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Capítulo 𝐩𝐫𝐢𝐦𝐞𝐢𝐫𝐨

── Já pode abrir os olhos... ── Henry sussurrou rente ao meu ouvido, num tom de voz sutil e macio como algodão.

Ele retirou as mãos gélidas dos meus olhos que, antes, me faziam enxergar somente a escuridão e concedeu-me a visão do admirável horizonte logo à frente. O cume da roda gigante nos favorecia a vista mais ampla e encantadora de toda a praia.

O píer de Santa Mônica era, sem dúvidas, o local mais magnífico para um encontro na Califórnia.

As ondas do oceano chocavam-se contra o quebra-mar com serenidade, as águas estavam com um tom de azul intenso. Ao contraste rosa e laranja do céu, as gaivotas cantavam a mais harmoniosa melodia e pairavam em bando rumo à linha do horizonte, onde o sol despedia-se ao fim da tarde de verão.

E, por mais fascinante que fosse aquele panorama, os lábios fartos de Henry Patterson conseguiam ser mil vezes mais atraentes.

Eu amava tudo nele, desde o seu sorriso encantador com covinhas, as pequenas sardas em sua pele ligeiramente corada, até a forma como ele me observava à medida que o lampejo exaltava as ondas douradas dos seus cabelos.

Pouco me importei se iria perder o tão esperado pôr do sol, eu queria apenas admirá-lo por horas e horas. Aquilo só me fez perceber o quão apaixonada eu estava em seus mínimos detalhes.

── Feliz 6°mesversário para a garota de olhinhos orientais mais lindos que eu já conheci. ── Henry declarou, retirando uma caixinha preta do bolso da sua jaqueta jeans. ── Este ainda não é um pedido de noivado, mas quero que aceite esse "pequeno" presente. ── Ele abriu suavemente a caixinha, exibindo a valiosa jóia.

O reflexo da pedra vermelha exposta à claridade estava cegando a minha visão, ela era tão radiante quanto a própria estrela amarela no fim do horizonte. Aquele anel era o presente mais sofisticado e extravagante que eu já recebi.

── Henry, é simplesmente... perfeito! ── Ampliei os olhos e cobri a boca com uma das mãos.

── Dizem por aí que o rubi é um amuleto capaz de afastar as energias negativas. ── Ele encaixou o círculo de ouro branco em volta do meu dedo anelar direito. ── Como venho notando você para baixo ultimamente, suponho que tenha sido uma boa escolha! ── O garoto selou o dorso da minha mão sem quebrar o contato visual.

── Que atencioso ── respondi, triunfante. ── Eu adorei!

── Claro que adorou, esse anel é um dos itens mais raros da joalheria. ── Ele ressaltou, guardando a caixinha no bolso. ── Também é a prova de que eu faria qualquer coisa para manter você ao meu lado!

Após ouvir aquelas palavras, um sorriso meigo desabrochou na minha face.

── Existiam formas mais simples de demonstrar isto, não acha?

── Acontece que este é o meu método favorito. ── Henry deu de ombros. ── O dinheiro não me faz falta, mas você, Jendeukie ── enquanto falava, ele ergueu a ponta do meu queixo com o indicador num movimento hábil ──, você me faz muita, mas muita falta mesmo...

Assim como o ambiente, a sua aura estava relativamente tranquila. O garoto realmente parecia arrependido por ter se referido a mim num tom de voz tão rude, na noite anterior. Não foi uma grande surpresa, pois aquela não havia sido a primeira vez que ele surtou comigo por eu ter me encontrado com alguns amigos sem a sua autorização.

Mas, eu não o culpava por possuir um temperamento colérico.

O destino fez Henry Patterson cruzar o meu caminho por acaso nos corredores da universidade de Berkeley. Eu fazia intercâmbio na Califórnia, cursava artes e design, enquanto ele pertencia à área de negócios e gerenciamentos.

Quando nos conhecemos, eu tive certeza de que os céus haviam ouvido as minhas preces. Diferente de todos os caras com quem já havia saído, eu acreditei, com todas as minhas forças, que ele era diferente. Pensei ter encontrado a estúpida sensação de ser verdadeiramente amada por alguém.

Ao menos isso foi o que ele me fez acreditar, inicialmente.

As nossas brigas eram constantes, causadas em virtude de motivos estúpidos. Quando eu ameaçava deixar as malas na recepção e voltar para a Coreia, Henry sempre me convencia a permanecer na Califórnia.

A nossa relação era semelhante a uma montanha russa, haviam os momentos repletos de emoção e adrenalina, tal como existiam as longas curvas que nos deixavam de ponta cabeça. Vivíamos declinando nos trilhos na maior parte do tempo.

No entanto, suas doces palavras anulavam todos os meus ressentimentos subitamente. Após o perdão, éramos conduzidos a um novo percurso que também estava destinado a declinar futuramente. Mas, enquanto isso não acontecia, o que nos restava era cultivar bons momentos. Era como um ciclo infindável.

── Jennie... ── Henry me fitou com os olhos flamejantes, assim, percebi o quão bonitas eram suas íris castanhas esverdeadas. ── Eu te amo.

Henry replicava aquela simples frase banal, e aquilo já era o suficiente para me aprisionar aos seus braços outra vez.

── Eu também.

O meu rosto ruborizou assim que reparei nas mãos do garoto se alinhando em meio às minhas madeixas castanhas — que se encontravam esvoaçantes por conta da aragem fresca —. O garoto sabia exatamente como me encalistrar sem esforços.

Os meus olhos se cerravam conforme os lábios dele se aproximavam dos meus. Nada ao redor parecia possuir relevância, a não ser aquele beijo.

Porém, a atmosfera desabou em virtude de uma ligação, o ruído abafado emanava do meu celular, dentro da bolsa. Eu queria apenas ignorá-lo e dar vida ao nosso momento, mas Henry fez questão de acabar com todo o clima com seu ceticismo.

— Tinha que ser justo agora? — suspirei impaciente.

── Atende ── Henry exigiu.

── Mas, por quê?

── Quem não tem nada a esconder, não age como se tivesse.

── Então tá... ── Ignorei o fato do garoto estar desconfiado, e retirei o aparelho da bolsa. ── Só um minuto.

Henry acomodou-se no assento da cabine e bufou, virando o rosto na direção oposta, e passando a observar o mar. Ele não parecia contente com a situação, porém, manteve-se taciturno durante um certo período.

Me ver sorrindo à toa enquanto falava ao telefone parecia causar-lhe incômodo. Eu estava na chamada há apenas cinco minutos, mas o garoto já havia escutado o suficiente para entender o motivo da felicidade explícita em meu rosto.

Subitamente, Henry recolheu o aparelho das minhas mãos e encerrou a ligação.

Ele sempre foi assim, geralmente pegava o meu celular sem permissão para checar todas as mensagens e ligações, até mesmo as que eu ainda não havia acessado. Não era uma atitude afável, porém eu ainda acreditava numa possível mudança em seu comportamento.

── Eu não ouvi direito ou Kim Taehyung acabou de convidá-la para uma festa, em sua casa, hoje à noite? ── Henry indagou o que acabara de ouvir. ── Jennie, depois de tudo que discutimos ontem...

── Você ouviu perfeitamente! ── Rebati impaciente, recuperando o aparelho das suas mãos. ── Ele me convidou e, como uma boa amiga, eu irei comparecer.

── Sinceramente... por que você ainda mantém contato com esse imbecil? ── perguntou. ── Por acaso está rolando algo entre vocês?

── Não seja tosco! Eu o conheço desde a época em que usávamos fraldas ── revidei. ── Somos praticamente irmãos, não embaralhe as coisas.

── Tenho noção de que sou o único homem que pode te chamar de "minha" ── ele decaiu o grau de intensidade da sua voz, parecia estar conformado. ── Porém, eu ainda acho essa uma péssima idéia.

── Céus. ── Suspirei e me sentei ao seu lado. ── Será apenas uma festa com alguns colegas da universidade, qual é o problema?

── O problema é que, ontem, você se encontrou com eles sem a minha permissão. Você errou drasticamente, mas eu te perdoei ── ele respondeu com convicção. ── Portanto, não vejo problema algum na sua presença, desde que eu também esteja lá.

── Que seja! ── Revirei os olhos.

Era incrível como ele conseguia ser tão enciumado, principalmente quando se tratava de sair com os meus amigos, no mínimo os que restaram. Taehyung e Nayeon eram as únicas pessoas que eu ainda não havia perdido o contato desde que comecei a me relacionar com Henry. Portanto, naquela época eu presumi que ele só estivesse inseguro em relação às "falsas amizades".

『 𔘓 』

Me ausentei do closet duas horas mais tarde, e pousei em frente ao espelho entusiasmada. Eu já havia experimentado mais de cinco peças de roupa, porém, para Henry, nenhuma delas era adequada o suficiente.

Desta vez, eu escolhi o meu melhor vestido da Chanel. O seu tecido era prateado e áspero por conta das pedrinhas brilhantes. A sua beleza era tão surreal quanto o seu valor. Eu estava otimista de que ele dificilmente desprezaria uma peça tão bonita como aquela.

Henry estava escarranchado à beira da cama. Os seus dedos digitavam freneticamente sobre o celular e, em seu rosto, um sorriso ladino se formou naturalmente. A conversa parecia estar bastante interessante.

Eu chamei pelo seu nome três vezes consecutivas, mas ele estava tão absorto que não me deu ouvidos.

Impaciente, arranquei o aparelho das suas mãos. Mas, se eu soubesse que aquilo o deixaria tão enfurecido, teria feito com mais delicadeza. Discutir era a última coisa que eu desejava.

── O que você tem na cabeça? ── Ele me fitou incrédulo e levantou-se agitado.

── Isso não aconteceria se você me desse pelo menos um segundo de atenção.

── Eu lhe daria atenção se você não fosse tão cansativa ── respondeu, e sequer se importou com o efeito das suas duras palavras. ── Não percebeu quanto tempo levou para sair daquela porcaria de closet?!

── Eu não iria demorar se você não fosse tão exigente! ── repliquei enquanto andava involuntariamente para trás.

── Isto não aconteceria se você não tivesse apenas roupas vulgares no armário ── ele anunciou rente ao meu rosto. Aquele ponto, a sua respiração quente arfava sobre a minha testa.

Senti um repentino impacto na escápula. Quando me dei conta, já estava encurralada entre o seu corpo e a parede cinza. Seus olhos agora estavam fixos sobre os meus, ficamos assim por alguns segundos.

── Por que você sempre é a responsável pelas nossas discussões mais idiotas?!

O que ele disse parecia tão real que as minhas palavras fugiram à boca. Então, devolvi o objeto e logo em seguida empurrei seu corpo com as mãos apoiadas na altura do seu peito, para me afastar. Estávamos sobrecarregados, precisávamos respirar um pouco.

Aquele era o tipo de debate que não havia uma vitória ou derrota, mas que seria capaz de durar por toda a eternidade se ninguém impedisse. Eu odiava discutir por bobagens, porém, qualquer atitude minha, para ele, se convertia num devastador furacão.

── Por essa e outras razões que ninguém te suporta, nem mesmo a sua própria família ── Henry disse. ── Deveria me agradecer por ser o único que ainda tolera os seus dramas.

── Eu não quero mais discutir. ── Esclareci. ── Então, por favor, não torne tudo mais difícil.

Em momentos como aquele, Henry adorava tocar em águas passadas, para me magoar profundamente.

Aquelas palavras acabaram me transportando para a época em que eu era negligenciada pelo amor fraternal. Os meus pais eram afundados em álcool e dívidas rigorosas, ambos passavam a maior parte do tempo fora de casa e, quando voltavam, discutiam sempre que possível. Eles sequer recordavam que tinham uma filha.

A última vez em que dialogamos foi há três anos atrás, quando os informei que havia conseguido uma vaga numa universidade da Califórnia. Eu achei que eles ficariam orgulhosos pela minha conquista, porém, ao invés disso, a única coisa que ouvi foi: "Você pode ir, contanto que não volte nunca mais."

E foi justamente o que eu fiz. Preparei as malas junto a um pouco de bravura e segui em frente, totalmente desamparada.

── Enfim... ── Suspirei, desejando acabar com todo o ressentimento em meu peito. ── Estou aprovada ou terei que trocar pela sétima vez?

── Você tem que substituir todas as porcarias que come por uma salada, isso sim! ── Henry dirigiu-se até uma arara de roupas no canto do quarto e atou um cabide. ── Se desfaça dessa roupa justa, e prove isto aqui. ── Ele estendeu o cabide onde estavam penduradas algumas peças, eu diria que um tanto incongruentes.

Assim que peguei as peças de roupa, não me contive. No momento aquilo me pareceu irônico.

Henry desejava que eu retirasse o meu vestido deslumbrante e vestisse um conjunto de moletom despojado na cor preta. Algo totalmente contraditório para a ocasião.

── Eu deveria sorrir? ── perguntou ele, arqueando uma sobrancelha.

── Não pode estar falando sério.

── Eu nunca falei tão sério.

── Mas...

── Shhh ── Ele levou o seu indicador sobre os meus lábios para me impedir de falar, após perceber que eu estava prestes a iniciar uma desavença. ── Se quiser garantir que sairá esta noite é melhor se apressar. ── Henry depositou um prolongado beijo na minha testa. ── Eu sei que você não quer desapontar os seus amigos.

O garoto sorriu com cinismo e voltou a sentar na beira da cama. Ele ligou o seu aparelho e esqueceu da minha existência em questão de segundos.

Sobre nenhuma das hipóteses eu imaginei sair vestida daquela maneira. Mas, infelizmente, não tive outra escolha. As chances de fazê-lo mudar de ideia eram quase nulas.

Desconsiderei a veracidade que aquela seria a coisa mais sem lógica de todas e me apressei. Se eu tivesse que sair vestida daquela forma, ao menos teria que fazer uma boa maquiagem. Restavam apenas os lábios e, para a ocasião, eu decidi utilizar o meu batom vermelho sangue. Após finalizado, contornei os cantos externos com os dedos para remover o excesso fora das margens.

O silêncio estava sendo perturbador, mas, o semblante sério de Henry conseguia ser pior. Ele caminhou com passos curtos até a penteadeira de onde eu me encontrava e pousou as mãos sobre os meus ombros.

── Jennie, Jennie... ── Henry sorriu enquanto negava com a cabeça.

── Sim?

── O vermelho é a cor mais quente e sensual que existe... ── Respondeu, pegando um lenço umedecido da embalagem. ── Por que escolheu justo essa?

── Vermelho me faz sentir uma mulher soberana.

── Kim Jennie, soberana? ── indagou em tom irônico.

── O que há de errado desta vez? ── Elevei uma sobrancelha e o mirei através do espelho. ── A minha dignidade incomoda você?

── Não, apenas acho que o conceito não combina com uma garota tão delicada como você ── revidou. ── O batom vermelho é para garotas de má índole. Portanto, se não deseja ser comparada a uma vadia... ── Ele sobrepôs o lenço umedecido em meus lábios e removeu a pintura com um simples deslocamento para a direita.

Absurdo!

Eu desejei me pronunciar, porém, havia um nó enorme na minha garganta que me impedia de tomar certa atitude. Então, apenas baixei a minha guarda.

— Vou te esperar no carro, acho bom descer o quanto antes — ele disse e, em seguida, deu as costas.

Eu encarei o meu reflexo no espelho e me questionei se aquilo realmente me fazia sentir amada, e a resposta ficou sobre uma balança em meio-termo. Existiam situações em que eu gostaria de nunca ter o conhecido, por outro lado, eu queria imaginar que a sua insensibilidade fosse passageira.

Henry não aparentava mais ser o cara por quem eu havia me apaixonado há seis meses atrás. Aquele que me confortava em seus braços e me acolhia em meus piores momentos. Sua voz costumava soar como uma doce canção de ninar em meus ouvidos. Mas, atualmente, eu não entendia por qual motivo todas as palavras que partiam da sua boca sofriam efeitos contrários.

Ser submetida às suas atitudes desprezíveis não me ajudavam em nada, além da falta de autoconfiança. Mas, por pavor de acabar sozinha outra vez, eu encontrava motivos para fingir e simplesmente ignorá-las.

Embora eu insistisse em não lhe dar uma segunda chance, eu ainda não estava capacitada emocionalmente para colocar um ponto final em tudo aquilo que havíamos construído. E essa insegurança parecia alimentá-lo.

『 𔘓 』

O relógio em meu pulso marcava dez da noite quando chegamos ao evento. O jardim estava perfeitamente decorado por um varal de luzes brancas, pessoas saíam e entravam pela enorme porta de vidro e o bairro havia sido tomado pelo tráfego de veículos. A residência de Kim Taehyung havia se transformado num verdadeiro espetáculo.

A festa estava lotada por rostos incógnitos, mas com razão. Diferente de mim, Taehyung era extremamente aberto para novas amizades e, na universidade, o seu perfil era bastante prestigiado na área de psicologia, me arrisco até a dizer que um dos mais aclamados de toda Berkeley.

Eu fiquei bastante eufórica por poder comparecer ao evento. Havia séculos que eu não frequentava um lugar semelhante, pois Henry nunca gostou da ideia. Ele sempre fazia com que eu escolhesse entre ambos. Eu o amava, portanto, nunca tive outra opção a não ser abrir mão dos convites e passar mais tempo ao seu lado.

No momento em que os meus pés tocaram o assoalho de madeira, as pessoas mais indiscretas em volta do salão me fitaram da cabeça aos pés. Elas cochichavam rente ao ouvido dos amigos. Não era preciso de telepatia para identificar o assunto o qual tanto abordavam. Era nítido que eu estava sendo o centro do universo por conta das minhas vestes inadequadas.

Eu já estava me sentindo tão desconfortável que cogitei cavar um buraco, enterrar minha própria cabeça e não sair das profundezas da terra sob nenhuma das circunstâncias.

Na esperança de me sentir menos mal, entrelacei as mãos sobre o antebraço de Henry e ambos conseguimos peregrinar serenamente em meio à multidão de desconhecidos que se agrupavam com os seus copos vermelhos nas mãos.

Alguns dos meus amigos vieram me cumprimentar, porém, Henry sempre arranjava uma desculpa para não deixar ninguém dialogar comigo por mais de dois minutos. Ele se afastava de forma repentina, era possível notar a sua impaciência. Eu precisei fazer um pequeno esforço para acompanhar o ritmo dos seus passos precipitados.

── Jennie, junte-se a nós! ── Enunciou uma voz aveludada, bastante familiar.

Quando olhei em sua direção, avistei Nayeon, ela estava de pé ao lado de Kim Taehyung. Ambos se divertiam jogando beer pong em um canto da sala. E como eu estava com uma sede insaciável por álcool, não pensei duas vezes antes de me juntar a eles. Mas, logo após dar o primeiro passo, senti o meu pulso ser agarrado com firmeza.

── Eu também mereço uma vida social, não acha? ── Interroguei me direcionando para Henry.

Ele parecia indeciso, a sua frieza emanava através do seu olhar penetrante.

── Eu confio em você, só não confio neles ── com os dentes cerrados, respondeu. ── Aqueles idiotas estão se embriagando.

── Eu não tenho mais dez anos de idade! Sei me virar sozinha.

── Está ciente de que eu faço isso apenas porque quero o seu bem, não está?

── Estou ── revirei os olhos. ── Não se preocupe, eu vou ficar bem, ok?

── Este é o motivo do porque eu te amo tanto, Jendeukie. Você é uma garota obediente.

Henry trouxe a minha cabeça de forma repentina e selou os meus lábios amargamente. Não precisava ser especialista para identificar o sabor daquele ósculo que, assim como aquelas palavras proferidas, não pareciam ter autenticidade alguma.

── Eu vou aproveitar que estou de bom humor e te deixarei ir com eles ── propôs, dando atenção aos meus olhos. ── Portanto, reconheça os seus limites, ou alguém acabará sozinho esta noite ── ele intimidou, soltando o meu pulso vagarosamente.

Ele sabia do poder que possuía sobre mim e, às vezes, até abusava do seu privilégio.

Henry afastou-se com dois passos curtos para trás e afundou as mãos nos bolsos do blazer preto. Em seguida, deu as costas, em direção à porta de vidro dos fundos. Julguei que ele estivesse indo fumar com alguns amigos no jardim, como de costume.

Logo, os meus olhos cerraram-se junto a um suspiro profundo que manifestou-se em forma de mitigação. A sua presença estava aspirando boa parte da minha energia, e aquilo era desgastante.

── Me desculpem pelo atraso, tive alguns imprevistos. ── Informei aos meus amigos. ── Nos vimos ontem, mas eu já estava com saudades!

Me alojei à mesa de pingue-pongue e apanhei uma das bolinhas que estavam agrupadas no cesto.

── Pediu permissão ao seu dono antes? Jendeukie. ── Taehyung atou a minha mão impedindo o arremesso.

Ele sempre foi quem mais implicou com Henry, a respeito da proteção constante que recebia. Ambos criaram uma rixa imbatível, pois, por mais que fôssemos inseparáveis desde criança, o garoto tentou inúmeras vezes nos afastar.

── Ele não é o meu dono!

── Eu até acreditaria nisso, ── Taehyung apoiou-se de costas na mesa ──, se já não estivesse nítido o quão diferente você ficou após se relacionar com aquele...

── Esse seu jeito de julgar as pessoas me deixa irritada ── disse, enquanto me desfazia das suas mãos. ── Por que não cuida da sua vida?

Eu lancei a bolinha e acabei acertando o copo do meio, fazendo a bebida azul evacuar e me dando, assim, o privilégio de virá-lo.

── Posso até não possuir telepatia, ── revidou. ──, mas, eu sei muito bem o que se passa nessa sua cabecinha oca, Kim Jennie!

Ele passou um braço em volta do meu pescoço e implicou, eriçando os meus cabelos com a mão. Taehyung era como um verdadeiro irmão mais velho, amável e insuportável na mesma proporção.

── Você tem sorte de ter alguém como ele. ── Nayeon deu a volta na mesa e atou o copo que eu havia acertado. ── Além de ser bonito e bem sucedido, na faculdade de administração Henry Patterson está entre os mais aclamados.

Nayeon me entregou o copo e curvou os lábios com gentileza.

── A sua reputação é a última coisa que me interessa ── murmurei. ── Mas, para ele, parece que isso é tudo que importa. ── Beberiquei o líquido azul, parecia ser vodka.

── Por que está tão abatida, Jennie? ── Nayeon perguntou, pondo uma madeixa do meu cabelo atrás da orelha. ── Sorria! Não é qualquer uma que possui esse privilégio.

Sorri artificialmente, apenas por pura educação. Somente eu sabia o quão difícil era lidar com o "privilégio".

── Podemos finalizar o jogo, ou as damas continuarão falando sobre aquele babaca até a festa acabar? ── indagou Taehyung, sentindo-se menosprezado.

Nayeon me fitou, pressionando os lábios e ambas gargalhamos.

── Vamos prosseguir, eu necessito de mais alguns drinks. ── Bati o copo de plástico vermelho vazio sobre a mesa.

── Não, nós vamos finalizar! ── Taehyung tomou o copo das minhas mãos. ── Se continuar agindo feito uma alcoólatra vai acabar passando vergonha em público.

── Ah! Faça-me o favor ── respondi, despreocupada. ── Eu estou de moletom em plena festa, o que mais podem esperar de mim?

── Concordo plenamente, você está ridícula. ── Nayeon me fitou dos pés à cabeça enquanto enrolava uma madeixa do seu cabelo castanho claro na ponta dos dedos. ── Mas, pense pelo lado bom, dizem que o preto esconde as nossas imperfeições. E, pelo visto, essa cor lhe favoreceu bastante neste quesito.

Como ela ousa?

Se Nayeon não fosse a minha única amiga mais próxima, acho que eu estaria esbofeteando a sua cara pálida neste exato momento.

Eu somente contornei a situação curvando os cantos internos dos lábios num sorriso amarelo. Não sabia se ela tinha a intenção de soar sincera. Porém, as palavras utilizadas me pareceram ser muito específicas.

Não dei ouvidos a Taehyung e prossegui com o jogo, virei todos os copos que pude sem intervalos. Talvez me arrependeria mais tarde, mas, desejei que isso não acontecesse.

Após esvaziarmos a segunda garrafa de bebida, finalizamos o jogo e recolhemos os copos vermelhos antes que perdêssemos o controle. Eu decidi beber bastante água, pois havia consumido álcool em excesso para uma só noite. Eu não queria imaginar qual seria a reação de Henry ao saber que eu havia me embriagado.

── Pessoal, eu adoraria continuar aqui com vocês, ── Nayeon lamentou com precipitação, enquanto guardava o smartphone na bolsa que carregava ──, mas, eu necessito ir ao banheiro. ── Ela ajustou o tecido do seu vestido lilás, que era condizente com a tiara em seu cabelo, e despediu-se.

── Divirta-se! ── Acenei com a mão.

── Jendeukie... o que acha de balançar o esqueleto? ── Taehyung propôs, mas eu neguei com a cabeça. ── Vamos, não seja ranzinza! ── Ele sorriu fazendo os seus olhinhos se converterem numa linha.

Taehyung retirou a garrafinha d'água das minhas mãos, e logo me puxou do sofá até me arrastar para a multidão. Eu não estava entusiasmada, porém, não recusei a proposta, porque realmente precisava descontrair a indolência das minhas pernas. E dançar, ao que tudo indicava, parecia ser a melhor solução.

Aos poucos a ideia me conquistou, uma leve energia percorreu o meu corpo junto às batidas da música. Não existia sensação mais prazerosa que a de poder dançar em sua própria órbita.

O meu corpo acompanhava o ritmo involuntariamente, a coreografia parecia estar armazenada em minha mente, porém, o responsável por conduzir os movimentos, na verdade, era a sensação de liberdade. A qual eu raramente havia vivenciado nos últimos meses.

── Estou impressionada! ── Ampliei os olhos, fitando Taehyung dançar alucinadamente. ── Você consegue dançar tão mal quanto jogar basquete.

── Sério? ── Ele elevou uma sobrancelha na minha direção. ── E você consegue dançar tão mal quanto eleger as próprias roupas!

── Eu não tenho culpa, Henry quem a escolheu.

── E você se sente confortável com essa decisão? ── Ele semicerrou os olhos.

── Não, mas se isso deixa ele menos indignado, então não vejo motivos para discordar ── expliquei. ── Aliás, dizem que o ciúme é sinal de proteção e amor.

── Sentir-se bem com o ciúme em excesso é sinal de que alguém precisa se tratar, urgentemente ── rebateu, mas não recebeu a minha atenção. ── Olha, Jennie... sem querer ser invasivo, mas... você realmente se sente bem nesse relacionamento?

Após ouvir aquilo, os meus olhos logo giraram as órbitas.

Taehyung não tinha lugar nem hora específica para me fazer esse tipo de pergunta. Minutos ao seu lado eram equivalentes a uma terapia, porém, não era todo dia que eu estava disposta a dar satisfação a respeito da minha vida amorosa.

── Por que você ainda insiste nisso?

── Eu estou apenas tentando fazer você enxergar se essa é a decisão certa a seguir. ── Taehyung pousou ambas as mãos em meus ombros e me fitou com os seus olhos negros. ── A Jennie que eu conheço nunca deixaria um homem lhe dizer o que fazer. Então, por qual motivo você deixou ele te moldar feito um quebra-cabeças?

── Escuta aqui, Taehyung... ── Retirei suas mãos sutilmente do meu corpo. ── Eu achei que houvesse sido convidada para uma festa e não para uma clínica psicológica.

── Me perdoe. ── Ele comprimiu os lábios e fitou o chão, constrangido. ── Mas, eu precisava falar com você a respeito disso e achei que este fosse um bom momento.

── Quantas vezes eu terei que repetir? ── questionei, irritada. ── Eu não preciso de ajuda! Estou ótima.

── Ele está incomodando? ── perguntou uma voz grave por trás.

Após virar a cabeça na direção oposta, deparei-me com Henry. Ele contraiu a mandíbula e fitou Taehyung sem ao menos piscar. Eu já pressentia que ele não se contentaria enquanto não arranjasse uma discussão.

── Não, não. ── Balbuciei, sentindo uma leve tontura, pensei que talvez fosse o efeito das luzes coloridas. ── Estávamos apenas dançando.

── O que há com você? ── Ele me puxou para perto, após notar que eu estava cambaleando discretamente.

Eu tentei me justificar, mas a resposta veio com antecipação quando tive a sensação de borboletas no estômago. Não era uma sensação boa, pois ela veio acompanhada de uma ânsia que queimou a minha garganta como fogo.

Eu sequer tive tempo de pensar em ir ao banheiro. Quando me dei conta de que aquilo era vômito, o garoto já estava perto o suficiente para que eu expelisse tudo sobre os seus pés.

── Isso já justifica. ── Henry olhou a poça em seus pés e sorriu fraco. ── Qual a parte de "reconhecer os seus limites'' você não entendeu? ── Ele aumentou a entonação da voz.

Nós acabamos tomando a atenção das pessoas à nossa volta, inclusive a do DJ que parou de emitir a música, o que contribuiu para um clima ainda mais tenso.

Eu limpei os lábios com a manga do moletom e me recompus daquele estado deplorável.

── Eu... sinto muito. ── Lamentei, fitando os seus sapatos encharcados pelo líquido asqueroso.

── PORQUE VOCÊ NUNCA ME ESCUTA?! — Henry exclamou. — Você só tinha uma obrigação, PORRA!

Ele jogou a cabeça para trás e alojou entre os dedos os fios dourados do cabelo que, segundos antes, caíram sob sua testa. O que subitamente pareceu acalmá-lo de alguma forma.

── Não grite com ela! ── Exigiu Taehyung, me conduzindo com o braço para trás. ── Não percebe o quão repugnante está sendo?

── A conversa é com a MINHA namorada!

── Você vai deixar de ser um merda agora... ── Taehyung disse com plenitude, e deu um passo à frente. ── Ou precisa que alguém lhe ensine a como respeitá-la?

Henry manteve a expressão fechada por alguns segundos. Embora não se deixasse intimidar facilmente, Henry sentiu-se ameaçado por aquelas palavras. Mesmo não demonstrando, o ódio era nítido em seu olhar.

── Vou te mostrar quem é o filho da puta que tá precisando de uma lição.

Henry avançou sobre Taehyung em questão de segundos.

Com a mão esquerda, ele agarrou a gola rolê do suéter que Taehyung usava e, com a mão direita, cerrou o punho com firmeza e desferiu sem piedade no dorso do seu nariz.

Taehyung se desequilibrou, mas, por sorte, Nayeon apareceu a tempo para ampará-lo. O golpe foi tão intenso que o sangue evacuou das suas narinas quase que imediatamente. Sua roupa ficou tingida em pequenos pontos pelo líquido vermelho e viscoso.

Taehyung queria tirar a desforra, mas Nayeon não permitiu. Já Henry, desejava finalizar o que havia começado, porém, eu o afastei até a extremidade da sala para que, assim, mais ninguém acabasse ferido. Ambos pareciam dois cães raivosos.

── O QUE DEU EM VOCÊ?!

Henry me encarou por alguns segundos, parecia ofegante.

── Satisfeita? ── ele perguntou. ── Eu perdi a cabeça, POR CULPA SUA!

── Me desculpe, e-eu...

Olhei discretamente aos arredores e notei que todos nos observavam, pasmos. Os meus olhos já estavam emaranhados, mas ele continuou a me constranger em público.

── Eu não queria que chegasse a esse ponto!

── Não peça desculpas! ── Ele apontou o indicador sobre o meu rosto e eu recuei, amedrontada. ── Nada disso teria acontecido agora se você tivesse permanecido em casa.

Alucinado, Henry chutou uma mesinha de vidro, onde havia algumas garrafas de cerveja — o que resultou numa baderna pelo assoalho —. Após dar o seu show de horrores, ele pouco se importou comigo, e com todos os olhares espantados sobre si, apenas saiu andando na direção da porta.

Henry de fato não tinha salvação, e eu não tinha outra escolha a não ser desistir de esperar por uma mudança repentina no seu caráter.

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