Eu não sabia como aquela porra tava funcionando, mas tava funcionando. Bom, pelo menos para os meus padrões de surtada. Quando Wakasa me chamou pra sair com ele, não achei que ia levar isso pra frente, nem mesmo achei que ele fosse querer fazer aquilo naquele momento, mas acho que tava enganada. Na verdade, tava enganada sobre Wakasa em várias questões, e era foda admitir isso. Principalmente quando eu tinha achado que ele era um completo de um merda, e na verdade a única pessoa babaca aqui sou eu. 

Estavamos andando pelas ruas, pelo território da Black Dragons, e Wakasa não parecia se importar, não parecia dar a mínima, com o fato de que talvez fosse visto andando com alguém da Black Goshawk. E eu sei que pra ele isso nem importava, mas eu não conseguia deixar essa merda de lado, mesmo sabendo que eu devia. Mesmo que ele tivesse fazendo exatamente isso. Que merda, queria que fosse fácil assim pra mim, e queria apenas... Sei lá. Esquecer que éramos de gangues diferentes e que queriam se matar. Porra, essa merda tava parecendo Romeu e Julieta, e eu nem gostava de romance, quem dirá romance trágico!

Wakasa riu e me empurrou de leve com o ombro, me fazendo piscar e voltar a realidade. Ele estava me olhando com aqueles olhos roxos, sorrindo de leve para mim. Mas que porra. Se ele fosse um completo merda, tudo seria mais fácil, mas não, ele tinha que ser um cara legal! Aí, como eu tava fodida nessa porra...

-Porque tá fazendo uma careta?- ele disse e eu torci o nariz para ele, revirando os olhos.

-Não tô fazendo nenhuma careta.- resmunguei para ele, afastando os fios roxos que caíram no meu rosto quando o vento bateu em nós. Puta merda! Eu devia pelo menos ter pego minha jaqueta, mas não. Agora ia ficar com frio.

-Tá sim.- ele disse se inclinando na minha direção, cutucando minha bochecha e sorrindo. -Fica franzindo as sobrancelhas e fazendo um biquinho emburrado.

-Aí, como você é babaca!- reclamei, dando um tapa no ombro dele e Wakasa riu, agarrando minha mão na dele e aproveitando a proximidade para me puxar pela cintura para mais perto de si.

Sim, era patético admitir que meu coração acelerava de forma engraçada quando ele me segurava assim.

Sim, talvez eu tenha esquecido por um instante que estávamos no território da Black Dragons, mas era difícil pensar direito quando Wakasa tava me olhando desse jeito, com tanta intensidade.

E Wakasa também não parecia dar a mínima, porque segurou meu rosto em suas mãos e roçou os lábios nos meus, me fazendo ficar estática. Tudo bem, eu não sabia como lidar com pessoas me beijando, sinceramente, ainda mais com pessoas querendo fazer isso de verdade.

-Combina com você. - ele soltou e eu franzi o cenho para ele. Wakasa riu da minha cara de confusão antes de sorrir. -O biquinho irritado. Já que você tá sempre estressadinha.

Revirei os olhos. Poderia ter dado um socão na boca dele, mas era muito mais interessante beijar Wakasa, e foi exatamente isso que eu fiz. Envolvi meus dedos nas mechas loiras de cabelo dele, o puxando para mais perto de mim enquanto ele me apertava e me beijava.

Só nos afastamos quando estávamos os dois sem fôlego o suficiente para continuar com aquilo. Então é isso que as pessoas fazem? Elas saem, conversam, se estressam e se beijam?

Meu Deus, me sinto muito perdida nesse momento, mas não em um sentido completamente ruim. Talvez eu estivesse gostando de conhecer mais Wakasa e talvez eu tivesse gostado de descobrir essas coisas estranhas que pessoas que querem ficar com outras pessoas fazem.

Ele deu um sorrisinho para mim e abriu a boca para dizer algo, mas não foi a voz de Wakasa que escutamos.

-Mas que porra, Wakasa.

Eu me virei, apenas para dar de cara com aquele irritante da Black Dragons, o de cabelos negros compridos e que eu certamente não tinha ido com a cara de jeito e maneira alguma.

Ai meu Deus, eu vou socar esse porra.

-Não é possível que você tenha sido burro o suficiente pra beijar a garota que te chutou pra fora da moto e depois te bateu! - ele disse indignado e, sim, não tenho vergonha de dizer que escutar isso tinha me feito sentir vergonha pelas merdas que eu já fiz. Mas Wakasa continuou com aquela expressão tão calma que beirava ao tédio, ainda olhando para o babaca na nossa frente.

-Não vejo porque o que eu faço ou deixo de fazer seja da sua conta, Takeomi.- Wakasa disse arqueando a sobrancelha. O babaca na nossa frente bufou.

-Isso é traição, sabia? O que acha que Shinichiro vai pensar de você ficando com uma açor?- Takeomi chiou. Eu revirei os olhos.

-Tenho certeza que ele nem vai ligar, porque certamente tem mais cérebro que você. - eu disse com um sorriso sarcástico, tentando não partir pra cima dele. Takeomi riu de forma maldosa.

-Eu não tô falando com você, garota, então fica na sua. - Takeomi disse e eu ri, fechando os punhos com força, preparada para dar porrada nele até ele cuspir sangue e engasgar com os próprios dentes.

-Homem não serve pra porra nenhuma, mas você se supera em ser um puta  otário.- cantarolei com um sorriso cruel e Takeomi fervilhou de raiva.

-Ela vai te usar, porque é isso que putas como ela fazem, Waka. E você vai...- ele começou, mas não teve sequer chances de continuar, porque Wakasa se moveu rápido demais para que eu ou Takeomi pudéssemos enxergar. E ele deu um soco na cara de Takeomi, o fazendo cambalear para trás e piscar os olhos, olhando Wakasa com indignação.

-Você deveria aprender a como falar de uma mulher, Takeomi.- Wakasa suspirou, calmo demais. Ele apenas balançou a cabeça, os fios loiros indo pra todo lado. -Você pode até entrar na cabeça do Shinichiro com essas merdas, mas não vai fazer isso comigo. Você não conhece a Azumi, então deveria ficar na sua.

-Nem você conhece ela, porra!- Takeomi gritou e Wakasa deu um sorriso perigoso demais para Takeomi.

Eu apenas agarrei a mão de Wakasa, o puxando. Sabia que aquilo podia dar uma puta de uma merda, e eu já tinha aprontado demais com Wakasa, a última coisa que eu queria é que ele brigasse com um amigo dele por minha casa. Ou falasse ou fizesse algo que provavelmente se arrependeria mais pra frente.

Wakasa não disse mais nada e, graças a Deus, me deixou puxar ele para longe. Para bem, bem longe de Takeomi e todo aquele veneno que me fazia perguntar se era só assim que ele era mesmo, amargurado, ou se era inveja ou algum tipo de ciúmes, sei lá.

Eu fiquei em silêncio, mesmo quando já estávamos longe o suficiente de Takeomi e do território da Black Dragons. Apenas continuei andando ao lado de Wakasa, e ele parecia perdido demais em seus próprios pensamentos.

No fim das contas, eu não me aguentei.

-Você não devia ter socado seu amigo por minha causa.- eu disse olhando Wakasa seriamente. Ele apenas deu de ombros. -Tô falando sério, Wakasa.

-Não gostei do jeito que ele falou sobre você. Ele não tem direito de te ofender assim só porque não gosta de você, Azumi. - Wakasa disse arqueando a sobrancelha e eu suspirei. Abri a boca, mas Wakasa não me deixou falar. -E achei que você fosse ser a primeira a causar uma briga.

Torci o nariz.

-É, mas... - eu apenas me calei, passando a mão pelo meu cabelo com força. Wakasa apenas me olhou.

-Sabe como acabei parando na Black Dragons?- ele perguntou e eu me virei para o olhar. Wakasa apenas sorriu. -Antes disso, eu dividia Kanto com o Benkei. Ele era líder da Ragnarok e eu era líder da gangue rival, a Koudou Rengou.

Nem fodendo.

Nem.

Fodendo.

COMO ASSIM?!

-Vou tentar não me ofender por você estar fazendo a maior cara de choque e indignação agora.- ele disse cutucando minhas costelas e eu chiei.

-Tá, eu sabia que você era forte, mas você é leopardo branco? Você? Sério mesmo? Ouvi coisas absurdamente absurdas sobre você. - falei piscando os olhos um pouco chocada, sim. Eu sabia que Wakasa era forte, mas não imaginei que fosse desse jeito.

-Que que tem, hein? Não é grande coisa.- ele disse e eu o empurrei.

-Claro, não, imagina!- eu zombei. -Todo mundo se cagava de medo só de ouvir sobre você, mas realmente, não é grande coisa.

Meu Deus, e eu bati em uma pessoa dessas.

Eu poderia estar morta agora se Wakasa quisesse foder minha vida!

-Você tá me desviando da minha história, cala boca. - Wakasa disse, empurrando minha cabeça de leve e eu dei um tapa em sua mão, fazendo ele rir. -A questão não é essa, a questão é que eu e Benkei sempre estávamos caindo na porrada por causa dessas merdas de gangue. Até Shinichiro aparecer e por causa dele nós nos unimos. Porque ele fez a gente perceber que tudo isso é um monte de merda, entende? Porque eu deveria odiar uma pessoa só porque ela é da gangue rival, ou evitar ela, ou querer foder com a vida dela, todas essas merdas?

Ah.

Ah.

Agora eu já sei onde ele quer chegar, e, sinceramente, torci o nariz diante disso. Wakasa fingiu não ver minha careta.

Por um tempo, Wakasa ficou em silêncio enquanto entrávamos em uma loja de doces que eu conhecia bem, mas nem mesmo prestei atenção pra ver se tinha alguém da Black Goshawk, porque tava ocupada demais prestando atenção no que esse idiota tinha pra me dizer.

-Benkei é um dos melhores amigos que eu tenho agora.- ele falou, dando de ombros. -E a gente tentou se matar várias vezes, se quer saber. Então, eu tô pouco me fodendo pro que Takeomi acha que sabe. Ou pro que você fez mês passado, quando nem sabia quem eu era. As coisas mudam, pessoas se conhecem melhor. Isso que importa.

Dessa vez, quem não esperou por mais nada fui eu antes de segurar o rosto de Wakasa em minhas mãos e o beijar. Ele pareceu surpreso por um instante, pego completamente de surpresa, mas Wakasa retribuiu meu beijo, me puxando para perto de si e me abraçando com força.

E eu certamente poderia ter ficado muito mais tempo beijando ele se um puxão forte no meu cabelo não tivesse feito eu me afastar dele. Me virei, o punho erguido pra socar a porra da pessoa que tinha feito isso comigo, mas quem recebeu um soco fui eu!

Bem

Na

Boca

-Mas que porra é essa, Maisha?!- gritei com indignação quando vi os cabelos claros e bagunçados dela. Maisha tava me olhando, puta pra um caralho, Satoru com aquela maldita cara de "bem, você se fudeu" pra mim.

-Você tá maluca, Azumi?- ela falou, me agarrando pela camiseta e me pressionando contra a parede. -Beijando um dragão negro num lugar onde todo mundo da nossa gangue vem, seu cérebro fritou, foi? Porra, Azumi! Porra!

Pisquei os olhos por um segundo.

Ah, mas que porra!

-Qual foi?!- falei, me afastando do aperto dela, a olhando talvez um pouco magoada. -Você, de todas as pessoas, vai me criticar, Maisha? Mas que porra! E dai que eu beijei ele? É problema meu!

-Não vai ser problema seu quando Sawako te chutar pra fora! - Satoru disse com um sorrisinho. Eu apenas balancei a cabeça.

-E ai, vão parar de serem meus amigos porque eu tô saindo com ele, é isso?- eu falei olhando para Satoru e Maisha. -Então pau no cu de vocês.

Eu dei as costas para os dois, preparada para ir embora dali com Wakasa, mas Maisha agarrou minha mão.

-Para de ser uma puta surtada, sua vadia!- ela chiou, me olhando feio.

-Claro que a gente não vai parar de amar você, você mete a língua na boca de quem quiser. - Satoru disse e olhou Wakasa antes de torcer o nariz. Ele voltou a olhar para mim. -Só toma cuidado. A gente pode sempre amar você, independente de que tipo de pessoa tu quer pegar, mas Sawako e Gohan vão cagar pra isso antes de te chutar da Black Goshawk.

-Ele tem razão. - Maisha suspirou. -Foi mal pelo soco. - ela olhou Wakasa e deu um sorrisinho para ele. -Foi mal atrapalhar seu beijinho.

-Vá pra puta que te pariu.- eu rosnei. Maisha riu, se jogando em cima de mim, e eu a abracei. -Sorte sua que eu te amo, sua puta.