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Música (vou deixar à escolha de vocês): Come over, Jorja Smith feat. Popcaan/ Golden, Harry Styles/ Gooey, Glass Animals

{todas estão na playlist que vocês encontraram no meu perfil do Spotify - @mclarah}


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Eram quase seis da tarde quando minha campainha tocou. Eu não esperava ninguém em especial, por isso deixei o notebook e meu material de estudos em pausa para atender à porta. Só ao encarar os olhos castanhos do garoto esguio é que me lembrei que hoje era o dia do Taehyung.

Sinceramente não esperava vê-lo depois do "pequeno" abalo sísmico da última quinta-feira, quando eu, com uma ajuda qualificada, rompi o grupinho de amigos de Jung Hoseok entre aqueles que estavam pouco se lixando para quem eu deixava ou não de beijar e os outros, que defendiam a preciosa "irmandade". Não que as coisas fossem tão simples quanto colocar cada um dos garotos em um lado, os juízes da minha inquisição, decidir entre culpada e inocente para, no final, lavarem as mãos enquanto eu encarava a tela do meu celular tentando fazer a síntese do certo e errado, bom e ruim, analisando contatos bloqueados de um lado e mensagens por responder de outro. Homens julgando mulheres, nada de novo.

Óbvio que não era tão simples assim, mas, caso fosse, Taehyung, que me encarava com seu sorriso contido e olhos cerrados, estaria entre os juízes que me declararam inocente. Ou isso, ou ele só queria ter acesso ao seu estoque de entorpecentes que, estrategicamente, estava armazenado na minha dispensa. Independente do que fosse, ele estava aqui e não parecia só estar atrás de alguns paliativos para "curtir" melhor o seu final de semana.

Fazendo jus a nossa tradição, levamos o purificador de ar para a sacada dos fundos que manteríamos fechada por conta do frio e dos vizinhos, colocamos uma música para tocar e nos sentamos no chão. Enquanto isso, Taehyung fazia a sua arte. As palavras eram suas, antes que eu fosse acusada injustamente de fazer apologia a drogas. Eu só observava os seus dedos longos e lábios finos enrolarem com cuidado um cigarro de tabaco com cannabis enquanto Post Malone tocava no fundo. Clássica cena de jovens inconsequentes queimando frustrações no final de uma tarde de inverno.

Antes de acender, Taehyung encarou orgulhoso o seu trabalho e piscou para mim. A tal arte.

"Wook disse que essa é realmente boa, veio da Califórnia." ele deu de ombros sem muito acreditar na palavras do seu "fornecedor", antes de puxar o fumo para liberar, em seguida, a fumaça próximo ao purificador. O nosso pequeno "truque" para deixar o ar do apartamento limpo e, principalmente, manter os vizinhos curiosos longe.

"E você confia?" perguntei aceitando o cigarro e ele negou com a cabeça, esboçando um sorriso. Repeti seus movimentos com mais parcimônia, puxando o ar por menos tempo e observei seu sorriso finalmente se abrir por trás da fina cortina de fumaça. "Essas coisas... Até legalizarem, nunca saberemos mesmo o que tem aí." eu disse, nada otimista com a possibilidade. Quem sabe em um futuro remoto a Coréia, tão democrática, pararia de tutelar seus cidadãos como filhos de pais muito conservadores. Não que eu possa falar muito sobre a China.  

"E aí, noona." alguns instantes cortaram a sua fala criando de forma proposital uma espécie de suspense, ainda que eu soubesse o que ele queria perguntar. "O que me conta de novo?"

"Nada." silabei após soltar a fumaça pela boca e encostei minhas costas na parede, pensando.

Eu poderia dizer que não havia nada, em específico, na minha cabeça. Mas Circles do Post Malone havia chegado ao final e Sasha Sloan me lembrava Hoseok. Estava fora de cogitação pedir para Taehyung mudar a música. A última coisa que eu precisava era ser sacaneada por ter criado uma "trilha sonora" romântica para um não-casal. A única coisa mais antitética do que tudo o que não-fomos, era o fato de que eu ainda pensava nele, não como a pessoa com quem briguei em público e me bloqueara entre seus contatos telefônicos, mas como aquele que encostava nessa sacada de manhã cedo de samba canção, brilhando junto com o sol, uma xícara de café nas mãos e um sorriso de quem dizia bom dia sem precisar de uma palavra.

Que merda, Hoseok.

"Hm, entendi... É que não tenho te visto na faculdade ou em lugar nenhum..." após manter por mais tempo do que seria recomendado aquela fumaça no seu pulmão, Taehyung me passou novamente o cigarro, sorrindo displicentemente, como se respondesse com a arcada perfeitamente alinhada onde eu estive. "Tá se escondendo, é?"

Ele riu sozinho.

"Você sabe onde me encontrar." puxei o ar sentindo a fumaça arranhar minha garganta, soltando-a devagar em um suspiro aliviado. Talvez agora batesse. Fechei os olhos após devolver o cigarro para ele que exibia um sorriso amplo e enigmático.

Taehyung às vezes me lembrava aquele gato sorridente da Alice. Afinal, ele parecia ter todas as respostas, mas era como se preferisse que eu chegasse até elas sozinha ao invés de me contar tudo logo. Mesmo que o caminho fosse confuso e tortuoso. Perda de tempo, sabe.

"Taehyung-ah, você já namorou?" perguntei de forma despretensiosa, ainda que soubesse em partes qual era a linha de raciocínio que aquela pergunta encerrava, ou iniciava, talvez, sentindo a atmosfera se lentificar discretamente. De forma tão discreta que, se antes eu não estivesse ligada  no 220V por conta da quantidade exagerada de café que consumira nessa tarde, talvez não notasse. Certamente, eu não notara que meus pensamentos me puxavam, cada vez mais, para fora daquela sacada.

"Não, noona, e você?" ele apertou os olhos já um pouco avermelhados e posicionou o cigarro de volta nos lábios.

"Uma vez."

O que eu pensava, enquanto meus olhos focavam sem nenhuma intenção o vidro embaçado da pequena sacada e nos pequenos recortes de cozinhas de outros apartamentos, era em mim.

Talvez, para quem olhasse de fora, de uma daquelas outras sacadas, a movimentação do apartamento 305, as noites agitadas, música alta, conversa animadas, madrugadas fora, chegadas de manhã cedinho. Hoseok, Taehyung, Namjoon, os homens que me visitavam (alguns deles no passado mesmo). Vendo de fora, eu não parecia mesmo muito "recatada", deveriam pensar os meus vizinhos.

Vendo dali de fora seria mesmo difícil acreditar que eu tive um namorado. E não eram só os meus vizinhos que eram capazes de tirar conclusões apressadas sobre os meus comportamentos. Taehyung sabia que os corredores da faculdade tinham teorias mais criativas para a minha vida amorosa, e que estes sussurravam algumas coisas como, por exemplo, que eu fechei a cartela de bingo dos amigos do Hoseok. Sim, as coisas corriam rápido por lá e na segunda-feira algumas das garotas que antes já não me davam muito crédito, pois eu era "bonita e limpa demais para uma chinesa", seguiam com as mesmas caras de nojo e os narizes empinados, mas agora com o adendo de que eu era "promíscua demais" para os padrões coreanos recatados que, no fundo, eram puramente de fachada.

Por outro lado, os garotos me encaravam com uma curiosidade discreta (talvez não tão discreta), de quem supunham outras coisas sobre o tal bingo. Mal eles sabiam que os boatos eram tão confiáveis quanto Min Yoongi, vulgo, amigo fura-olho de Hoseok, ou irmão, como ele mesmo prefere. E além de faltar alguns "números" para completar o tal "Bingo", em todos os meus 23 anos, eu tive apenas um namorado. Portanto, eu estava longe de ser aquela que passava o rodo na faculdade e de quem as garotas deveriam, por precaução, esconder os seus namorados.

Sobre esse tal único namorado, éramos colegas de classe no ensino médio e sempre quando estávamos na mesma roda de amigos eu sentia minhas bochechas quentes e ele começava a gaguejar. Sim, patético. O seu nome não é muito relevante para essa equação, mas as pessoas costumam ficar incomodadas com histórias "sem nomes". Então, podemos chamá-lo de Yun.

As minhas amigas tinham informações que Yun gostava de mim e aposto que, da mesma forma os amigos dele, pois foi exatamente o que ele me disse no último dia de aula antes da nossa formatura. Eu e Yun vivemos um romance bem adolescente, incluindo passeios de mãos dadas pelas plantações de chá com o exclusivo intuito de nos beijarmos escondidos, além, é claro, dos extras impulsionados pelos hormônios à flor da pele dos nossos 17 anos.

E apesar de não termos tido tanto tempo juntos, aproveitamos de forma satisfatória nossos meses de férias, pois eu já sabia que faria a faculdade em Seul. Aquele era um planejamento de anos, por isso, a nossa despedida não foi surpresa para ninguém. Realmente surpreendente foi o fato de que eu julguei (em um lapso de consciência) que seria uma boa ideia me mudar para outro país e seguir namorando Yun.

Os primeiros semestres foram tão ruins que quando o tema é relacionamento à distância, tenho opiniões bem fortes sobre por que não, jamais, em nenhuma circunstância. Era difícil conter as crises de ciúmes de ambos os lados, pois eu conhecia as garotas da vila e Yun achava que todos os caras coreanos eram "ulzzang boys", idols, ou galãs de doramas. Não que os homens daqui não fossem bonitos... E é certo que se ele tivesse conhecido o grupo de amigos de Kim Namjoon, eu perderia toda a minha moral quando dizia "não é nada disso que você está pensando". Independente disso, Yun nem mesmo chegou a conhecer Namjoon.

Ele só veio a Seul uma vez, o bastante, porém, para entendermos que seria inviável. Eu não tinha planos de voltar para China tão cedo e ele já estava muito envolvido com o negócio dos pais para se mudar, além de não ser o maior simpatizante dos "americanos orientais", como ele apelidou carinhosamente os sul-coreanos. E, mesmo que o meu coreano precário e os olhares ríspidos tenham dificultado muito a minha adaptação, no final do primeiro período, eu já estava inserida em um pequeno grupo de amigos e me sentia muito mais em casa no pequeno apartamento em Hongdae do que na casa dos meus pais.

E por que eu contei tudo isso? Talvez seja por que quando temos dezessete anos não fazemos ideia das consequências em nos vinculamos emocionalmente a pessoas que não hoje sabemos que não fazem nenhum sentido na nossa vida? E mesmo que eu estivesse, realmente, apaixonada na época, o desgaste do término foi grande?

É talvez tenha sido por causa disso.

"Namorar dá trabalho, sabe..." comentei com Taehyung, observando a fumaça ser direcionada ao purificador, e notei os seus olhos curiosos sobre mim.

Ou talvez todo aquele caminho mental sobre o meu romance juvenil não fizesse nenhum sentido, a não ser para as sinapses trocadas pelo efeito da Cannabis?

Mais provável.

"Mais trabalho do que sexo 'casual?'" sua fala debochada, em que colocara casual entres aspas simuladas por seus dedos, explodiu em uma gargalhada. "Sei lá, pelo que parece..."

Revirei os olhos.

A hipótese de Taehyung sobre a minha linha de raciocínio fazia bastante sentido, para ser sincera. E talvez ele não estivesse de todo errado.

Por conta do meu "romance juvenil" e as crises de ciúmes de Yun, eu entrei um pouco atrasada na curtição universitária. Isso não impediu, contudo, que eu pegasse o ritmo rápido, ainda mais tendo como companhia Sun-Hee, minha colega de turma, e Jimin, seu quase-namorado à época.

Na primeira festa em que pisei, recepção dos novatos do curso de Comunicação Social, eu já estava no terceiro período e acabei na mesma roda que Namjoon. Havíamos sido do mesmo grupo em um dos infinitos seminários de Teoria da Comunicação e não demorou muito para ficarmos todos bêbados e amigos, firmando naquela noite uma longa e promissora parceria acadêmica e alcóolica. Namjoon era sempre o primeiro a chamar para ir embora, mas eu sempre conseguia convencê-lo a ficar mais e acabávamos, os quatro, voltando a pé para casa, rompendo as ruas vazias de Hongdae com risadas escandalosas e passos trôpegos.

Ah, a vida de solteira (de verdade) era ótima.

Contudo, o ponto ótimo da minha curva de solteira (de verdade) foi quando Hoseok inaugurou o nosso "lance' com aquele beijo natalino. E vocês sabem que depois do ponto ótimo, é só "ladeira abaixo".

Até então eu não tinha ficado com muitas pessoas e, definitivamente, não estava nos meus planos abrir mão em menos de um ano da minha "solteirice", após um término conturbado e com uma pequena lista de "pendências", dessas que eu sanaria levando para o meu apartamento. Uma dessas pendências com nome e sobrenome já definidos, vulgo, Min Yoongi.  A teoria, porém, costuma divergir um pouco da prática.

Na teoria era um beijo. Eu não esperava que aquela troca rápida de selares fosse dar do portão do meu condomínio direto para a minha cama de casal. Ou ainda que passaríamos (literalmente) juntos aquela virada de ano em Busan, na casa vazia da família de Jimin, transando no quarto de visitas, enquanto todos derramavam champanhe do lado de fora.

Não era como se eu levasse qualquer um para o meu apartamento, mas também não era como se Hoseok tivesse sido o primeiro. E, sem hipocrisia, eu sabia que ele não era qualquer um. Aquele tinha sido o envolvimento mais intenso dos meus 23 anos, pois demandava de mim uma carga emocional que nem mesmo o meu namoro me cobrou. E ainda que chamássemos aquilo de "sexo casual", na prática, a única coisa de casual daquele relacionamento eram as suas camisas de algodão oversized e as  joggers adidas no chão do meu quarto.

E dentro das possibilidades disponíveis para resolver a bagunça que ele deixava quando ia embora pela manhã, poucas horas antes do seu primeiro tempo, nem mesmo o melhor roteirista de séries melodramáticas poderia ter desenhado o barraco na boate em Itaewon, com direito a segurança nos "convidando para sair" e a "briga" entre melhores amigos praticamente irmãos, dando para a nossa equação um solução um tanto inusitada e trabalhosa. E, sobretudo, inacabada.

Talvez Taehyung estivesse certo sobre o meu caminho mental? Sexo casual poderia ser tão trabalhoso quando um namoro à distância, cada qual com os seus desafios. Era nisso que eu estava pensando, então?

Eu estava prestes a dar o braço torcer e deixar satisfeito o garoto já chapado à minha frente, vulgo, meu gato de Cheshire, quando a campainha tocou. Senti no fundo do estômago uma queimação imediata que representava o medo dos meus vizinhos me denunciarem e, no final, acabar presa em um campo de concentração no interior da China, mesmo que eu soubesse que eles não eram reais, ao menos não eram exatamente como a mídia internacional dizia. A questão é que o medo nos faz imaginar várias coisas passando em flashes misturadas na sua cabeça, enquanto você tenta contornar a realidade com ações desajeitadas que pretendiam ser ágeis e eficientes.

No meu caso, eu só consegui pisar no cigarro e apagá-lo, enquanto mandava Taehyung sumir com tudo que estava escondido no meu armário de produtos de limpeza.

"Se for a polícia eu vou te entregar, para de rir, seu idiota!" sim, no meio do meu desespero, Taehyung ria como se não estivéssemos ferrados caso fosse, realmente, a polícia. "Já vai ligando pro SeokJin, sei lá."

Aposto que ele não me levou a sério quando pedi para acionar o advogado recém formado do grupo e deixei-o para atender a porta. Esses amigos engravatados tinham que servir para alguma coisa além de explicar com cara de paisagem as notícias que envolviam assuntos jurídicos como se fosse tão simples como 2+2 são 4; ou de criar confusão todo final de festa por algum direito inalienável como, por exemplo, a tal cobrança inadequada de taxa de serviço em lugares com atendimento em balcão (sim, ele fazia isso todas as vezes e ainda sorria satisfeito quando conseguia o seu desconto). De qualquer modo, eu confiaria em qualquer orientação de SeokJin, pois além dele trabalhar para um desses escritórios que tinham no nome mais de três  sobrenomes de sócios formando uma unidade totalmente descombinada, diga-se de passagem, eu estava desesperada. 

O único ponto positivo, se é que podemos assim dizer, é que o meu  desespero conseguiu até cessar, em partes, o efeito da cannabis. Comemorei que meus olhos não estavam avermelhados quando ajeitei meu cabelo no espelho redondo que enfeitava a sala e, antes de abrir a porta, entoei um pequeno mantra prometendo voltar ao templo na próxima festividade.

"Puta que pariu, é você." soltei o ar como se estive segurando-o desde a hora que a campainha tocou. E talvez eu estivesse. Após analisar o visitante, porém, tive dúvidas se eu estava mesmo aliviada. Certamente, qualquer coisa era melhor que a polícia, até mesmo ele.

"Porra, que recepção." disse soando bem humorado e sua fala foi acompanhda de uma risada anasalda. Tive sérias dúvidas sobre abrir espaço para que ele entrasse ou não. "Estava esperando alguém?" neguei com a cabeça e apertei os olhos. "Eu não me incomodaria em entrar..."

Ok, então.

Dei um passo para trás e abri o espaço solicitado e encostei a porta, pensando que, sim, ele me incomodava com a sua presença não solicitada, mas não disse nada. Olhei para cantos aleatórios da sala, inclusive para o espelho redondo que me fez recordar da promessa ir ao templo, enquanto buscava algo para dizer. Ainda que, na verdade, ele que devesse fazê-lo. Antes, porém, que qualquer um de nós pudesse tomar iniciativa, a voz grave de Taehyung soou dos fundos da casa.

"Noona, quem é?" vi a minha visita franzir a testa.

"Não é ninguém." respondi e ele balançou a cabeça, fazendo uma careta, quem sabe  incomodado com seu rebaixamento a "ninguém". No caso, tinha sido só força de expressão, mas não me oporia se ele quisesse entender de outra forma. Eu tinha quase certeza que o meu silêncio tinha sido eficaz o suficiente, ainda que a sua presença atestasse o contrário.

"Desculpa aparecer sem avisar, mas também não é como se você me respondesse." ele disse simplista e deu de ombros. Certamente, o meu silêncio não havia sido eficaz.

As exclamações chapadas de Taehyung, por outro lado, era bem mais eficazes.

"Só um instante, tá... Se quiser, senta aí no sofá." dei de ombros, sem muito me importar em fazer sala para a visita inusitada, e voltei para os fundos do apartamentos, onde Taehyung seguia sentado no chão, agora mexendo no celular.

"O que o Yoongi tá fazendo aqui, pode me dizer?" encurralei-o, mas suas sobrancelhas arqueadas pareciam expressas que ele estava tão surpreso quanto eu.

"Ih, não olha pra mim." ele colocou a mão no peito, simulando um juramento antes de se levantar em um salto. "Mas eu já, entendi... Oh, peguei umas coisas e deixei o resto, já que não precisamos mais fugir da polícia."

Ele disse bem humorado, claramente debochando da minha cara, e ajeitou a bolsa no ombro, me deixando para trás ao seguir o seu caminho até a sala, mesmo antes que eu pudesse intervir. No caso, a minha ideia era mandar Yoongi embora, não Taehyung.

"E aí, hyung." eles trocaram um toque de mãos rápido antes que Taehyung parasse ao lado da porta, aguardando que eu a abrisse. Balancei a cabeça em negação antes de puxar a maçaneta e ele me pegou de surpresa quando deixou um baseado na minha mão. "Aproveitem."

Foi o que disse antes de nos deixar, com um sorriso, no mínimo, sem vergonha no rosto.

Taehyung, você me paga.

Larguei o cigarro sobre a mesa de jantar e antes de me sentar sobre o sofá conferi  rapidamente o meu reflexo e todo aquele conjunto desleixado de roupas. E caso eu não estivesse tão mais preocupada com a presença do Yoongi, per si, talvez me arrependesse de não ter escolhido nada melhor para ficar em casa do que um camisão branco e shorts de pijama, mas, azar.

Yoongi segurava o riso quando me sentei ao seu lado no sofá e mesmo que tenha respirado fundo, eu não consegui conter o sorriso que se abria em meus lábios com a brincadeirinha de Taehyung.

"Sabe que dizem que fumar e transar é ótimo." arregalei os olhos com a sua fala, extremamente, indiscreta, para não dizer obscena.

"Que?" olhei-o incrédula.

"Eu não costumo fumar maconha, mas posso abrir uma exceção." notei que ele contia um sorriso e eu me resumi a balançar a cabeça. Inacreditável.

"Yoongi, sério..." o repreendi.

"Eu tô só de sacanagem, May... Passei aqui porque queria saber como você está, você sumiu depois de sexta." se explicou, me encarando com um quase-sorriso escapando. Ele não parecia nada preocupado com o meu sumiço.

"Hmmm, então agora que você já sabe como eu estou..." quis antecipar o fim da conversa. 

"Sinceramente, você parece um pouco chapada. É aqui que o Taehyung pega aquelas coisas, então? Quando você falou que a sua família vendia chá, não imaginei isso..."

"Que? Yoongi, cala a boca." deixei que uma risada escapasse. Notei que ele me acompanhara, exibindo agora seu sorriso gengival, fechando os olhos pontudos, e quando notei, estávamos rindo juntos.

"Mas sério, por que você veio?" tomei fôlego depois da nossa curta crise de risos, encarando-o.

Tentei não me ater demais nos seus detalhes, como nos fios castanhos que escapavam pela lateral da boina preta, o suéter marinho e a gola de uma camisa social listrada que estava sobreposta ao tecido de lã. O seu nariz redondinho discretamente avermelhado, certamente, pelo frio que fazia lá fora e que o aquecedor interno nos protegia, as mãos que descansavam no estofado. Notei que definitivamente havia falhado na minha missão de não reparar demais nele, quando um sorriso discreto surgiu nos seus lábios ressecados e, ao subir os meus olhos para verificar porque ele sorria, vi que era pra mim. Fatalmente, nossos olhares se cruzaram.

Droga, eu sempre caia nessa.

Mas o que eu podia fazer se ele estava tão arrumadinho?

"Queria te ver. Preciso de mais algum motivo?" direto e cortante como o frio do inverno de Seul, este era Min Yoongi. Sua expressão suavizou, como se não estivesse dizendo nada de mais, e percebi sua movimentação, mesmo que discreta, no sofá, reduzindo nossa distância.

Que merda, Yoongi.

Eu ensaie mentalmente algumas coisas que eu poderia dizer, mas nenhuma palavra saiu da minha boca até estarmos a pouco mais de uma palmo de distância e sua imagem desfocar diante dos meus olhos para que eu entendesse o quão perto ele já estava, mais que o suficiente para me beijar. E, sem oferecer resistência, fechei os olhos já esperando pelo toque dos nossos lábios, como se fosse inevitável. Ou como se eu não quisesse evitar.

Um segundo depois, porém, nada havia acontecido.

"Hmm, você vai deixar eu te beijar, então?" ele soou provocativo e eu abri os olhos envergonhada e irritada, só para ver o seu sorriso satisfeito antes que sua mão fosse até minha nuca, emaranhado-se de forma delicada por meu cabelo, como se ensinasse o beijo que me daria em breve. Mordi o lábio inferior observando-o brincar comigo, já sem paciência.

Ah, quer saber? Foda-se.

Às vezes, inevitável é só uma digressão e muito mais uma justificativa do que uma condição que de fato impedisse qualquer outro comportamento. E, dessa forma, afastei seu braço do meu pescoço e foi a minha vez de colocar meus braços envolta do seu. Ele arqueou as sobrancelhas em resposta a meu ato impaciente e me levantei discretamente do sofá para alcançar de uma vez por todas os seus lábios. Inevitável, vejam só.

O primeiro toque foi rápido e nossas línguas se anteciparam, brincando entre elas de forma apressada. Muito concentrada nos seus lábios, não contei com o que viria em seguida. E bem mais rápido do que previra, Yoongi  aproveitou que eu estava inclinada sobre o sofá para me puxar para o seu colo, cercando minhas costas, enquanto sugava meu lábio inferior. Sinceramente, eu já estava refém o suficiente do seu beijo e, mais uma vez, não previ que ele fosse descer até o meu pescoço com uma trilha de beijos e que seria necessário conter o gemido discreto que estava preso na minha garganta.

Ok,ok. Longe demais, evitável, talvez?

Foi necessário partir o beijo para respirar. Aparentemente, ele também precisava.

Levantei do sofá ainda um pouco sem graça com o nosso contato repentino e intenso, já de início, e Yoongi se inclinou so sofá, tirando a boina e esticando os fios lisos para trás que, em seguida, caíram parcialmente por sua testa. Joguei meu cabelo para o lado bagunçando-o e arrumando-o de frente para o espelho, querendo retornar ao meu eixo. Não havia nem meia hora que estava pensando em Hoseok. Agora, meu coração batia acelerado e a razão da minha respiração ofegante já tinha outro nome completamente diferente.

De fato, esses não eram os meus planos. Desde da última quinta-feira, eu tive algum tempo para refletir e entre a primeira discussão que tive com Namjoon e a última conversa que tivera há pouco com Taehyung, algumas coisas haviam mudado, ao menos por dentro.

Aceitar que não havia nada de errado em beijar Yoongi não era só um consolo de mim para mim mesma, não mais. Eu não estava comprometida com ninguém e "ficar com outras pessoas" era a nossa regra e não a exceção. Se valia para Hoseok, deveria valer para mim. E, além de tudo, Yoongi parecia não se importar. E, da mesma forma, eu também não deveria. As premissas estavam claras, mas isso não significava que eu sabia como equacionar tudo.

A verdade é: eu não fazia ideia do que eu estava fazendo recepcionando-o de forma absolutamente inconsequente na minha casa. Será que ele sabia?

"O que estamos fazendo?" as palavras escaparam dos meus pensamentos para serem recepcionadas por uma expressão tranquila, praticamente inalterada, de Yoongi.

"Se beijando, não?" seu sorriso materializava de forma precisa a simplicidade debochada contida sua fala. E eu revirei os olhos. "Continuando o que não terminamos na quinta? Acertei?"

Revirei os olhos mais uma vez e foi inevitável lembrar de como Yoongi me trouxe até aqui e não quis entrar, alegando que não precisaríamos ter pressa, que seria melhor deixar a poeira baixar e que só queria se certificar que eu chegaria bem. Eu não sabia exatamente quanto tempo a tal poeira demoraria para baixar, mas, aparentemente, ele achava que uma semana era o suficiente.

"Você me entendeu..." alertei, prestes a perder a paciência, pensando que não faria mal, talvez, mandá-lo embora e dar um basta nos meus questionamentos.

"Mas é isso, estamos nos beijando. No caso, estávamos. Só. Por que você quer complicar isso?" Yoongi se levantou do sofá, caminhando em minha direção, e olhei-o incomodada com aquela pergunta que, certamente, não demandava uma resposta da minha parte. Ele sabia.

"Eu não quero complicar isso." minha resposta também foi retórica, até porque eu não saberia o que dizer, mas ela representava uma recusava expressa em ser a responsável por complicar as coisas. "Mas, e a tal irmandade? A poeira já baixou?" não consegui conter o meu tom debochado.

Talvez ocultar o nome do Hoseok da  minha pergunta tenha sido impensado, ou melhor, arquitetado pelo meu inconsciente, eu não sei. Yoongi, por outro lado, não se furtou e deu mais um passo em minha direção, antecipando à sua fala o mesmo sorriso cínico:

"May, foda-se o Hoseok. Eu não estou preocupado com ele, você está?"

Mais uma pergunta retórica. Ele sabia. Dessa vez, porém, ele não esperou que eu elaborasse qualquer resposta protocolar e foi procurá-la nos meus lábios, cercando meu corpo. E eu respondi aceitando sua proximidade, puxando seu suéter, colando nossos corpos, enquanto aceitava mais uma vez conversas partidas por beijos, corpos elevados do chão. No caso, o meu, elevado do chão para a mesa de jantar, as minhas pernas enroscadas em sua cintura, a sua mão arranhando minha nuca, as minhas puxando seu suéter para fora do corpo, respirações alinhadas em seu descompasso.

Nos afastamos, pois Yoongi queria a minha camiseta no mesmo lugar onde estava seu suéter e a camisa social que eu acabara de desabotoar, exibindo seu tórax para mim, antes de cair em um baque surdo no chão. Consenti com um aceno discreto e ele e puxou a barra da minha camiseta branca, arranhando delicadamente a minha pele, exibindo qualquer sutiã sem graça de algodão que eu usava para ficar em casa.

Antes de voltar à sua boca, fiz um sinal com as mãos, demarcando distância entre o toque das nossas peles, e ele apertou os olhos, me fitando confuso, quando levantei em um salto da mesa.

"May?", ouvi a voz rouca de Yoongi antes de seguir pelo corredor até a cozinha, atrás do pequeno objeto colorido que há pouco Taehyung segurava. 

"Fui buscar isso..." exibi o isqueiro, já com o cigarro — o presente de Taehyung — posicionado nos lábios.

A pequena chama tocou a ponta do cigarro. Senti uma queimação no estômago, enquanto induzia o cigarro a continuar aceso mesmo sem a chama, puxando e soltando ar discretamente, a combustão voluntária. Vi, por trás da fina cortina que a fumaça desenhava no ar, os lábios de Yoongi se esticarem em um sorriso satisfeito de quem sabia, tão bem quanto eu, atear fogo na minha sala sem precisar da ajuda do isqueiro.

Como é mesmo que diz?

Yoongi estendeu a mão, aceitando o cigarro, e eu aproveitei as minhas mãos livres para ir até o cós dos seus jeans escuros. Ele me ofereceu de volta, cada um puxou fundo aquela fumaça mais duas vezes antes que eu apagasse o cigarro na lateral de uma xícara esquecida sobre a mesa de jantar.

Ah... me lembrei.

A mão de Yoongi cercou minha nuca e emaranhou-se entre meus cabelos, antes que eu colasse nossos lábios, pressionando seu corpo contra a minha mesa de jantar. Jurei ter ouvido um gemido abafado escapar da sua boca, entrecortando o nosso beijo com o som do meu nome. Suspirei fundo e senti que, muito em breve, a cannabis faria efeito e eu abstrairia todo o resto. E eu não estava falando das provas da semana que vem. 

불타오르네

bultaoreune, em coreano.

Ou expressão para "clássica cena de jovens inconsequentes queimando frustrações no final de uma tarde de inverno" em mandarim.

📐

*syntax error (erro de análise) - mensagem que aparece na calculadora científica quando você comete algum erro no cálculo que o torna incoerente. Nas Ciências da Computação são erros na sintaxe da sequência de caracteres ou tokens entendidos pela linguagem de programação que os definiram (óbvio que isso foi pesquisado no google hehe).

📐

Helloooo amores! Como estão?

Me contem o que acharam? E as conclusões da equação do capítulo passado, mantém o resultado?

Se cuidem!

Beijos da Maria

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