Capítulo 44 - Sem saída
*O CAPÍTULO NÃO PASSOU POR REVISÃO. ERROS DEVEM SER IGNORADOS.*
Emily Broussard
Não prestei atenção em absolutamente nada da cerimônia. A única coisa que se passava por minha cabeça era de que queria fugir dali.
Acordei do devaneio, perto do altar, quando tomos começaram a bater palmas e gritar porque Alice e Jordan estavam se beijando. Bati palmas da mesma forma, gritando animadamente. Sim, eu estava me sentindo uma merda, mas precisava fingir, por Alice, porque aquele era o seu dia.
Eles saíram da igreja e nós, os padrinhos, fomos atrás. Houve um momento, quase uma fração de segundos em câmera lenta, que Ethan e eu ficamos lado a lado, cheguei até a sentir o tecido de seu smoking tocar em minha pele, causando choque, mas logo fui levada por meu par para as posições que deveríamos estar para jogar o arroz.
Alice e Jordan saíram felizes, radiantes, levando uma chuva de arroz dos padrinhos. Nós sorrimos uma para outra. Queria, mais do que nunca, que ela tivesse uma vida feliz ao lado dos filhos e de Jorna que, sem dúvidas, era a pessoa certa para ela.
Então meu olhar encontrou o dele.
Haviam milhares de grãos de arroz sobrevoando entre nós, mas ainda assim eu conseguia vê-lo perfeitamente, como se tivesse decorado cada uma de suas feições. Na verdade, como não poderia? Tinha visto, beijado e admirado aqueles traços tantas vezes que ficaram marcados em cada parte do meu consciente e subconsciente.
A chuva parou e os convidados começaram a sair, prontos para curtirem uma grande festa de recepção e comemoração. Como o destino gostava de me foder, Alisha passou bem próximo, desconfiada, e tentando não olhar para mim. Mas bastou terminar de descer os degraus que virou-se, então nos olhamos.
Tudo estava de volta, então?
Tinha uma guerra silenciosa ali. Sempre haveria, creio eu. Enquanto eu não fosse capaz de resolver tudo, as coisas seriam daquela forma. E vinha à tona o velho clichê: fugir não faz com que os problemas sumam. Quem dera fosse assim.
A comemoração ocorreu em uma mansão quase na saída da cidade. Tentei a todo momento dar assistência a Alice, estar ao lado dela quando era preciso, e assim que as pessoas "me esqueciam" dava um jeito de ficar pelos cantos. A todo momento sentia olhos sobre mim, sentia os olhares deles, mesmo que não estivessem por perto. Creio que nunca me senti tão desconfortável em toda a minha vida.
Depois dos discursos, incluindo o de Alice anunciando a gravidez para Jordan, entrei na casa e fui direto para o banheiro no andar de cima. Havia bebido tanto champanhe que minha bexiga parecia que iria estourar. Depois de fazer minhas necessidades, lavei as mãos e me encarei pelo reflexo do espelho. Eu estava bonita, precisava assumir.
Tanta tensão depois, chegava a ser ironia eu estar do mesmo jeito que cheguei.
Me assustei quando alguém abriu a porta de uma vez e entrou, nem me dando a possibilidade de raciocinar ou gritar que tinha gente. Estava pronta para reclamar, quando meu olhar encontrou o de Alisha. Nós duas paramos e ficamos naquela tensão por alguns segundos ― que mais pareceram durar horas.
― Não sabia que tinha gente. ― Ela disse, ainda segurando a porta.
― Já estou saindo.
― Não, pode usar. Vou procurar outro.
― Sério, já estou de saída.
Ficamos nessa discussão por um bom tempo e quando fui tentar passar por ela, ela soltou a porta que fechou de uma vez e derrubou o trinco de dentro. Eu arregalei os olhos, assustada, e comecei a sacudir a porta.
― Meu Deus! Estamos presas! ― Gritei, dando tapas na madeira, quase chorando.
Se o inferno existia, aquela ali era apenas uma amostra grátis do que significava o sofrimento eterno.
― Emily, calma ― Ela disse, vindo até meu lado, também tentando abrir.
Cheguei até a pegar o trinco caído no chão e tentei encaixar novamente, mas foi completamente em vão. Cansada, me encostei no mármore da pia, suada e querendo a todo custo não encará-la.
― Cadê seu celular? O meu não está com área. ― Ela perguntou, aparentemente tão agoniada quanto eu.
― Está com a minha assessora.
― Você não anda com o celular?
Dei de ombros.
― Não achei que fosse ficar presa no banheiro e ele seria útil.
― Maldita hora que não peguei a senha do Wi-fi. ― Resmungou.
― Agora vamos ter que esperar a boa vontade de alguém ou um anjo passar por aqui e ouvir nossos gritos.
― Então esse é o seu plano? Gritar sem parar?
― Não, claro que não. Quer saber? Esquece. Vamos apenas ficar quietas e esperar alguém chegar, tenho certeza que uma hora dessas já devem ter sentido a minha falta.
― Claro, até porque todos sentem falta da grande Emily Broussard, certo?
― Se quer me provocar, péssima hora.
― Longe de mim. ― Ignorei ela e comecei a balançar a porta novamente, querendo fugir dali. ― Na verdade, por que não começa a pensar que isso pode ser uma forma de você finalmente encarar as provocações?
― Passo. ― E continuei mexendo na porta, tentando encaixar o trinco.
― Do mesmo jeito que fui passada para trás?
Parei, derrubando o trinco novamente, e fiquei de costas, encarando a madeira gélida, tentando não chorar. Eu lamentava tudo aquilo. Se pudesse voltar no passado, jamais teria envolvido Alisha em toda a merda que minha vida era.
― Não fique calada.
― O que quer que eu diga, Alisha?
― Alguma coisa! Grite, me mande a merda, fale alguma coisa! Finja que o tempo em que estivemos juntas foi real!
― Claro que foi real! ― Gritei, encarando-a. ― Como pode achar que não foi?
― Você... você foi embora. ― Sua voz falhava de tanto segurar o choro.
― Eu precisei.
― Mas não disse nada, simplesmente desapareceu. E anos depois reaparece sendo uma grande modelo, amada e admirada por todos. Ah, e misteriosa, claro. Você é a garota misteriosa dos sonhos de qualquer um, foi o que já li.
Juntei as sobrancelhas.
― Nunca quis isso.
― Talvez quis. Você gosta que as pessoas te desejem, Emily, e gosta de vê-las sofrendo por sua causa. Não sei que tipo de fetiche é esse, mas é a sua coisa.
― Isso é mentira! Eu amei como nunca, Alisha. Você pode não acreditar, mas tudo o que fiz foi por amor. Pelo amor que tinha por vocês dois, por amor a mim.
Ela riu, com ironia.
― Fui tão fodida assim por ter me escolhido pelo menos uma vez na vida? ― Perguntei, me aproximando. ― Me diga! Fiz errado em me escolher? Em tentar recomeçar verdadeiramente?
― Você fez errado em simplesmente sumir.
― Nunca sumi, você com certeza sabia onde eu estava todo esse tempo. Eu não ter voltado lá já foi uma resposta. ― Suspirei, olhando-a profundamente.
Estava tão linda, seu cheiro ainda era o mesmo, assim como o brilho de seus olhos ― mesmo que agora estivessem carregados de raiva. Ainda era linda como a Alisha do ensino médio, a que sempre foi minha, até quando eu não tinha ideia.
― Sei que acha que minha chegada aqui muda as coisas, que eu terei a resposta para todas as suas dúvidas, mas sinto em dizer que não será assim.
Ela me olhou com dor. Era péssimo, era humilhante para mim mentir daquele jeito. Nós sabíamos bem o que a minha volta significava, e eu, novamente, era quem queria fugir.
― Não tem nada? ― Ela sussurrou perto demais. Quando havíamos chegado naquela proximidade?
Eu conseguia sentir seu hálito quente e com cheiro de hortelã chocar-se contra minha pele. Depois de tanto tempo, tantas coisas, me admirei ainda sentir aquela tensão, o desejo irradiador de beijá-la, de depositar tudo o que ficou guardando durante aqueles anos.
No entanto, antes que pudéssemos terminar, a porta foi aberta pelo Sr. Hayes que rapidamente se assustou ao nos ver.
― Meninas, desculpa. Não sabia que estava ocupado.
Olhei para ele, me afastando de Alisha e dando o meu melhor sorriso.
― O trinco caiu, daí ficamos presas.
Ele acompanhou meu olhar para o chão e assentiu.
― Isso explica muita coisa.
― Estou de saída. Licença, Sr. Hayes. ― Alisha disse e assim fez, nem me dando chance de pensar.
Robert me olhou, como quem soubesse exatamente o que estava rolando, e eu apenas dei de ombros.
― Ajeite sua vida, garota. Já está na hora.
― Obrigada, tio.
Dei um rápido abraço nele e saí, voltando para a festa.
Acabei não vendo mais Alisha depois do episódio. Creio que havia mais me entristecido do que ficado aliviada. Era difícil entender o que se passava comigo. O pior foi ter achado que as coisas ficariam tranquilas depois. Ethan, como um enviado pelo inimigo, começou a trocar olhares comigo quando voltei para a festa.
Eu semicerrei os olhos para ele, em uma tentativa silenciosa de perguntar o que ele queria ― não tendo resposta, claro ―, e então o ignorei. Depositei o resto de foco que ainda me restava em Alice e nos meus amigos. Quando os recém-casados saíram para a lua de mel, deixei minha mãe e o namorado em casa e Amber no apartamento.
― Você não vai vir? ― Ela perguntou, confusa quando não desci do carro.
― Preciso passar em um lugar antes.
― Emily...
― Não é nada demais.
― Se não é nada demais, por que não resolver depois?
Soltei um beijo para ela.
― Nos vemos depois, amor. ― E então dei partida, querendo o mais urgente possível ficar longe de tudo e de todos.
Fui para um bar em Jacksonville Beach, pouco frequentado, e pedi uma vodka pura. Havia diminuído a bebida com o passar dos anos, mas bastava um momento de muita tensão, como aquele, que eu precisava de algo para me entorpecer. Estava me tratando, mas imaginar que lidaria com situações como a de hoje foi o ápice.
― Mais duas. ― Pedi depois de virar o primeiro shot. O barman assentiu e assim fez, atendendo meu pedido.
Virei os dois shots, sentindo meu estômago queimar, mas ainda assim pedi mais um.
― Noite difícil? ― Uma mulher perguntou. Ela tinha cabelos loiros escuros, olhos castanhos inocentes e tomava o resto da bebida, que julguei ser refrigerante, por um canudinho.
Sem controlar minha impaciência, revirei os olhos.
― Nada mais clichê do que uma desconhecida querer conversar comigo em um bar.
― E ainda é afiada.
― Sem tempo para isso, ok? Vim para cá para ficar quieta. ― Falei antes de virar o quarto shot.
― Não quero tomar o seu tempo, pode ficar tranquila. E saiba que todos que vêm para cá também querem um momento a sós.
― E por que está conversando comigo? ― Rosnei como um animal, o que fez a moça erguer as sobrancelhas e sorrir.
― Porque achei engraçado ver uma madrinha de casamento encher a cara em um bar, não em na festa de casamento. Deixa eu ver: o noivo ou a noiva era seu grande amor?
― Errou feio. ― Olhei para minha roupa. ― Está tão na cara assim que eu era uma madrinha?
― Mais ou menos. É porque fui em tantos casamentos que já até sei como as roupas são.
Suspirei, encostando minhas costas na bancada de madeira, olhando para a movimentação do bar.
― Foi o casamento de uma das minhas melhores amigas, na verdade.
― Deveria estar feliz, não é?
Assenti, concordando.
― E estou. Ela merece ser feliz. Aliás, alguns de nós merecem ter um final feliz.
― Tem razão, alguns merecem. Outros merecem apenas pagar o mal que fizeram a outras pessoas.
Olhei para ela, sentindo a frase me atingir em cheio.
― Não quis dizer para você, nem sequer te conheço.
― Eu sei. Só... fiz muitas merdas.
― Com pessoas que amava? ― Assenti. ― Sou Alina. ― Disse, erguendo a mão para mim. Eu franzi a testa. ― Acho que é melhor nos apresentarmos para que a conversa não seja tão esquisita, não é?
Respirei fundo, então concordei, apertando sua mão de volta.
― Sou Emily.
E depois que nos apresentamos, perdi as horas com uma garota que nunca havia visto na vida. Confessamos segredos uma para a outra, contamos histórias de nossas vidas ― omitindo nomes e sobrenomes ― e ainda aconselhamos uma a outra. Acabei deixando a bebida de lado de tão envolvida que fiquei por suas palavras, o que foi melhor já que voltaria dirigindo.
Demos risadas sinceras ao lembrar de momentos constrangedores e quase choramos quando falamos sobre as nossas fraquezas. Era bom contar certas coisas para estranhos, tinha me esquecido da sensação.
Com o bar perto de fechar e o sol para nascer, Alina me acompanhou até o estacionamento onde cada uma de nós pegaria seu carro.
― Espero que tudo dê certo para você, Emily.
― Eu também.
― Sei que é difícil voltar para cá, mas sabe que voltou para além do casamento da sua amiga. Quer fazer sua escolha definitiva.
Enfiei as mãos nos bolsos do sobretudo, já querendo chorar novamente.
― Ela é a mulher da minha vida e ele o homem que mais amei. Acho que jamais poderei amar alguém como amei esses dois.
― Você os ama ainda.
― Não sei o que fazer.
― Sabe sim. No fundo, você sabe que tem um que faz seu coração bater mais rápido, que faz tudo ter sentido.
― O quão egoísta isso é depois de todos esses anos?
Ela deu de ombros.
― Cada um tem seu tempo. E pelo que me disse, eles ainda esperam, não é? Chegou a hora, modelo. Boa sorte com isso.
― Espero te ver de novo. ― Falei ao ver ela se afastando e indo em direção ao seu carro. Ela virou-se para mim, andando de costas, e sorriu.
― Tenho certeza de que iremos.
Aceneie então entrei em meu carro. Deitei a cabeça no volante, e apenas pensei: até quando eu iria me envolver em tantos problemas?
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