A Small Mark Of Darkness
A lâmina da espada reluziu – algo que regozijaria qualquer ferreiro diante de um trabalho impecável. Os anos impiedosos não afetaram a durabilidade e a essência do corte preservando em seu estado original, a incessante energia dirigente que dela fluía formava uma barreira impenetrável que evitava seu desgaste natural. Uma perfeita obra criada pelos mais sacros anciãos, tão bela quanto mortal em toda sua glória.
Refletida na superfície polida, admirando humildemente a arma ancestral que outrora pertenceu a sua linhagem, estava Arya imóvel feito uma estátua de mármore. O lugar, apesar das visíveis diferenças de séculos passados, despertava suas memórias mais íntimas, guiando-a para momentos fugazes e cheios de alegria na qual desfrutou o máximo que podia enquanto viveu.
Ornamentada com bênçãos e projetada com os materiais mais ricos e poderosos, o Santo Graal possuía uma graça única e seu manuseio simples e tenaz, tornava-o um artefato de valor e de imenso poder. Esticou a mão no intuito primário de recolher a espada para junto de si, reivindicando-a como sua portadora verdadeira, porém parou no meio do caminho caindo dentro de sua consciência e reconhecendo seu estado atual com pesar, ciente de que não tinha direito de burlar seus fundamentos e moral pessoal. Sem transparecer ressentimento, virou-se para o pequeno grupo de pessoas que a miravam com uma variedade de emoções legíveis, desde de curiosidade a um ricto casual – providenciado pelo mestiço. Nenhum dos presentes ousou questionar sequer lançar um comentário a respeito da situação, solenemente, houve um mútuo acordo mudo de resignada conformidade.
Subindo de volta, Dante espreitou-se para perto de Arya, não totalmente certo do que arranjaria com aquela audaciosa atitude. Assistindo-a em uma distância segura, pôde detectar mais nela do que imaginou que teria. Não reparou no aspecto físico tampouco na inegável semelhança com Diva, seus olhos examinaram a rigidez que esculpia os contornos da face dela: os olhos que ardiam em chamas de fúria contida e intratável, a pouca expressividade de suas feições – todas designadas em um padrão neutro – e a linguagem corporal sempre fechada e pouco identificável. Arya parecia automatizada em grande parte do tempo, movendo-se em uma direção e presa em um propósito. Chegou a duvidar se realmente existia um sentimento ou qualquer outra função pra guerreira que não fosse a solidificada e pouco funcional aspereza de um soldado, conhecia pouco sobre e as informações soavam falsas ao compará-las com a mulher a sua frente. Na verdade, até mesmo a Arya que viu quando viajou no tempo, não assemelhava-se em absoluto com a de agora.
O que a mudou tanto?
Cada passo que dava, percorrendo um trajeto curto para o saguão do santuário, pareciam mitigar a aura amistosa, cuspindo para fora uma amargura melancólica tão forte que acreditou ser capaz de prová-la em sua plenitude. Instintivamente tocou o topo da cabeça dela em um gesto que não conseguiu deter, fazendo com que Arya suavizasse seus semblante em resposta.
Izana, a nomeada nova paladino responsável pelo local, coordenava as atribuições dos servos que ali se disponibilizaram, explicando-as para Arya com tom cortês. A chegada na pequena província tinha sido bastante tumultuada com a população em polvorosa, mas não se equiparava com o que discorria naquele instante: os aldeões pararam suas atividades diárias com entusiasmo assistindo com grande curiosidade a pequena comitiva que adentrara as intermediações da praça principal daquele local sagrado – vivendo sob a graça e a luz dos deuses antigos. Encheram-se de júbilo genuíno e vibrante expectativa, seguindo com olhos ávidos as figuras de tamanha representação. Fiéis como cordeiros, acompanharam de longe os forasteiros, dialogando entre si sobre a importante presença na qual se agraciaram com louvores.
Dante observou os arredores e franziu o cenho com a quantidade de expectadores interessados que os cercavam, muito mais do que fizeram na primeira vez que chegou ali há quase três anos. Concluiu que esse afinco em desfrutar da companhia deles, fosse unicamente por Arya e sua aura marcante impossível de ignorar. Ela, a percursora inconsciente dessa comoção, trafegava completamente alheia ao mundo barulhento e vivaz em seu entorno. Pelo que recordava, aqueles que habitavam a ilha desenvolveram uma cultura própria e conceitos muito diferentes aos paradigmas impostos do mundo externo que mal sabiam sua mera existência.
Arya parou ante a uma fonte com um monumento em sua homenagem bem conservado, fixou sua atenção no rosto opaco dela e, sem dizer nada, prosseguiu em seu trajeto em silêncio excruciante.
Em uma região mais afastada do centro, havia uma imponente construção de arquitetura clássica no qual fora apresentado como a biblioteca da ilha – a segunda mais popular.
– Oh. Olá, Dante – uma voz familiar cumprimentou, o mestiço virou-se para a dona. A princípio demorou para assimilar de quem se tratava, vasculhando em suas memórias a imagem da jovem, até que, com um clique, a identificou.
– Rain, certo?
Ela assentiu.
– Que surpresa vê-lo por aqui. E a Lyana também. – arregalou os olhos ao também se atentar a figura de Arya. – Diva? Oi, Diva.
Arya projetou-se vagamente para o lado, fitando Rain com apatia.
– Ah... O que aconteceu?
– Longa história – anuiu um pouco descontente com a conduta mais hostil que Arya exibia, um nuance claro de emoções.
– Enfim, como o Vincent está? – a indagação o pegou desprevenido, não lhe dando chance de formular uma desculpa ou contar a verdade. – Eu não tenho muitas notícias dele e a Lady não me responde. Isso me deixa um pouco preocupada.
– Ele e Lady estão ocupados – sentiu-se miserável e o mais cretino dos homens por inventar e omitir. Seu contato com a jovem tinha sido bastante escassa em outras épocas, mas não gostava da ideia de mentir descaradamente e o olhar sincero e desolado dela o torturava mais, pesando mais sua culpa. – Logo terá notícias deles. Fica tranquila, tempestinha.
Acenou educadamente para Rain e apressou o passo em direção a entrada da biblioteca, interrompendo o diálogo. Agradeceu mentalmente que não tivesse sido interrogado – não sustentaria muito a mentira.
– Qual é o seu problema? – inquiriu ao alcançar a guerreira que o ignorou. – Ei, Arya.
– O meu problema? Qual é o seu problema? – rosnou, mantendo o tom discreto. – Pare de envolver pessoas da ilha em assuntos de fora mais do que necessário!
– Está falando da... Ah! – riu da constatação.
Talvez, só talvez, fosse uma oportunidade de ouro para testá-la.
Sorrindo abertamente, Dante repousou o braço no ombro da mulher irritada, provocando-a com sua falta de postura e desprezo as normas de bons modos.
– Não me diga que ficou com ciúmes?
– Ciúmes? – repetiu com desdém. – Quem você acha que sou pra cair nessa falácia? Ponha-se no seu devido lugar. – retirou o braço dele de perto de si frisando sua impaciente ordem, alargando mais o sorriso mordaz do meio-demônio.
Lyana assistiu a cena e balançou a cabeça com o cinismo dele, embora, no fim, achasse bastante engraçado. Dante piscou para a mestiça que obrigou-se a segurar a risada e não converter a seriedade exigida para as circunstâncias a uma sessão de gargalhadas – ambos eram adultos, meio malucos, mas adultos.
Obstante ao enlace passado, Arya comportava-se mais arredia e limitando suas conversas em poucas frases. Ela possuía um gênio difícil de domar e engolir, parte disso Diva também herdara. Não com tanta rispidez, entretanto. As brincadeiras de Dante não surtiam efeito e as vãs tentativas se mostraram mais infrutíferas a medida que a mulher obstinada dirigia-se ao seu objetivo.
– Boa parte do acervo antigo está trancado nos arquivos inferiores. Aqui somente os livros comuns. – Izana esclareceu.
– Enorme esse lugar – Lyana comentou, admirando a estrutura por dentro.
– Que livro está procurando, minha senhora?
– Livro de Abramelin.
Izana arregalou os olhos com perplexidade que por pouco não arrancou um riso do meio-demônio.
– Afinal, o que é esse livro? O que ele faz?
– Ele é um dos vários tesouros da história da humanidade. Seu poder se conecta aos anjos, dando aos que o portam a capacidade de comunicação com seres divinos e realizar magias.
– Como um grimório? – Lyana expos, curiosa.
– Mais do que isso – Arya respondeu, recitando o antigo dialeto enoquiano, a linguagem dos anjos, para conjurar um círculo mágico. – Não podemos mais perder tempo.
×××
Ao examinar os frutos da noite mal dormida na manhã seguinte, pude finalmente dar devida atenção a minha condição física. Eu nunca fui adepta de maquiagens e usava o mínimo possível para não ter o dobro de trabalho para remover, mas depois da minha inspeção diante do espelho não vi outra alternativa.
Havia, ao redor dos meus olhos, evidentes olheiras escuras que geralmente surgiam quando tinha noites de insônia – o que ultimamente, para meu desgosto, virou hábito – ou enferma. Teria que arduamente amenizá-las com o que tinha à disposição. Apesar do cansaço salientado em cada traço do meu rosto, ainda mantinha a característica natural – e irritante – de aparentar ser mais nova do que realmente sou. Isso facilitava empreitadas como aquela, porém despertava um certo grau de insegurança quanto a minha aparência. O uniforme, constituído por tons de azul marinho e detalhes vermelhos, conferia maior credibilidade quando a minha falsa identidade de estudante.
Suspirei frustrada, escondendo a palidez em meus rosto.
– Droga... – praguejei ressentida.
Limpei novamente o rímel impaciente com o resultado. Não adiantava o quanto me esforçava, nunca conseguia dar um ar mais maduro para não ficar tão infantilizada – mais do que estava. Precisava apressar esse martírio de vestir camadas – que possuía seu nível de complexidade como um teste a paciência – de peças que compunha o uniforme, sendo a meia e o sapato os que faltavam. Com o desastroso processo de limpeza concluído, cacei as meias, cuidadosamente colocando-as. Por ser longa e de nylon, que com um descuido rasgaria, enrolei pacientemente até metade da minha coxa, exatamente onde deveria e, por fim, calcei os sapatos. O fato do meu cabelo estar curto convenientemente não exigia muito trabalho para arrumá-lo de acordo com meu agrado. Lucrécia fez questão de deixar uma presilha nele para, segundo ela, tirar um pouco a aura monótona séria de mim.
Mecanicamente encarei a janela perguntando por onde V estaria, adicionando seu paradeiro em minha lista de preocupações – bastante extensas.
– Volte inteiro, V. – murmurei.
Guardei Blood na capa camuflada a um instrumento musical, recolhi o aparelho de comunicação e desejei boa sorte a mim mesma como um encorajamento para o que me esperava além do quarto no hotel. Lucrécia aguardava no carro em um misto de apreensão e expectativa e compreendia a ausência de ânimo usual. Não era um começo para ela quanto para mim, e sim um recomeço. Após o acidente e a morte dos pais, ela permaneceu em luto e se privou do contato de outras pessoas da mesma forma que eu fazia – o que me comoveu em parte.
Como uma solidão opcional, tendo cada uma seus motivos.
Assim que acomodei-me ao seu lado, Lucrécia esboçou um sorriso. Para oferecer conforto, tentei retribuir o gesto. Vergil corrigiu a posição do espelho retrovisor e ligou o carro.
A névoa da noite anterior havia se dissipado, não totalmente, contudo, o suficiente para distinguir com clareza as casas e as pessoas em sua rotina desgastante. O trânsito, que põe à prova os nervos de qualquer um, não afetou o silêncio dentro do veículo. Todos pareciam concordar em não travar um diálogo desnecessário ou simplesmente não tinham nada para dizer. Independente da razão, apreciei esse intervalo para dedicar-me a pensar em inúmeras maneiras de garantir que não teria falhas no plano.
Involuntariamente suspirei.
Vai dar certo. Tem que dar, pensei imersa.
Encostei a cabeça no vidro da janela fingindo poder estar na pele de qualquer outra pessoa que meus olhos capturavam. Como se tivesse a oportunidade de espiar outras vidas. As lojas e outros estabelecimentos passavam como um filme. Distraidamente, observei Vergil na condução. Ele parecia estar muito acostumado com aquilo do eu que poderia imaginar. Deslocamo-nos rumo à uma avenida com velocidade no limite, seguindo para a rua do Colégio Santa Marta. A primeira coisa que ficou claro ao sair do carro e ter uma visão geral do lugar, era sua grande arquitetura. Algo que remetia ao luxo e a arte. A concentração de pessoas, mais especificamente garotas – pois era um colégio exclusivo –, acrescentou um desconforto extra em mim. Eu não gostava muito de ambientes tumultuados, e se tratando de um terreno desconhecido foi mais que suficiente para ficar ligeiramente estressada e com alerta redobrado. Tudo que faria ao infiltrar-me ali seria estritamente perigoso; o risco de ser uma armadilha existia tal como uma infestação de Espectros. Com a ansiedade sob controle, pensei se a sorte estaria a nosso favor, mas repreendi-me atestando que aquilo, igual a tudo que ocorrera, não tinha nada a ver com trivialidades de sorte. Era uma questão de desempenho e determinação.
– Esse é o lugar...? – perguntei retoricamente. – Eu posso senti-lo aqui... David.
Vergil pegou meu braço.
– Tenha cuidado. – nossos olhares se cruzaram, em um breve olhar de cumplicidade. – Assim que perceber que tem algo errado, farei do meu jeito.
– Certo.
Despedimos de Vergil, quase que implicasse em uma tensão maior. Estava em minhas mãos a responsabilidade de deter o exército das Trevas. Se tiver sucesso e matar David, reduziria estrategicamente a força tática deles. Caso perca a chance, teria prosseguir incansavelmente nessa luta.
– Seu namorado... É um homem assustador. – Lucrécia comentou, agarrando meu braço, fincando as unhas no tecido da blusa.
Ruborizei, pasma.
– Ele não é meu namorado. – declarei, tentando ser indiferente.
– E daquele tatuado gótico?
– Não! – pigarreei.
– Bom... Ele é bonito – comentou.
A segurança reforçada conscientizava as alunas da presença de uma figura de importância; David, o presidente dos conglomerados Ifrit e recentemente Trinity E. Baseada em incontáveis pesquisas e com as habilidades de Hacker de Max – e alguns amigos dela: David tirou vantagem do poder de seus recursos financeiros para se tornar acionista principal das mais poderosas empresas mundiais. Isso que ele é aos olhos do público. Então a grande parcela de dados coletados tinham predominantemente conexão com parcerias empresariais e acordos com comércio de remédios, alimentos e até armas. Um comércio rico e suspeito. Dizem que quem tem maior poder bélico controla o mundo e esse conhecimento já causava mais receio.
Ajustei o comunicador na orelha, pronta para repassar as instruções a Max. Sabia que esse tipo de instituição possuía um sistema de segurança onde havia câmeras espalhadas pelos corredores e nas salas, nada de incomum, apenas invasivo. Logo de cara consegui encontrar, pelo menos, duas delas no estacionamento.
Discrição era prioridade.
Lucrécia andava lado a lado comigo, cabisbaixa.
Assim que deixamos o estacionamento um pequeno grupo de garotas nos recepcionou com condolências e palavras amigáveis, todas direcionadas a Lucrécia. Talvez devesse esse empecilho a ela, que aparentemente estava na classe mais alta no círculo social daquele lugar e, embora tivesse ficado um período afastada, não mudou muito seu status. Visto sua cordialidade e comportamento um tanto forçado mediante a diversas formas de abordagem dos garotas, tive que ir na frente para preservar meu estado de espírito para não lidar com tanta afobação. Eu passei despercebida pelos corredores apinhados. Não demorou muito para escutar os passos apressados atrás de mim, sem fôlego. O único fator vantajoso do uniforme poderia dizer com sinceridade que seria a fluidez do tecido, algo que não atrapalhava nossos movimentos. Lucrécia, vermelha e suada, diminuiu o ritmo da corrida para se alinhar comigo.
– Pensei que ficaria com suas amigas.
– Elas não são minhas amigas. Só colegas. – rebateu, amargamente. – Elas... Só estavam me desejando melhoras...
– É sobre o que houve com seus pais...?
Lucrécia virou a cara, abatida.
– Sinto muito.
– Tudo bem. Já passou... Sabe, é difícil manter a máscara de conformidade, de felicidade. Mas não posso evitar, quando as pessoas te perguntam se está tudo bem, elas não querem verdadeiramente saber sequer se importam. Apenas querem um motivo para nos olhar com pena.
Refleti a respeito do que ela dissera.
– Acho que você é a única que mostrou sinceridade e não me olha com pena... E vejo que também há dor em seus olhos... A de perder alguém.
Apertei o passo, abalada. Voltei a trancar a sete chaves a tempestade de sentimentos que teimavam em sair da prisão que os enclausurava. Não precisava de rachaduras na barreira que construí.
Por cima dos ombros, identifiquei outra câmera nos monitorando. A sensação constante de vigilância acirrada se multiplicou ao nos dirigirmos ao local que serviria como sede da palestra. Tivemos ocupar assentos na plataforma superior, o que tornou a vista mais ampla e o espaço mais aberto para, se necessário, executá-lo. Burburinhos enchiam o ambiente, um coro de vozes que sugeriam excitação e empolgação. Havia uma expectativa inocentemente esperançosa na espera enquanto, aos poucos, as vozes se silenciavam. Em mim, muito mais que a ansiedade, tinha o tempestuoso vigor de fúria. Algo que estava fazendo progresso em concentração e foco. Mudei muito no quesito auto controle; talvez não o bastante para não cometer imprudências, mas conseguia frear meus impulsos irracionais e estava bem orgulhosa da minha eficiência. Ponderei se, em troca dessa tal competência, perdi traços significantes da natureza humana, como a compaixão ou a empatia. E mesmo tendo ajudado Lucrécia e assistindo sua inútil e ambiciosa tarefa de fazer amizade comigo, não nutria nenhum sentimento de ligação. Boa parte do tempo contava mentalmente até onde ela iria e quando se afastaria. Não a odiava, sequer possuía motivos para tal, ainda assim se acontecesse algo a ela por minha culpa sei que me afetaria. Eu não estava no direito de ter interações sociais e uma convivência pacífica. Qualquer criatura viva que estiver comigo parecia fadada a morte. E queria evitar isso.
Max enviou um sinal avisando que a sala onde nos encontrávamos, além de trancada com mecanismo de segurança que só poderia ser acessado por alguém de dentro, soldados cercavam as portas armados com equipamento pesado. Abri o compartimento que guardava Blood.
As luzes apagaram-se e minha mão segurou o punho da espada. Toda atenção voltou para o palco na qual os holofotes se reuniam, iluminando o meu alvo.
Interessante como a adrenalina no pico mais alto, agindo em todas as células – liberando hormônios como a glicose – e promovendo o aumento da frequência cardíaca e pressão arterial causava uma reviravolta no nosso metabolismo. E exatamente senti o calor em jatos potentes gerados por ela indo, freneticamente, de um lado para outro, forçando passagem na corrente sanguínea e nos nervos. A razão, todo pensamento lógico, abandonou-me e tudo ao meu redor se resumia em mim e David. Incapaz de deter meu impulso nervoso, equilibrei-me no parapeito empunhando Blood, a lâmina brilhando com o jogo de luzes. Não ocorreu-me que tinha testemunhas, inocentes que acabariam envolvidos na roda e que seriam feridos ou mortos. Se tivesse que apostar todas as fichas consciente dos riscos que minha escolha acarretaria, faria sem hesitação. Se titubear, demonstrar estar dividida, provocaria danos maiores e irreversíveis. Minha mandíbula travava enquanto meus dentes rangiam em uma postura hostil e bestial. Agarrava com força desmedida o punho da espada. Minha presença não surpreendeu David. Ele encarava-me com falso encantamento e sutil desprezo.
– Ora, que prazer vê-la.
O sorriso que preguiçosamente estampava suas feições tranquilas rematou minha última fagulha de racionalidade, saltei para o andar inferior, caindo estudadamente no encosto de dois assentos, assustando duas estudantes que gritaram. Disparei com o intuito de matá-lo no primeiro golpe.
– Que decepcionante. É isso que toda sua dor e tristeza podem fazer? - inquiriu debochadamente, contendo a espada entre suas duas mãos como se brincasse com a diferença em nossas forças. – Esperava um pouco mais... Diva.
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