10. BIA
Eiiii, como vocês tão? Preparados pra mais um capítulo? Eu tô ansiosa pra receber os comentários de vcs!
Boa leitura, Rapha <3
Depois do surto, vem a calmaria. Depois de todo o drama, de todas as lágrimas e, o mais importante, depois de ficar escondida do mundo real dentro do meu edredom por mais horas que o saudável, eu consegui levantar da cama e entrar no modo Planejadora Compulsiva. Nesse meu modo, as planilhas do excel que eu tanto fiz no estágio aparecem, as inúmeras listas de tarefas surgem em todos os pedaços de papel da casa e eu, simplesmente, esqueço das minhas necessidades básicas.
O objetivo dessa loucura? Organizar minha vida financeira, tornar o meu currículo irresistível e encontrar algum lugar que me desse um salário em troca das minhas palavras escritas com carinho, ou na força do ódio, já que a minha conta no banco não podia se dar o luxo de ser por amor.
Na manhã depois do furação, por causa do concurso, da live da Lis e de toda a divulgação de todos os amigos famosos dela, meu número de seguidores no instagram passou de 300 pessoas que eu conheci ao longo da vida, para pouco mais de 5 mil pessoas. Em pouco mais de doze horas, várias pessoas decidiram que eu era legal e que produziria um conteúdo interessante, elas esperavam isso de mim. Eu, Beatriz Ribeiro, nascida e criada no interior do interior de Minas Gerais, que até pouco tempo nunca tinha saído de um raio de 300 km da mãe, uma versão moderna da tia-velha dos gatos que passa os finais de semana no sofá comendo e vendo TV. Eu nem assisto BBB pra militar no twitter, na verdade, eu nem tenho um twitter. Essa era a pessoa que eles estavam seguindo a procura de entretenimento.
Na sexta-feira, acordei bem cedo e sai de casa junto com todos os trabalhadores de São Paulo. Eles não estavam todos dentro do meu apartamento, cada um saiu da sua respectiva casa. Depois de um boa sorte da minha mãe, um vai dar certo de Letícia e "você arrasa demais" de Lis, eu criei coragem e andei a manhã toda, entrando em todo escritório de jornalismo que encontrei no google e entregando a versão mais elegante do meu currículo, na esperança de não precisar escrever as mensagens do saquinho de pão.
Estava sentada em uma das muretas do MASP, tentando recuperar o folego depois de andar pela Paulista debaixo do sol do meio-dia, quando meu telefone tocou e o nome de Lis apareceu na tela.
—Então? Já tem alguma notícia de algum lugar? —me perguntou assim que eu atendi. Eu ri da grande esperança dela, só os mais otimistas para acreditar que meu pedaço de papel iria magicamente se destacar na pilha e que eu estaria contratada na primeira manhã entregando currículos.
—Ai Lis! Nem os duendes do Papai Noel são contratados tão depressa. Olha que eles são os únicos que podem produzir os brinquedos do natal e tem que fazer para todas as crianças do mundo. —disse e ela acabou rindo do outro lado da linha.
—Você deveria voltar pra casa, está muito quente pra ficar longe de um ar condicionado.
—Você sabe que eu não tenho um ar condicionado, né? Eu volto pra minha casa pra passar calor e chorar porque estou desempregada.
—Você pode parar de drama, com o sucesso que sua matéria está fazendo, você vai poder escolher onde quer trabalhar pela localização do escritório.
—Eu acho que eu escolheria home-office. — Desde que me mudei para São Paulo, meu segundo maior sonho era não ter que pegar o metrô lotado todos os dias de manhã e a tarde.
—A gente devia sair para comemorar hoje. —mudou de assunto.
—Eu não estou muito no clima pra sair. —desconversei.
Eu estava no clima de sair, minha vontade era beber até esquecer os meus problemas ou meu nome, o que viesse primeiro. No entanto, minha situação de desempregada não me permitia outra conta de três dígitos em alguma balada, na verdade, nem quando estava empregada minha situação bancária permitia.
—Você não quer aparecer lá em casa hoje? Eu faço um strogonoff divino e a gente pode se fingir de velhas ricas e tomar vinho. —Eu podia me dar o luxo de comprar um creme de leite.
—Assim que eu terminar a minha live, eu apareço na sua casa com uma garrafa com alguma mais forte que vinho. —disse rindo e me fazendo rir também.
Como a live de Lis sempre terminava tarde, decidi voltar pra casa e descansar. A manhã andando pela cidade, apertada no metrô e fazendo uma sauna não intencional no sol quente não me caiu bem. Depois de envelhecer alguns anos e perder alguns esforços de skin care, tudo que eu precisava era um banho gelado, pijama e cama.
~*~
Minha soneca da tarde foi tudo que eu podia pedir, enquanto caminhava para o mercado, consegui andar sem sentir as bolhas no meu pé. A brisa de inicio de noite quase compensou o calor da manhã. Apesar de pagar mais caro que eu devia, meu bairro é fofo, infelizmente, teria que me mudar dali caso não conseguisse um emprego rápido, talvez até saísse de São Paulo.
Para minha surpresa, a caixa que sempre me atende com um sorriso no rosto e com quem eu converso sempre que faço compras, me perguntou da minha matéria. Segundo ela, a filha mais velha tinha mostrado meu texto e meu instagram para ela. Fiquei muito feliz quando me disse que tinha adorado o que eu tinha escrito, que a filha dela tinha explicado sobre o feminismo e que agora ela se considerava uma feminista.
—Um absurdo o que falaram daquela sua amiga! —disse enquanto eu já terminava de colocar minhas compras na sacola. —Vou rezar pra você conseguir o concurso menina!
Assim que terminei de subir os quatro lances de escadas, notei algo estranho, Zac não estava latindo como sempre fazia quando eu chegava. Abri a porta enovamente estranho, ele não estava me esperando para lamber. No lugar dele, Amelinha estava dormindo no sofá e Gus estava andando de um lado pro outro, quase como se estivesse me esperando chegar. Ele começou a dançar entre as minhas pernas enquanto eu colocava a sacola em cima da mesa. Não satisfeito em quase me derrubar, resolveu me arranhar e só parou quando eu o peguei no colo e comecei a procurar Zac pelo apartamento.
Como moro em um cubículo, o único cômodo que ele poderia estar era o meu quarto. Assim que entrei no quarto, entendi tudo que estava acontecendo e o porquê Gus estava tão ansioso para que eu fosse para o quarto. A cena me causou pânico, meu espelho que sempre ficou preso na parede, tinha se soltado e estava em mil pedacinhos no chão, Zac não tinha me recebido porque estava deitado na caminha dele e quando me viu começou a chorar.
Assim que cheguei perto dele vi o motivo do choro triste, um dos pedaços do espelho tinha o cortado. O susto, misturado com o sangue, me fez surtar mais que o necessário. Em alguns segundos eu agi quase como um robô. Peguei uma toalha e enrolei nele, tranquei os gatos fora do quarto para evitar mais acidentes e chamei um uber, em menos de 10 minutos eu estava no consultório do veterinário mais próximo da minha casa.
Quando o veterinário conseguiu me acalmar e disse que não era nada muito grave, mas que Zac iria precisar de alguns cuidados, eu me sentei na sala de espera e mandei uma mensagem cancelando a noite para Lis. Queria passar um tempo com ela para me distrair, mas, infelizmente, eu não conseguia deixar Zac a noite toda sozinho. Apesar da sala de espera estar cheia de animalzinhos fofinhos e que em um dia normal eu teria dado um jeito de brincar com cada um deles, eu estava chateada. Meu maior entretenimento era contar até sessenta e ver o digito do relógio na minha frente mudar.
Quando eu estava próxima de parecer uma pessoa com algum tipo de problema mental, meu telefone vibrou chamando a minha atenção, era uma mensagem de Lis.
"Zac tá bem? A Letícia tá com você?"
Ela estava começando a me conhecer bem. Era de se esperar que Letícia estivesse comigo na sala de espera, ela estava comigo o tempo todo. No entanto, naquele momento ela estava dentro de um ônibus em algum lugar entre São Paulo e o Rio de Janeiro, a caminho de um final de semana com a família. Era eu e aqueles animais fofinhos com seus donos naquela sala de espera.
A coloquei por dentro das informações e ela não demorou nem um segundo para responder.
"Me manda a sua localização, vou te encontrar ai!"
"Você não precisa vir. Vai ficar tudo bem" Digitei em resposta.
Eu faria bom uso de uma boa companhia enquanto esperava o veterinário terminar de examinar Zac e, para as minhas esperanças, desse alta para ele. Mas sabia que Lis estava em live, pedir para que ela parasse e fosse me fazer companhia era estúpido. Eu queria ela ali, mas também não podia pedir isso.
Embora eu tenha resistido por educação, ela insistiu um pouco e eu acabei enviando a localização da clinica, mas fiz ela prometer que viria só quando terminasse a transmissão.
Não adiantou nada, já que quarenta minutos depois ela entrou na clinica que estava mais vazia. Lis se sentou do meu lado e me abraçou. A pele dela estava fria por causa do vento gelado e mesmo assim o abraço dela era bom e confortável. Lis sabia como dar um abraço e como oferecer um ombro amigo. Isso é uma das coisas que eu mais amo sobre ela.
—O veterinário disse mais alguma coisa? —perguntou depois de algum tempo me confortando.
—Nada de novo, só que Zac vai ficar bem. Ele disse que logo nós vamos poder ir para casa.
—Que bom! Significa que não foi nada tão grave.
—Pode até não ser grave, mas eu surtei quando cheguei no quarto e vi a cena.
—Imagino o que deve ter sido. Não foi sua culpa, podia ter acontecido com qualquer um.
—Tô tentando não pensar nisso, mas minha cabeça fica tentando buscar coisas que eu poderia ter feito pra evitar isso. Talvez se eu tivesse conferido o espelho mais vezes, ou tivesse fechado a porta do quarto. —desabafei tudo que estava na minha cabeça.
—Você sabe que não podia fazer nada, a gente pode tentar falar de outras coisas. —ela disse apertando ainda mais o braço ao redor dos meus ombros. —Essa noite eu sonhei que estava sendo cozida em um caldeirão de bruxa.
Eu ri alto, agora estávamos só nós duas na sala de espera e o relógio á marcava o inicio da madrugada. Desde que nós nos conhecemos foi assim, o tempo com ela passa muito mais rápido, o dia fica mais alegre perto dela. Eu consigo ser mais natural e leve, consigo rir sem pensar muito ou ficar pensando no que os outros acham de mim. Apesar de que, se fosse possível ler mentes, eu pagaris qualquer preço para saber o que ela achava de mim.
Muitas vezes, desde que eu a conheci, eu me pegava pensando nela mais do que deveria. Não de um jeito romântico é claro, já que eu nunca me interessei em garotas, embora eu ache que ela seja uma ótima pessoa para se relacionar. Eu acreditava ser só admiração, nada demais. Lis é uma mulher foda pra caralho que é super independente. Em resumo, ela é tudo que eu queria ser.
Próximo das duas da manhã, Zac foi liberado pelo veterinário. Graças à todas as forças que eu pedi, ele estava bem e felizinho, assim que me viu deu um latido de alegria e começou a me lamber. Como foi a primeira vez que se encontravam, Lis ficou toda bobona brincando com Zac e ele também ficou animado com toda aquela atenção.
Nós três fomos direto da clinica para meu apartamento e como já era muito tarde, convidei Lis para passar a noite. Ela aceitou e eu cumpri minha promessa do strogonoff perfeito, mesmo que fosse as três da manhã. Terminamos a noite jogadas no sofá, assistindo Hereditário. Como sempre, me caguei inteira com o filme. Nunca sei porque digo sim para filmes de terror.
Eae, gostaram? Conta pra mim, pode deixar comentários positivos, críticas, agradecer a ciência pela vacina, me deixa feliz! Não esquece da estrelinha!
Agora me digam uma coisa, não mexe com os nossos pets, né? A gente perde a noção, eu fiquei com o coração na mão quando tive que escrever o acidente do Zac. Ele é nosso neném e vai ficar em segurança daqui pra frente!
Até o próximo capitulo, com amor, Rapha <3
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