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The False and Corrupted Goddess

– Idêntica, não é? – David exclamou com a satisfação escorrendo como veneno pela sua voz aveludada, provocando arrepios de terror e repulsa no Pecado da Inveja. Thanatos lutou para digerir tudo que testemunhou, não evitou que a perplexidade a dominasse.

Emanando uma aura fraca, como uma chama bruxuleante sob a influência do vento, que suportava a violência contra ela empregada, imóvel feito uma boneca de cera, ela preservava a expressão facial enrijecida, aparentando estar presa em um imaterial sono eterno, sem nenhum esboço de vida. Seu olhar aturdido e delirante, passeou sobre a desfalecida mulher, assimilando todas as curvas e formas que constituíam sua frágil e vulnerável casca.

O cabelo lembrava chocolate derretido ondulante, dividido em mechas e enrolados em redemoinhos que, por mais caótico que lhe pareciam, possuíam certo padrão e seu comprimento espesso seria facilmente capaz de cobrir sua nudez em um contraste com a palidez cadavérica.

Moveu a mão sobre as narinas e a boca para um exame superficial de respiração para certificar-se que, de fato, tratava-se de uma morta. Reparou também que havia alguns Espectros rodeando, provavelmente vítimas dos experimentos de Amon.

– Se não é a Diva... – mirou David com os olhos arregalados, ofegando desconcertada. – Oh, céus... Isso não é possível...

– Não seja tola, Thanatos. – balançou a cabeça sem perder o humor sarcástico. – Não há nada que com tecnologia e recursos – elevou a mão que resplandecia com um doentio tom arroxeado, frisando a vantagem que os qualificava num patamar muito acima dos seres humanos. – Não possam nos fornecer.

– Mas a Arya está morta, a alma dela reencarnou – cortou o discurso do ex-amante com ressentimento. – Mesmo tendo trazido a carcaça dela, não passa de um recipiente vazio!

– E é por isso que será você a enchê-la – o sorriso diabólico que desenhou-se nos lábios dele fez Thanatos temer com o real propósito daquele plano absurdo. – Diva será um problema pra lidar, ainda mais com os filhos de Sparda. Não podemos permitir que tudo que foi feito para o nosso Senhor renascer seja em vão. Ele precisa de tempo para se restabelecer e Arya garantirá que isso se conclua.

– Você vai usar uma encarnação para combater a outra? – indagou mais horrorizada, mas não confiava totalmente de que David planejara algo tão simples com um único intuito.

– Dúvidas? – pressionou com força medida o queixo da companheira, obrigando-a a encará-lo. Thanatos praguejou mentalmente a fria capacidade dele de dobrá-la, de que, mesmo detestando o monstro que se transformou, não detinha forças para libertar-se das amarras. – Você é minha subordinada e minhas ordens são absolutas. Agora faça o que deve fazer, Thanatos.

Um vulto familiar projetou-se próximo ao corpo, ligando a outra maca na qual uma jovem se debatia, aterrorizada.

– Está tudo conforme o combinado, David – Amon pronunciou-se, seu semblante sombrio e extasiado de uma forma que Thanatos odiou.

– Ótimo.

David recordou a primeira vez que deparou-se com o cadáver de Arya há alguns meses. Impressionou-se com o estado de conservação dos restos mortais; Sparda teve cuidado especial com o descanso final dela e utilizou algum encantamento para evitar que o processo de decomposição a tornasse ossos secos e poeira devido ao longo tempo após a morte. Ao redor dela nasceram flores de diversas espécies que acabaram tomando conta, misturando-se e enrolando-se nos fios castanhos.

Havia resquícios de pequenos fluxos de energia do Lendário Cavaleiro Negro, o brilho de um roxo escuro que a cercavam, pulsando continuamente em um ciclo de renovação. Fazia mais de trezentos anos que ela partiu e seu espírito se separara da matéria, renascendo em outra jovem – a tão problemática Diva. Os cabelos, pelo que sua memória registrou na época – na véspera do confronto –, estavam curtos, mas agora, inspecionando-a meticulosamente percebeu que eles cresceram absurdamente, cobrindo-a em determinados pontos, escondendo sua nudez de olhos interesseiros e ímpios. Aquilo não era comum, mas chegou a conclusão que a magia em si deve ter estimulado esse crescimento anormal, fortalecendo funcionalidades corporais que bravamente resistiram ao falecimento. Embora estivesse envolvida por tais proteções, ao tocá-la, sentindo a frieza e rigidez da pele, ficava evidente sua condição. As mãos estavam repousadas endurecidas sobre o abdômen, os dedos entrelaçados com aspecto de congelada em uma única posição.

Na ocasião, eles necessitavam dos restos mortais de Arya – mais precisamente seus órgãos e ossos ou o que sobraram deles – para indução do círculo e a quebra o último selo e, deste modo, trazer Sebastian de volta a vida após intermináveis séculos aprisionado. Tiveram que violar o túmulo escondido, também obra de Sparda, e pegá-los. Ninguém esperava ela ainda estar em sua forma física impecável, intacta, intocada, considerando a ferocidade da passagem do tempo e as ações da natureza sob qualquer criatura, sem exceção.

Reunidos sob uma luminosidade gentil e inócua, extraíram os órgãos e ali, naquele instante, descobriram que ela não possuía um coração.

– Tem certeza que é uma boa ideia, David? – questionou Jae, o indiferente Pecado da Ganância.

– Fique tranquilo, isso é necessário – sorriu.

O grito desvairado e engasgado da mulher interrompeu o devaneio preenchendo o ambiente, tirando-o de sua linha de raciocínio. Olhou indiferente para a vítima contorcendo-se na frenética e infrutífera batalha pela liberdade e que seria usada para completar o corpo de Arya com vísceras e sangue, principalmente na implantação de um coração. Ela não parava de chorar e implorar pela própria vida, como um animalzinho acuado e assustado próximo ao iminente fim. Sua serventia se limitaria ao ritual de reestruturação do cadáver, de maneira que, nada significava salvá-la. Seu clamor era inútil – tudo que faria naquele intervalo não adiantaria, além de gastar energia improdutivamente.

Para a escolha de compatibilidade, avaliaram o porte físico, incluindo semelhanças que iam desde a estatura e idade a cor de cabelo. Talvez devesse uma ínfima parcela de sucesso a crença de que exista cópias de cada pessoa espalhadas pelo mundo. Se, é claro, fosse um tolo que acreditasse em sandices que a imaginação fértil e tendenciosa dos humanos produzia. Amon sorridente, segurando um bisturi que reluziu em um feixe de luz prateado, iniciou a cirurgia de remoção com a jovem lúcida, sem auxílio de qualquer medicamento para entorpecê-la. Ela berrou ensandecidamente com a carne cortada a um ritmo progressivamente demorado, jorrando sangue do esterno ao ventre, desenhando uma oblíqua linha carmesim, porém a agitação não durou muito. O sangue obstruiu suas vias respiratórias em incontáveis vezes, obrigando-a a parar. Os olhos vítreos revelavam vasos dilatados e escutou o borbulhar da respiração asfixiada, o sangue escorria pelo canto dos lábios.

– Vinte e sete anos. 1.75. Tipo sanguíneo O... – o Pecado da luxúria catalogou audível, como se estivesse ditando um relatório.

David assistiu a tudo sem comover-se com a desafortunada garota que estava nos últimos estágios de consciência, pendendo entre a escuridão acolhedora e a luz dolorosa. Não soube ao certo quando ela realmente parou de lutar, mas estimou cerca de trinta minutos de pura agonia apresentada por ela antes de seu último suspiro.

A transferência foi rápida; Arya estava inteira abstratamente falando. No entanto, não fora suficiente para reanimá-la. Thanatos contragosto, desempenhando seu papel invocou uma poderosa e proibida Magia Antiga que a acordaria, uma na qual poderia ultrapassar e desrespeitar as leis da morte. Dentre os Sete Pecados, ela era a única detentora de tal poder, portanto a única capaz de realizar tamanha proeza. O ato de transgredir um tumulo e um cadáver é tido como um crime bárbaro na qual nenhum deles temia represálias ou punição, recorrer a outro delito também não representava em nada.

Amon jogou partes do cadáver da jovem sacrificada para os Espectros que devoraram-na com ferocidade.

Um fluxo de luz esverdeada adentrou o corpo e, aos poucos, ela esboçou um espasmo involuntário. Um movimento tímido e sem grande afetação. Ajustando-se a claridade que a cegou minimamente, Arya levantou lentamente da cama, vagando os olhos castanhos-esverdeado opacos por toda extensão do local e os presentes sem sinal de reconhecimento.

Ela somente se movia, um instinto primitivo sem demonstração de racionalidade. Exibia traços insignificantes de letargia e consciência – sendo frisado pela inépcia da fala.

Liberando uma imensa aura dourada, Arya mexeu a cabeça, inclinando-a ligeiramente como uma criança desorientada sem o mínimo de noção do que a cercava, das pessoas que tanto a vigiavam e das novas e intensas sensações. Os pulmões pediram ar e ela cedeu, confusa com a série de mecanismos naturais do corpo. Desacostumada com tamanho esforço, saiu da cama e sem forças para firmar-se de pé, caiu pesadamente no chão, permanecendo parada e inerte igual uma boneca cujas cordas que a sustentavam – arrebentando repetidamente a tornando incapaz de exercer sua função ou atender chamados.

– Não tem como isso ser fácil – Thanatos arquejou socorrendo a recém-revivida Arya, pondo um vestido hospitalar para cobrir sua nudez. O Pecado da Inveja observou em silêncio a falta de coordenação e vitalidade da mulher. Não podia ser diferente: era uma casca oca, sem alma. Ergueu-a e a estabilizou ao seu lado.

Arya piscou langorosamente, fazendo o melhor que sua débil e vacilante musculatura poderia para aguentar o próprio peso. David pegou o queixo dela, forçando-a a elevar a cabeça para encará-lo. Ele estudou o rosto apático da mulher, vendo o rio profundo e escuro daqueles olhos que um dia transmitiam honra, orgulho, fúria e desprezo. E agora via o nada, a inexistência de conteúdo e vigor.

– Olha só que ironia – Amon agarrou a mão dela e a trouxe para perto, o que a fez tropeçar desajeitada. – Elas são mesmo idênticas, não é a toa que uma é reencarnação da outra. E essa não tem alma e sequer reage, o que é uma pena. Ouvi falar das várias habilidades e das heroicas conquistas dela e, de tudo, o que restou foi uma casca. Perceber que nem mesmo tendo uma vida compensadora a morte será clemente, é um tanto trágico.

– Você é um idiota – Thanatos rosnou. – E não a subestime, ela ainda pode ser perigosa.

– Thanatos tem razão. Ela é uma potencial ameaça se não tivermos controle. – Jae rematou.

– Eu não tenho tanta certeza disso – debochou.

Amon a prendeu, testando o quão estúpida e inativa ela era. Acentuando a ausência de mobilidade e deficiência de emoção. Conhecia os feitos de Arya em vida, da mulher obstinada e bondosa, a guerreira formidável e implacável, e não pareciam em nada com as histórias e que os inimigos temiam só de mencionar seu nome. Um círculo de fogo dourado queimou os Espectros que ali ficaram, culminando na total aniquilação, reduzindo-os a cinzas. E através do inconsciente ataque, deu crédito a ela apesar do comportamento mórbido.

– Precisamos dar energia vital a ela, sem isso logo irá morrer e a carne apodrecer – Thanatos ponderou, franzindo a testa diante da carga de energia que eliminou os Espectros. – Ainda assim, independente da magia, não é comum que um corpo sem alma tenha resistido tanto e acima de tudo que contenha uma aura desse nível. Ainda sendo um corpo vazio, ela emana muito poder.

– Sp... Spa... Spar... Da... Sparda – balbuciou, a voz arrastada e frigida. Virando a cabeça, procurando nos arredores. – Sparda... Sparda...

– Sua última memória enquanto viva foi justamente com Sparda, por isso o chama. – Arya fixou sua atenção em Thanatos que desviou o olhar, chocada.

– Thanatos cuide para que ela receba o suficiente para ficar viva – David ordenou, pegando seu longo casaco e deixando o recinto.

– Ele vai sair na melhor parte, que cara mais chato David é.

– A chatice não é exclusividade dele, Amon.

Amon arqueou uma das sobrancelhas em diversão com a indireta.

– Vai ser interessante pôr as duas frente a frente – Amon completou com entusiasmo, Arya caiu sentada. – Imagine as duas lutando... Uma tentando matar a outra. Cumprirá bem nosso propósito, não é? – rodeou Arya, estudando-a. – Quem mais adequada para matar Diva do que sua encarnação passada? Quem diria... Arya irá permitir que nosso Soberano consiga reviver seus plenos poderes atrasando Diva e os filhos de Sparda. Que grande ironia, não acha? 

Thanatos não respondeu, enojada com inescrupulosidade do Pecado da Luxúria. Ele tratava a situação como uma peça a ser conduzida e certamente faria questão de promover esse encontro desastroso.

– Foi para prendê-lo que ela morreu e agora será quem ira auxiliá-lo. Isso é deveras engraçado e uma grande controvérsia. – abaixou para ficar na altura de Arya. - Não faz diferença a ela, o que é bastante cômodo.

Thanatos rememorou o real motivo de Arya de não ter um coração, porque durante séculos ele estava em posse de Sebastian. No entanto, nunca teve conhecimento do que o motivou a guardá-lo.

– Ei, Arya, não quer sua alma de volta? – indagou para a mulher que piscou sonolenta, com uma falsa postura de abnegação. – Podemos providenciar para você. E será através disso – abriu a mão dela, entregando um pingente com um adereço com a figura de uma espada; Excalibur. – Mate-a. Reivindique o que é seu.

– Meu. – repetiu sem ânimo. No fim, ela não passava de um invólucro inane. – Minha alma.

×××

A folha rodopiou no ar, transitando livremente graças a sutil corrente de vento. Arya a apanhou fascinada com a delicadeza em um roçar suave em sua pele. Tudo que vivia em seu entorno: pequenas criaturas buscando refúgio, a vegetação agitando-se e mesmo a fina película de poeira que foi soprada para ela lhe pareciam novo e espetacular em sua singularidade. Havia cores que vibravam em seu campo de visão: verde brilhante, múltiplas flores de diferentes cores e tons e outras coisas que não recordava o nome. Se pudesse expressar o que via em palavras, as que conhecia, mas que agora soavam confusas e desconexas, diria quão maravilhoso era.

– Bonito – murmurou apreciando a visão.

Thanatos respirou fundo, tranquilizando-se momentaneamente. Precisava acalmar seus nervos e a mera ideia de levá-la até onde seu mestre se encontrava atualmente lhe causou um desconforto descomunal. Arya se mostrou indolente com a notícia, tendo que, antes de mais nada, descobrir o que eram visitas – o que arrancou risadas de Amon.

– Finalmente... Vestida assim faz justiça a imagem que possui – Amon parabenizou, delicadamente beijando o torso da mão de Arya. – Está perfeita, como tem que ser.

Pensou no sentido do que Amon dissera. Ouvia muitos elogios a sua aparência física no passado, sentia-se lisonjeada com eles, pois definiam sua boa impressão sobre as demais pessoas lhe concedendo aval para perambular pelo mundo e se encaixar entre os humanos como uma igual. Como criaturas frívolas que medem caráter pelo que seus olhos captam, os seres humanos facilmente acabavam sendo enganados. Demônios conseguiam andar livremente e provocar destruição sem medo em um período onde possuíam maior poder e vantagens, condenando os fracos a conviverem em constante terror sob a sina da crueldade e fatalismo. As vezes lhe ocorreu que os humanos estavam fadados a sucumbir ante sua ignorância e ingenuidade.

Quando lembrava disso, fragmentos de lembranças vinham a mente junto com a sensação que deixou um assunto inacabado para resolver. Tinha mais consciência de quem foi um dia, mesmo sabendo sua condição. Realizou sua vontade, o último desejo, o de ter uma vida normal na medida do possível. Thanatos contara muito a respeito da garota, a atual dona da sua alma. Amon a supervisionava sob rédea curta, restringindo o que Thanatos relatava e até distorcendo fatos para confundi-la.

– Não temos muito tempo a perder. – Thanatos cortou, apressada. – Temos que terminar isso logo.

Arya estava mergulhada em um estado permanente de melancolia e exaustão física, não obstante, seus reflexos eram falhos e suas ações se caracterizavam pela morosidade e introspecção. Um lembrete de que não passava de um corpo vazio que carecia de energia para se alimentar e manter-se ativa.

Caminhar era um processo de aprendizado básico e, no entanto, lhe dava uma parcela de trabalho ao executar cada passo, tão lenta e atrapalhada. Não demorou muito para pegar o ritmo e andar com mais confiança e leveza dignas de uma dama da nobreza como sempre lhe fora ensinado.

Os ruídos de seus sapatos no chão de pedra gasta gerou um sentimento estranho que não soube a princípio identificar: seu coração batida descompassado e sua respiração tornou-se mais arrastada e menos natural. Reconhecia algumas emoções e aquela em especial não. As paredes parecia comprimir-se gradativamente conforme prosseguia no trajeto silencioso, fechando o cerco sobre si.

– Diva!

Congelou no lugar com uma assinatura enérgica familiar que a abraçou abruptamente, apertando sua cintura. Escutou o choro abafado enquanto sentia mais pressionada e confusa.

Ah, claro. Não tinha como esquecer o quão aconchegante e seguro era uma abraço. Ter braços firmes que a rodeavam em uma redoma intocável na qual nenhum mal chegaria, guiando-a para um mundo de amor e felicidade – a ternura na troca singela e calorosa de contato.

E receber um de uma pessoa estranha...

– Eu... Sempre soube! Sempre! – a voz embargada exclamou determinado, choramingando. – Nunca perdi a esperança! Sabia que viria me resgatar!

– Ayden...

Thanatos assistiu a cena com os músculos tensos, totalmente travados. Posicionando-se para tirar Ayden do campo de alcance de Arya, embora acreditasse que seria impossível separá-los agora.

– Diva! Não sabe como estou feliz! – levantou a cabeça, o rosto banhado pelas lágrimas portando um sorriso terno, chocando-se com o olhar afiado e enfurecido. Nele viu rancor e desprezo que nunca imaginou em sua protetora, maculando a idealização pura e doce. – Diva?

Arya permaneceu parada, sua tão adorável e inocente face retorcia-se em uma careta de fúria dissimulada e destrutiva.

– O que está fazendo aqui, Sebastian? – perguntou, a voz elevando-se e os dentes rangendo em um usual sinal de raiva contida e milimetricamente calculada. – Achei que tivesse te trancado. Que estivesse apodrecendo no seu confinamento. Por que está aqui? – vociferou, agarrando a camisa do garoto e o erguendo com brutalidade. – Eu morri pra que você não retornasse... E agora você está aqui? – seu tom aumentou, soando ainda mais colérico, mais possesso. – Não posso aceitar... Que esteja vivo! Eu morri pra ter certeza de que não voltaria a esse mundo, seu maldito! – de todos os castigos, todos os mais vis métodos de tortura, não se comparavam ao sentimento de ódio, frustração e fracasso que se enraizaram nela, penetrando na carne e a enchendo, fazendo deles sua fonte de força.

– Diva... Por favor... – implorou, assustado. – Por favor... Por favor... – piscou freneticamente para que as lágrimas não o impedissem de enxergar, notando o fúlgido verde na íris da mulher enraivecida. Diva tinha olhos castanhos. – Você... Não é a Diva! – engasgou quando o fôlego se fez necessário, tentando buscar oxigênio em meio ao enforcamento. – Quem é você?

– Eu sou... A lâmina que vai cortar a linha da sua vida! – dobrou o braço, endireitando a mão para que os dedos ficassem rentes um no outro, moldando-o de maneira que fazia do membro uma arma mortal, sobretudo ao concentrar uma dose de energia dourada por ele. – Eu vou matá-lo de uma forma que não possa voltar, mas não se preocupe, não vai doer muito.

Thanatos lançou-se contra Arya que deteve seu ataque sem sair do lugar, olhando-a com amargura.

– Vocês estavam tão confiantes em me usar, mas vão se arrepender disso. Vou matar todos com minhas próprias mãos. – arremessou o Pecado que ganiu com o impacto doloroso contra a parede.

Amon manteve-se contemplativo, analisando as ações de Arya sem qualquer interesse de provar da sua ira.

Ayden debateu-se bravamente com a ameaça de morte, mas Arya aplicou mais força para que seu esforço fosse fracassado.

– Desapareça. – gritou com a dor que rasgou sua carne, perfurando-o mais fundo e espirrando sangue que tingia a pele e roupas da sua algoz. Thanatos, tonta pelo golpe, agarrou Arya – focada em eliminar a pobre criança – utilizando sua amaldiçoada habilidade pra expurgar o vigor que alimentava a mulher morta-viva.

Arya tossiu, largando Ayden, desesperada e enfraquecida. Rosnou com o ataque de Thanatos, mas não tinha como iniciar uma batalha em tão desagradável e debilitado estado. Livrou-se do Pecado da Inveja e abriu um portal, desaparecendo nele e prometendo a si mesma que retornaria para terminar o que começou.

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