Capítulo 7 - Surpresa
Emily Broussard
― O resultado do exame vai sair logo mais.
Ouvi uma voz feminina, calma. Eu estava sonhando?
― Por que desse exame? O que ela tem, doutora? Já faz duas horas que ela está desmaiada!
Aquele era Ethan? Sim, definitivamente era. Por que ele estava tão preocupado? E se aquilo era só um sonho, por que eu não conseguia ver nada? Por que estava tão sem forças?
― É apenas para segurança, Sr. Johnson. Sua namorada está bem, apenas uma queda de pressão, mas quero averiguar.
― Ela vai ficar bem mesmo, não é? ― Era minha mãe.
Ouvir a voz da minha mãe havia me tranquilizado. Eu estava segura com ela aqui, mas não estava em casa. Algo havia acontecido.
O silêncio se instaurou novamente em minha cabeça. Eu tentei a todo custo acordar, a procurar forças para abrir os olhos e entender o que estava acontecendo comigo e com meu corpo que não respondia a nenhum dos meus comandos.
Consegui abrir os olhos com dificuldade, sentindo minha cabeça doer ao olhar para o teto branco. Aquilo era um hospital?
― Ela acordou! ― Ouvi alguém exclamar, mas não sabia dizer quem era.
Sorri leve quando minha mãe se aproximou e segurou minha mão. Ela sorriu para mim. Sua feição era de alívio, mas ao mesmo tempo me passava tranquilidade, como se dissesse que tudo ficaria bem.
― O que aconteceu? ― Perguntei, quase em sussurro. Minha garganta estava seca.
― Você desmaiou, querida. Ficou um tempo desacordada, mas está bem. ― Sua mão passeava por meu cabelo, fazendo um carinho leve.
Tentei mexer o braço, mas gemi desconfortável ao ver o soro. Olhei para o meu outro braço. Não tinha nada, mas estava roxo, como se tivessem me furado.
― Um exame de sangue ― Minha mãe disse, como se lesse meus pensamentos. Eu a olhei, confusa. ― Só por precaução. ― Eu assenti.
Continuei a olhar para o quarto, até que meus olhos pararam em Ethan, do outro lado da cama. Ele parecia abatido, cansado, preocupado. Seus olhos carregavam uma agonia que nunca vi antes.
Foi então que lembrei do que havia acontecido.
Uma discussão das feias. Ethan e eu gritando um com o outro. Eu disposta a ir embora da sua vida. De repente, nada.
Os sentimentos de horas atrás – haviam se passado horas, certo? – tinham retornado com força. Eu ainda o amava, isso era fato, mas a situação da manhã havia sido a gota d'água.
― Você me trouxe? ― Perguntei, olhando nos olhos dele. Ethan assentiu, nervoso.
― Sim. Trouxe o mais rápido que pude, e liguei para sua mãe.
― Falou para alguém da sua família? Eles estão aqui?
Ethan engoliu em seco.
― Não. Não falei.
― Graças a Deus. ― Suspirei.
― Emily, por favor, agora não é hora pra isso. ― Minha mãe disse, atraindo minha atenção. ― Ethan estava tentando ajudar.
― Mãe, eu te amo, mas você não tem ideia do que aconteceu.
Minha mãe suspirou e olhou para Ethan, comprovando apenas o que eu imaginei: ele não havia contado tudo o que tinha acontecido.
― Por quanto tempo fiquei desacordada?
― Umas duas horas e meia. ― Ela respondeu.
Não parecia assim na minha cabeça, pensei.
Poucos minutos depois, a médica estava de volta, carregando um envelope. Ela era uma mulher de meia-idade, loira e que me deu um sorriso simpático ao me ver.
― Olá, Emily. Sou a Dra. Tobias. Fico feliz que tenha acordado. ― Sorri, assentindo. ― Olhe, fiz o pedido de um exame de sangue específico. Pedi com urgência, então já temos o resultado.
― Qual exame? ― Perguntei.
Eu alternei meu olhar entre a doutora e minha mãe, nervosa.
― Beta HCG quantitativo.
Franzi o cenho. Não fazia ideia do que porra era aquela, mas pela expressão de desespero da minha mãe, eu senti que não era nada bom.
― Doutora, você... tem certeza? ― Ela perguntou, apreensiva.
― Não, mas temos os resultados aqui.
― O que porra é esse exame? ― Olhei para Ethan. Ele parecia tão perdido quanto eu.
― Calma, Emily. ― Minha mãe pediu, apertando minha mão.
― Me diga o resultado! Me diga o que significa! ― Esbravejei.
A médica assentiu e abriu o envelope. Os minutos que ela levou para ler o maldito papel pareceram os mais longos de toda minha vida. Eu já estava esperando receber a notícia de uma doença grave, de que eu teria pouco tempo de vida só pelo olhar da minha mãe.
Quando Ethan se aproximou e segurou minha mão, eu tive certeza de que não era bom o que estava por vir.
― 32.500. Como previ. ― A doutora me olhou e sorriu leve. ― O resultado deu positivo, Emily. Você está grávida de seis semanas.
Grávida.
Grávida.
Grávida.
As palavras da médica ecoavam em minha cabeça sem parar. Quis chorar, quis dizer que tudo era uma mentira, quis sair correndo, mas, especialmente, quis gargalhar. Eu não podia, eu não queria, eu não me sentia grávida.
Talvez me arrependesse de dizer isso, ou não, mas uma doença seria menos dolorosa do que saber que eu estava grávida.
― Emily... ― Ethan me chamou, apertando minha mão. Eu me soltei dele. Não queria nenhum tipo de contato.
― Você só pode estar brincando comigo. ― Falei para a médica, rindo. ― Não tem a mínima possibilidade de eu estar grávida.
― Sei que a situação pode parecer confusa para você, mas os resultados não mentem. A senhorita está grávida de seis semanas, o que equivale a dois meses.
Dois meses atrás.
Ethan e eu passávamos por mais uma daquelas crises. Brigando de dia e fodendo a noite. Eu me cuidava, tomava pílula, então não é como se eu acreditasse ou temesse a possibilidade de uma gravidez. Mas e se eu tivesse esquecido? E se, de repente, a pílula maldita não fez efeito?
Eu senti meu coração começar a acelerar, minhas mãos suarem e minha garganta tapar.
― Você está mentindo! ― Todos os olhares se tornaram de preocupação, virados para mim, quando gritei. ― Você está mentindo! Você está mentindo! Você está mentindo!
― Emily, meu amor, por favor ― Minha mãe tentava me segurar, chorando.
Ethan foi o que teve ação para me prender com mais força contra a cama, impedindo que eu arrancasse a agulha do meu braço. Eu chorava, desesperada, pedindo em pensamento que tudo aquilo fosse um sonho, que eu ainda estivesse desacordada e quando finalmente abrisse os olhos seria liberada para casa, sem notícias ruins.
Quando meu olhar e o de Ethan se encontrou, com nossos rostos bem próximos, eu pude ver que ele também parecia desesperado. A situação era fodida para nós dois. De repente, estávamos só nós dois no quarto, em uma conversa silenciosa de dilacerar corações. Perdidos, quebrados, imaturos e com um filho a caminho.
― Eu não posso fazer isso. ― Falei, em um fio de voz, encarando-o. Senti mãos me soltarem quando parei de me debater.
Ethan juntou as sobrancelhas, triste.
― Você precisa ser forte, Em. Eu estou aqui com você. ― Ele disse. Eu neguei com a cabeça várias vezes, com lágrimas caindo sem pudor dos meus olhos.
Só havia uma possibilidade para mim e ela era indiscutível.
Olhei para minha mãe, ao meu lado, que estava pálida. Ela olhava para mim com medo da minha reação, de que eu surtasse ou até mesmo voltasse a desmaiar. Sorri leve para ela. Então olhei para a médica novamente.
― Eu não quero ter essa criança. Quais clínicas de aborto você indica?
Minha mãe soltou um suspiro de surpresa e Ethan soltou minha mão. Eu continuei cética, encarando a doutora, demonstrando não sentir nada. A verdade é que eu realmente não conseguia sentir. Era como se tivessem me arrancado meu sistema límbico a força, restando nada mais do que um corpo sem reação, sem vida.
― Conheço algumas confiáveis, que trabalham bem. Mas acredito que essa decisão não deva ser tomada no calor do momento, deve ser algo que realmente esteja segura, Emily.
― Eu estou segura.
― Pelo amor de Deus, Emily! ― Ethan esbravejou. Só então eu tomei coragem para encará-lo e ver o desespero estampado em seu rosto. ― Você perdeu completamente sua razão? Acha que essa escolha cabe só a você? Eu sou o pai, porra!
― Claro que cabe só a mim. O útero é meu.
Minha mãe soluçou, atraindo nossa atenção. Ela estava mais pálida ainda.
― Mãe, você está bem? — Me ergui, mas não pude fazer muito graças a agulha no braço.
Ela enxugou o rosto e assentiu.
― Eu não... não estou me sentindo muito bem. Vou até a lanchonete comer algo.
― Martha... ― Ethan tentou chama-la, mas ela ergueu a mão, pedindo para ele parar.
― Por favor, preciso ficar só.
Minha mãe saiu do quarto, me deixando ainda mais preocupada. Ela não estava bem, já fazia um tempo que ela estava assim, e a notícia dessa gravidez havia a abalado ainda mais. Aquilo me dava mais certeza de que uma criança no meio disso tudo apenas atrapalharia.
― Você não pode fazer isso sem sequer conversar comigo, Emily. Sim, o útero é seu, você quem vai carregar o bebê, mas você não fez ele só! A responsabilidade também é minha! ― Ethan disse, nervoso. Eu respirei fundo.
― De repente você se importa, é a pessoa mais compreensível do mundo.
― O que? Eu sempre me importei.
Eu ri, desacreditada.
― Você finge que não faz ideia da merda que tive que enfrentar nesses últimos meses para que você nunca se sentisse mal, não é? Eu aguentei tudo por você, Ethan! Fiz tudo por você, tanto que acabei me perdendo e perdendo quem eu gostaria de ser. E agora, quando eu finalmente tenho a chance de me desprender dessa vida de merda que a gente leva, descubro essa gravidez e, obviamente, desejo abortar, você quer participar? Quer ser responsável? Me erra, caralho! ― Gritei a última frase. Ele enrijeceu o maxilar.
Eu me virei para a médica, que nos olhava incrédula.
― Por favor, doutora, me dê o nome das clínicas e diga como posso proceder. Quero terminar isso o mais rápido possível.
Antes que ela pudesse responder, Ethan saiu do quarto batendo a porta com tanta força que derrubou o relógio acima dela, fazendo o vidro se espalhar todo pelo chão.
Eu ainda continuei indiferente, sem reação, apenas esperando a doutora se recuperar do choque.
Sim, somos fodidos. Agora, imagine uma criança no meio disso, doutora? Quis perguntar, mas me segurei.
― Não seríamos bons pais. Eu não nasci para essa merda. ― Anunciei, dando de ombros. ― Esse bebê não merece vir a esse mundo para fazer parte disso, acredite em mim. Estou fazendo pelo bem dele... ou dela, tanto faz.
― Como quiser. Trarei as informações em breve. ― Disse e saiu do quarto.
Era para o melhor, pensei, várias vezes, tentando me convencer.
...
O contato entre Ethan e eu foi nulo durante os dias seguintes. Era como se não conseguíssemos ficar na presença do outro. As escolhas que ele já havia feito me impediam de tentar algo, assim como as minhas a ele. Por isso resolvi voltar para casa por uns dias e, como o esperado, minha mãe me recebeu de braços abertos. Felizmente ela não tocara no assunto da gravidez desde o dia em que saí do hospital – nem Ethan. A escolha era minha, ponto final. No entanto, desde que a médica me deu todas as orientações sobre o aborto, eu não tinha procurado as clínicas. Não sei se era o medo do procedimento, do que poderia acontecer ou medo de me arrepender, mas eu estava travada.
Foram cinco dias, desde a descoberta da gravidez, em que fiquei com a ideia martelando na cabeça. Era somente eu e a minha decisão.
Naquela noite de sexta, sabendo o que se passava comigo como se fosse um guru, minha mãe foi até meu antigo quarto para conversar. Tudo ainda estava no mesmo lugar e passar aqueles dias ali só me fez ter a certeza de quantas saudades eu sentia de casa.
― Trouxe uma xícara de leite. ― Minha mãe disse, me entregando a xícara.
― Obrigada. ― Sorri, agradecida e dei um gole. O leite morno aqueceu toda minha pele, me deixando confortável.
― Como se sente? Você vem vomitando muito nesses dias.
Sim, os malditos enjoos. Eu sentia um e outro antes de descobrir que estava grávida, mas depois da comprovação, o bebê pareceu querer me mandar um recado. Vomitava quase sempre, por tudo, cheiro, comida... eu estava extremamente enjoada e não fazia ideia de como acabar com aquilo.
Os momentos em que passava sem sentir gastura, como aquele, eram perfeitos para eu descansar.
― Melhor. Não estou sentindo nada agora. ― Falei e voltei a beber o leite. Eu sabia que vomitaria tudo depois, mas precisava aproveitar enquanto meu estômago aceitava alguma coisa.
― Te deixei refletir por esses dias, tentei não tocar no assunto, mas sei que só pensar sobre está te matando, não é?
Suspirei. Eu não iria mentir.
― Eu não sei o que fazer.
― Sobre o que? ― Perguntou, sentando-se na ponta da cama, perto de mim. Eu apoiei as costas na cabeceira.
― Sobre tudo. É como se minha vida tivesse dado um giro de 180 graus.
― Você pensou sobre o bebê?
― Só penso sobre ele. ― Suspirei. Ela sorriu, triste. ― Olhe, mãe, não quero que ache que quero fazer isso porque sou uma pessoa ruim. Eu só estou livrando essa pobre criatura de viver uma vida de merda.
― Por que acha isso?
― Por que? ― Bufei. ― Ethan e eu não somos mais como antes. Ele é um engomadinho, filho da puta, viciado em trabalho e que aceita tudo o que sua família idiota diz. Ele está se tornando a cópia perfeita do pai. Os Johnson são os seres mais nojentos que já conheci, sugariam toda a energia dessa criança e minha, e eu não quero que meu filho viva nesse meio. E eu... ― Senti meus olhos arderem. ― Eu não nasci para isso. Ser mãe e tudo mais.
Minha mãe segurou minha mão e olhou em meus olhos.
― Sabia que quando descobri que estava grávida de você, eu falei essa mesma coisa para sua avó? Que eu não estava preparada para ser mãe? ― Neguei com a cabeça. ― Sim, eu disse. Estava feliz, mas assustada. A ideia de me imaginar com uma criança, criando-a, ensinando, era tão assustadora. Comecei a me questionar: deveria ter esse bebê? Deveria seguir com a gravidez? Eu seria uma boa mãe? E nenhuma resposta vinha. Quando disse isso a minha mãe, ela apenas respondeu: ninguém nasce sendo mãe, uma mãe nasce quando seu filho nasce. E é isso que posso te dizer, Em. Nós não temos noção sobre o que é a maternidade enquanto não temos os nossos filhos. Sim, é sofrido, é cansativo, mas ser mãe foi a melhor coisa que me aconteceu. ― Uma lágrima escorreu por sua bochecha e eu também não consegui controlar as minhas.
― E se eu falhar? E se eu colocar tudo a perder? Por Deus, mãe, eu mal sei cuidar de mim, imagine de um bebê.
― É para isso que você tem a mim, e a Ethan também.
― Ethan não se importa com isso.
― Sério? Acha que uma pessoa que não se importa teria entrado em desespero como ele? ― Franzi o cenho. ― Depois que ele saiu do quarto, me encontrou no refeitório. Ele estava apreensivo, Emily, com medo da sua decisão. Querendo ou não, ele é o pai, ele merece decidir isso com você.
― Mas você não sabe as coisas que passei durante esses meses, o que enfrentei. Ele foi extremamente imaturo comigo, não acho que esteja pronto para essa responsabilidade também.
― Eu sei que foi difícil.
― Você não sabe. ― Solucei. ― E ainda tem aquela família podre. Tem ideia das barbaridades que ouvi? Eles querem que eu seja um projeto deles, a mulher recatada e pronta para servir os caprichos do Ethan. Eu não sou isso, mãe! Ter esse filho só me deixaria mais presa ainda a eles.
― Você já pensou em dizer isso?
― A quem?
― A eles, a Ethan. Não é porque você namora com ele que se torna responsabilidade dos Johnson. Você não é obrigada a suportar nada por ninguém, minha filha. Eu te ensinei isso.
― Eu só... ― Suspirei. ― Não tive coragem de dizer com essas palavras, de dizer o que realmente penso.
― Talvez essa seja a hora. E talvez seja um ótimo momento para amadurecerem. Um filho é uma responsabilidade e tanto, mas te faz mais forte. ― Ela se aproximou e beijou minha testa. ― A escolha é sua, Emily.
Assisti minha mãe se levantar e ir até a porta, pronta para me deixar sozinha com os meus pensamentos.
― Mãe. ― Ela parou e me olhou novamente. ― Você acha que eu me sairia bem?
Ela sorriu leve.
― Acho.
― O que o papai vai pensar?
― Dane-se ele. Ele pode surtar, ameaçar te deserdar, mas você nunca estará desamparada, querida.
Assenti, sentindo as lágrimas escorrerem.
― Você já tomou sua decisão?
― Ainda estou com dúvidas. ― Falei, incerta.
― Então acho que já tem a resposta. ― Ela piscou e saiu.
Coloquei a xícara de lado e me deitei, pensativa. Ousei tocar meu ventre, o qual evitei durante esses dias, como se queimasse, me causasse mal. Meu coração acelerou como nunca e a dúvida ainda era constante.
Minha mãe tinha razão, eu tinha a minha resposta.
Eu só tenho uma coisa a dizer: segurem a emoção! Vai ter muita coisa por aí...
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Vejo vocês em breve! ♥️
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