˗ˏ FOURTY NINE.
Eu estava meio apaixonada pela Alemanha. Duas semanas tinham se passado, e isso foi o suficiente pra tirar toda a tensão que estava crescendo dentro de mim. Mesmo sendo obrigada a estudar coisas insuportáveis, nem mesmo isso era capaz de ofuscar toda minha animação. E tudo ficava ainda melhor ao perceber que a Alemanha estava tendo o mesmo efeito em Mai, curando algumas feridas que achei que jamais iam cicatrizar. Ter vindo pra cá foi, sem sombra de dúvidas, uma atitude maluca e precipitada, mas também foi a melhor que já tomei na vida. Precisávamos daquilo, desse tempo longe de todo o caos que tinha se instalado em nossas vidas.
Continuei andando pelas ruas de Hamburgo, sentindo o vento forte bater contra meu rosto e bagunçar completamente meu cabelo que agora estava comprido e possuia apenas algumas mechas roxas em contraste com o loiro escuro do restante.
Meu estômago já estava roncando, e nem tinha anoitecido direito. Mas o wue eu podia fazer? A comida ali era realmente muito boa! Apenas isso já fazia ter valido a pena largar tudo pra trás, enfrentar a raiva dos pais da Maisha e também...
Bom, a raiva de Wakasa que quase fez ele vir aqui só pra me arrastar de volta pro Japão aos berros.
Claro, já tínhamos superado isso. Admito que devia ter avisado ele com um pouquinho mais de antecedência o que eu planejava fazer, mas, pelo menos, depois que a raiva passou, ele me apoiou. Mesmo com toda essa merda de distância entre nós, ainda podia contar com ele.
Já Maisha...
Ela não falava sobre, então só podia presumir que não sabia nada sobre Shinichiro desde que chegamos aqui na Alemanha. O que ao mesmo tempo me fazia pensar que era melhor assim e me dava vontade de dar um soco nela pela imensa burrice.
Entrei no restaurante onde Mai já me esperava, um cardápio nas mãos. Achava incrível que, além de ter basicamente agredido verbalmente os pais por telefone, ela ainda conseguiu fazer eles darem um cartão de crédito ilimitado pra ela. Talvez eles realmente não tivessem ficado tão putos assim por ela ter deixado o Japão por um tempo, no fim das contas.
Suspirei, me largando na cadeira a sua frente e ela riu da minha cara de cansada. Se ela tivesse passado o dia inteiro tentando acompanhar o ritmo de um alemão frenético que não parava de falar sobre políticas de empresas, ela também estaria bem cansada!
-Você tá tão ocupada que esqueceu que dia é hoje, Zuzu?- ela cantarolou com um sorriso. Eu franzi o cenho.
-Como assim? - perguntei confusa, esticando a mão pra pegar o copo de água na minha frente e beber tudo de uma vez. Muito melhor assim.
Mai riu e balançou a cabeça, colocando uma pequena caixinha de veludi preto em cima da mesa, arqueando a sobrancelha para mim. Continuei completamente confusa.
-Sua anta, é seu aniversário de dezoito. - ela deu risada e eu pisquei os olhos.
Ah. Ah. Ah. Então era por isso que Saori e Wakasa não paravam de me ligar! Eu realmente deveria ter atendido eles, pelo jeito...
-Feliz aniversário, maluca.- ela riu, se jogando em cima de mim e me abraçando com força. Dei risada antes de retribuir, apertando Mai em meus braços. -Se prepara que hoje a noite promete!
-Tenho até medo de quando você fica agitada assim.- eu murmurei e ela cutucou minhas costelas, me fazendo chiar.
Mai voltou para seu lugar e empurrou a caixinha na minha direção. Apenas arqueei a sobrancelha para ela e Mai revirou os olhos.
-Abre logo, ridícula. É seu presente. - ela disse e eu estiquei a mão para pegar a caixinha.
-Tenho até medo de que tipo de coisas você pode ter comprado. - eu disse e ela riu.
Lentamente, abri a tampa para analisar o que Mai tinha me dado. Com a ponta dos dedos, puxei a pulseira de prata para fora. Era linda; e seu pingente era um açor. Pisquei os olhos e levantei a cabeça para olhar Mai com um sorriso.
-Eu amei.- falei e ela riu. -Obrigada.
-Temos pulseiras gêmeas!- ela cantarolou, balançando o braço onde finalmente vi a dela. Igual a minha;
Eu dei risada, não esperando mais meio segundo antes de colocar aquela pulseira no meu pulso. Por um tempo, apenas analisei o açor, tocando em suas asas.
Ser parte da Black Goshawk tinha sido algo importante demais na minha vida para ser apagado ou esquecido. Afinal, quem contruiu aquela gangue do zero fomos eu e Maisha, desde sempre. Não sei porque deixamos alguém como Sawako assumir aquela posição de liderança quando era óbvio que os suportes da gangue éramos eu e Maisha. Não sei porque deixamos, por tanto tempo, Sawako determinar o que era certo ou errado, o que deveríamos fazer ou não. Ela nunca teve esse direito. A Black Goshawk nunca foi e nunca vai ser dela.
Alguém precisava mostrar isso a Sawako.
-Sabe...- comecei, chamando a atenção dela. -Pensei bastante sobre fazer ou não uma faculdade agora que a escola acabou. Não sei se nasci pra isso, mas... Antes de entrar nessa vida de adulto, tem algo que eu quero fazer.
Mai me olhou com mais atenção. Parei de falar quando o garçom se aproximou com os pratos que Maisha tinha pedido para nós.
Dei um longo suspiro. Que cheiro maravilhoso! Isso aqui era uma obra divina. Talvez eu nunca mais volte da Alemanha! Os incentivos para ficar são grandes demais.
-Para de babar por causa da comida e continua, demônio.- Maisha disse rindo e me chutando de leve por baixo da mesa, me fazendo chiar. Fiz cara feia, massageando minha canela com a ponta dos dedos.
Eu suspirei, levantando a cabeça para fitar os olhos de Mai. Não sei o que ela viu em mim, mas foi o suficiente para fazer ela ficar séria de repente.
-A Black Goshawk é nossa.- eu disse por fim, de forma tão certa que não deixava espaço para dúvidas. -Ninguém respeita a Sawako, não de verdade. Ninguém gosta dela, isso sabemos muito bem. O que eu quero... É ter o gostinho de chutar ela pra fora da Black Goshawk, roubar isso tudo dela, fazer Sawako ser humilhada como ela fez conosco.
-E você acha que iríamos conseguir fazer todos se voltarem contra ela?- Mai disse arqueando a sobrancelha. Sorri com maldade.
-Isso vai ser o menor dos problemas, acredite.- cantarolei. Maisha riu. -Eu quero a Black Goshawk de volta.
Mai pareceu pensativa por um instante. E então, abriu um largo sorriso zombateiro que claramente indicava problemas.
-Então, quando decidirmos voltarmos, vamos fazer isso.- ela disse e deu uma risada satisfeita. -Vamos acabar com Sawako.
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