˗ˏ FOURTY THREE.
Percebi que talvez Mai não estivesse tão errada, talvez a gente devesse mesmo simplesmente pegar nossas coisas e dar a porra do fora. Dinheiro não seria exatamente um problema. Um mês; pelo menos a porra de um mês. Era isso que eu queria, e percebi que nada seria fácil na minha vida a partir daquele dia se dependesse dos meus pais. Eles não perderam nem mesmo um segundo antes de me cercarem quando cheguei naquela merda de casa que eu tinha crescido, onde tinha sido infeliz pra uma porra e me transformado na definição de "criança traumática".
Não me importei muito com minha mãe gritando que eu só fazia merda. Não me importei muito com meu pai tentando acalmar ela, mas dizendo que eu era extremamente imprudente e deveria começar a agir como adulta. Não me importei com Saori cerrando os punhos e parecendo bem perto de dar uma porrada na cara dos dois. Apenas peguei o vaso de porcelana preferido da minha mãe, um que ela tinha comprado na França em uma porra de leilão, e atirei com força contra os dois.
Ambos gritaram, chocados, quando o vaso se estilhaçou dm milhares e milhares de pedaços azuis e verdes e rosas e roxos logo atrás deles. Os olhos da minha mãe se arregalaram em horror por eu ter quebrado o vaso dela, mas meu pai... Ele me olhou como se estivesse me enxergando pela primeira vez em praticamente dezoito anos.
Bem.
Agora, era tarde demais pra isso.
-Aí meu Deus!- minha mãe gritou, puta, tentando recolher os pedacinhos de porcelana no chão. -Você tá maluca, menina? Isso custou uma fortuna!
-Eu quero que você e seu dinheiro vão pra puta que pariu!- gritei, chutando a cadeira que caiu com um baque no chão. Minha mãe arregalou os olhos, a boca ficando aberta em puro choque. -Você, e você também. - falei, apontando o dedo para cara dela, e depois do meu pai. -Podem ir a merda, os dois! Porque sequer tiveram eu e Saori se vocês odeiam a gente?
-Odiar vocês! Que piada!- minha mãe gritou. -Se isso fosse verdade, teríamos mandado ambas para longe!
-E não foi isso que fizeram? Passei dois anos longe dessa merda, e vocês sequer se preocuparam o suficiente pra saber onde eu e ela estávamos, se estávamos vivas?- berrei, cerrando o punho e o chocando contra a madeira da mesa.
-Claro que sim! Sabíamos exatamente onde estavam, sempre soubemos, só queríamos que quisessem voltar para casa por livre e espontânea vontade. - meu pai protestou, claramente tentando acalmar a situação. Eu ri, uma risada venenosa.
-O caralho! E sabe o que eu queria? Queria pais que se importassem comigo, porra! Não um pai que só aparece pra dar dinheiro como se isso fosse suprir todo o resto, ou uma mãe que deixa claro constantemente que não atendo os padrões dela! Que não sou o que ela esperava! Ah, e é ainda pior com Saori, vocês sequer enxergam ela! Eu cuidei dela, e isso era trabalho de vocês!- eu disse com irritação, piscando os olhos para afastar as lágrimas de raiva que surgiram em meus olhos. Saori estava ao meu lado, suas mãos nas minhas costas, tentando me acalmar. Mas sabia também que ela nunca ia me segurar. Não contra eles.
Meus pais estavam literalmente petrificados. Como se tivessem vendo uma pessoa que não conheciam. E eles não me conheciam mesmo, nunca tiveram vontade de fazer isso!
-E quer saber de uma coisa? Sou briguenta, problemática e egoísta, e isso é culpa de vocês dois! Mas, ao mesmo tempo, também sou boa pra caralho em muita coisa. Não preciso de vocês, não precisava antes, não preciso agora. Minha família de verdade não são vocês dois. E vocês podem ir pra merda!
Dei as costas, agarrando a mão se Saori. Não ia ficar mais meio segundo que fosse nessa merda de casa.
-Azumi, já chega disso! - minha mãe berrou. -Volte aqui, vamos resolver isso! Como uma família!
Apenas ergui o dedo do meio pra ela. Cansada; estava cansada pra porra dessa merda!
Minha família que fosse se fuder.
Nem mesmo Kira tava conseguindo fazer Saori tirar aquela imensa cara de cú. Sinceramente, eu tava na mesma enquanto ficava cutucando o milk-shake com o canudo, querendo realmente atirar aquela taça contra a parede na minha frente e ver ela estilhaçar em milhares de caquinhos.
-Tá, dá pra uma das duas explicar o que tá rolando? - Kira disse, espalmando as palmas na mesa. Apenas lancei pra ele o olhar, e Kira fez careta. -Graças a Deus chamei seu namorado, não dá pra lidar com você quando o demônio tá acordado.
-Ah, mas você é um putinho mesmo.- eu rosnei, tentando acertar Kira, mas Saori se enfiou no meio.
-Azumi, isso não vai ajudar em nada.- ela reclamou. Apenas suspirei, enfiando as mãos nos cabelos e os puxando com força. Sabia que ela estava certa.
Alguém se sentiu na mesa que estávamos, tão freneticamente que me assustou. Olhei Mai, franzindo o cenho para ela. As bochechas de Maisha estavam vermelhas de tanta raiva.
-Mai? Que foi? Brigou com seus pais também?- eu disse, mas ela sequer parecia estar me escutando. Os olhos dela cravaram em Kira, um olhar mortal, e ele teve o bom senso de parecer abalado.
-Você sabia?- ela rosnou. Kira franziu o cenho.
-Sabia o que, sua maluca?
-Do Satoru! Você sabia?- ela quase gritou. Kira fez cara de paisagem, sem fazer a menor ideia do que ela estava falando. Maisha deu um tapa forte na mesa. -Porra, aquele desgraçado! Tá fodendo com a Sawako!
Fiquei paralisada. Foi como tomar uma porrada bem no meio do estômago. Pisquei os olhos, tentando assimilar o que Mai tinha acabado de gritar. Pisquei de novo e de novo.
Mas nem.
Fodendo.
Meu coração deu um salto, senti meu sangue começar a ferver. Porra! Mas que porra! Sim, Satoru fazia muita merda, mas isso era demais!
-Eu sabia que ele tava fazendo merda.- Maisha disse irritada, bagunçando os cabelos.
-Maisha.- eu disse, baixo, minha voz saindo mais mortal do que eu tinha planejado. Ela me olhou. -Você acha que ele pode ter aberto a bocona sobre nós pra Sawako?
Ela piscou os olhos e torceu o nariz.
-Ele é nosso melhor amigo...- ela sussurrou, mas a dúvida estava brilhando nos olhos dela.
-Ela não ficou surpresa sabendo sobre mim e Wakasa, Maisha.- eu disse. Uma parte de mim me achava uma filha da puta por desconfiar de Satoru, mas... Mas, ele tinha escondido isso de nós. Porque? Porque caralho de motivo?
De qualquer forma, tava me sentindo traída. Satoru sempre sabia de tudo, e tinha escondido isso da gente.
Ele me julgou por tudo o que eu fiz, mas estava fodendo com Sawako! Com Sawako, sabendo o quão filha da puta ela era, e depois de tudo o que tinha feito comigo e com Maisha?
Eu ia matar ele.
Eu ia matar ele por fazer uma merda dessas.
Eu ia matar ele.
-Nossa, que cara de velório é essa?
Lentamente, eu me virei, ignorando Maisha me chamando, ignorando o tom de alerta na voz dela.
Fixei meus olhos nos olhos claros de Satoru, no sorrisinho debochado dele.
E não pensei duas vezes antes de agarrar a camiseta dele e o prender contra a parede.
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