Espreitei o olhar para o meu calendário e torci o nariz, percebendo que só faltava três dias para meu aniversário e a única coisa que fiz foi pedir uma semana liberada em um dos clubes mais caros da cidade, mais uma vantagem de ter pais ricos e desesperados para me manter longe de qualquer isqueiro.

Sakura, a velha simpática que cuidava de mim, depositou um prato contendo uma fatia de bolo de morango e um café com leite. Acho que murmurei algum "bom dia" para ela antes de enfiar boa parte do bolo na minha boca, tirando meu celular do bolso e mandando uma mensagem rápida para Zuzu.

Tá legal, tenho três dias para organizar toda a minha festa e fazer meu aniversário de dezessete anos ser do caralho. Uma semana dava pra fazer muita coisa naquele clube...

Mordi os lábios, ansiosa enquanto esperava a resposta de Zuzu. Espero que ela esteja acordada nessa porra. Mas quando uma mensagem chegou, não foi a dela. Eu estava sorrindo que nem uma grande idiota antes mesmo de abrir.

"Tô com uma dor no peito.
Quero que seja amor, porque
se for infarto, nunca mais vou
ver você."

Soltei uma risada, passando uma mão por meus cabelos. Que droga, Shinichiro, é difícil não gostar de você mais do que deveria....

─ Esse sorrisinho, o que tá aprontando, Mai?─ Soltou Sakura de bom humor, como sempre.

─ Minha festa de dezessete anos.─ Falei, abaixando o celular e largando o mesmo na mesa depois de mandar só uma carinha feliz para Shinichiro, sabendo que isso seria o suficiente para que ele viesse atrás de mim.

─ Isso é bom, só fazemos dezessete uma vez e sempre bom aproveitar.─ Ela disse, sorrindo e como suas bochechas são rechonchudas, seus olhos sempre sumiam quando o fazia.

─ É sempre o que faço, Saku.─ Pisquei um olho na direção da mulher que riu.

─ Quebrar ossos todos os dias não é aproveitar, mas, sim, talvez beijar alguns garotos.─ Ela causou uma risada alta minha.

─ Ainda tô tentando saber porque você me trouxe para essa merda e não a Bulma.─ Resmungou Azumi pela milésima vez naquela manhã e como sempre, eu a ignorei. Andei pelos corredores, analisando os enfeites coloridos.

─ Bulma tá com o novo namorado dela.

─ E desde quando, a Bulma tem namorado?─ Perguntou Zuzu, agarrando uma tiara com orelhas de gato e ela não se importou antes de enfiar aquela porra no meio do meu cabelo. Soltei um grunhido quando o plástico da tiara arranhou meu couro cabeludo e não demorei muito para dar um tapa em Azumi.

─ Ai, porra!─ Ela rosnou e não demorou muito para que a gente estivesse dando tapas que evoluíram para socos, empurrões um pouco fortes demais que no final acabou com nós duas metendo a porrada uma na outra no chão mesmo.

─ Para com essa merda!─ Gritei no momento que Zuzu puxou meu cabelo e eu retribui o gesto, agarrando seus cabelos com força.

─ Puta do caralho! Vou meter meu pé tão fundo no seu cú que nem a porra do seu namoradinho vai tirar ele de lá!

─ E eu vou enfiar minha mão na sua cara! Tão fundo! Tão fundo que aquele loirinho nunca mais vai querer beijar você!

Azumi rosnou alguma merda e ela meteu a porra de um soco no meu nariz. No meu nariz! Aquela puta!

Gritei algo incompreensível e eu a chutei nas costelas, talvez muito perto do seu machucado porque ela gritou e me xingou. Pisquei os olhos, aproximando dela com preocupação. Ela tentou me afastar dela com um soco mas desviei e meti a mão na cara dela, analisando a camisa dela, para ver se estava sangrando.

─ Tá vendo, quer bancar a puta surtada e depois se fode.─ Falei, dando um tapa na testa de Azumi.

─ Vai se foder, porra!─ Ela me empurrou e eu a encarei por um minuto. Logo nós duas estávamos rindo que nem duas idiotas.

─ Por que você enche o cabelo de gel?─ Foi a primeira coisa que perguntei para Shinichiro quando ele me encontrou em seu quarto, rdeitada na sua cama e com os olhos presos na revista completamente duvidosa que encontrei pelo seu chão.

Cara, deveria ser impossível ter peitos desse tamanho, tipo deve ser tão pesado....

─ M-Maisha.─ Ele gaguejou, tropeçando um pouco para trás. Pisquei os olhos, virando a cabeça para o encarar.

─ Seu cabelo fica muito melhor sem gel, sabia?─ Shinichiro engasgou com o ar, depois de ficar abrindo e fechando a boca que nem um peixe.─ Aliás, essa revista é bem legal.─ Segurei o riso quando ele ficou vermelho, chegando até mesmo quase cair no chão quando deu um passo na minha direção. Balancei a revista em minhas mãos.─ É esse o seu tipo de garota?

Shinichiro engasgou mais uma vez com as palavras. E eu ri, sacudindo a cabeça.

─ O que foi, ein?─ Me levantei e andei na sua direção. Pisquei os olhos, guiando uma mão até o seu peito e me inclinando levemente para o lado. Seus olhos negros me fitaram, envergonhados o bastante.

─ Você tá linda hoje.─ Ele falou, depois de respirar fundo. O idiota virou o rosto, olhando para um ponto perdido no quarto. Soltei uma risada, dando uma cotovelada em sua barriga. Shinichiro se curvou, abraçando seu corpo.

─ Relaxa, gelzinho, hoje vai ser muito divertido.─ Falei, uma mão de minhas mãos acariciaram suas costas e me inclinei para depositar um beijão em sua nuca.

Shinichiro deve me achar muito escrota e tive certeza disso quando eu o dei uma rasteira fazendo-o cair de cara na areia. Soltei uma risada, me ajoelhando ao seu lado, vendo-o passar as mãos pelo rosto, tentando tirar todos os grãos. Inclinei levemente a cabeça para o lado, sorrindo.

─ Se a vida não me dá uma rasteira, é você que me dá.─ Ele disse, aquilo me fez rir. Seu rosto se virou e aqueles olhos negros me fitaram, parecendo analisar algo.─ Não sei se isso é bom ou ruim.

Estiquei minha mão, beliscando seu ombro levemente fazendo chiar.

─ Ao contrário da vida, beijo bem, isso conta, não é?─ Shinichiro riu e segurou meu braço. Não reclamei quando cai na areia em sua frente, na verdade nem tive como reclamar, já que foi piscar e ele estava grudando sua boca na minha.

Soltei uma risada quando o ar faltou e nos afastamos. O garoto guiou uma mão até meu rosto, retirando alguns fios do meu cabelo que caíram em minha tez. Ele abriu sua boca, pronto para dizer algo quando uma voz o cortou, afiada como uma lâmina, algo que fez com que meu corpo todo se arrepiasse e não de uma forma boa, de uma forma que quase me fez encolher.

─ Bom que está aproveitando.─ Gohan falou, suas mãos escondidas dentro de seu casaco e o queixo erguido de um jeito que mandava a clara mensagem que ele era superior a mim e a Shinichiro.─ Amanhã, temos reunião, Maisha. É melhor que não falte.

E só foi isso. Gohan foi embora deixando a certeza de que não importa o que acontecesse