O acordo
Os dedos de Bia tamborilavam impacientemente na mesa da lanchonete. Ela não gostava daquilo, nem um pouco. Helô tentava acalmar a situação e pediu um refrigerante para Bia. Coca com cereja, o favorito dela. Ainda assim, Bia colocou o refrigerante de lado assim que a garçonete o trouxe e olhou para o relógio no seu celular.
"Mais cinco minutos e eu vou embora.", avisou mal humorada.
"Bia, fica calma, vai! Isso é pra Gamex!", lembrou Helô, e Bia respirou fundo.
"Eu não sei porque deixei você me convencer a isso. Eu não suporto o Bêne, ele não me suporta, e a gente não se fala tem um ano.", falou agarrando o refrigerante que havia deixado de lado e roubando alguns goles da bebida.
Helô olhou nervosamente para a porta. Ela viu um casal entrando com seu filho, e depois duas mulheres que pareciam ter acabado de sair do seu trabalho no escritório; mas nem sinal de Bêne. A situação era delicada, e o temperamento de sua prima poderia pôr tudo a perder. Ela só esperava que Bêne não se atrasasse mais do que os vinte minutos que já haviam se passado.
"Bom, como você vê, não dá pra contar com ele. Ele tá sempre atrasado e aposto que nem te avisou que ia atrasar e nem que horas vai chegar. Por essas e outras que a gente terminou!", falou Bia dando um último longo gole no seu refrigerante antes de se levantar, "Vamos embora, vai!"
Helô estava prestes a impedir Bia e pedir mais alguns minutos, quando uma voz animada irrompeu pela lanchonete.
"Lôlo!", chamou e Helô sabia quem era. Ela respirou aliviada ao ver a figura de Bêne e Camilo aparecendo pela porta. Bia fechou a cara e voltou a se sentar, preferindo encarar seu refrigerante quase vazio do que o garoto que se aproximava da mesa delas.
"Desculpa o atraso, florzinha, mas eu estava no meio de uma live.", explicou pegando a mão de Helô e beijando, tal qual um cavalheiro. "Mas antes atrasado do que não aparecer.", completou com um sorriso extremamente carismático.
Bia não disfarçou a revirada de olhos que essa fala lhe causou. E Bêne pousou seus olhos nela.
"Beatriz", cumprimentou em um tom de voz sério e um simples aceno de cabeça.
"Benedito.", repetiu a garota com o mesmo humor.
Camilo e Helô que estavam conversando a parte presenciaram o momento, e perceberam que era a hora de intervir antes que algum deles iniciasse uma discussão.
"Gente, obrigada por terem vindo.", começou Helô e Bêne a interrompeu.
"Tudo por você, lindinha.", falou, voltando ao seu tom amigável.
Bia deu uma suspirada impaciente.
"Lô, melhor você fazer uma versão resumida, porque já deu pra perceber que tem gente que não vai te deixar falar."
"É sobre a Gamex!", falou Helô rapidamente após perceber que Bêne estava prestes a responder a provocação de Bia. "Vocês devem ter visto, né?"
Camilo assentiu.
"Impossível não ver, a internet quebrou ontem!", falou o menino ajeitando seus óculos. "Todos os grupos de games só falavam disso."
O garçom veio para anotar os pedidos dos outros dois que haviam acabado de chegar. Depois que Camilo pediu seu hambúrguer com fritas e Bêne o seu sundae, Bia aproveitou para pedir mais uma coca com cereja, e Bia viu Bêne revirar os olhos.
"Que?", perguntou a garota de forma acusatória.
"Nada", Bêne deu de ombros e fingiu nem saber do que Bia estava falando, e isso a deixou realmente irritada.Mas Bia respirou fundo e tentou se conter. Helô tinha posto muito trabalho pra esse encontro, e se ele fosse um desastre não seria por culpa dela.
"Eu acho que é uma ótima ideia!", falou Camilo empolgado após Helô contar seu plano, "Os vídeos que a Bia e o Bêne fizeram juntos são os mais visualizados do canal e recebem comentários até hoje."
"O mesmo pra gente.", disse Helô, "Por isso acho que vai ser uma boa ideia."
Bia e Bêne não falaram uma única palavra. Bia estava ocupada demais vendo um papel de bala voar pela rua através da janela, e Bêne observava com atenção uma mancha de ketchup na mesa.
"Eu sei que a relação de vocês não é a melhor agora." falou Helô chamando a atenção dos dois, 'Mas vocês acham que daria pra fazer esse esforço?"
"É uma chance na Gamex, cara!", falou Camilo, "Se você quer trabalhar com games, seria uma coisa mais do que incrível pro currículo."
Ao ouvir isso, Bia olhou imediatamente pra Bêne, e ao ver que ele também a encarava, ela desviou o olhar. Bêne respirou fundo e assumiu uma postura pensativa. A expectativa de Helô e Camilo era tão alta, que eles nem perceberam quando suas comidas chegaram.
"Posso falar com você à sós?", perguntou Bêne olhando para Bia.
Bia assentiu, e depois de lançar um olhar assegurador para Helô, seguiu Bêne para o lado de fora da lanchonete. Era uma rua normal, como outra qualquer. Pessoas passando de um lado para outro, e carros atravessando. Bêne se recostou na janela do prédio da lanchonete e Bia apenas o encarava. Ele a chamou, ele que iniciasse a conversa.
"O que você acha?", perguntou.
"Eu acho uma péssima ideia.", respondeu direta, "Mas a Helô tá muito confiante e...bom, a Gamex é importante pra mim, sei que ela é importante pra você também."
Bêne pareceu ponderar, até que finalmente sorriu.
"Quão mais podemos brigar, não é mesmo?", disse.
"Isso é um desafio?", rebateu Bia confusa com o súbito bom humor dele.
Bêne riu.
"Não, é só que...nós já fomos amigos, já namoramos, já terminamos, então bom...não tem muito mais pra onde ir.", explicou e Bia deu de ombros.
"Acho que sim.", concordou.
"Bia, eu só não quero forçar nada. A Gamex é importante, mas não quero trabalhar com você se você for ficar desconfortável."
"Você vai ficar?", perguntou a garota subitamente
Bêne a olhou diretamente nos olhos e sorriu confiante.
"Não, eu tô bem."
"Eu também tô bem", assegurou, "Se um de nós deixar de ficar bem, a gente para, que tal?", sugeriu séria e Bêne assentiu.
"Fechado, é um acordo!", e os dois apertaram as mãos.
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