11. BIA
Eiiiiii, que bom que vocês estão aqui de novo! Como vocês estão?
Decidi soltar o capítulo um pouquinho mais cedo, espero que gostem!
Boa leitura, Rapha <3
Mesmo que eu tenha investido muito dinheiro em um bom sofá, não recomendo nem um pouco dormir nele toda torta e amontoada com outro ser humano, dois gatos e um cachorro. Quando acordei no dia seguinte ao incidente com Zac, me arrependi profundamente de não ter tido forças para ir até a minha cama durante a madrugada. Ah, os erros que a gente faz de madrugada com sono e bêbada, dormi com vinte e poucos anos, acordei com oitenta e dois, talvez com uma pitada de adolescente que acorda depois do meio dia.
Ao meu lado, Lis ainda estava dormindo em uma posição nem um pouco confortável, com certeza eu não era a única com a necessidade de uma consulta com um quiropraxista. Com um pijama que eu tinha emprestado, ela estava babando na almofada e com o Gus deitado na barriga dela. É incrível como ele gosta de todas as visitas e me odeia, parece aquelas crianças que desmentem a mãe na frente dos outros. Quem vê ele dormindo daquele jeito, nem imagina os olhares de julgamento que eu recebo diariamente.
Mas se eu fosse meu gato, também gostaria dela. Lis mimou eles desde que chegou ao meu apartamento. Nós duas nos divertimos bastante assistindo um filme de terror, na verdade, ela se divertiu e eu me assustei, quando descobrimos que nós duas somos viciadas em Modern Family, assistimos uma temporada inteira até cair no sono.
Embora eu estivesse bem na maior parte do tempo, assim como a maioria das pessoas que recém terminou um relacionamento, durante a noite eu me peguei relembrando meu inicio de namoro sem motivos. Em um momento eu estava feliz por estar em de boas com uma ótima amiga, em outro eu estava questionando todas as minhas decisões dos últimos seis meses.
Toda a situação com Lis me lembrou de um dos meus primeiros encontros com Rodrigo. Nós dois tínhamos saído apenas duas vezes, uma vez com amigos e uma vez sozinhos, e eu precisei desmarcar o cinema com ele porque tinha pegado um resfriado terrível que me deixou de cama o dia todo. Quando ele descobriu o porquê do meu cancelamento, deu um jeito e em meia hora apareceu no meu apartamento com uma sopa de galinha, estilo sopa de mãe, e com vários bombons. Nós viramos a noite vendo Friends e jogando banco imobiliário, eu ganhei todas a vezes, embora não seja uma boa administradora do meu salário, ele tinha menos sorte.
Como Lis tinha sido, mais uma vez, uma ótima amiga pra mim na noite anterior, decidi preparar um café da manhã especial, mesmo que já passasse da hora do almoço. Com todo cuidado do mundo, me levantei do sofá sem acordar Lis ou Zac, já que se ele acordasse, iria latir e acordar todo mundo.
No entanto, meus planos de não fazer barulho e surpreender Lis foram totalmente frustrados devido a minha coordenação motora, ou à falta dela. Enquanto eu fazia malabarismos para tirar alguns pão de queijos do congelador e a assadeira do armário, tudo isso ao mesmo tempo, derrubei algumas panelas que estavam no armário, fazendo o barulho semelhante ao de uma manada de elefantes correndo sobre várias tampas de panela.
Como um ótimo trabalhador, Gus apareceu na cozinha para julgar mais um dos meus desastres. Logo atrás dele, Lis apareceu com uma cara de poucos amigos, cabelo despenteado e cara amassada.
—Eu tô tentando fazer uma surpresa pra você. —disse a tirando da cozinha. —Volta a dormir e depois se finge de surpreendida.
—Bah, acho que eu ainda tô dormindo. —respondeu ela e pela primeira vez a ouvi com o sotaque. —Tú sabe que horas é? Eu tinha que resolver umas coisas pra live.
—A gente dormiu a manhã inteira, já passou da hora do almoço faz tempo.
Embora eu não tenha conseguido convencer ela a voltar a dormir para acordar com o meu café da manhã mineiro e maneiro, Lis me pediu uma toalha emprestada para tomar banho e me deu mais tempo de terminar. Peguei uma das mais bonitas que eu tinha guardada, para agradar as visitas igual minha mãe tinha me ensinado, além disso, ofereci meu guarda roupa para que ela achasse alguma coisa que a servisse. Nós duas tínhamos corpos diferentes, ela era muito mais magra e alguns centímetros mais baixa. Dessa forma, a maioria das minhas roupas ficaria muito larga ou comprida demais.
Enquanto ela tomava banho, finalmente, pude continuar a preparar a minha surpresa, o típico café da manhã mineiro. O cheiro de pão de queijo assando era a maior lembrança da minha infância, embora os congelados que eu sempre compro no mercado não cheguem aos pés da receita da minha vó, combinado com o café torrado e moído no sitio dos meus avós. Tomar esse café é um vicio tão forte, que nem sei comprar café no mercado, pra mim são todos ruins, a solução é sempre voltar de lá com as malas cheias de café.
Minha ideia era montar uma mesa bonita para o café da manhã, estilo café da manhã de família rica de novela. No entanto, Lis estragou meu timing, pela segunda vez, terminando o banho antes do esperado. Quando ela reapareceu na minha mini-cozinha, o café estava terminando de passar pelo coador e eu estava tirando o pão de queijo do forno.
—Talvez eu deva dormir aqui mais vezes. —disse ao chegar. —Você entrou no modo full mineira nesse café da manhã. —completou tentando pegar uma das bolinhas gostosas.
—Ei, para de atrapalhar o meu café da manhã de novela! —reclamei.
—De novela?
—Sou uma pessoa criativa, na minha cabeça pode ser qualquer coisa.
Para completar meu plano de café da manhã de novela ou tumblr, dependendo da sua idade, nós precisávamos tirar todo o meu escritório da mesa de jantar. As pilhas de papel, a impressora, o notebook e meus bloquinhos de anotação que não tem um lugar especifico no meu apartamento, que se mudavam de acordo com a minha vontade de trabalhar.
—Isso tudo são ideias de textos? Como que você organiza isso tudo? —perguntou, enquanto me ajudava a limpar uma parte da mesa.
—Tem de tudo ai: ideias para matérias, perguntas que eu faria se pudesse entrevistar alguns corruptos, umas frases de efeito e alguns pedaços de textos que eu não tô nem perto de terminar.
—Você se importa de eu ler?
—Antes da gente comer sim. Você ousa deixar esse café torrado e moído pela minha avó esfriar?
Depois de comermos e Lis elogiar muito meus dotes culinários em fazer pão de queijo congelado e café, eu fui para cozinha cuidar da louça e Lis se sentou com todas as minhas anotações e com meu portfólio. Entre um garfo e outro, eu dava uma espiada nas expressões dela lendo. Sempre que alguém lia meus textos, surgia em mim uma ansiedade para saber a opinião dele, misturada com uma vergonha do que tinha escrito, era tão forte que eu chegava a ficar vermelha.
~*~
Um dos meus guilty pleasures, com toda certeza, é fazer faxina ao som de uma playlist chamada de Pop 2010. Sei que é vergonhoso, mas se não fosse, não poderia ser chamado de guilty pleasure. Quando esse assunto surge nas rodas de conversa todos negam, mas tenho certeza que grande parte da população tem esse mesmo gosto duvidoso, só que tem vergonha de admitir.
No meio da tarde, Lis precisou ir embora, como as suas lives começam no inicio da noite, ela sempre precisava de um tempo para se preparar. Como uma pessoa desempregada que já tinha perdido interesse em todas as formas de entretenimento disponíveis no apartamento, decidi que o melhor programa para o meu domingo seria uma super faxina. Nada como jogar agua e sabão pela cozinha para esquecer os problemas da vida.
No entanto, enquanto eu estava esfregando os azulejos da cozinha com todo o ódio que sentia por Fernando e ouvindo a melhor seleção de musicas da Taylor Swift, meu telefone tocou e o nome na tela me fez estremecer: Rodrigo <3. Fiz uma nota mental, eu tinha que mudar aquele contato, ou melhor, devia ter excluído o número logo depois do nosso término. O que eu fiz de verdade? Só arquivei nossas conversas e lutei pra não mandar nenhuma mensagem constrangedora.
—Ei, Bia! Como estão as coisas? Eu li a sua matéria e achei incrível! —A voz que eu convivi por anos falou pelo telefone. Meu coração ameaçou a errar as batidas, mas eu neguei aquele sentimento.
—Muito obrigada por ligar, imagino que você deve estar ocupadíssimo com o trabalho novo!
No inicio do ano, Rodrigo tinha conseguido um emprego como apresentador do jornal local, na seção de esportes. Meus pais eram os fãs número 1 dele, todos os dias na hora do almoço eles assistiam ao jornal. Segundo meu pai, ninguém opina sobre o grande Cruzeiro com tanta propriedade quanto Rodrigo. Sim, minha família ainda estava em um relacionamento sério com ele.
—Eu sempre tenho tempo pra você! Fiquei preocupado com você, sua mãe me contou sobre o que aconteceu.
Como eu disse, minha família e Rodrigo ainda estão em um relacionamento. Embora eu tenha terminado alguns meses atrás, todos ainda acreditam que eu iria sair do surto e voltar para a minha antiga vida. Minha mãe não tinha más intenções, mas ela fazia de tudo para eu voltar a ser a antiga eu, mesmo que isso não seja o que eu quero.
—Ela não devia ter te preocupar com isso. Eu estou resolvendo isso, já mandei vários currículos e estou esperando o concurso com os dedos cruzados.
—Dona Rosana não fez por mal, ela se preocupa com você. Quando ela me contou, tomei liberdade de mostrar alguns dos meus textos favoritos seus para meu chefe. Ele adorou e disse que se você quiser tem uma vaga no site pra você.
—Uma vaga? —Estava jogando com a minha cabeça, rezando para ser uma vaga bem ruim, um consolo e uma desculpa ótima para eu negar a oferta.
—Uma coluna por semana, duas mil palavras sobre o tema que você quiser e alguns textos simples para as noticias diárias. É uma oportunidade única Bia! Perfeito pra você! —disse empolgado com a vaga ou com a ideia de que eu voltaria a morar e a trabalhar perto dele.
Eu tinha perdido o jogo, era uma oportunidade perfeita, tudo que uma jovem jornalista podia querer. Mas aceitar significava voltar para Belo Horizonte e desistir do meu sonho, o Bizzie, tudo isso num momento em que eu estava com reais chances de conseguir.
—Nem sei como te agradecer, Rô. É uma ótima oportunidade, mas eu preciso de um tempo para pensar. Eu teria que voltar para BH, não sei se estou preparada para isso.
—Te entendo, acho que consigo segurar a vaga pra você mais alguns dias.
—Muito obrigada, Rô!
—Mas eu adoraria te ter de volta aqui!
Claro que ele me adoraria de volta lá, porque ele ainda acreditava que nós iriamos voltar. Que todos os nossos planos de casar, ter um apartamento legal e de onde nossos filhos iriam estudar, estavam de volta na mesa. Apesar de eu não exatamente querer tudo aquilo de novo, não podia negar, era um emprego muito bom, me pagaria bem e com certeza me traria satisfação profissional.
Por outro lado, voltar para lá, era voltar pra minha vida antiga. Voltar a viver no automático. Em cinco anos eu estaria casada e com um filho. Não que isso fosse algo ruim, eu só não sabia se era bom pra Beatriz que morava em São Paulo e que estava perto de uma vaga no Bizzie. Mais uma vez, eu estava escolhendo a incerteza de um sonho e não estabilidade, e, mais uma vez, tinha a sensação de que estava fazendo a coisa errada.
A pergunta que fica é: a Bia aceita a vaga em Bh ou espera o Bizzie? O que vocês fariam? Eu pessoalmente não teria sanidade para esperar, talvez ficassem com o mais seguro.
Espero que tenham gostado, por favor deixem comentário e se lembrem de votar! É muito importante pra mim!
Até o próximo capitulo, Rapha <3
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