Beyond: Two Souls
Ressoando em um ode a melancolia, a voz sussurrava contra o vento gélido que adentrava pelas frestas da janela no esparso corredor mergulhado em trevas. Tão clara e vibrante, mas, ao mesmo tempo, carregada de tristeza e ligeira displicência. Enquanto caminhava em companhia da música e em sua direção, seu corpo estremeceu, como se estivesse pressentindo uma grande ameaça a espreita – uma corrente elétrica que ocasionava uma descarga em todos os nervos –, observando-a em cada canto escuro, vigiando seus passos e aguardando a chance de estender suas mãos mórbidas para atacá-la. Não era do seu feitio perder-se em supérfluas fantasias de sua mente imaginativa, prioritariamente pelo seu trabalho no qual exige atenção e percepções racionais, entretanto lidar com a escuridão e conviver com seres que rastejam sob ela lhe concedeu uma visão mais calculista e também menos cética. Aprendeu a compreender o surreal. Ainda assim, não era fácil ter que viver em meio as sombras, mesmo nascendo delas. A melodia tornava-se mais audível e sonoramente angustiante, porque quem a cantava soava como se estivesse envolvido por um profundo sentimento de pesar, incentivando-a a seguir o percurso com mais rapidez. Ao abrir a porta, deparou-se com Sebastian iluminado com a luz natural provinda da claraboia, deitado no centro do salão com os olhos fixos admirando o céu, completamente absorto no que cantava.
– Oh, death. Oh death. – começou com timbre melodicamente suave. - Won't you spare me over til' another year? – tomou fôlego, prosseguindo imperturbavelmente, sem desviar atenção para ver a nova presença: – But what is this that I can't see with ice cold hands taking of me? When god is gone and the Devil takes hold: Who will have mercy on my soul? – mantenho o tom tranquilo, ele transparecia momentaneamente serenidade. – Oh, death. Oh, death. Considerado my age. Please don't take me at this stage. Oh, death. Oh, death. Won't you spare me over til' another year? – pausou, bastante disperso no ritmo da canção. – Oh, I'm death and non can tell If I open the door to heaven or hell. No wealth, no land, no silver, nor gold... Nothing satisfies me but your soul. I'm death I come to take the soul leave the body and leave it cold. Oh, death. Oh, death. Won't you spare me over til' another year?
No instante que Sebastian a olhou findando a música, Thanatos recuou instintivamente, algo equiparável ao medo apoderou-se de todos os seu sentidos mais básicos, priorizando seu impulso de correr – um aspecto peculiar do senso de sobrevivência no qual estava certa de não seguir. Recuperou a compostura, ciente que mesmo não demonstrando visualmente seu receio, ele poderia senti-lo pela enorme capacidade sensorial que possuía. O cômodo vagamente vazio, onde haviam algumas prateleiras de livros, uma escrivaninha e no centro, esculpido no piso, um círculo com símbolos que não conseguira identificar tampouco decifrar, criava uma atmosfera pesada, estática e desconfortável. Algo que afetou mais o sentimento de terror incrustado em seu âmago. A brisa uivante percorria o espaço, tão congelante, tão inóspita, fazendo um calafrio subir por toda sua espinha.
– Precisa de alguma coisa, meu senhor? – curvou-se respeitosamente, embora endurecida pelo pânico passageiro.
– Não. Eu apenas queria me certificar de uma coisa – respondeu, voltando a sua concentrada linha de pensamentos. Moveu a mão, abrindo e fechando-o em um exercício para testar o funcionamento do próprio corpo. Thanatos sabia que a energia dele esvaia-se mais rápido do que previram, pelo período que ele esteve confinado e agora liberto, não teria recuperar plenamente suas forças e carecia de extremo cuidado. – Preciso revigorar-me e não tenho outra alternativa a não ser entrar em hibernação. – ouviu atentamente as palavras proferidas. – Cumpram com o trabalho de vocês até que eu retorne.
– Sim, senhor.
Durante os poucos minutos seguintes, quando o silêncio inquietante dominou tudo, entendeu que Sebastian tinha entregado-se ao sono reconfortante. Levantou com cautela, levemente temerosa, aproximando-se da figura pálida e indefesa que descansava sob a luz quase opalescente. De todas as expressões que conhecia, nenhuma teria poder suficiente para descrevê-lo: os longos cabelos negros formavam uma espessa cortina em seu rosto, a pele corada e brilhante mostrava a epítome da pureza e mesmo seu semblante quase sempre neutro, detinha a passividade. Não é o que sua mente conjecturou ser a entidade que deu origem a praticamente tudo que existia.
Ele era tão humano.
A serenidade estampada nas feições inumanamente belas lhe fizeram realmente questionar ainda mais a imagem que tinha sobre a verdadeira natureza dele, incluindo seus reais objetivos. Não fazem sequer jus a fama monstruosa que lhe conferiam. Tudo que conhecera parecia tão distante do que imaginou: sempre pensou nele como uma força cruel, rancorosa, vingativa e destrutiva, que levaria o mundo a condenação eterna sem conceder direito a absolvição somente pelo seu bel prazer. Seria a representação antagonista de Diva, o mal encarnado. Mas após despertar, ele passava os dias comportando-se como um homem normal: as vezes se isolava e outras preferia somente a companhia de alguns Pecados. Segundo David, Sebastian naquele momento tinha poder suficiente pra corromper o mundo se assim desejasse, mas ele também nunca o fez. Não pela ameaça da existência de Diva, simplesmente porque seu propósito não era esse – por enquanto.
Suspirou.
Seus pensamentos fluíam como a maré baixa, seu coração apertava numa miríade de emoções confusas: sentia medo, angústia e dor. Sentimentos que se dividiam em inúmeras outras ramificações, todas igualmente dolorosas. Esses últimos dias tem estado aflita por nada e não entendeu porque daquilo, talvez um mal pressentimento, sobretudo a respeito do que David planejara. Thanatos continuou analisando friamente o rosto de Sebastian adormecido, inerme e degastado pela falta de energia. Sua aura ressoava com pouca frequência, oscilando algumas vezes em um claro indicativo de fraqueza.
Saiu daquela sala que lhe causava arrepios, dirigindo-se a ala onde certamente encontraria David. Ao estender a mão para girar a maçaneta, a porta abriu-se: Aspen a fitou com apatia típica e partiu, sem dizer nada.
Cercada por dúvidas e uma ansiedade quase incapacitante, Thanatos teve consciência de uma coisa: havia uma atmosfera maligna e que isso desencadearia algo ainda pior.
×××
Meu coração acelerou em expectativa: quando vi o garoto, no instante que nossos olhares se cruzaram, ambos surpreendidos, ondas de nostalgia engoliram-me. Tudo que passei com ele no curto período que estivemos juntos passou como um filme em minha mente; as palavras afetuosas trocadas, momentos divertidos e estranhos e gestos simples. E também a nossa despedida. Ele representava o passado que recusava a ser esquecido, terminando por ser deixado de lado. Vê-lo outra vez despertou o que estava, até então, adormecido. Aquele sentimento materno incondicional que adquiri com o contato e a afinidade. Compreendi o que Dante dissera sobre alguém que queria muito me rever, mas, agora confrontada com a revelação, percebi quão recíproco era esse desejo.
Ayden mudou muito no aspecto físico: os cabelos sedosos negros estavam longos e presos a uma fita azul, seu crescimento no quesito altura era notável e provavelmente no futuro ficaria mais alto que eu, suas feições outrora inocentemente infantis transpareciam maturidade e um sorriso cativante. O menino tímido e doce transformou-se em um rapaz que exalava seriedade e gentileza. E, naquele momento, tudo que queria era chorar. De verdade. Transparecer minha felicidade em lágrimas, mesmo que fosse breve, precisava daquilo. Ter a confirmação que o sofrimento imposto não as secara. Embora eu não tenha cedido, o garoto com não mais de, aproximadamente, treze ou doze anos, piscou para evitar que as dele não saíssem do controle. Abrindo caminho entre o grupo, Ayden jogou-se descuidadamente em meus braços, quase derrubando-me na ação. No início, resistiu bravamente ao choro, talvez querendo provar que amadureceu, mas ali estava ele tremendo enquanto tentava balbuciar frases que perdiam-se em soluços. Afaguei os cabelos dele. Eu estava profundamente envolvida em uma situação na qual meu instinto materno aflorou de um modo que induziu-me a oferecer palavras sussurradas de conforto para acalmá-lo, ocasionalmente repetindo-as com amabilidade e paciência. Ajoelhei-me para emparelhar-me com ele, enxugando as lágrimas que deslizavam pelas bochechas coradas.
Ayden ergueu a mão, unindo o seu dedo mindinho com o meu como prova de um acordo cumprido. Apesar de estar com a cabeça cheia de questionamentos, permiti-me relaxar. Ao endireitar-me, com um sorriso evidente, Dante abriu os braços para receber o mais desajeitado abraço. A emoção tinha deixado-me em um estado letárgico no qual não acompanhava adequadamente os estímulos externos. Imaginei que fosse um carro que funcionava pegando no tranco, de início não teria muitas expectativas que sairia do lugar, mas com sorte ligaria.
— Você tem estado desanimada de uns meses pra cá — explicou, dando leves tapinhas em minhas costas. — Decidi trazê-la. Te proporcionar tranquilidade, mesmo que seja por pouco tempo.
— Isso é gentil da sua parte — sussurrei.
— Bem, cogitei a possibilidade de que essa atitude altruísta e despretensiosa te levasse direto para minha cama — ele riu da minha reação estupefata.
Dante tinha uma maneira irritante de fazer com que me sentisse uma boba, agindo como se sua experiência — e a diferença de idades gritante entre nós, segundo meus cálculos ele teria por volta de trinta e nove anos — automaticamente lhe concedesse grande sabedoria... Eu acho. Não que fosse seu objetivo causar desconforto, mas ele via um prazer peculiar no meu constrangimento, então o cardápio do dia, por muitas vezes, resumia-se a leves provocações e piadas de duplo sentido. Na concepção dele, deveria ser uma compensação de tudo que aconteceu, uma dívida que nunca poderia pagar. Dante demorou para entender que o fato de termos nos afastado a um ponto que, fingir estar tudo bem e retomar a relação, era praticamente impossível. Não que meu amor por ele tenha desaparecido, muito pelo contrário, continua intacto, oscilou muito durante o tempo que estive com amnésia, ainda sim permaneceu intocável. Afinal, estávamos ligados através do Cordão Prateado. No entanto, muitas outras coisas mudaram, inclusive com a chegado do irmão dele. A imagem que formei do que Dante e eu fomos se assemelhava a "amantes estrelas cruzadas" — uma definição poética de duas pessoas que são destinadas a ficarem juntas e que esse amor deve durar para sempre —, nessa história, para decepção do público, não havia mortes dramáticas ou promessas que geralmente simbolizariam a eternidade de um sentimento — como o clássico romance de Romeu e Julieta. E, sinceramente, não se encaixava muito bem na realidade, mais precisamente na nossa realidade. Eu preferia a ficção. Na verdade, qualquer tentativa de desenvolver um relacionamento com qualquer um dos dois mestiços – opções viáveis —, seria fadada ao fracasso.
Por que? Simples: com o rompimento dos selos que aprisionavam a, conhecida como a Escuridão Original, minha existência atinha-se em caçá-lo e intervir nos planos dele. Destruir Sebastian é meu único propósito. E reforço isso todos os dias. E eles estavam tão atrelados nisso que meus elaborados — nunca exteriorizados — discursos sobre arcar com a responsabilidade que cabiam unicamente a mim, não teriam efeito nenhum além de aproximá-los mais. Desisti da ideia de afugentá-los e deixei as coisas como estão. Fluir naturalmente é melhor e não tenho o risco de magoar ninguém – e gerar mais tensão –, eu acho.
— Divirta-se — pediu depositando um beijo casto na minha bochecha.
Ayden pegou minha mão, ditando onde deveria seguir no salão e corredores. Havia decorações; balões com cores vibrantes, inclusive arranjos de flores e desenhos de animais que não pude identificar, pois quem o fizera obviamente não tinha nenhuma noção de estética e decorações, por fim, fitas com azul predominante. Algumas crianças curiosas com a nossa presença — comigo — montaram uma comitiva no nosso encalço, rindo e conversando com empolgação. Conforme prosseguíamos, Ayden indicou e explicou o básico de cada cômodo e que, também, o orfanato teve uma benéfica reforma que providenciou novas instalações e ampliação dos mais antigos. Segundo ele, o pessoal que doa para a instituição são pobres endinheirados nutrindo a ilusão bastante esperançosa de que podem mudar o mundo — e conseguir um lugar no céu por boas ações — com tudo isso, mas esquecem que o que essas crianças necessitam muito mais é serem adotadas e inseridas nos seios de uma família. Impressionava-me com a entonação madura e sarcasticamente inteligente de Ayden, uma das características fascinantes nele era a perspectiva fora do convencional que possuía. Ouvi atenta os comentários avulsos dele, pensando na situação hipotética de que Vergil e Ayden se dariam muito bem e teriam diálogos regados a observações mordazes e intelectualmente difíceis de acompanhar — meu conhecimento dessa dimensão é bem vago, embora não tivesse mestrado, estou no ramo da psicologia não demonologia. Percorremos um alguns corredores antes de, como as pernas bambas de cansaço e querendo um copo de suco gelado, chegar ao jardim e do outro lado uma espécie de playground. Olhei para o balanço solitário, abandonado e imóvel. Tentei me convencer de que não seriam tão estranho que uma adulta sentasse em um brinquedo originalmente feito para criança, mas não me importei muito com essa – triste – auto censura. Eu e Ayden ficamos próximos usando nossas pernas para nos impulsionar ligeiramente. Admirei o canteiro de flores bem cuidadas do jardim enquanto terra entrava na minha sapatilha pelas aberturas que compunham o calçado. Após intermináveis dez minutos de silêncio respeitoso, Ayden interrompeu minhas divagações estalando os dedos.
— Terra chamando Diva — brincou.
— Desculpe. Falou alguma coisa?
— Estava afirmando a sua facilidade nada adulta de se perder em na própria linha de raciocínio — debochou e revirei os olhos em resposta. — Parece preocupada.
— Mais ou menos. Ando tendo muitos problemas.
— Entendo. Mas, vai ficar tudo bem, mesmo que seja ruim no começo. — sorriu encorajador. – As vezes, simplesmente, é mais saudável se permitir desatar as inúmeras cordas de pressões e dedicar-se mais as pequenas coisas que fazem bem – tanto pra mente quanto para a alma
— É pode ser... – pigarreei, sentindo-me vagamente aturdida. Ayden não cansa de mostrar ser o garoto mais sensível e perspicaz que já tive o privilégio de conhecer.
— Ah, eu senti sua falta — encarou os próprios pés, as mechas negras soltas que emolduravam o rosto, agora o escondiam. — Dante disse que tinha voltado para casa e talvez não a veríamos mais.
— Você manteve contato com Dante?
— Ele vem me visitar sempre que pode. Principalmente no dia do meu aniversário — minha boca se abriu num "O" quando as pequenas pistas fizeram sentido, assim que meu lado lógico voltou a operar. Dante não dava ponto sem nó, não foi uma coincidência feliz, ele me trouxe por hoje ser um dia especial.
— Ah! Parabéns Ayden! — plantei um beijo na testa dele, ficou a marquinha do batom rosa claro que usava — Devemos aproveitar seu dia!
— Não gosto muito de tumulto de festas — confessou ruborizado.
Adorável!
— Nem me fale. Geralmente só participo de festas pela comida. — balancei-me para frente para trás mecanicamente, fazendo do meu pé uma alavanca. Ayden riu imitando meu gesto.
— A propósito, você está quase do meu tamanho — alinho minha mão entre nossas cabeças, comparando nossa altura e fingindo medi-las.
— Não sou o único que mudou — anuiu. — Seu cabelo era curto.
Toquei meu cabelo, examinando as pontas repicadas.
— Estou pensando seriamente em cortá-las.
— Ficou mais bonita assim.
— Você é um fofo, Aydenzinho.
Era impressionante como era fácil esquecer o estresse e todos os problemas com ele.
Nos encostamos na sombra de uma árvore, protegendo-nos do calor escaldante do fim da tarde. O céu estava amarelo alaranjado, uma mistura de cores quentes como tintas em uma tela branca. Ayden ficou adormecido apoiado em meu ombro. Irônico o aniversariante não estar ativamente presente na festa dedicada a si. O único ponto ruim é o tempo curtíssimo que dispomos para ficarmos juntos. Cantei baixinho uma canção suave e infantil, Ayden pestanejou aparentemente mais desperto – algo que não durou muito.
A luz do sol insistia em infiltrar-se através das folhas e o vento ressoava no gramado com um singelo farfalhar. Ayden estava com a cabeça deitada em meu colo, mergulhado no pacífico mundo dos sonhos enquanto eu contemplava a serenidade que acentuava sua beleza angelical. Enrolei algumas mechas do cabelo escuro com os dedos.
Vou vigiar seu sono, Sebastian...
Emiti um estrangulado gemido de terror. Ocorria de, em determinadas ocasiões quando as barreiras mentais que construí abaixavam, algumas memórias remanescentes de Arya virem a superfície, precipitadas e irascíveis. Elas eram bem vívidas e roubavam minha energia em esforços persistentes para contê-las. Como agora, concentrei-me exclusivamente em assegurar que aquilo não era real – repetindo sem parar para recobrar a lucidez. E sim fruto de negativos de um filme do passado que não fazia mais parte da minha vida, não havia motivos para reviver o que já morreu. Enterrar memórias que penetravam as frestas nas defesas psíquicas deveria ser catalogada no ranking de tarefas absurdamente impossíveis de realizar sem se sujeitar a dores apocalípticas em diversos pontos do cérebro – pior que enxaquecas mais bravas. Infinitamente pior que ressaca. Se fosse comparar, ressaca está mais pra passeio no parque de diversões. Meu coração batia acelerado e meu cérebro se contorcia vertiginosamente.
Respirei fundo incontáveis vezes para recuperar o fôlego.
Acariciei a cabeça de Ayden mais como um modo de estabilizar-me na minha realidade que qualquer coisa que aquela ação sugeria.
Minha cabeça virou um circo dos horrores, um mundo louco na versão mais pura e definida do caos – volátil e sombria.
Dante chegou um tempo depois dizendo que tínhamos que ir. Despedimo-nos de Ayden e novamente com a promessa de retorno. Soprei um beijo para ele antes de contornarmos para o local onde estava estacionado o orgulhoso carro – não chamativo em tons de vermelho – de Dante. O que ele chama de beldade rubra – um nome engraçado para alguém em sã consciência usar. Considerando que o mestiço nem de longe seguia os padrões de normalidade, isso não é o mais esquisito em sua longa lista de bizarrices.
Atirei-me no assento traseiro, incapaz de fazer diminuir a intensidade massacrante na supernova explodindo contra meu cérebro. Uma vibração percorreu meu corpo, mas não pude reagir apropriadamente devido a súbita exaustão.
Dante perguntou se precisava de algo, ele sentia meu desespero – Vergil também, mas reservado – pela nossa ligação e eu sabia que deveria estar o inferno na cabeça de ambos. Decidi descansar para não enlouquecê-los com overdoses sensoriais.
Apaguei com a capacidade instintiva do corpo de se desligar quando a dor se torna insuportável, primeiro boiando nas águas turvas da semi inconsciência e, paulatinamente, afogando-me na receptiva escuridão.
Uma nova vibração arrancou-me do meu sono morfínico – um tipo de auto medicação bem-vinda. Pisquei para dar foco nas figuras embaçadas e virei a cabeça com rapidez que fiquei tonta. E, com um grito visceral, implorei para Dante para dar ré, mesmo que quebrasse todas as leis de trânsito, e retornar para o orfanato.
As vibrações nada mais eram que um mecanismo de detecção, não o instinto de perigo ou o sexto sentido, tratava-se de um radar para criaturas das trevas – um dos Pecados estava por ali. E sem o ofuscamento doloroso sobre minha razão, identifiquei as oscilações de energia. Dante, sem questionar, pegou a contramão e disparou em alta velocidade. Os pneus queimando no asfalto.
Praguejei por não ter trazido Blood comigo, quem imaginaria que um dia humano fosse acabar assim. Espero que não seja necessário – tanto armas quanto a preocupação.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro