

Henry foi em direção a uma loja de conveniência que, felizmente, estava aberta.

Ele realmente estava indo comprar um novo par de sapatos. Alguém em sã consciência poderia simplesmente limpá-los, porém, Henry Patterson de fato não era esse alguém.

O garoto jogou os sapatos sobre a lixeira da calçada e ingressou na loja utilizando em seus pés apenas as meias pretas e, por lá, passou boa parte do seu tempo.

Durante esse período, eu procurei motivos para continuar insistindo naquela relação, mas eles estavam ficando cada vez mais difíceis de encontrar.

Eu sabia que cortar os laços era a melhor opção agora. Teoricamente, parecia ser algo simples, mas colocar isso em prática era mais complexo do que eu imaginava. Pois, de alguma forma incompreensível, eu ainda estava drasticamente vinculada a ele.

O que eu poderia fazer?

Apoiei a minha cabeça sobre a janela e observei a avenida iluminada da cidade de Los Angeles através do vidro. Os meus ouvidos atendiam a música In my head na estação de rádio e as minhas pálpebras exaustas batiam os cílios sutilmente.

Tudo estava tranquilo, mas, de forma repentina, o celular de Henry reluziu com um feixe de luz em meu rosto. Logo, eu notei uma mensagem que acabara de ser recebida. Não consegui identificar o remetente da mensagem, pois o seu perfil estava restrito e não possuía nome de usuário.

Aproximei-me das janelas escuras para checar se Henry estava por perto e mordisquei as unhas, para conter a curiosidade. Espreitar as conversas parecia ser arriscado, considerando que ele poderia voltar a qualquer instante e, provavelmente, não toleraria aquela atitude.Tendo essas consequências em vista, eu larguei o objeto sobre a poltrona e tentei não manter mais o contato.

Não o suficiente, cinco minutos mais tarde, duas outras mensagens foram depositadas sucessivamente.

Eu fiscalizei a região uma segunda vez, e certifiquei-me de que não existiam indícios que comprovem o seu retorno com antecedência. A área estava limpa. Então, eu apanhei o aparelho e cogitei que a senha fosse a sua data de nascimento. E, por incrível que pareça, foi um julgamento válido.

"Ontem foi uma noite incrível. Aliás, você deveria comparecer mais vezes às festas."
4:40 am

Até o momento a conversa me parecia irrelevante, mas fiquei surpreendida quando li o restante das mensagens logo abaixo.

"Quando você vai contar para ela sobre nós? Eu não quero ser apenas mais uma das suas opções."

"Se não fizer isso, eu mesma tomarei a iniciativa."
4:45 am

Não sei explicar exatamente o que senti quando li aquelas palavras, eu acho que nunca saberei realmente. Apenas reconheço que a sensação era tão dolorosa que rasgou meu coração sem cautela alguma. Foi como se uma adaga tivesse sido cravada na minha traquéia, impedindo a passagem do ar em meus pulmões.

Todo o meu mundo desabou.

Henry havia me apunhalado pelas costas e somente eu sabia o quão dolorosa foi a sensação de descobrir aquilo já estando destruída internamente.

── Está congelando aqui fora. ── Ouvi a voz abafada do outro lado e, imediatamente, escondi o aparelho entre as pernas. ── Viu? Não levou muito tempo. ── Henry fechou a porta do carro após se acomodar no banco do motorista.

Henry desligou o ar-condicionado que mantinha o ambiente gélido e ajustou o retrovisor interno. Reduziu o volume do rádio e, só assim, notou o quão taciturna eu estava.

── Você deve sentir saudades do seu país de origem, não? ── ele indagou, mas não obteve uma resposta. ── Então, nós podemos pedir comida tradicional coreana para o café da manhã, que tal? ── Henry aguardou, e, pela segunda vez, foi desprezado. ── Deixa eu adivinhar... você ainda está chateada comigo. Acertei?

Dissimulado.

Nada era mais perfeito para defini-lo que essa simples palavra.

Embora soubesse de toda a sua infidelidade, eu amava a forma idiota como ele fingia importar-se com o meu estado emocional.

── Na mosca ── respondi. ── Mas não me pergunte o porquê, você deve estar ciente do que fez. ── Virei o rosto em direção a janela, para me desviar da sua atenção.

── Podemos esquecer tudo o que aconteceu? ── ele perguntou. ── Eu prometo compensá-la por hoje da melhor maneira possível... ── Henry disse, acariciando a minha coxa sobre o tecido do agasalho.

Eu o encarei por alguns segundos, aparentemente serena, porém, o meu sangue fervilhava por dentro.

Como ele podia ser tão cínico?

── Eu sei que você não é tão cruel ao ponto de guardar mágoas. ── Henry apertou a minha bochecha, como se eu fosse uma criança ingênua.

── Não duvide disso. ── Afastei a sua mão.

── Qual foi...? ── ele murmurou se aproximando do meu rosto, confiante.

── Você sabia que fica mil vezes mais atraente quando está séria?

Assim que ele se inclinou para um beijo, eu estiquei a mão e bati no seu rosto cínico. A palma da minha mão ficou marcada na maçã do seu rosto — que agora encontrava-se vermelha como um tomate —. Henry paralisou por alguns segundos, com a cabeça voltada para o ombro, tentando digerir o que acabara de acontecer.

Não senti remorso. Apenas fiz o que deveria ter sido feito há séculos.

── Pode me explicar o porquê disso? ── Henry exigiu, boquiaberto, após se recompor do golpe inesperado.

── Isso foi por ter me apunhalado! ── respondi e, posteriormente, o acertei uma segunda vez, com agressividade. ── E, isso...foi por todo o resto.

── Por acaso, enlouqueceu?!

── Por que está tão bravinho, amor? ── Ergui uma sobrancelha. ── Você também me ataca, mas com palavras, e elas machucam tanto quanto.

── O que eu fiz de errado agora?

── Você me traiu...esse tempo todo. ── Fui direto ao ponto. ── Agora, eu sei por onde você andava enquanto eu passava noites em claro, pensando no que poderia ter acontecido para nunca ter retornado as minhas ligações.

Henry deveria estar se perguntando como eu havia desvendado o seu "caso confidencial'', mas, como um bom manipulador, sequer demonstrou surpresa.

── De onde tirou essas baboseiras? ── Ele franziu o cenho, alegando inocência. ── Por qual razão eu faria algo do tipo?

── Por que você não admite logo?! ── rebati.

── Eu sinceramente não sei do que você está falando. Eu não atendia as ligações porque estava ocupado!

── Não minta pra mim... você só vai estar perdendo tempo. ── Exibi o seu celular com as mensagens.

Henry apoiou as mãos sobre a nuca e fitou o teto do carro, constrangido. Ele havia aceitado que suas artimanhas antiquadas não possuíam mais efeito algum sobre mim.

── Jennie, eu peço perdão pelo que fiz... ── ele confessou. ── Mas, nenhuma garota jamais me fez sentir especial como você, a maioria delas só estão interessadas na minha grana.

── Engraçado, você acabou de afirmar que eu sou apenas uma dentre várias.

── Não, eu não quis dizer isso...

── Esquece! ── silenciei-o. ── Independente do que você disser, saiba que já é tarde demais.

── Mas Jennie, eu te amo! ── Henry entrou em desespero. ── E, se você não acredita em mim...

── Então, onde está todo esse amor?! ── bravejei. ── Por que eu não o enxergo e não o sinto? ── Encarei o garoto com os olhos emaranhados. ── Apenas o ouço em forma de palavras, mas, não consigo captar sinceridade através dessas palavras estúpidas.

Henry olhou para baixo, parecia não possuir mais argumentos. Assim, fomos tomados pelo silêncio. Talvez, aquela fosse a melhor hora de dizer adeus, não que fosse simples, mas finalmente senti que deveria ouvir minha consciência pelo menos uma vez.

── Pra ser sincera, eu nem sei por qual motivo ainda estou aqui conversando com você ── ponderei, limpando as lágrimas que escorriam na minha pele. ── Não temos mais o que discutir. ── Retirei o cinto de segurança e destravei a porta.

── Para onde está indo?

── Estou me livrando de você, para sempre!

Após meus pés pousarem no asfalto, eu larguei a porta e lhe dei as costas. Saindo sem rumo.

── Você não pode fazer isso comigo! ── Henry replicou em desespero, saindo do veículo pela direita. ── Não pode me abandonar dessa maneira, Jennie!

── Vá pro inferno e me deixe em paz! ── demandei, com a voz embargada. ── Você morreu para mim.

── EU JÁ PEDI PERDÃO, O QUE MAIS DEVO FAZER, PORRA!? ── Henry rosnou e, prontamente, socou a janela do próprio automóvel, fazendo o alarme volumétrico disparar.

Ao ouvir o barulho, eu me curvei enquanto cobria os ouvidos com as mãos. Aposto que a minha frequência cardíaca foi de oitenta a cem batimentos por minuto.

Quando virei na sua direção, avistei Henry parado rente a janela destruída, com a mão direita fechada. Em seus pés havia fragmentos de vidro e, no seu punho, o sangue fluía através das fendas dos seus dedos.

── Eu ainda a amo! Jennie Kim, eu nunca amei ninguém como você.

Seu desespero por atenção era lamentável. Perguntei-me como um dia fui tão idiota a ponto de me ludibriar por suas palavras capciosas.

── Pare! Apenas pare de dizer que me ama quando nem mesmo tenta! ── revidei. ── Porque não é real..., você só ama ter alguém frágil para poder domar e chamar de sua, mas eu não quero mais ser essa pessoa.

── Tudo bem... ── Henry assentiu freneticamente. ── Eu respeito a sua decisão. ── concluiu. ── Mas, se realmente quer ir, ao menos me devolva o anel, ele me custou uma fortuna para ser mantido na mão de alguém tão insignificante.

Eu olhei para a minha mão e encarei o anel por alguns segundos. Para mim, ele havia perdido todo o seu brilho e valor sentimental.

── Que se danem! Vocês dois. ── Removi o objeto do dedo anelar e o lancei no chão, com força.

Eu jamais deixaria o anel na palma da mão de quem um dia o pôs em mim, comprovando o seu amor fictício. Mas, de pelo menos uma coisa Henry não mentiu: "O rubi era um amuleto capaz de afastar as energias negativas".

── O que você fará agora? Sem mim. ── Henry perguntou, aproximando-se com passos curtos.

Ele parou seu percurso somente quando os nossos corpos ficaram rentes o suficiente para sentirmos nossas respirações arquejantes.

── Tudo o que eu sempre quis, mas não pude fazer por estar com você.

── Boa sorte então, Jendeukie... ── ele provocou. ── Precisará dela para conseguir encontrar um clone meu!

Nos afrontamos momentaneamente, mas aqueles míseros segundos foram tempo o suficiente para que o seu semblante me provocasse repulsa.

── Eu espero nunca mais encontrar alguém tão prepotente como você.

Eu quebrei o contato visual e lhe dei as costas.

Henry ficou parado em meio a estrada, observando o meu corpo distanciar-se sem rumo algum. Qualquer lugar que não fosse o nosso apartamento me deixaria confortável, até mesmo a avenida deserta na qual estávamos.

O garoto finalmente desistiu de insistir pelo meu perdão e retornou ao carro, pois sabia que não tínhamos mais esperanças após aquela situação.

Quando ouvi o barulho do veículo dar a partida, certifiquei-me de que ele havia partido, para todo o sempre.

Então, desmoronei.

E me odiei por aquilo.

Eu estava fragilizada no momento em que mais precisava ser resistente.

O fato de ter conseguido finalmente estar distante dele me confortava. Eu sentia como se o enorme fardo que carregava nas costas há meses houvesse desaparecido. Sim, o peso havia evaporado, mas o temor da solidão ainda predominava no meu subconsciente.

Permaneci na estrada, totalmente sozinha, vagando pelas ruas como um cão solitário em busca de um lar. Achei que chegaria a algum lugar utilizando apenas as pernas, mas eu já havia caminhado por cerca de uma hora e ainda me situava presa na mesma rodovia. Estava perdida demais nos pensamentos negativos para pensar em algo que me levasse de volta à realidade.

Não suportando mais os calos em meus pés, desejei voltar para casa, pois sabia que não chegaria a lugar algum se continuasse andando em círculos. Porém, antes de pedir um táxi, eu fiz uma visita ao mercado e desembolsei a maior parte do dinheiro que carregava em algumas garrafas de whisky. Tudo que eu mais almejava no momento era esquecer da noite anterior e, inclusive, do rosto de Henry.

『 𔘓 』

O apartamento que um dia planejamos passar os próximos anos juntos agora estava uma baderna, pois Henry havia esvaziado suas gavetas e armários enquanto eu estava fora. Não existia mais indícios de que um dia ele havia habitado aquele espaço de poucos metros quadrados.

Henry carregou consigo todos os seus pertences, deixando para trás apenas memórias dolorosas. Eu sabia que ele havia feito aquilo intencionalmente, para que quando eu notasse seu absenteísmo, examinasse os quatro cantos da casa e sofresse após deduzir que agora ele tinha um novo endereço.

Eu abri a geladeira e guardei algumas garrafas no freezer. Ao fechar as duas portas, deparei-me com um papel post-it preso numa delas. Era o único na cor verde e, também, o único que carregava uma mensagem que não era lembrete de compras.

Por curiosidade, arranquei o papel para lê-lo com mais atenção.

"Espero que um dia ache alguém que te ame verdadeiramente. Me desculpe por não ter sido esse alguém."

Desculpas esfarrapadas e inúteis.

Eu amassei o papel e, em seguida, o descartei na lixeira ao lado do balcão de mármore.

Durante os primeiros dias velada por trás das paredes, a realidade estava sendo dura demais para ser digerida tão facilmente. A única coisa que acalmava o meu stress era ficar chapada no meu mundo fantasioso, onde o amor não era um problema e ninguém seria capaz de me machucar. Nunca mais.

Eu só precisava de um tempo para deletar a imagem distorcida que criei sobre ele. Então, excluí-me do resto do mundo por uma semana. Durante esse período, eu já havia derramado tantas lágrimas por aquele idiota que mal podia reconhecer o meu reflexo diante do espelho. Os meus olhos estavam exaustos, o brilho que neles reluzia parecia ter desvanecido. Eu havia esquecido de como sorrir.

Quando resolvi ignorar todos os sinais, não imaginei que um dia eu estaria num estágio de sofrimento tão intenso como aquele. Eu odiava pensar que, enquanto eu me matava lentamente para conseguir superá-lo, ele se divertia manipulando a sua nova marionete.

Os dias e noites pareciam estar convertidos num só período. Dormir era o único refúgio que eu considerava útil para lidar com os problemas, pois imaginava que, ao despertar, Henry estaria ocupando o espaço vazio do outro lado da cama, deitado com a cabeça sobre o travesseiro onde o seu cheiro ainda predominava.

Em um desses dias monótonos, eu estava num sono profundo. Sonhando com uma vida perfeita, onde tudo era sempre colorido. Mas, acabei sendo transferida dos meus devaneios direto para o mundo cinzento quando escutei o meu celular vibrar.

Sem disposição para sequer enxergar nitidamente, eu estiquei o braço direito com bastante esforço, para alcançar o aparelho que estava apenas a alguns centímetros de distância, mas que, por conta do álcool, o meu cérebro o enxergava do outro lado do quarto.

Após inúmeras tentativas, finalmente consegui pegá-lo e, apesar de não estar muito instável no momento para dialogar, resolvi atender.

── Jennie? Ufa! É bom saber que você não foi sequestrada ── disse alguém, do outro lado da linha. ── Obrigada por atender pelo menos uma das minhas mil e oitocentas ligações.

Após ouvir o tom melodramático da sua voz cavernosa, não tive dúvidas de quem se tratava.

── Não, eu não fui sequestrada, Taehyung ── retruquei. ── Apenas não estava muito a fim de interagir com humanos esses últimos dias.

── Entendi..., mas, e hoje? Se sente bem para conversar, de irmão para irmão?

── Atualmente, eu estou no fundo do poço e, talvez, nada possa me tirar daqui. Nem mesmo você.

── Faremos da seguinte forma: hoje a tarde iremos para algum lugar ao ar livre, assim, você pode me contar o que aconteceu, ── explicou. ──, e, se isto não te ajudar a sair desse abismo, eu me atirarei dentro dele pra te fazer companhia, certo?

── Certo...

Eu sorri involuntariamente e percebi o quão Taehyung me fazia bem. Mesmo não estando ali fisicamente, a sua voz já era o bastante para me confortar.

── Ótimo! Então eu te pegarei daqui há uma hora.

── E para onde iremos, afinal?

── Ah! Isso é surpresa.

Conforme o acordo, Taehyung foi pontual.

Uma hora mais tarde, eu ouvi o som de uma buzina ao lado de fora. Se ela não fosse pressionada três vezes consecutivas, eu não atenderia o seu chamado, pois a música de Jazz vinda do veículo estava no último volume. Para ter todo aquele entusiasmo numa segunda, só podia ser Kim Taehyung.

Portanto, apressei meus passos.

Coloquei o blazer sobre o antebraço e pus a corrente prateada da bolsa por cima do ombro. Assim, embarquei no ascensor mais próximo para chegar até a recepção do hotel.

Ao lado de fora, Taehyung me recebeu com um abraço apertado e sincero, como se não nos víssemos há anos quando, na verdade, só haviam passado sete dias. Ele era exagerado de vez em quando, mas eu realmente precisava daquilo, pois a minha única companhia naqueles últimos dias foram garrafas de whisky e as vozes na minha cabeça.

『 𔘓 』

── Já pode abrir os olhos! ── Taehyung informou, atordoando-me com a repetição cansativa da buzina, pois eu havia adormecido durante boa parte do trajeto.

Eu despertei num piscar de olhos para conhecer o tão aguardado lugar. Todavia, eu consegui identificar o ambiente de onde estávamos sem esforço. Assim, toda a emoção que me restava findou.

── O píer de Santa Mônica? ── Olhei o cenário em volta, com um sorriso postiço nos lábios.

── Não é magnífico? ── ele colocou as mãos no quadril e contemplou a vista do pacífico.

Taehyung quebrou todas as minhas expectativas, mas eu não o culpei por isso, pois ele não imaginava que o lugar no qual estávamos era o mesmo que Henry costumava me levar para um encontro em datas especiais.

── Já esteve por aqui antes, Jennie? ── O garoto passou o braço em volta do meu ombro enquanto andávamos até as atrações do Pacific Park.

── Ah..., não! ── menti. ── Mas ouvi dizer que essa é uma das praias mais badaladas da Califórnia.

Enquanto andávamos pelo vasto píer, Taehyung conversava comigo sobre coisas aleatórias. Porém, eu mal ouvia o que ele estava dizendo, pois haviam casais em todos os cantos e eles me faziam lembrar de que um dia Henry e eu também vagamos por ali, como mais um deles.

Quando passamos rente às barracas de tiro ao alvo, eu lembrei do quanto rimos quando eu não soube acertar o centro do alvo em formato de coração. Henry sempre foi bom naquele jogo, por isso eu sempre voltava para casa repleta de bichinhos de pelúcia.

Eram memórias felizes, mas elas também machucavam.

── Você está bem? ── Taehyung indagou, após notar a minha falta de ânimo. ── Algo está te incomodando aqui?

── Não, eu estou ótima. ── Tentei parecer serena, porém, o embargo na minha voz emergia o quão esgotada eu estava.

── Isso não me pareceu convincente. ── Ele cruzou os braços em frente ao peito. ── Quer me contar o que está acontecendo?

Eu não tinha mais o porquê guardar aquilo só pra mim, a angústia estava me consumindo aos poucos.

── Nunca pensei que um dia eu diria isso, mas... Você estava certo Taehyung. O tempo inteiro. ── Sorri gentilmente, para conter a dor incisiva que corroía o meu peito.

── Então... Acabou?

── Sim, acabou...

── Ei! Não chore! ── Taehyung disse, após perceber uma lágrima fluir livremente no meu rosto. ── Aquele imbecil não merece as suas lágrimas.

── Me desculpe, eu não queria que você me visse neste estado. ── Sorri desajeitada, secando os cantos dos olhos na ponta dos dedos.

── Tudo bem, isso não te torna menos forte. ── Ele acariciou as minhas costas. ── Que tal um pouco de diversão? Podemos conversar enquanto apreciamos a visita do pacífico. ── Taehyung me mostrou dois tickets entre os dedos e olhou na direção da roda panorâmica Pacific Wheel.

── Eu adoraria!

Taehyung e eu andamos de braços atados em direção à atração. Nesse momento, algo inusitado despertou o nosso interesse.

Os nossos olhos foram de encontro aos de um casal que acabara de deixar uma das cabines do brinquedo. Eles estavam a uma certa distância, mas era notável o quão apaixonados se sentiam.

Quando nos aproximamos, o sorriso que estampava a minha face logo se desvaneceu. Eles eram ninguém mais que Henry e...

Nayeon!?

Aquilo foi tão estranho que eu imaginei que tudo não passava de um sonho e cogitei que, em breve, eu despertaria jogada no carpete da sala de estar, ao lado de todas as garrafas vazias que havia ingerido. Mas infelizmente isso não aconteceria, pois aquilo era real.

Quando ambos passaram por nós de mãos dadas, uma discreta troca de olhares foi iniciada e, apesar de curta, ela foi intensa e desagradável.

Nayeon me observou com indiferença, como se fôssemos apenas estranhas. Já Henry, manteve contato visual enquanto selava o dorso da mão da garota. Ele só queria garantir que a cena me causaria desconforto, pois no dedo anelar dela estava o anel de rubi que um dia me pertenceu.

Me senti inútil ao ver como ele escolheu ela enquanto eu estava dando tudo de mim apenas para poder mantê-lo por perto. Era até engraçado lembrar que, há pouco tempo atrás, Henry era uma das pessoas em que eu mais confiava. Agora, ele é o responsável por me incentivar a nunca confiar nelas.

── Eu pareço tão confiante sentada nesta poltrona, expressando essas experiências, ── digo, interrompendo os meus devaneios. ── Mas, pra ser sincera, eu não queria sobrecarregar ninguém com os meus problemas.

── Está tudo bem, Jennie. Não há motivos para culpar-se ── declara a terapeuta Hwasa. ── Você fez certo em vir. Relacionamentos abusivos e desilusões amorosas são os tipos de caso que mais recebo diariamente.

Hwasa prestava atendimento particular de forma cautelosa e, apesar de nos conhecermos há pouco tempo, já havíamos estabelecido uma boa parceria durante as sessões de psicoterapia. Mesmo não sendo uma pessoa extrovertida, eu me sentia livre para expor todos os pensamentos que estavam armazenados na parte mais escura do meu subconsciente.

Eu devo toda a minha motivação a Taehyung, ele quem me convenceu a deixar o álcool e ir buscar algo que realmente me auxiliasse a combater os sentimentos negativos. Taehyung me disse que a terapia era a melhor solução para eles, então, me indicou Hwasa, sua colega de trabalho.

── Quando estávamos juntos, eu não me sentia amada e, muito menos, confiante, porém, também não queria dar um basta. Então, ele continuava me decepcionando e eu prosseguia intitulando aquilo de "amor" ── digo. ── Atualmente, eu tento aceitar que terminar foi a melhor decisão, mas vê-lo feliz com um outro alguém ainda machuca, sabe?

── Acredite, você fez a escolha certa. ── A mulher respondeu, num tom reconfortante. ── Agora, diga-me querida... O que fazia você acreditar que aquilo efetivamente era amor?

── Eu não sei ── respondi. ── Talvez tenha sido apenas por medo de nunca encontrar algo que preenchesse o meu vazio.

Hwasa assentiu de maneira sutil com a cabeça, parecia comovida.

── E, este espaço em branco, por acaso... Seria o resultado da ausência de pais afetivos na infância? ── Ela indagou, observando-me atentamente.

── Acredito que sim.

Eu encarei o teto quando senti uma lágrima percorrer o meu rosto até pousar na ponta do meu queixo.

── Pois bem. ── Ela pigarreou, alinhando os papéis sobre a mesa. ── Eu andei examinando as anotações durante essas últimas sessões e cheguei a conclusão de que você provavelmente possui apego emocional.

── O que isso significa? ── Franzo o cenho, interessada.

── Geralmente, na falta de uma boa figura afetiva, acabamos aceitando uma que, pelo menos, nos permita a sensação de proteção ── Hwasa explicou. ── Ou seja, o temor da solidão faz com que nos atiremos de cabeça em relações rasas. Então nos contentamos com migalhas, mesmo não estando satisfeitas.

── O que vivi ao lado de Henry é um ótimo exemplo disso. ── Espantada, ergui as sobrancelhas.

── Para termos relacionamentos saudáveis, antes de mais nada, precisamos enfrentar o medo da solidão.

── Eu não sei se consigo confiar nas pessoas novamente ── repliquei. ── Agora, tenho receio de deixar alguém me conhecer.

── Jennie, eu entendo que o amor já lhe trouxe bastante sequelas, ── a mulher lamentou ──, mas, você não pode simplesmente se blindar dele. Porque, mesmo seu coração estando esfacelado, ele não deixará de bater.

── E o que eu devo fazer, afinal?

── Eu te aconselho a tentar dar outra chance ao amor ── ela respondeu, segurando as minhas mãos.

── Por que eu me submeteria a isso novamente? ── interroguei, um pouco insegura. ── Esse maldito sentimento literalmente arruinou a minha vida!

── Esse sentimento pode ser capaz de reorganizar a sua vida ── Hwasa rebateu, convicta. ── Porém, só a partir do momento que você introduzir esse ciclo exclusivamente por você!

Após refletir sobre o que acabei de ouvir, deduzi que Hwasa tinha razão.

Em certas ocasiões, priorizar-se não é uma atitude tão comodista como aparenta ser. É cuidar de si mesmo.

Nota da autora:

Olá pessoal, sou a Ruby! Foi uma grande honra ter sido convidada para colaborar com o projeto. Eu realmente espero que gostem de ler o que nós preparamos com muito carinho e dedicação para vocês! ❤🥰

por: __RUBYX__

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