Capítulo 𝐩𝐫𝐢𝐦𝐞𝐢𝐫𝐨
Twenty-four, three, six, five,
Chapter 01.
O som de verificação fez a porta de metal se abrir, após um aceno do pulso sobre o laser do painel eletrônico. Então veio o assobio, um som como uma notificação de celular, que sempre soava antes que a voz mecânica falasse.
— Entrada autorizada. Bem-vinda, Alinne Park.
— Obrigada — agradeceu ao sistema de inteligência artificial, que não era inteligente o suficiente para saber que a filha pegou a pulseira de identificação da mãe para acessar o cômodo trancado.
A nave Whistle era a casa da família de Roseanne, composta por ela, os pais e o irmão. Apesar de não ser tão enorme e moderna quanto outras, carregava valor emocional.
Os pais de Roseanne Park eram mecânicos e estavam durante um serviço dentro de outra nave, lá fora, na estação. O irmão dela, Changkyun, estava despreocupado em sua cabine.
Porém, ela era o membro mais novo do grupo, com o dom da curiosidade, e não poderia perder aquela oportunidade.
A cabine dos pais sempre foi um mistério para Roseanne e seu irmão, afinal, não se deve deixar crianças travessas entrarem em lugares indevidos. A diferença existia no fato de que Changkyun pouco se importava sobre isso, sempre preferindo ficar no seu canto, enquanto Roseanne era sempre atraída por qualquer coisa diferente ou que apresentasse um "não".
Oras, quem achava que ela iria obedecer?
O que encontrou por trás da porta deslizante de metal não foi chocante.
Era um quarto de casal comum, com cama, poltronas e plantas holográficas. As poltronas estavam voltadas para uma parede preenchida por um aparelho que projetava a imagem realista e móvel de um jardim de rosas em sua extensão.
Aquela era uma imagem da Terra, lugar pouco conhecido para os residentes do espaço. Existiam muitos rumores, mas só se sabia ao certo que aquele era o planeta coberto de água.
Roseanne vasculhou todo o cômodo, mas não encontrou nada que pudesse despertar seu interesse. Isto é, até seu pé esbarrar acidentalmente no aparelho projetor, no chão.
— Que ódio — praguejou baixinho ao ver as roseiras sumirem da parede, então se agachou para apanhar o aparelho e reconectar.
Antes que concluísse o objetivo, ela teve a atenção roubada por portas duplas de uma câmara, que antes a imagem cobria.
Roseanne delineou seu melhor sorriso astuto.
Achei o segredo!, era o que pensava, não hesitando em usar a pulseira da mãe outra vez para abrir aquelas portas.
Uma série de estantes com aparelhos tecnológicos se revelaram dentro da câmara. A altura era maior do que Roseanne alcançava; seus quase 1.70 pareciam medíocres.
— Rosé!
Ela estava apenas começando a explorar quando ouviu a voz de Changkyun ao longe. O corpo tremeu e ela se forçou a agir rápido. Estava na metade do corredor único e, ao olhar para a esquerda, avistou um controle de videogame rosa, extremamente atrativo, e um pacote com um jogo dentro.
Pareciam ultrapassados em comparação com o nível de tecnologia dos outros itens e não havia nenhum console por perto. Mas ela tinha um em sua própria cabine e precisava descobrir o que era aquilo.
Roseanne não pensou duas vezes em pegá-los e correr para fora do quarto.
Deixou a pulseira de identificação da mãe em cima da cama, assim, Alinne Park entraria através da pulseira de seu marido e possivelmente pensaria que esqueceu a sua ali, não na cabine de navegação. A pulseira da própria Roseanne estava presa em seu outro braço.
A porta de metal se trancou sozinha e ela ocultou o controle e o pacote em suas costas a tempo. Changkyun logo apareceu no corredor.
— Onde você estava? — Ele perguntou, aproximando-se, mas sem real interesse na resposta.
— Estava... Por aí.
— A mamãe nos perguntou se queremos fazer um passeio quando eles acabarem lá. — Indicou na mão esquerda um dispositivo que recebia mensagens.
— Hm... Eu... Ahm... Claro.
— Você está bem? — Changkyun olhou com suspeita para as mãos dela postas para trás do corpo.
— Claro!
— Tudo bem.
Roseanne poderia agradecer por Changkyun ser um rapaz tão sossegado.
Quando ficou sozinha novamente, Roseanne se apressou para chegar em sua cabine e se fechou dentro dela. Ela trouxe os objetos para a frente outra vez e os aproximou de seu rosto. Examinou bem antes de ir até o aparelho de transmissão de imagens, diante de um sofá.
Ela conectou o jogo ao console e o ligou. Uma melodia divertida tocou, seguida por um "hey boy" em uma voz maquinal feminina. Era uma curta introdução.
A primeira tela exibida estava piscando o nome Whistle. Roseanne se entreteve pensando que aquele era o nome do jogo, não uma espécie de localização, e apertou um botão qualquer.
O controle vibrou e isso a fez tremer com a ação inesperada. Automaticamente, refletiu uma nova tela perante Roseanne. Ela havia pressionado o botão que iniciava o menu e exibia as opções.
Roseanne se viu perdida diante de tantos dados, números e letras, era um pouco confuso, mas com o tempo, mexendo nos botões direcionais, conseguiu pegar o jeito. Ela se distraiu ao preencher uma espécie de formulário.
Colocou o nome, selecionou a localização e escolheu um destino. PLANETA ÁGUA. Era como estava na lista e foi o que mais prendeu sua atenção.
Roseanne digitou uma coordenada qualquer, então presumiu que o jogo iniciaria a partir dali, entretanto, quando uma imagem do planeta apareceu e ela pressionou o Botão START pela segunda vez, seguindo as orientações do sistema, todo o seu corpo começou a vibrar junto ao controle e ela não teve tempo de se mover ou articular uma única palavra.
Roseanne foi puxada para dentro da tela.
Um grupo de formigas formava uma fila no solo do estacionamento de um condomínio, seguindo para sua casa debaixo da terra depois de encontrar migalhas generosas pelas redondezas.
A direção percorrida foi interditada por uma queda no chão, quente e luminosa, que ceifou as formigas.
Roseanne nunca tinha visto formigas, mas também nunca tinha visto o local no qual foi parar, depois de ter sido completamente transportada sem nenhum arranhão, apesar da explosão e da rasa cratera que se formou naquele chão.
Com a pulseira de identificação em um pulso, que era preta e rosa, ela ainda estava vestida no conjunto de short e blusa justos, por baixo do inseparável casaco vermelho de mangas brancas como as botas em seus pés.
Estava inteira e idêntica a como estava na nave. Nada se destruiu em sua viagem de segundos a um destino desconhecido. A sensação foi de estar flutuando no espaço, cada vez mais próximo da Terra, caindo lentamente até penetrar a atmosfera do planeta.
Roseanne não sabia se era real ou se estava dentro de um jogo, o que começou a apavorá-la. Um jogo normalmente envolve uma trajetória a ser percorrida e fases que precisam ser superadas ao longo do caminho, mas ela não estava pronta para lutar ou ter obstáculos e possivelmente se machucar.
Levantou-se do chão, saindo de dentro da cratera. Olhou para todos os lados, confusa e assustada. Encontrou um conjunto de receptáculos altos, com portas e muitas janelas. Um conjunto de apartamentos.
Como ainda estava com a pulseira de identificação em seu braço, que também funcionava como um sistema inteligente, apressou-se em falar com ela e torcer para que estivesse funcionando.
— Assobie — sussurrou o código que fazia a pulseira acionar, com o pulso próximo da boca.
O assobio característico soou antecedente à voz mecânica:
— Sempre ao seu dispor, Rosé Park.
— Onde eu estou? — perguntou ela.
O sistema precisou de apenas alguns segundos para realizar a análise, exibindo os processos em sua lente. Era como um relógio.
— Você está ao oriente da Terra, o quinto maior planeta do Sistema Solar, na Coreia do Sul, dentro da Cidade Metropolitana de Gwangju.
— Só isso?! Em que parte da cidade eu estou?
— Esta localização não é encontrada em nossa base de dados.
— Ótimo — ironizou. — Obrigada.
— Sempre ao seu dispor, Rosé Park.
O coração dela estava acelerado e a respiração estava ofegante. A questão era pertinente. "O que Changkyun faria no meu lugar?", porque ele parecia sempre calmo, algo que Roseanne não conseguia alcançar.
Mas a única coisa assustadora foi a chegada serena de um rapaz sobre um transporte de duas rodas. Ele era da mesma faixa etária que Roseanne, de 18 para 20 anos, embora a idade fosse contada de forma diferente fora da Terra; usava fones de ouvido e se distraiu colocando a bicicleta na estrutura própria para estacioná-las.
Ele era alto, vestia short, regata e tênis, deixando os músculos recém-trabalhados dos braços e pernas visíveis. Os cabelos escuros eram lisos e o tamanho cobria a nuca. Olhos intensos e lábios volumosos.
Roseanne se achou uma estúpida porque sentiu seu coração palpitar um pouco mais. Nunca havia contemplado um terráqueo tão perto. Um terráqueo tão visualmente atrativo.
Ele é mesmo terráqueo? Eles são todos bonitos assim?, pensou.
Isso a fez andar atrás do rapaz em uma breve distância e com um pouco de receio. Roseanne o acompanhou pelo estacionamento cinza e vago até entrar em um dos prédios, passar pelo hall e seguir até uma caixa metálica na qual ele mexeu nos botões.
Quando as portas se abriram, Roseanne se recordou das portas da nave Whistle, de onde ela nunca deveria ter saído. Mas se eu estiver só dentro do jogo, continuo na nave, certo? Eu ainda estou no controle de tudo. Ela estava com medo, mas a curiosidade estava começando a fazer sua pele comichar.
Roseanne entrou atrás dele sem hesitar. O rapaz não estranhou a presença dela. Durante minutos, ficaram lá dentro, esperando. Estavam sozinhos.
Ela não se importou com a sensação de movimento e encarou seu próprio reflexo dentro do elevador. O espelho o fazia parecer maior do que de fato era.
As portas de metal voltaram a se abrir e Roseanne não teve escolha, senão continuar acompanhando o rapaz, que ainda estava distraído com os fones de ouvido.
No meio do corredor repleto de portas, o telefone tocou dentro do bolso do short e ele o pegou para atender.
— Oi, mãe — disse ele, seguido de uma longa pausa conforme continuava a andar. — Sim, eu estou bem, acabei de fazer exercício. Como estão vocês e a vovó?
Roseanne não prestava atenção na conversa, apenas se certificava de segui-lo.
Em certo ponto, o rapaz destrancou uma das portas e entrou. Roseanne atravessou o espaço a tempo de ele empurrar a porta, sem olhar para trás, para que se fechasse.
Ele continuou a falar ao telefone; ela formou um "o" com a boca, analisando a mobília aconchegante e luxuosa do que para ela parecia uma cabine, pois ele utilizou uma chave para abrir, mesmo que fosse diferente das chaves que ela conhecia.
— Sim, mãe, eu juro que estou bem — repetiu na ligação, tirando os sapatos na entrada. — Mulher, eu tenho vinte anos, mas para você parece que eu tenho dois — disse em tom brincalhão. — Eu não me importo de ficar sozinho, logo você e o pai estarão de volta, então... Ei!
A alteração no tom da voz atraiu a atenção de Roseanne no automático. Ele antes estava de costas, mas se virou e a enxergou próxima do aparador com um aquário embutido. Antes ela se divertia olhando todos aqueles peixes nadando por trás do vidro.
— Quem é você? O que está fazendo aqui?! — indagou, fazendo Roseanne travar. — Espera, mãe, me desculpa, posso ligar mais tarde? Apareceu aqui... É... Um esquilo! Sim, sim, também estou surpreso, ele foi muito intruso, depois ligo de volta. — Ele avisou, ocultando a verdade para não preocupar sua mãe, que aceitou aquela resposta.
Assim que encerrou a chamada no celular, ele lançou um olhar furioso para Roseanne. Ela se encolheu.
— Então? Não vai me responder?! Quem é você e por que entrou na minha casa?
— S-Sua casa? — Ela repetiu, aliviada porque pelo menos eles podiam se entender. Em partes.
— Sim, caso não tenha percebido, esta é a minha casa, eu não conheço você e eu não te convidei para entrar! — Ele caminhou até a porta e a abriu, parando bem ao lado. — Vamos, saia daqui agora ou eu vou chamar a polícia.
Roseanne estava confusa, mas relacionou o conceito de "casa" ao de "nave". Ela não podia entrar na nave de outras pessoas sem ser convidada. De ombros abaixados, ela caminhou para o lado de fora.
— Eu sinto muito, isso foi um engano — disse ainda, mas tudo que ele fez foi fechar a porta.
Sozinha outra vez, Roseanne não se afastou muito da entrada do apartamento, apoiou-se de costas na parede do corredor e olhou para suas botas brancas com desolação. Tentou falar com sua pulseira mais vezes, mas ela não lhe oferecia nada útil.
Ela também pensou em tentar se comunicar com a nave Whistle, mas um medo súbito a fez estagnar. Temia a reação de seus pais, por mais que precisasse da ajuda de alguém para voltar.
Dentro do apartamento, o rapaz respirou fundo e pensou mais algumas vezes.
Quando Roseanne estava prestes a ceder e clamar por ajuda, ele abriu a porta e saiu, olhando pelos lados para conferir se ela ainda estava por perto e, sem demora, descobriu que sim.
— Er... Oi. — Ele falou, aproximando-se de Roseanne, um pouco sem graça. — Peço desculpas se a tratei mal. Você me disse que foi um engano. Está tudo bem? Você errou o seu apartamento ou me confundiu com alguém?
Na verdade, ele não achava que deveria ser tão legal com uma estranha que invadiu sua casa, mas havia algo em Roseanne que o puxava para ela.
Quando ela apareceu, foi como se tudo tivesse explodido, e tudo que importava era ela. Era o choque do encontro com uma raça distinta, pois Roseanne naturalmente atraía os seres de outros planetas e vice-versa, mas nenhum dos dois compreendia.
Ele não poderia simplesmente passar por ela. Uma vez que a viu, tornou-se incapaz de esquecê-la.
— Eu, bem... Não sei do que você está falando, me desculpe. Eu não sou daqui. — Roseanne respondeu, nervosa.
— De onde você é? Está perdida?
Ela acenou que sim.
— E não sabe voltar para casa? — continuou ele.
— Eu não sei. Eu precisaria da... minha família.
— Por que não liga para eles?
— Ligar? — Rosanne franziu a testa. — Como?
O outro suspirou. A garota sofria com amnésia ou o quê?
— Eu sou Chae Hyungwon — apresentou-se. — Qual é o seu nome?
— Roseanne Park.
— Oh, Roseanne. É estrangeiro.
— Hm... Você pode me chamar de Rosé, eu prefiro assim.
— Tudo bem, Rosé. Como eu posso ajudá-la? Quer que eu ligue para alguém?
A testa dela permanecia franzida, demonstrando que não compreendia ao todo o que ele queria dizer. No entanto, ela considerou que podia confiar nele. Era um humano, mas não parecia mal. Embora a tivesse expulsado minutos atrás, ele tinha razão e pediu desculpas pela maneira que se dirigiu a ela.
— Eu não sou daqui, da Terra. — Roseanne começou a explicar. — Tudo aconteceu muito rápido, uma hora eu estava na nave da minha família, e então... Bomb! Eu vim parar aqui. Não sei se você conseguiria se comunicar com algum deles, eu até conseguiria, mas estou com medo. Eu não deveria estar aqui.
Ao fim da fala, os olhos de Hyungwon estavam minimamente dilatados e ele deu um passo para trás, lento e com muito cuidado.
Depois que o assombro e o embaraço se desfizeram, ele riu.
— Nossa, isso é brincadeira, não é? Foi engraçado, mas tudo bem, pode me contar a verdade agora.
Então, era Roseanne quem o olhava com assombro e embaraço.
— Brincadeira? — ecoou. — Eu não estou brincando.
— Não? Ah... — Hyungwon manteve um sorriso que escondia o desespero. — Então quem é você?
— Roseanne Park, eu moro com meus pais na nave deles. Eles são mecânicos, por isso estão sempre navegando, porque estão sempre sendo contratados por tripulantes de outras naves.
Hyungwon começou a suar. De nervosismo.
— Moça, desculpa, mas isso não está mais sendo engraçado. Se você não me disser a verdade, eu vou considerar que você não precisa da minha ajuda.
Aquilo era absurdo demais. Tanto para ele, quanto para ela.
Ali, Roseanne não se recordava sobre já ter escutado que os terráqueos eram muito reservados, portanto, eles costumavam temer ou ter aversão aos extraterrestres, considerando-os perigosos ou até mesmo inexistentes. A tecnologia deles também não era tão avançada.
— Eu estou falando a verdade! — contestou.
— Prove! — Ele retorquiu, no calor do momento.
Mas provar o quê? Hyungwon duvidava totalmente dela.
Insatisfeita, Roseanne ergueu o pulso para perto dos lábios.
— Assobie! — disse com raiva, acionando a pulseira.
— Sempre ao seu dispor, Rosé Park. — A voz respondeu, como sempre, após o som de assobio.
Os olhos de Hyungwon se dilataram outra vez ao ouvir. De repente, Roseanne removeu a pulseira do seu braço e puxou o dele, ignorando a exclamação de surpresa e encaixando o acessório no pulso alheio. A lente se tornou vermelha e um barulho de advertência soou.
— Usuário desconhecido. Por favor, repita a senha para começar.
Roseanne fez o que o sistema pediu. A senha era a mesma para as pulseiras criadas por seu pai para todos os membros da família, por isso Roseanne tinha conseguido usar a de sua mãe. As diferenças eram os nomes cadastrados em seus dados e o que as pulseiras conseguiam fazer — a dela não abriria a cabine dos pais, por exemplo.
Então falou:
— Forneça-me informações sobre o usuário.
— Seu nome é Chae Hyungwon, nascido na Terra, na Cidade Metropolitana de Gwangju, em quinze de janeiro de dois mil e um, de acordo com o calendário gregoriano. — A voz continuou reproduzindo uma série de informações. — Este não é o usuário original.
— Obrigada!
— Sempre ao seu dispor, Rosé Park — repetiu a frase característica.
Hyungwon empalideceu. O nome foi mencionado, ele só não esperava ouvir sua cidade-natal e o aniversário corretamente, sem nunca ter dito.
Ele já podia surtar?
Pela segunda vez no dia, Hyungwon falava ao telefone.
Nos primeiros minutos, ele ponderou que Roseanne era algum tipo de stalker que estava tentando enganá-lo com seu rosto angelical, mas a garota era tão inofensiva que sequer sabia o que era a polícia. O espaço também tinha suas leis e um grupo que cuidava da ordem e da segurança, mas não era chamado assim.
Hyungwon desistiu de explicá-la coisas óbvias — na realidade, ele perdeu um pouco a paciência —, então terminou permitindo que ela entrasse de novo em seu apartamento. Agora, Roseanne estava no sofá da sala de estar, olhando os peixes do aquário de longe, parada e dispersa da conversa que Hyungwon tinha ao telefone.
— Como assim um alien entrou na sua casa?! — O amigo dele, Jooheon, berrou do outro lado da linha. — Você sabe que eu não gosto dessas coisas, por favor, não brinque comigo.
— Não é brincadeira, Jooheon, tem uma criatura dessas na minha sala neste exato momento! Você precisa ver! — Hyungwon andava de um lado para o outro com o celular na orelha, inquieto.
— Desculpa, mas eu não posso. Da última vez que me convenceram a fazer alguma coisa relacionada a ETs, eu saí traumatizado, e olha que eu adorava o assunto. Se for verdade, eu sinto muito, forças para ti.
— Jooheon?! Você não vai fazer isso comigo, vai?
A linha ficou muda. Hyungwon teve que respirar muito profundamente.
Entendia Jooheon, não foi escolha dele ser alvo de uma grande pegadinha em 1 de Abril, aos 12 anos. Hyungwon se arrependeu, mas ainda ficava com a consciência pesada por ter participado, então defenderia o lado dele sempre.
No entanto, ele precisava de mais alguém para lhe dar uma luz sobre o que fazer. O problema é que Hyungwon passava tanto tempo em casa que se sentia parte da mobília. Ele era um universitário (sofredor) que estudava 100% online e não tinha muitos amigos. Conhecia muita gente, mas não era íntimo da maioria.
Em contrapartida, ele tinha muitos amigos virtuais, com quem gostava de jogar ou falar de interesses em comum, que no fim sempre envolviam algo sobre Jogos Digitais, o curso dele.
Na vida real, só havia Jooheon.
— Rosé, nós vamos a um lugar — avisou.
— Que tipo de lugar?
— Um lugar igual a este, mas diferente.
Igual, mas diferente. Certo, ela pensou.
Roseanne não perguntou mais, mas só sobre o lugar. Ela estava começando a se sentir mais à vontade perto dele e encheu Hyungwon de interrogações sobre o elevador, sobre o homem que trabalhava na recepção e também sobre o carro.
Ela considerou os veículos que enxergou pelo caminho subdesenvolvidos e, quando ficaram presos no trânsito por algum tempo, sugeriu que tudo seria mais rápido se eles pudessem voar. Isso elevou o olhar dela para os prédios altos e foi só mais um exercício de paciência para Hyungwon.
Francamente, a garota parecia não saber quase nada sobre o que era normal... na Terra!
Ao chegar, a resposta de "igual, mas diferente" ficou mais clara. Hyungwon quis dizer outra casa, apenas. Era diferente porque Jooheon não morava em apartamento.
— Por favor, fique ao meu lado e não saia daqui. — Ele pediu para Roseanne, após descerem do carro. Ela cumpriu.
Hyungwon tocou a campainha e esperou irrequieto. Depois de perguntar quem era e fazer todo o processo de identificação, Jooheon achou que tudo bem aquela garota ruiva — intensamente linda, ele não admitiria — que apareceu na câmera ao lado do amigo e abriu para eles.
— Ei, você veio aqui! — disse para Hyungwon ao aparecer.
— Sim, eu vim. Será que nós podemos conversar?
— Bom, depende do quê.
Jooheon olhava sem cessar para Roseanne, hipnotizado pela beleza surreal de uma extraterrestre. Hyungwon não o julgava; sentia o mesmo, mas estava com pressa.
— Desculpa a pergunta, mas quem é ela, hyung? — continuou Jooheon, perguntando baixinho, mesmo que Roseanne ainda pudesse ouvir.
Ela estava quieta. Observava os dois rapazes interagindo ou então a vizinhança, qualquer um dos dois era atrativo.
— Esta é a Rosé, ela é uma... nova amiga que fiz. — Hyungwon escondeu um detalhe importante, porque precisava que Jooheon primeiro aceitasse a visita.
— É um prazer conhecê-la, Rosé.
— Quem é você? — Roseanne perguntou sem maldade, curiosa.
— Eu sou o Jooheon. Pode me chamar como preferir.
Ele estaria aceitando até mesmo "Louro José", desde que fosse na bela voz dela.
O sorriso de Jooheon era encantador. Ele exibia suas covinhas sem qualquer esforço, mas, na opinião de Hyungwon, estava sendo um tanto exagerado.
Isso não mudou quando entraram e pararam na sala de estar de Jooheon. Os pais dele não estavam em casa, o que fez Hyungwon lembrar da viagem que seus próprios pais fizeram para visitar a avó materna dele.
Jooheon ofereceu água, café, suco, biscoitos, sanduíche e poderia sugerir preparar um jantar romântico também, mas Roseanne só sorriu e agradeceu, e ele se aquietou, sentando-se no sofá ao lado do que os outros dois sentaram.
— Então, o que trouxe vocês aqui?
Hyungwon quase riu da gentileza, mas também poderia ficar indignado. Se só ele estivesse ali, Jooheon o encararia com impaciência e mandaria um "fala logo o que você quer porque eu não tenho tempo para perder contigo".
— Você precisa me ajudar a ajudar a Roseanne — contou.
— Ajudar? Tipo, no quê? A ter um par para um encontro?
— Jooheon — ralhou Hyungwon, entredentes, arrancando uma risada dele.
— Desculpa.
Roseanne estava distraída com a sala de estar, mas, de qualquer forma, não entendia como as pessoas na Terra faziam para namorar. Era diferente no espaço, embora houvesse suas semelhanças.
— É que ela não é daqui — começou, cauteloso, então fez um movimento de cabeça, chamando Jooheon para perto. Ele não entendeu por quê, mas se aproximou mesmo assim. Hyungwon cobriu os lábios com uma mão e sussurrou no ouvido dele. — Ela disse que não é da Terra, que veio do espaço, eu não sei, mas meajudapeloamordeDeus.
Esse poderia ser o momento de Jooheon gargalhar e começar a duvidar, como fizera Hyungwon. Porém, ao invés disso, ele se afastou sem dizer nada, e seu olhar escureceu de seriedade. Ainda assim, podia-se detectar nervosismo no suor que começou a brotar e nas mãos inquietas.
— Hyungwon... Eu não acredito que você vai fazer isso comigo.
— Ei, não! Espera! Jooheon, me perdoa, mas isso é sério. Você tem que acreditar em mim. — Ele se virou para Roseanne, que agora os assistia. — Você pode mostrar a ele o que aquela sua pulseira faz?
Roseanne suspirou e ergueu o pulso.
— Assobie — disse.
— Sempre ao seu dispor, Rosé Park.
Ela tirou a pulseira e entregou para Hyungwon, que prendeu no braço de Jooheon sem dá-lo espaço para pestanejar. Mas ele começou a se debater e falar alto, desesperado, para que parassem com aquilo. A lente da pulseira piscava a luz vermelha e não ajudava em nada.
— Não se preocupe, vai ficar tudo bem. — Roseanne se levantou e se abaixou à frente dele, segurando os lados do rosto de Jooheon. Os olhos amedrontados dele se fixaram na imagem dela e, como um efeito calmante, ele assentiu, mesmo trêmulo. Ela reativou a pulseira e disse: — Por favor, diga-me quem está com minha pulseira agora.
Quando a voz já tão conhecida entoou o "seu nome é Lee Jooheon, nascido na Terra..." e carregou todos os dados assim como fizera com Hyungwon, Jooheon sentia que podia desmaiar.
— Você fez isso! — Ele acusou Hyungwon, agoniado. — Acha que eu sou burro? Você pode muito bem ter dito a ela minha data de nascimento, onde eu nasci e até coisas mais difíceis.
— Eu não fiz isso, Jooheon! Ela fez o mesmo comigo e eu não sabia de nada! O quão obsessivo eu teria que ser para saber isso tudo?
A confusão se seguiu por mais alguns minutos até Jooheon se acalmar mais. Ele ainda não estava completamente convencido, mas ainda precisavam decidir o que fazer sobre Roseanne.
— Se ela é quem você diz que é, esse problema ainda não é meu. Au revoir.
Hyungwon pretendia que esse tempo o ajudasse a estudar mais e melhor, porque ter seus pais eram como ter um estádio de futebol em casa e ele só conseguia se concentrar com muito silêncio, mas ali, vendo Jooheon tirar a pulseira, derrubar sem querer e mal conseguir apanhá-la porque estava ocupado demais olhando para Roseanne, Hyungwon teve certeza de que tinha um novo problema que o impediria de estudar.
Contudo, olhando para Roseanne também, ele ponderou que esse problema não era nada mau.
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